Índice de Capítulo

    Os Agni pertenciam a uma família ancestral cujas tradições remontavam à antiguidade, e eram reverenciados como uma influência poderosa na construção da sociedade. Seu passado estava repleto de lendas que celebravam a coragem e a honra, marcadas por um firme compromisso com o domínio das artes marciais. No período em que os Estados Unidos ainda se formavam como nação, membros do clã migraram para o novo território sob o manto do anonimato para preservar seus rituais em segredo, como brasas ocultas sob o chão fértil da América.

    Lewis mergulhou nos pormenores de uma cultura que se estendeu por gerações e cuja intensa chama da perseverança foi transmitida de pai para filho. As Chamas de Agni era uma expressão sagrada entre os membros da linhagem por representar a essência viva de seus antepassados, uma energia que ardia com mais força à medida que o tempo colocava a linhagem à prova. 

    Guiado por essas histórias, Lewis cresceu nutrindo um profundo respeito por seus antepassados, por sua vez, heróis que lutaram em guerras, operaram nas sombras em nome de valores antigos e influenciaram discretamente decisões importantes dentro dos próprios Estados Unidos, mantendo sempre a chama acesa por trás das cortinas do progresso moderno.

    Os membros da linhagem se destacavam por suas habilidades excepcionais, proezas estratégicas e capacidades de combate na medida em que eram considerados uma forma de arte letal, a qual transcendia a mera eficiência. Era comum que os membros mais antigos se referissem ao domínio da luta como uma dança flamejante — uma forma de manter viva a identidade do clã mesmo em solo estrangeiro. Seus integrantes chegaram a treinar em academias militares americanas e a servir como conselheiros táticos em missões do governo, todos sob identidades cuidadosamente mantidas.

    Desde tenra idade, todos os membros do Clã eram submetidos a treinamento, acompanhado de cerimônias e rituais que fortaleciam os laços familiares e a fidelidade à tradição. Carregando o fardo do dever, os jovens abraçaram corajosamente as chamas que criaram a saga de sua família. Um impulso inato, um chamado que ecoava de seus antepassados, levou-o a se erguer como o próximo bastião de valor e fortaleza em sua linhagem.

    Dentre esses jovens, os anciãos tinham a crença de que Lewis era o herdeiro predestinado a renascer das cinzas para ascender sob a égide do fogo primordial, com a missão sagrada de eclipsar todos os que o antecederam. A ideia de renascer em chamas era repetida como um mantra entre os eles para lembrar que, independentemente de quão moderno o mundo se tornasse, a tradição exigia o despertar do herdeiro para sua verdadeira natureza.

    Uma rede de obrigações intensas o conectava ao seu pai e à sua posição na família. Como defensor do legado familiar, cabia ao homem servir de condutor da chama ancestral e transferir a responsabilidade inquestionável de levar adiante a tocha do valor e da força para a próxima geração. Seu pai era um veterano que participou de missões secretas durante a Guerra Fria e estava vinculado ao clã, comprometido tanto com a nação americana quanto com as tradições ocultas da linhagem.

    Lewis estava destinado a manter essa tradição e não poderia negligenciar essa tarefa. Embora insinuante, essa expectativa tinha nuances. Ele sentia na pele o peso de dois mundos conflitantes; de um lado, a América em constante evolução tecnológica, imediatista e racional; de outro, um passado flamejante, espiritual e ritualístico, com raízes que cresciam sob seus pés.

    A consciência do choque entre a juventude vigorosa do filho e o peso da herança familiar fez com que seu pai compreendesse a importância de proteger esses dois aspectos. Foi preciso ponderar as escolhas diante da necessidade de ir além dos resquícios da história e garantir a segurança contra as cinzas do passado. Sabia o quanto o mundo moderno demandava novas armas contra um legado que não poderia ser carregado apenas com punhos cerrados e disciplina.

    Com prudência, admitiu que Lewis precisava de mais do que apenas destreza física no mundo, mas também de uma compreensão mais profunda dele. Uma visão que unisse o sagrado e o prático. O espírito e a razão.

    Tendo isso em mente, prometeu guiá-lo por um caminho menos difícil. Foi para a organização Unidade Expedicionária de Caça onde ele acreditava que seu filho pudesse crescer de forma plena. A organização era uma ponte entre o mundo dos homens e o mundo dos ancestrais por meio da qual Lewis poderia aprender constantemente, cultivando a centelha que ainda palpitava na sua alma.

    Tratava-se de uma oferta de defesa às dificuldades impostas pela ascendência, bem como ao peso iminente das obrigações que apagariam a efervescência da juventude. A organização possibilitava o contato com ameaças reais, estratégias modernas e inteligência prática, experiências que os rituais do clã, por si só, não poderiam proporcionar.

    O homem não estava renunciando aos nobres propósitos do clã ao permitir que o filho tivesse uma vida melhor; era apenas uma postergação do momento em que Lewis teria de encarar a plena responsabilidade por seu legado. Tal decisão foi justa e magnânima, um intervalo que o ajudaria a adquirir as habilidades essenciais para enfrentar o destino que o aguardava. 

    Sua missão na agência era defender os princípios que haviam formado sua vida e perpetuar esse legado. Ainda que o fogo estivesse momentaneamente contido, jamais cessaria de arder dentro dele.

    À medida que a semana passava, Lewis iniciava uma sessão de treinamento sob o monitoramento de Mikael, na qual a sincronização e a precisão eram componentes cruciais.

    No último movimento, sua perna direita permaneceu reta, dando-lhe o apoio necessário para sustentar o tronco com uma agilidade invejável, mesmo quando ergueu o joelho até a altura da cabeça. Com o calcanhar, seguiu um caminho angular para atingir a têmpora de Mikael.

    Ele deliberadamente visou um ponto fraco no cérebro do homem que, se atingido, causaria uma breve interrupção nos processos mentais. A escolha do alvo não foi feita ao acaso. Sair com bons resultados foi uma estratégia concebida cuidadosamente.

    Mikael, porém, não era um combatente comum. 

    Ele estendeu a mão e agarrou a parte superior da canela de Lewis do alto de sua destreza e rapidez. Por uma fração de segundo, deslizou o pé esquerdo contra a perna que o estava apoiando, fazendo-o perder o equilíbrio e cair sentado no tapete.

    — Ugh… 

    Com o impacto, Lewis fez uma careta de dor. Respirando ofegantemente, olhou-o.

    — E aí?

    Estava buscando por alguma aprovação.

    — Hmmm… 

    Os olhos atentos de Mikael permaneceram fixos nos resultados que se desenrolavam diante dele, projetados em uma série de monitores estrategicamente dispostos na sala de treinamento. Cada tela era uma janela para a análise calculada das aptidões de Lewis, revelando detalhes de seu desempenho durante o exercício.

    Métrica de Desempenho Geral.

    Velocidade Média dos Movimentos: 3.2 m/s

    Precisão de Golpes: 68%

    Tempo de Reação Médio: 0.45 segundos

    — Então, como posso dizer… — Ele lançou um olhar firme e atento ao garoto, inclinando levemente a cabeça, como se estivesse medindo suas palavras. — Uma velocidade que realmente tira o fôlego. Parece até que você e o vento estão competindo.

    Lewis deu um leve sorriso, claramente satisfeito, embora tentasse disfarçar o orgulho com um toque de humildade.

    — Ainda dói um pouco. — disse, massageando discretamente o ombro machucado. — Mas valeu a pena. Obrigado pelo elogio.

    Mikael ergueu uma sobrancelha e soltou um suspiro, balançando a cabeça.

    — Elogio? Não, não. Isso não foi elogio, foi só uma constatação. Mas já que estamos aqui, vamos falar sério. Sua sequência de ataques ainda precisa de um bom ajuste, e você está previsível demais na variação de táticas.

    Em um misto de frustração e assentimento, Lewis baixou o olhar e seus lábios se apertaram. Conhecia suas imperfeições, percebendo-as intensamente a cada tropeço. Aquela sensação de desapontamento surgiu dentro dele, semelhante a uma voz sussurrante que murmurava: “você não é bom o suficiente”.

    — É, eu meio que percebi isso na hora da queda.

    — Ah, cair é parte do processo. Se não cair, não aprende. Agora, ouça bem. Quero que você se concentre na transição entre a esquiva e o contra-ataque. Nada de fazer só o básico. Vamos adicionar umas surpresas no seu arsenal. Mexer com a cabeça do adversário, entender o momento certo.

    Lewis abriu a boca, um ah incerto escapando, sem saber ao certo como responder.

    Para alguém que sempre buscou a perfeição absoluta, a falta de resultados satisfatórios era uma ferida dolorosa, latejando e ardendo como uma verdade inescapável.

    O Clã Agni, em sua rígida disciplina e filosofia de ferro, moldara-o sem concessões. Desde cedo, Lewis aprendera que o sacrifício era o único caminho verdadeiro para alcançar algo de valor, e que abdicar de si mesmo era o maior dos deveres.

    Sob o olhar austero de seus mestres, ele absorveu cada ensinamento e lição de resistência e autocontrole. Não era permitido questionar, não era permitido fraquejar. Em vez disso, seu dever era erguer-se e se entregar à causa, lapidando sua essência até que ela se fundisse com a do próprio clã.

    As palavras dos mestres ressoavam em sua mente, ecoando com a clareza de um dogma incontestável: “Estarás sob a luz da lua, mas isso não durará para sempre. O sol em breve brilhará sobre ti e se unirá a ti quando se puser.” Esse ensinamento tornara-se sua âncora, o alicerce de sua luta.

    Em cada derrota, ele repetia silenciosamente essa máxima, agarrando-se à esperança de que sua dedicação um dia o levaria ao êxito. Mas, ao mesmo tempo, a dúvida o corroía. O sucesso ainda parecia algo etéreo, uma meta vaga que ele nunca conseguia tocar.

    Para todos os observadores, Lewis personificava a persistência. Mesmo sob o peso esmagador da derrota, não se abateu, mantendo-se de pé, como se a pura determinação pudesse protegê-lo de qualquer infortúnio.

    No entanto, naquele dia, seu comportamento havia mudado. Antes emanante, sua força já não parecia mais tão forte, mas sim frágil e quase vencida. O vazio em seus olhos era notável, diferente do agente normalmente incansável.

    Pela primeira vez, Lewis se permitiu reconhecer o peso de sua odisseia, um tormento sem limites. Ele não era apenas um símbolo de força; naquele momento, era um jovem marcado por traumas invisíveis, envolvido por um sacrifício que ameaçava corroer tudo o que ele acreditava ser.

    — Algo está te incomodando, não é? — Mikael perguntou, lançando um olhar atento enquanto arqueava a sobrancelha. Havia um brilho de curiosidade misturado à preocupação, como se ele já soubesse a resposta, mas quisesse ouvir da boca dele.

    Lewis hesitou, desviando o olhar para o chão. Um suspiro escapou-lhe antes que pudesse disfarçar, e ele balançou a cabeça, tentando afastar as palavras que se enroscavam na mente.

    — Não é nada. — respondeu, com a voz baixa — Deixa pra lá.

    Aquela resposta, breve e evasiva, apenas aumentou a preocupação de Mikael. Conhecia-o bem demais para acreditar naquele tom apático. No entanto, respeitou o silêncio, evitando pressioná-lo. Sabia que às vezes as palavras precisavam de tempo para emergir. Por isso, limitou-se a um leve aceno de cabeça, recuando um passo para dar ao garoto o espaço de que ele claramente precisava.

    — Vamos recomeçar, então.

    Mas Lewis apenas balançou a cabeça, visivelmente desanimado.

    — É inútil… sou fraco. Mal consigo reagir. Não sei mais o que fazer… Talvez eu devesse desistir de vez. Talvez fosse melhor assim.

    Mikael afastou-se por um instante, mas logo se aproximou novamente, ignorando qualquer cerimônia. Abaixou-se à sua frente, levantou a mão e deu-lhe um peteleco na testa.

    — Para de drama. Tá vendo tudo de cabeça pra baixo, Lewis. 

    Ele franziu a testa.

    — Como assim? 

    — Tô te puxando pra realidade. Seu sangue é do Clã Agni. Isso aí dentro de ti não é qualquer fogo, é uma maldita fornalha que tá só esperando estourar. Se sente fraco? Normal. Mas isso que tá te travando não é maior do que aquilo que te fez nascer nesse clã. — Cutucou com o dedo indicador no meio do seu peito. — Tá tudo aí. Só que você está olhando pro chão em vez de encarar o brilho do sol que carrega.

    Lewis desviou o olhar. O peso na cabeça não vinha só das palavras. Era como ter uma parede entre ele e aquilo que Mikael acreditava ver. Um vácuo. Um buraco.

    — E se isso nunca tiver sido pra mim? — murmurou. — E se tudo isso for só uma fantasia mal contada? Não sinto nada além desse vazio. Essa… tal chama… nunca acendeu aqui dentro.

    Mikael riu. Foi um riso curto e estranho, sem muita convicção de que era o momento certo para rir, mas ainda assim ele riu.

    — Porque o problema não é esse. Tudo o que você está dizendo é só uma desculpa, uma forma de fugir. Você sente que algo te impede, que o verdadeiro você está trancado, preso dentro de algum lugar que não consegue alcançar. Como se uma versão sua mais autêntica estivesse guardada, esperando, e talvez nem soubesse por onde começar a libertá-la. Isso faz sentido, não faz? Porque se não fizer, se continuar te iludindo, vai permanecer exatamente onde está. E tenho certeza de que não é onde quer estar.

    O garoto engoliu seco. A garganta ardeu como se aquelas palavras tivessem raspado por dentro.

    — Vamos lá. Existe realmente uma razão legítima pra você jogar tudo pro alto? E se existir, será que vale o esforço de nos preocuparmos com ela? Essa dor que te atormenta é a mesma que nos lembra que estamos vivos. E não esqueça, é a mesma dor que nossos inimigos vão sentir, mais cedo ou mais tarde.

    Ao observá-lo, Mikael notou o comportamento inquieto de alguém sobrecarregado com um peso invisível. Essa sombra de ansiedade era uma presença familiar aos dois, constantemente presente para se apoderar quando a fadiga permitia que pensamentos difíceis e verdades inquietantes se materializassem.

    — É que… Eu nem sei bem como dizer, mas parece que tem algo que eu preciso entender. Algo que disseram… não sei se era verdade ou só mais uma mentira pra eu engolir. Mas… é como se faltasse uma peça. Como se algo não encaixasse.

    Com um suspiro, Mikael balançou a cabeça, expressando compreender uma criança tentando entender o mundo pela primeira vez.

    — Certo, faz o seguinte. — disse, apontando com o queixo. — Levanta aí.

    Sem discutir, obedeceu, levantando-se ao mesmo tempo dele.

    — Agora, fecha os olhos.

    Embora tenha obedecido, não resistiu e soltou a pergunta:

    — Tá… mas o que é que você quer que eu faça, exatamente?

    — Eu quero que você imagine que tá liberando uma força que sempre esteve aí, mas que você nunca teve coragem de encarar. Visualize uma versão de você que é maior, muito maior do que qualquer coisa que o seu passado te fez acreditar que você era. É isso. Para de focar só no que te limita e conecta com o que é verdadeiramente seu, o que sempre esteve aí, só esperando que você abrisse os olhos pra ver.

    — Hm…

    De olhos fechados, ele assumiu uma posição defensiva, sentindo o peso do corpo se distribuir de maneira instintiva. Em vez de se perder nos pensamentos que o puxavam para trás, concentrou-se no agora, em cada sensação, como Mikael havia sugerido. Aconteceu então: uma luz carmesim surgiu como uma brasa tênue, tremeluzindo ao lado dos ombros, como se um fogo interior estivesse se manifestando em plena forma.

    — Olha só, você conseguiu.

    — Ah… uau… — Ele abriu os olhos, fixando o olhar nas palmas das mãos abertas, com uma expressão quase descrente. — Mas como… isso deu certo?

    Mikael bateu o dedo indicador na têmpora.

    — A imaginação humana é muito mais poderosa do que você pensa. No instante em que você deixa de se prender a limites, você pode ser quem quiser, porque a imaginação é a única coisa que nunca conheceu uma cerca.

    E, de fato, uma chama de confiança brilhava em seu olhar. Talvez, pela primeira vez, a ideia de que ele poderia alcançar algo além do que sempre imaginara possível começava a fazer sentido.

    — A partir de agora imagine que você pode brilhar mais que o próprio sol. Use essa luz pra buscar o que quer que seja que você procura. E então… que tal tentarmos de novo?

    A expressão do rapaz se iluminou, os olhos ganhando um brilho quase infantil, um entusiasmo há muito esquecido.

    — Sim! — respondeu com uma confiança renovada.

    Mikael assentiu, satisfeito.

    — Ótimo. Vamos começar do zero.

    Portanto, os exercícios físicos foram retomados e o ciclo de treinamento se repetiu. 

    Eventualmente, Mikael demonstrou uma força incrível diante de seus próprios contratempos. Entretanto, não se tratava de um poder motivado por arrogância ou presunção. Em vez disso, veio à tona das profundezas de sua experiência de vida quando ele estava em seu ponto mais baixo. 

    Ele ainda se lembrava nitidamente de como era estar perdido e indefeso. Suas lutas passadas o estimularam a trabalhar mais a cada dia e serviram como um lembrete constante de como era crucial ajudar Lewis a evitar os mesmos erros e problemas que ele teve a infelicidade de encontrar.

    Foi um impulso poderoso e persistente.

    “Você estava certo. Seu filho é a luz que faltava na escuridão. Eu lhe prometo que ele não apenas ultrapassará os limites que você estabeleceu, mas também alcançará alturas que você nunca ousou imaginar. Você pode confiar nisso. Até mesmo o sol pode brilhar na noite, velho amigo.”

    ** ** **

    Wolfgang se aproximou da entrada da casa, onde o vulto abatido de seu adversário repousava, quase afundado entre os destroços. Um pequeno grupo de Mephistos se aglomerava ao redor, espreitando com uma fome feroz e farejando qualquer vestígio de vida que ainda pudesse estar ali. O ar estava impregnado de um silêncio pesado, o tipo de quietude que preludia o fim, dando a cada fibra do lugar a sensação de morte iminente.

    Contudo, bem no limite de sua própria morte, a situação tomou um rumo inesperado. Do peito ferido, irradiou uma tênue onda de calor, fraca, mas persistente, como a brasa de uma chama resistente que se recusava a se apagar.

    Wolfgang parou, surpreso, franzindo o cenho ao notar a mudança súbita na atmosfera ao seu redor.

    — Mas o que é isso? — murmurou, olhando com desdém e uma pontada de irritação para o corpo destroçado de Lewis. — Achei que esse lugar tivesse esfriado de vez. Ele deveria estar… morto.

    Aproximou-se mais um passo, quase com desgosto.

    — É o fim da linha pra você. Lutar, resistir… tudo isso não passa de teimosia patética. Mas, enfim, suponho que você tenha dado seu melhor. De qualquer forma, a história não será contada por aqueles que caem.

    Com um último olhar para Lewis, ainda inerte sob o peso dos escombros, Wolfgang balançou a cabeça com uma satisfação amarga, um mero acréscimo a uma lista.

    — Bem, é hora de ir.

    Ele não se deu ao trabalho de olhar para trás ao partir para fora e seguir o caminho da rua. O que restava ali não era, em sua mente, nada além de uma carcaça sem vida, uma memória que logo seria engolida pela escuridão.

    Foi então que sentiu algo novamente. Apesar de tudo, de toda a dor, do peso esmagador dos destroços e da presença dos monstros à sua volta, havia algo ali dentro que se recusava a ceder. Algo que, mesmo quando seu corpo o traía, insistia em lutar, em resistir. Era como se, no âmago da sua fragilidade, a essência do que o mantinha vivo se reerguesse, sussurrando, insistindo.

    ⌊ Fogo de Agni ⌉

    Uma faísca de poder ancestral queimava em uma era distante, oculta nas névoas da história e encoberta pela crença. Essa chama era mais do que fogo; era uma força viva que transcendia a compreensão.

    Os fragmentos, juntamente com os Mephistos, haviam detonado, desintegrando o que antes impedia seu corpo de se mover.

    E assim, das cinzas, com olhos cintilantes, Lewis renasceu, envolto em chamas ardentes. Seu coração, moldado em aço, e em suas mãos, o destino era desenhado no vazio.

    A emissão de energia negativa provocou instantaneamente uma resposta nas chamas, como se o próprio núcleo do fogo prosperasse com essa força que rompia o equilíbrio natural. A energia dinâmica se misturou com o ar ao redor, deturpando a atmosfera com sua intensidade.

    As chamas reagiram à presença. Seu calor aumentou exponencialmente, mudando para um tom de vermelho ainda mais profundo. 

    — Uma versão melhor de mim mesmo…

    Ao mesmo tempo em que a energia negativa as alimentava, fazia com que se tornassem indomáveis, transformando-as em uma substância além do reino mortal. As chamas oscilavam de acordo com cada pensamento sombrio, cada emoção reprimida, moldando-se em uma demonstração de pura destruição, enquanto o próprio ar tremia em seu rastro.

    — Eu sou o mais forte… 

    Ele passou pela pequena abertura deixada na casa em ruínas. Só o estalar das chamas que haviam tomado conta da área rompia a quietude.

    A forma de Lewis havia transcendido os limites humanos, tornando-se uma encarnação viva da chama. Como se o calor se fundisse com o seu ser, emanava intensamente, provocando um efeito ilusório que fazia o mundo parecer se dissolver ao seu redor.

    — É bom saber que está vivo. — disse Wolfgang.

    Lewis sorriu, seus lábios tremulando como brasas.

    — Vivo e pronto pro segundo round!

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