Capítulo 140

Maxi não visitava o abrigo por um grande senso de retidão. Na maioria das vezes, era porque ter algo para fazer em vez de ficar ociosa no mosteiro a deixava menos ansiosa, e o cansaço físico ajudava-a a dormir. Ela vinha sofrendo de insônia severa recentemente. Os rostos macabros dos soldados mortos enchiam sua mente enquanto ela permanecia acordada no escuro.

Era apenas nos dias em que ela ia ao abrigo que conseguia dormir sem ser perturbada por pesadelos. Se fosse permitido, ela teria visitado todos os dias. No entanto, as mulheres precisavam pedir permissão aos clérigos para sair do mosteiro e eram obrigadas a usar as carruagens e os guardas da basílica. Como não desejavam sobrecarregar os clérigos que já estavam ocupados, limitavam suas visitas a uma ou duas vezes por semana.

Nos dias em que não tinham excursões, se reuniam no pavilhão para costurar túnicas e cobertores para os órfãos. Até mesmo as servas ajudavam na costura de vez em quando, mas não importava quantas roupas novas ou roupas de cama doassem, todas estavam desgastadas ou desapareciam após cinco ou seis dias.

Os itens perdidos aparentemente eram resultados de vagabundos ladrões. Comida e outras necessidades também eram roubadas, mas o abrigo não tinha recursos para impedir isso.

A notícia de que os nobres estavam apoiando a instituição deve ter se espalhado; cada vez mais pessoas vinham buscar ajuda, deixando o abrigo desesperadamente carente de comida, roupas e espaço. Maxi rapidamente percebeu que Levan não era tão pacífica quanto parecia na superfície.

As consequências da invasão dos monstros brotaram na capital como cogumelos venenosos. As periferias da cidade transbordavam de refugiados do norte fugindo do exército de monstros, e os preços dos produtos disparavam.

Embora os comerciantes de cada reino chegassem aos portos de Levan com navios cheios, isso não amenizava a escassez de alimentos. A maior parte do estoque era enviada como provisões militares. Era óbvio que os pobres sofriam mais.

Sempre que visitava o abrigo, Maxi via pessoas famintas vagando pela cidade como fantasmas. Embora os vagabundos raramente se reunissem perto do centro da cidade ou do porto, onde a segurança era rígida, ocupavam a maior parte do espaço ao longo dos muros da cidade.

À medida que o número de pessoas empobrecidas aumentava dia após dia, os suspiros dos clérigos no abrigo se tornavam mais pesados.

“Se não conseguirmos separar os doentes da população em geral em breve, uma praga pode se espalhar.”

Em uma tarde, Maxi estava no abrigo com as outras mulheres nobres quando ouviu a terrível previsão de um clérigo. Ela o olhou horrorizada.

Dezenas de homens e mulheres doentes estavam amontoados no chão da ampla sala, seus corpos cheirando a vômito. Uma das mulheres nobres lutava por ar enquanto recuava em direção à entrada.

“V-Você está dizendo… que todos estão doentes com uma contaminação?”

O clérigo balançou a cabeça apressadamente. “Por favor, não se preocupe, é apenas intoxicação alimentar. As coisas têm se deteriorado rapidamente nesse clima quente, então cada vez mais pessoas estão ficando com problemas estomacais. Mas o problema é especialmente sério nos campos de refugiados. Como eles já estão tão debilitados, até mesmo uma doença leve poderia ser fatal.”

O velho clérigo estalou a língua.

“Muitos já morreram. Não pudemos deixar seus corpos sem enterrar, então aparentemente foram jogados em valas ou enterrados secretamente na floresta… a situação é grave. Se os mortos não forem enterrados adequadamente, a energia da morte pode se espalhar pela cidade e causar uma praga.”

Diante das palavras sombrias do clérigo, os rostos das mulheres nobres ficaram tão brancos quanto lençóis. Percebendo abruptamente que sua plateia era composta de damas que haviam passado a maior parte de suas vidas dentro dos confins de seus quartos, o velho clérigo limpou a garganta.

“Perdoem-me por falar de algo tão desagradável. Parece que toda a tristeza me tornou bastante insensível. Não deveria ter mencionado isso na frente de tão ilustre companhia…”

O clérigo sorriu na tentativa de amenizar o clima, mas o ar permaneceu pesado.

Idsilla perguntou gravemente: “Se o que você diz é verdade, não deveríamos tratar os doentes o mais rápido possível?”

“Nós faríamos se pudéssemos, mas com os preços das ervas subindo tão drasticamente, é tristemente impossível.”

Idsilla apertou os lábios. O abrigo já estava lutando para alimentar seus suplicantes. Com os preços aumentando várias vezes, os clérigos já haviam usado a maior parte de suas doações.

“Por que não enviamos mensagens para nossos parentes pedindo doações?” sugeriu cautelosamente uma jovem nobre que até então estava calada.

Idsilla bufou. “Você acha que os outros territórios estariam em melhor situação quando a capital está em tão grande apuro? Esqueceu que o rei já impôs impostos exorbitantes para financiar o exército da coalizão? Todos estariam com problemas de dinheiro.”

“Então, o que devemos fazer? Nem mesmo o mosteiro seria poupado se uma praga eclodisse,” disse Alyssa, seus olhos se enchendo de lágrimas.

O clérigo, em uma tentativa de tranquilizá-la, disse cautelosamente: “Se conseguirmos manter os refugiados isolados do resto da cidade antes que ocorra um surto, poderemos evitar que uma praga atinja a capital, então—”

“E-eu notei uma quantidade considerável de erva-de-lagarto no nosso caminho até aqui…” Maxi interveio. Ela tinha estado pensando profundamente até então. “Não poderíamos u-usar isso?”

Todos os olhares se voltaram para ela.

“Erva-de-lagarto? Receio nunca ter ouvido falar de tal erva…”

“Erva-de-lagarto é bastante e-eficaz contra dores de estômago. Dá-la a pessoas… c-com indigestão… diz-se que alivia rapidamente os s-sintomas…”

Seu conhecimento sobre erva-de-lagarto era baseado apenas no que tinha lido no livro ilustrado sobre ervas, e sua voz carecia de convicção.

O clérigo a olhou com ceticismo. “Posso perguntar como você conhece essa erva?”

“Eu sou… uma curandeira. Também estudei ervas… enquanto estudava a arte da cura.”

Os olhos de Idsilla se arregalaram com suas palavras. “Eu não sabia que você tinha talentos assim, Lady Calypse.”

“E-eu temo que meus talentos não sejam bons o suficiente para serem mencionados. Ataques de monstros… s-são bastante comuns em Anatol… p-por isso comecei a estudar no ano passado.”

“Como é a aparência da erva?”

Revirando sua memória, Maxi tentou descrever a erva o mais precisamente possível.

“É uma erva com folhas em forma de diamante… que têm manchas pretas nelas. Ela cresce na sombra… e emite um odor azedo quando você quebra os caules.”

“Vejo que você está se referindo à erva daninha que cresce no quintal. Não sabia que podiam ser usadas como ervas.”

Maxi deu ao clérigo um olhar enigmático. Considerando que a maioria dos livros que Ruth tinha recomendado para ela eram do sul, não era surpreendente que o clérigo não estivesse ciente.

Em geral, livros eram um luxo que apenas os ricos podiam pagar, e livros acadêmicos do sul eram especialmente valiosos. Eles praticamente poderiam ser trocados pelo peso em ouro. Portanto, não era surpreendente que o conhecimento que continham circulasse a passos de formiga.

Havia coisas que ela não tinha explicado completamente, e Maxi se apressou em contar toda a história.

“A erva-de-lagarto é v-venenosa, então comê-la assim… pode piorar o problema estomacal. Geralmente é cozida… para remover as propriedades nocivas… antes de ser usada como tratamento.”

“Você se importaria de verificar a erva no fundo, para ter certeza de que é erva-de-lagarto?”

Maxi assentiu, e imediatamente seguiram para o quintal. Lá encontraram erva-de-lagarto crescendo na área invadida por arbustos e ervas daninhas.

Embora ela praticamente tivesse memorizado o conteúdo do livro sobre ervas, era apenas conhecimento em sua cabeça. Sua experiência pessoal com ervas se limitava a vinte tipos de plantas.

Preocupada que sua memória pudesse estar errada, Maxi só abriu a boca para falar depois de estudar meticulosamente a planta.

“A erva-de-lagarto… com folhas tão espessas e escuras quanto estas são altamente venenosas e não podem ser usadas como ervas. Você só deve c-coletar e preparar… aquelas com folhas finas e manchas mais claras.”

Os clérigos prontamente arrancaram algumas folhas e mostraram para ela.

“Essas servem, minha senhora?”

Maxi mediu a espessura das folhas com os dedos e assentiu.

Querendo testar a eficácia da erva imediatamente, os clérigos coletaram um punhado de erva-de-lagarto e a levaram para a cozinha. Enquanto ferviam as folhas dentro de um caldeirão, um cheiro peculiar tomou conta do abrigo. Os clérigos pareciam céticos, mas lentamente deram a mistura para os pacientes mesmo assim.

Felizmente, a erva mostrou-se eficaz, e a respiração dos pacientes ficou menos trabalhosa após uma hora mais ou menos. A erva-de-lagarto era mais potente do que Maxi esperava, e ela soltou um suspiro de alívio. Ela estava secretamente preocupada que pudesse ser ineficaz. Até mesmo os rostos dos clérigos se iluminaram.

“Parece estar funcionando bem. Pensar que tínhamos uma erva tão útil bem debaixo de nossos narizes…”

“E-eu tenho certeza de que não muitos conhecem suas propriedades… por causa dos cuidados exigidos para prepará-la.”

“Você conhece outras ervas que podemos encontrar por aqui?”

A eficácia da erva-de-lagarto deve ter removido todas as dúvidas que os clérigos tinham sobre ela. Agora a consideravam de forma diferente. Depois de inspecionar calmamente a área ao redor do abrigo e apontar algumas das ervas úteis, Maxi retornou ao mosteiro com as outras mulheres nobres.

Quando voltaram ao abrigo uma semana depois, aqueles atingidos por intoxicação alimentar haviam diminuído significativamente. No entanto, por alguma razão, o número total de pacientes aumentou. Os doentes de toda Levan aparentemente se dirigiram ao abrigo quando ouviram rumores de que os enfermos estavam milagrosamente se recuperando.

Como a maioria dos curandeiros habilidosos havia ido com a campanha, atualmente só havia um hospital em funcionamento em Levan. Infelizmente, nem mesmo este hospital conseguia fornecer tratamento adequado por causa dos altos custos das ervas, e a igreja não tinha recursos para cuidar dos doentes. Assim, não era surpreendente que as pessoas corressem para o abrigo quando ouviam rumores de uma curandeira talentosa na instituição.

Sem perceber, Maxi estava agindo como a curandeira do abrigo. Ela vasculhava a floresta com os clérigos em busca de ervas sempre que podia e ocasionalmente até curava pacientes com magia.

As outras mulheres nobres ajudavam ativamente no cuidado dos doentes. Embora algumas franzissem a testa e considerassem o trabalho abaixo delas, a maioria das mulheres estava grata por ter algo para fazer.

“Isto não é nada comparado às dificuldades que meu marido está passando no campo de batalha! Isto é cem vezes mais gratificante do que tremer de medo enquanto rezo, com medo de que ele possa voltar em uma carroça. Meu ato de bondade pode induzir os céus a olharem gentilmente para o meu marido.”

Maxi tinha certeza de que todos sentiam o mesmo. As mulheres cuidavam dos doentes como um ato de oração. Elas prontamente assumiam tarefas simples, como alimentar pacientemente os doentes fracos ou limpá-los com toalhas molhadas. Algumas até aprendiam a preparar as ervas com Maxi.

À medida que os dias passavam em um frenesi, as mulheres gradualmente recuperavam seu vigor, e Maxi também começou a dormir e comer melhor à medida que assumia o trabalho árduo no abrigo.

A escassez de alimentos de Levan foi resolvida quando comerciantes do sul chegaram em um enorme navio carregando porões cheios de comida. Com isso, as condições dentro do abrigo melhoraram. Com notícias após notícias de vitórias vindas do norte, tudo parecia estar mudando para melhor.