Capítulo 48 - Manto de Chamas
Cercado por chamas que tremeluziam com uma luminescência fascinante, Lewis era um pilar de esperança em meio à calamidade que se aproximava. Sua aura emitia uma certeza tranquila de que, mesmo nas profundezas mais sombrias, um lampejo de luz persistia.
De repente, o chão cedeu à força propulsora que escapou de seus membros inferiores. As fibras musculares de suas pernas se tencionaram até o limite, convertendo energia negativa em potência bruta. O deslocamento gerado no ar deixou um rastro nítido por onde passou, rompeu a pressão atmosférica e curvou o som à sua volta. Seu uniforme esvoaçava ao vento, e seus cabelos se acomodavam à aceleração repentina.
Os sensores térmicos dos edifícios próximos detectaram um aumento anormal da temperatura em sua passagem pela rua devastada. A energia liberada por seu corpo configurava um campo repulsivo que ondulava o ambiente circundante por meio de uma força mensurável.
Wolfgang piscou, cujo tempo de reação, no entanto, foi muito curto. Um colapso sensorial tomou conta de seu córtex sem que houvesse qualquer interpretação racional. A força que dominou aquele momento não permitiu sequer uma hesitação. As terminações nervosas em seu corpo registraram o impacto milissegundos depois ao sentirem a parte de trás do pé de Lewis atingir a base de sua mandíbula além dos limites normais de força. A vibração do choque se espalhou pela rua e gerou um estrondo alto, que ecoou pelos quarteirões vizinhos refletido nas janelas quebradas dos edifícios.
O corpo de Wolfgang foi arremessado do ponto de impacto. Sua trajetória arqueou-se no ar. Ao mesmo tempo, Lewis já estava em movimento. O calor que irradiava de seu corpo distorcia o ambiente, elevando a temperatura acima dos níveis aceitáveis; vapor escapava por rachaduras no asfalto escaldante, subindo pelos escombros em que se encontravam. A marcha foi ininterrupta, imune a distrações, reações ou súplicas. A luta não permitia pausas. Dar espaço a Wolfgang significaria estender a vida de um obstáculo que, para Lewis, já havia expirado.
No centro da turbulência, este permaneceu. O seu comando era absoluto, mas nunca impessoal. Não tinha nada a ver com a emoção em si; era sobre o que permitia que ela alcançasse. Ele não era movido pela energia negativa; a convocava, dando ao instinto mais poder do que à razão, porque em combate, a razão impõe limites, e Lewis queria tudo, menos limites.
No alto, Wolfgang ainda não havia concluído a curva de queda. Os olhos semicerrados encontraram Lewis, já ao seu lado. A presença se materializou pela aceleração sobre-humana que o havia reposicionado num instante. Desviou os vetores de impulso com uma arrancada, condensando a energia negativa nos quadris e realinhando os joelhos, tornozelos e dedos dos pés. O seu pé direito foi impelido numa curva ascendente, a qual se acionou no ápice.
Aperfeiçoado pela rotação, golpeou o centro abdominal de Wolfgang sob uma força potencializada que comprimiu as vísceras e rompeu tecidos. O estrago causado pelo baque seu corpo provocou uma microfratura no pavimento e espalhou rachaduras até às fundações do cruzamento mais próximo. Imediatamente a seguir, uma coluna de sangue jorrou da boca do soldado.
Isso fez-se sentir na cidade. O ataque ecoou nos becos, reverberou nas estruturas que ainda estavam de pé, cruzando o ar rarefeito como o lamento agudo de algo que estava irremediavelmente danificado.
— Eu nunca tinha revelado isso a ninguém antes! Pense em mim como uma honra!
Lewis imaginava um labirinto escuro e interminável de obstáculos e tribulações ocorrendo naquele momento. Seu desejo de conquistar o fogo, um elemento tão potente e imbatível quanto o próprio inferno, era alimentado por cada pensamento que ele tinha, que era como uma chama ardente, como se ele ansiasse pela vitória sobre cada desafio, pelo controle total sobre esse poder primordial da natureza.
Se entregou à felicidade e ao êxtase enquanto o calor avassalador o envolvia, deixando-se levar pelas ondas de vapor que evaporaram na atmosfera. Ele parecia estar em estreita comunicação com as energias mais antigas do universo, como se estivesse tocando a própria essência da vida.
Força incontrolável era o que era.
Wolf deu um salto para trás com a pouca energia que ainda lhe restava.
“Eu gostaria de desacreditar disso. Essa inquietação…”
Antes orgulhoso e imponente, agora sentia uma sutil admiração pelo jovem das chamas ardentes. Lutava contra uma visão perturbadora e as consequências iminentes. Um mar de incertezas e temores inundava sua mente, erodindo e desmantelando as fundações de suas convicções.
Com o avanço do garoto, sua velocidade sobrepujou a pressão atmosférica, que cedeu em camadas e se condensou em um zunido agudo, diluído no tempo a ponto de se tornar audível quando seu punho colidiu com o rosto do soldado. A força do choque reorganizou os ossos sob a carne do alemão, empurrando a maxila abruptamente, o que se propagou em forma de onda.
Os carros balançaram em seus eixos, deslocando-se milímetros antes de deslizarem para os lados. O metal contraiu-se e emitiu um som áspero misturado aos estampidos do concreto fraturado. O atrito entre borracha e asfalto produzia faíscas esparsas como um sinal da instabilidade dos arredores.
O campo irradiava um calor constante pelo colapso termodinâmico da energia negativa, sem a necessidade de combustão direta. As camadas da epiderme queimavam de dentro para fora, e não se regeneravam — simplesmente endureciam ao sustentar o impulso de seu corpo, como placas tectônicas.
Wolfgang ainda estava no campo visual de Lewis, e este o agarrou pela nuca com uma mão. A tração aplicada curvou a lombar de Wolf, ao mesmo tempo em que o joelho recebeu energia negativa acumulada. O impacto da cartilagem contra o osso liberou uma vibração aguda; sua cabeça girou desordenada. A desorientação colapsou o senso de equilíbrio do homem.
Hill City mergulhava em um delírio vermelho ao redor. A energia de Agni se infiltrava pelas rachaduras do concreto e ascendia dos subterrâneos da cidade. As paredes próximas absorviam o calor e o devolviam na forma de combustão.
Com isso, o ar tornava-se rarefeito, uma vez que a densidade das partículas negativas se alterava conforme o oxigênio se dissolvia na carga térmica suspensa.
— Eu posso morrer aqui…
A troca gasosa pulmonar de Lewis começava a falhar, embora ele não recuasse. Mesmo ofegante, o ritmo da destruição não perdia a cadência. Ardiam seus pulmões, porém o diafragma combatia a insuficiência como uma engrenagem desgastada em esforço contínuo.
— Mas você…
Nada ali era estático. Nem mesmo a dor.
O brilho em seus olhos evaporou ante a pressão do medo. Restaram apenas cavidades desprovidas de humanidade, moldadas por um vácuo sobre o que restou de cor e foco. A opacidade de seu olhar não refletia raiva nem dor; sua essência era a aniquilação.
O golpe seguinte foi um chute no centro do tronco, onde termina o esterno e convergem as terminações nervosas do plexo solar, provocando espasmos violentos com os quais ele ficou ofegante.
— … vem comigo!
Com a palma da mão pressionada contra o topo da cabeça dele, Lewis o projetou contra o solo. Ao se arrastar no asfalto, seu corpo era riscado, expondo vasos capilares rompidos em rápida sucessão. O sangue manchou a rua quente da principal via em uma linha irregular de cor viva, e o som da fricção entre carne e pedra era mais eloquente que qualquer ameaça verbal.
Os dedos de Lewis afundaram nos cabelos do inimigo enquanto o arrastava pela superfície em direção à escola próxima. O jogou contra contra a entrada envidraçada, projetando fragmentos de silício por todos os lados. A dispersão se deu em padrão radial, com estilhaços ricocheteando pelas paredes e colunas internas.
Os murais se sacudiram em seus suportes, alguns desabando estrondosamente, outros balançando antes de cair. As lâmpadas piscaram em falhas intermitentes acompanhadas de sons elétricos sibilantes. A estrutura metálica do teto protestava com ruídos de torção e partículas em suspensão densificavam o ambiente com poeira, fuligem, tinta seca e resíduos acumulados por anos de normalidade interrompida.
Wolfgang rolou pelo chão, escorregando em uma mancha opaca de sangue até recuperar a tração dos pés.
— O que… aconteceu com você?
As palavras escaparam da garganta sem objetivo claro. Seu olhar tremeluziu de confusão ao contemplar a transformação que se desenrolava diante dele. Foi como se um véu tivesse sido içado, revelando um aspecto oculto da natureza de Lewis que Wolfgang não havia vislumbrado antes. O soldado percebeu, tarde demais, que aquilo que enfrentava não era apenas um oponente mais forte, mas uma força que transcendia tudo o que ele havia conhecido.
Ao levantar a cabeça em direção à saída, com a testa a escorrer sangue, reparou que Lewis avançava a toda a velocidade. Instintivamente, cruzou os braços à sua frente para proteger o rosto do ataque iminente.
Com o corpo em preparação para o impacto, no entanto, ele se reconfigurou. Sob sua pele, ativou-se um campo de partículas positivas responsivo como um catalisador. A energia positiva fluía por suas fibras nervosas encarregadas de restaurar; o sangue coagulado se dissolvia com o toque da força energética, absorvido e transmutado. Os traços da abrasão desapareceram em questão de segundos, substituídos por uma textura limpa.
Wolfgang abriu os olhos com clareza renovada, a dor evaporando da superfície do rosto como névoa sob o sol. A energia positiva percorria suas veias como uma segunda corrente sanguínea.
Do outro lado do corredor, Lewis vinha com a aceleração de um projétil humano, ao passo que Wolfgang o aguardava impassível.
Para seu espanto, porém, nada aconteceu. O garoto tinha desaparecido da sua vista.
— Hm?
Aguçando seus sentidos até o fio da navalha, a adrenalina subiu através de sua veias. O mundo entrou em hiperfoco; as imagens tornaram-se vívidas; os sons foram amplificados; a batida do seu próprio batimento cardíaco ficou frenética; os cheiros tornaram-se distintos – seu próprio sangue escorrendo de uma ferida recente e o almíscar sempre presente do suor.
Wolfgang se agachou, uma postura defensiva enraizada a partir de uma antecipação de seus sentidos. Lewis girava no ar num borrão de movimento. O calor abrasador passou por sua cabeça enquanto as chamas se dissipavam.
Uma rápida olhada nos restos das chamas confirmou suas piores suspeitas. A forma como Lewis desapareceu, bem como o que permaneceu do fogo, apontava para alguma forma de manipulação desse poder.
Com esse novo conhecimento, sua rota de fuga ficou clara. O pátio. Espaço aberto, menos chance de ficar preso em outro inferno.
Wolfgang impulsionou-se para trás, as pernas agitadas em uma tentativa desesperada de sobrevivência, apenas para colocar uma distância entre ele e a ameaça que se fez presente através de uma detonação de labaredas.
Choveram destroços, uma chuva de estilhaços de concreto e metal retorcido. Ele protegeu a cabeça com apenas um braço. O pavimento áspero arranhou sua pele exposta, deixando escoriações misturadas com as feridas existentes.
Uma nuvem rodopiante de fumaça e poeira obscureceu sua visão por um momento. Quando finalmente clareou, a terrível verdade do que estava acontecendo à sua frente tornou-se aparente. Uma cratera incendiada marcava o lugar que estava anteriormente.
Um frio quase tangível se instalou no ambiente quando Wolfgang deixou escapar um suspiro irritado.
“Ele está dificultando as coisas. Que merda.”
Como uma corrente obscura, a energia negativa percorreu o corpo do alemão, proporcionando a Wolfgang uma forte intuição.
Logo que Lewis tentou um ataque surpresa à esquerda, voando com os pés esticados verticalmente, Wolfgang percebeu o movimento antes mesmo que fosse concluído. A percepção lhe rendeu um simples passo para trás. O garoto passou desajeitadamente à sua frente.
Rapidamente, o alemão agarrou suas pernas. Com um giro sobre o próprio eixo, Wolfgang canalizou a energia negativa para aumentar o efeito. O corpo de Lewis foi arremessado bruscamente, rompendo a parede de uma sala de aula próxima como se fosse feita de papel.
A destruição foi imediata e caótica. Mesas alinhadas em fileiras foram lançadas em todas as direções, colidindo umas contra as outras em um tumulto de madeira partida e metal entortado.
Livros voaram pelo ar, espalhando suas páginas como folhas secas ao vento, enquanto cadernos e lápis se quebraram ao chocarem-se contra o chão.
Oscilando brevemente, a luz criava um efeito estroboscópico que tornava o cenário ainda mais surreal. Entre os intervalos de claridade e escuridão, Wolfgang já avançava para o ataque seguinte.
Lewis, no entanto, já havia se recuperado.
Na descida do punho do soldado, mirado para destruí-lo, Lewis pulou à direita. O soco atingiu uma cadeira atrás dele, transformando-a em uma massa deformada de metal retorcido e madeira quebrada.
O homem se sobressaltou ao perceber que as mesas vinham em sua direção.
Lewis as jogou todas, surpreendentemente, embora tenha feito isso de uma forma estranha: usou apenas chutes.
Wolfgang contornava cautelosamente as mesas, assimilando rapidamente a série de acontecimentos. Sua movimentação corporal se uniu à série de acontecimentos de forma quase invisível a olho nu.
Ele notou uma mesa ainda suspensa no ar e saltou. Pisou a superfície brevemente, o suficiente para utilizá-la como trampolim. A madeira rangeu sob a força aplicada, mas ele já havia se lançado.
O impulso amplificado pela energia negativa transformou o salto em uma investida devastadora, cortando o espaço que os separava em uma velocidade incrivelmente rápida.
Os dois colidiram como duas forças opostas no ar. Ambos foram lançados contra a parede, que rachou com um som seco e brutal. O material cedeu, desmoronando em fragmentos enquanto os corpos o atravessavam, caindo em uma sala adjacente.
Pelo caminho, o caos se intensificou. Mesas e cadeiras foram violentamente deslocadas, tombando e se partindo conforme os combatentes continuavam a ser impulsionados pelo impacto.
Objetos menores giraram no ar antes de caírem com estrondos surdos. O eco da força da colisão preencheu o ambiente com o som da destruição.
Foi então que um quadro negro tornou-se o próximo alvo involuntário. Wolfgang e Lewis o atingiram e o danificaram. A madeira da moldura gemeu em protesto antes de se partir, espalhando fissuras pela superfície lisa do quadro, tal qual uma cicatriz.
Wolfgang lançou um feroz gancho de direita direcionado ao abdômen de Lewis. O golpe caiu com um baque nauseante, uma onda de energia cinética percorrendo o corpo dele. Foi como uma marreta atingindo um material lascado – o impacto viajou muito além do ponto de contato, provocando novas rachaduras serpenteando pela parede próxima.
Lewis, momentaneamente atordoado, reagiu espremendo o sangue que estava prestes a sair de sua boca.
Por mais que tentasse, no entanto, alguns fluidos sanguíneos – misturados com vestígios de saliva – escorreram pelos cantos dos lábios e também vazaram pelas narinas, que dilataram-se. Os músculos de seu rosto estavam tensos com uma raiva mal contida.
Embora sentisse uma dor latejante no corpo, girou o corpo prontamente, elevando a perna em um chute lateral que buscava o queixo de Wolfgang. O homem ergueu o braço para bloqueá-lo, não contando, porém, que o impacto o empurraria alguns passos para trás, esmagando pedaços de madeira que estavam no chão.
Em seguida, Lewis avançou com uma sequência de chutes. Amplificada por sua energia negativa, cada movimento trazia força às pernas como um catalisador de destruição.
Um chute direto atingiu o ombro do soldado, outro, as costelas, e o terceiro, a cabeça. Wolfgang desviou o último golpe, inclinando-se para o lado, mas perdeu o equilíbrio momentaneamente.
Ele não se deixou intimidar. Com os pés firmes, disparou um soco direto contra o rosto de Lewis, cujo desvio foi parcial, mas que ainda assim sentiu o golpe raspar o maxilar. Em resposta imediata, ele moveu o calcanhar em um golpe circular que forçou o soldado a se agachar.
Com uma força impressionante, a perna de Lewis foi agarrada em meio ao ataque, arremessando-o violentamente contra a parede. O concreto se estilhaçou pelo impacto, liberando uma nuvem de poeira enquanto Lewis caía no chão.
Levantando-se rapidamente, o olhar dele se fixou em seu adversário. Seu olhar estava cheio de raiva intensa, uma energia negativa que emanava como uma aura vermelha. Em um salto ágil, ele executou um chute giratório o qual atingiu Wolfgang na face, vertendo sangue e forçando-o a cambalear para trás.
Wolfgang inalou bruscamente. Investiu com uma enxurrada de socos, mirando em pontos críticos.
Lewis se esquivou dos dois primeiros, mas o terceiro golpe acertou seu ombro, deslocando-o levemente. Recuperando a postura, ele contra-atacou com um chute direto no peito, o que o fez retroceder novamente.
Ambos estavam cobertos de cortes e sangue. Apesar do cansaço, nenhum dava sinais de desistir.
“Esse desgraçado não tá nem aí se vai morrer ou não. Ele só quer continuar até acabar com tudo, nem que isso custe a própria vida. É um moleque maluco. Uma porra de um lunático com mais vontade do que juízo.”
As chamas solidificaram-se em formas definidas por trás das quais se via o corpo de Lewis. A intensa temperatura distorcia o ar ao redor, transformando o espaço em uma visão ondulante e surreal. Partículas brilhantes flutuavam na atmosfera, como fagulhas de um incêndio prestes a se descontrolar.
— Que desgraça é essa…
A luz incandescente intensificava-se em pulsos ritmados, acompanhando a respiração pesada daquele que comandava as chamas.
De repente, as chamas comprimiram-se sob seus pés. A liberação da energia foi imediata, propulsionando-o à frente. O deslocamento deixou no ar um rastro incendiário, uma trilha de destruição no chão queimado pela intensidade das chamas.
Mal o soldado teve tempo de perceber o ataque antes de ser agarrado pelos ombros. O aperto era firme e inescapável, com os dedos cravados em sua carne.
O impacto contra a parede ecoou como uma explosão abafada. Fragmentos de concreto se espalharam pelo chão, enquanto rachaduras se espalharam pela superfície.
A força aplicada não apenas o prendeu, mas também anulou qualquer tentativa de resistência. Como se uma força invisível o esmagasse contra a parede, ele sentiu que a gravidade local estava alterada.
Respirar era difícil devido ao calor. Todas as inspirações eram acompanhadas por um ar pesado e seco, cortante como um rasgo nos pulmões.
Descargas de energia e pequenas faíscas que saltavam da parede destruída para o chão podiam ser vistas no espaço. A fumaça emitida pelas chamas era densa e o som de seu rugido baixo e profundo reverberava nos ouvidos.
O rosto de Lewis se aproximou, iluminado pela luz pulsante do fogo. As sombras criadas pelas chamas acentuavam as linhas duras de sua expressão, transformando-o em algo mais semelhante a uma criatura do que propriamente a um homem.
— Rrrrraaaaagh!!!!!
Uma reação nas palmas das mãos de Lewis liberou uma intensa energia térmica, lançando um brilho carmesim que banhou a sala com uma luz vibrante e saturada.
O calor intenso provocou oscilações atômicas, auxiliando o crescimento da chama que se seguiu. Orbes de luz, variando do laranja ao vermelho escuro, se materializaram, aumentando significativamente a temperatura da sala.
A fusão de forças subatômicas gerou um vórtice de energia ardente. O calor escaldante deformou o espaço ao seu redor, acelerando o giro das moléculas de ar e rompendo sua unidade. Esse tumulto originou uma explosão violenta que afrontou a estrutura predominante.
No rescaldo dessa detonação cataclísmica, a sala de aula foi reduzida a um quadro caótico de destruição. Escrivaninhas, cadeiras e mesas foram carbonizadas; as paredes suportaram o impacto, mas as superfícies estavam descascando-se, revelando a alvenaria crua por baixo.
Um véu de poeira pairava no ar, mascarando as formas de itens outrora reconhecíveis, transformando o espaço em uma sombra assustadora do que já foi.
As chamas, sob carga de energia negativa, se agitavam e crepitavam erraticamente, um espetáculo de fogo marcado por um borbulhar infernal.
Em meio a esse fervor, orquestrado com uma clara intenção de destruição, o único som que ressoava era uma risada solitária e zombeteira.
— Hahaha! Muito bom!
Quando a poeira baixou, Lewis viu que Wolfgang ainda estava de pé, atrás de si. Embora seu corpo permanecesse estruturalmente intacto, ele apresentava as cicatrizes inconfundíveis do encontro brutal.
A sua pele, outrora saudável e sedosa, foi gravemente queimada, marcada por uma paisagem estéril e enegrecida, revelando a carne crua e pulsante por baixo, enquanto bolhas dolorosas, transbordando com soro amarelado, cobriam outras áreas.
Seus cabelos, fartos e loiros, estavam chamuscados e quebradiços, reduzidos a tufos irregulares de cinza e fumaça. A fuligem se acumulava em seus poros, delineando rugas profundas e linhas de expressão que não existiam apenas momentos antes.
Seus olhos ganharam tons vermelhos e se incharam, quase imperceptíveis atrás de pálpebras trincadas e sangrando.
— Isso realmente foi maluco, mas eu pensei que essa organização treinava agentes melhores. Você mal é um aquecimento antes do prato principal.
Lewis franziu o sobrolho, surpreendido pela reação descontraída de Wolfgang à situação. A sua respiração assumiu uma cadência ofegante e aguda que ecoava como um ritmo crescente no ambiente ansioso.
O soldado esticou os ombros de uma forma despreocupada, como se estivesse a preparar-se para um simples exercício de rotina. Seus lábios curvos revelaram um misto de audácia e zombaria com um sorriso.
— Te dou direito a uma segunda chance. Quer tentar de novo?
A carranca de Lewis se aprofundou. As palavras de Wolfgang foram como um balde de água gelada, apagando a confiança inicial do agente e substituindo-a por uma pontada fria de aflição.
O homem não estava apenas zombando dele; estava brincando com ele.
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