Capítulo 129

As palavras inesperadas de Ruth pegaram Maxi de surpresa, mas Riftan parecia entender por que o feiticeiro havia feito tal pedido.

Perdido em pensamentos, Riftan olhou brevemente para Ruth antes de responder calmamente: “Embora eu possua o prestigioso título de reencarnação de Wigrew, ainda sou apenas um simples cavaleiro vassalo. Uma audiência pública, sim, mas uma privada pode ser difícil. Além disso, o papa está ansioso para afirmar sua autoridade no momento. Ele não concordará facilmente a menos que tenhamos algo interessante para oferecer.”

“Nesse caso”, disse Ruth sarcasticamente, “diga-lhe que possuo conhecimento sobre o objeto que eles têm caçado implacavelmente nos últimos anos. Deixe claro que seria prudente para ele concordar com meus desejos se quiser evitar um problema maior.”

Riftan arqueou uma sobrancelha. “Você quer que eu ameace o representante de Deus?”

“Não é essa a sua especialidade?” Ruth retrucou com firmeza. “Não há tempo a perder. Eu gostaria de falar com o papa hoje, se possível. Se ele se recusar, por orgulho ou qualquer outra coisa, informe-lhe que recorrerei ao Alto Sacerdote Garis. Isso deve persuadi-lo.”

A mandíbula de Maxi caiu. Ruth estava realmente pedindo a Riftan para ameaçar o líder mais influente dos Sete Reinos?

Chocada, ela interrompeu apressadamente: “Chega de rodeios e nos conte o que você descobriu! Se antagonizarmos o papa por algo trivial—”

“Muito bem”, interveio Riftan, cortando-a. “Vou solicitar uma audiência com ele imediatamente.”

Foi só quando Maxi ouviu os passos fracos e ecoantes no corredor que percebeu que alguém havia estado ouvindo sua conversa. Seu rosto perdeu a cor, e Ruth soltou um pequeno suspiro.

“Explicarei tudo depois de ver o papa”, ele disse.

Foi só então que Maxi entendeu a razão por trás da excessiva cautela de Ruth. A Grande Basílica de Osiriya era atualmente um campo de batalha para várias facções. As tensões entre a Igreja Ortodoxa e Reformada, as sutis lutas de poder entre os monarcas, os nobres disputando favor e os servos agindo como espiões por algumas moedas…

Maxi conteve sua curiosidade e assentiu. “Entendi.”

Com seu consentimento, Riftan desdobrou os braços e dirigiu-se à porta. “Vou ver o Padre Lugias. Quero que ambos esperem aqui.”

Como mão direita do papa, o Alto Sacerdote Lugias era responsável por entreter os nobres em nome do papa. Após Riftan sair da sala, Maxi e Ruth se instalaram perto da lareira para esperar em silêncio ansioso.

A mente de Maxi estava em tumulto. Ruth mencionara que a igreja estava procurando por algo, e seu tom críptico indicava que não era apenas sobre os magos das trevas. Se esse fosse o caso, o que exatamente estavam procurando?

Perguntas levavam a mais perguntas, emaranhando-se como fios em sua mente. Impaciente, Maxi se sentiu aliviada quando Riftan entrou na sala.

“O Santo Padre concordou em vê-lo imediatamente”, ele disse, seus olhos escuros fixos em Ruth. Um sorriso torto torceu seus lábios. “Mas devo avisá-lo que ele parecia muito irritado com suas palavras. Não espere que ele tolere sua insolência como eu faço. Você pode acabar enfrentando a forca por blasfêmia.”

“Agradeço o aviso”, murmurou Ruth entre dentes cerrados enquanto se levantava.

Ao saírem da sala, Maxi notou um Cavaleiro do Templo e um clérigo de hábito preto esperando do lado de fora. Deviam estar ali para escoltar Ruth até o papa, ela deduziu. Seu estômago se contorceu em nós. Pelos semblantes, o papa havia considerado a informação de Ruth extremamente perigosa.

“Por favor… leve a sério o aviso de Riftan”, suplicou Maxi ansiosamente a Ruth. “Cuidado para não ofender o papa.”

“Você me vê como uma criança insensata?”, ele disse, lançando a Maxi um olhar incrédulo. Ele balançou a cabeça. “A audiência não deve demorar. Estarei de volta antes que você perceba, então não há motivo para preocupação.”

Com isso, ele seguiu o clérigo pelo corredor escuro. Maxi o observou partir, com preocupação estampada em seu rosto.

“D-Deveríamos, não deveríamos ir com ele?”

“Ele ficará bem sozinho. Não precisa se preocupar”, respondeu Riftan friamente, guiando-a de volta para a lareira.

Maxi olhou para ele, seus olhos cheios de perguntas. “Você sabe o que Ruth descobriu, não sabe?”

“Qualquer um perceberia que a facção Reformada está escondendo algo”, foi sua resposta evasiva.

Franzindo a testa, Maxi o encarou enquanto ele jogava um pedaço de lenha na lareira. Sentindo que ela esperava uma explicação mais detalhada, Riftan soltou um pequeno suspiro.

“Nestes últimos anos, os Cavaleiros do Templo têm vasculhado os Sete Reinos em busca de algo. No início, pensávamos que estavam caçando os remanescentes do exército de monstros, mas investigações mais aprofundadas nos fizeram questionar isso. Agora está claro que estão procurando por um objeto.”

“Q-Que tipo de objeto?”

Depois de fitar o fogo crepitante em silêncio por um tempo, Riftan ergueu a cabeça para encontrar o olhar de Maxi. Ela podia ver sua hesitação, dividido entre o desejo de protegê-la do perigo e sua obrigação de informá-la.

Ele pareceu tomar uma decisão e continuou com calma: “Antes de partir para a campanha, instruí Ursuline a investigar as atividades passadas dos Cavaleiros do Templo. Tanto a Princesa Agnes quanto Sejuleu Aren colaboraram com a investigação. Graças a isso, pudemos descobrir informações importantes.”

Maxi estreitou os olhos, recordando as inúmeras conversas privadas que testemunhara entre Riftan e a princesa. Subitamente, sentiu uma pontada de frustração por ser mantida no escuro sobre tudo.

Empurrando de lado suas pequenas emoções, ela perguntou: “O que… você descobriu?”

“Há três anos, a Grande Basílica de Osiriya substituiu seu tesoureiro sem motivo aparente. Uma mudança altamente incomum, considerando que os cargos na igreja geralmente são vitalícios, a menos que haja um motivo válido para a demissão ou a pessoa seja velha demais ou incapaz de continuar. Além disso, apenas um alto sacerdote confiável pelo papa é designado para essa posição específica. Mas o tesoureiro demitido não manifestou queixa alguma, apesar de ser expulso sem motivo. Então, os Cavaleiros do Templo formaram um grupo de rastreamento e começaram a vasculhar o Continente Ocidental.”

Maxi rapidamente compreendeu a implicação de suas palavras. “Você acredita… que algo foi roubado da basílica?”

Riftan assentiu, sua expressão séria. “Essa é a única conclusão lógica. Os desgraçados que estão criando mortos-vivos por todo o continente, provavelmente roubaram algo da basílica durante o caos da guerra, e o papa anterior manteve isso em segredo para evitar críticas por falhar em proteger os ativos da igreja. Ele então ordenou aos Cavaleiros do Templo, que lhe juraram lealdade, para encontrar e recuperar isso.”

Maxi engoliu em seco nervosamente. Embora Ruth tivesse prometido explicar tudo após seu retorno, ela não pôde deixar de perguntar: “O que você acha… que foi roubado?”

Embora tivesse feito a pergunta em um sussurro, ainda soou alto demais na sala silenciosa.

Depois de observá-la em silêncio, Riftan deu de ombros. “Algo perigoso. Sua perda certamente levaria a severas condenações.”

Maxi mordeu o lábio enquanto tentava lembrar de todos os relicários sagrados pertencentes à igreja. Ela duvidava que os monstros estivessem interessados nos restos sagrados de Darian, o Monarca, e seus doze cavaleiros. E além do fragmento quebrado de Ascalon, a espada sagrada de Wigrew, os equipamentos dos doze cavaleiros estavam atualmente confiados a cavaleiros ativos.

Certamente havia rumores de que a igreja possuía dispositivos mágicos poderosos e livros sobre magia escritos pelos elfos durante o auge do Império Roem, mas se esses eram os itens que os monstros buscavam, eles teriam atacado a Torre dos Magos.

Maxi estava mastigando o lábio quando sentiu dedos frios tocarem seu rosto. Assustada, olhou para cima e encontrou os olhos negros de Riftan fixos nela. Ele suavemente tocou seu lábio rachado com o dedo.

“Não se preocupe tanto. Não importa o que aconteça, eu vou te proteger.”

Um sorriso alegre iluminou o rosto de Maxi. Com apenas algumas palavras dele, ela se sentiu instantaneamente reconfortada. Pegou sua mão e entrelaçou seus dedos.

“Eu também vou te proteger.”

Uma expressão enigmática, entre um sorriso e uma careta, surgiu no rosto de Riftan. Embora ela sentisse que ele estava se divertindo com suas palavras, ela escolheu não ficar zangada. Ele tinha uma tendência a subestimar seu afeto por ele. Desta vez, ela estava determinada a mostrar a ele a extensão completa de seu amor, não importa quanto tempo isso levasse.

Levantando-se da cadeira, ela sentou-se em seu colo. Sentiu-o se surpreender quando envolveu os braços em volta de seu pescoço quente e descansou a cabeça em seu ombro robusto, mas logo ele retribuiu o abraço.

Buscando consolo em seu calor, Maxi perdeu a noção do tempo quando ouviu o som de passos cansados.

Ela saltou para os pés e correu para a porta. Ao abri-la, encontrou Ruth fazendo seu caminho pelo corredor, parecendo exausto.

Ela o inspecionou com olhos preocupados. “V-Você está bem? Eles te maltrataram de alguma—”

“Bem, não posso dizer que recebi uma recepção calorosa. Mas não foi tão ruim quanto eu esperava”, respondeu Ruth, esfregando a nuca. Ele se dirigiu à lareira, sua voz grave enquanto acrescentava: “Haverá um conselho de emergência em breve. Uma coalizão será formada dentro de alguns dias, então é melhor nos prepararmos para uma campanha iminente.”

Maxi sentiu o sangue abandonar seu rosto. Embora tivesse antecipado isso, seu coração afundou mesmo assim.

Riftan agarrou o ombro de Ruth, virando-o de maneira um tanto brusca. “Podemos ter uma explicação agora?”, ele rosnou ameaçadoramente.

“Você já não tem uma ideia?”, retrucou Ruth sombriamente, retirando a mão de Riftan de seu ombro. “Ninguém sabe como, mas o exército de monstros infiltrou-se na basílica e roubou a pedra mágica de Sektor. Essa pedra é como eles conseguiram causar tanto estrago.”

Maxi encarava pasma seu rosto conforme a revelação se fixava.

Enquanto isso, Riftan falou de forma incisiva: “Sektor esgotou sua mana durante a última batalha. A pedra estava vazia.”

“Presumo que eles sejam capazes de recarregá-la”, respondeu Ruth sombriamente, seu olhar mudando para a tempestade de neve agitada do lado de fora da janela. “É altamente provável que também sejam responsáveis pelo clima constantemente frio nos últimos anos e pelas atuais condições erráticas. Os monstros do Planalto de Pamela buscam ressuscitar o Rei Demônio das Montanhas Lexos.”