Capítulo 141

Flores de verão vibrantes floresciam por toda a capital, e bandos de aves aquáticas mergulhavam acima das correntezas rápidas do Rio Chrysanth.

Cada vez que Maxi passava pela foz do rio, ela sonhava acordada com o verão em Anatol. Havia aves aquáticas brincando acima do lago para onde Riftan a havia levado. O campo pelo qual eles galoparam estaria repleto de flores silvestres agora, e a vinha estaria cheia de uvas maduras.

Como seria maravilhoso se ela pudesse ver todos esses lugares novamente com Riftan antes do final de Ignisias. Ela imaginava os dois remando um pequeno barco no lago cintilante, e uma pontada de saudade aguda a atingia.

“Menos deles têm vindo ultimamente.”

O murmúrio de Alyssa tirou Maxi de sua devaneio. Elas estavam atualmente colhendo ervas no quintal do abrigo.

Maxi virou-se para olhar o rosto queimado de sol de Alyssa e inclinou a cabeça. “O q-que você quer dizer?”

“Quero dizer os carrinhos.”

Os corpos dos soldados passaram pela mente de Maxi. Ela estremeceu e rapidamente afastou as imagens horríveis de sua cabeça.

“S-Sim,” ela respondeu de forma monótona. “Não houve um… em semanas.”

“Deve ser um bom sinal, não é?” Alyssa perguntou, sua voz misturada com esperança e angústia. Maxi não conseguiu responder, e Alyssa continuou fervorosamente, “O próximo mensageiro pode anunciar o fim da guerra. Só temos ouvido notícias de vitórias afinal.”

“S-Seria… maravilhoso.”

Com medo de se decepcionar, Maxi não conseguiu concordar plenamente com Alyssa e, em vez disso, deu-lhe um sorriso ambíguo. Ainda assim, ela secretamente antecipava o fim da guerra também.

O exército da coalizão conseguiu expulsar os monstros das regiões noroeste do reino e atualmente estava lutando para recapturar o Castelo de Eth Lene, no nordeste. Boatos afirmavam que a batalha lá traria o fim da guerra.

Maxi não era a única que antecipava o fim. A esperança fervilhava por toda a cidade como uma febre persistente.

Tentando afastar a sensação ominosa de que isso era apenas a calma antes da tempestade, Maxi mudou de assunto. “Acho que… deveríamos entrar agora. Precisamos voltar para o mosteiro logo. Está… quase na hora das orações da tarde.”

“Meu Deus, já?”

Alyssa olhou para o céu enquanto se levantava lentamente. Como se fosse um sinal, ouviram a voz enérgica de Idsilla sobre suas cabeças.

“Senhoras! Venham para dentro agora e lavem as mãos. Todo mundo já está pronto para ir. Devemos estar de volta ao mosteiro antes da oração da tarde se não quisermos ser repreendidas pelos clérigos!”

“Estávamos prestes a fazer isso,” murmurou Alyssa, contornando a cerca para se dirigir à entrada.

Com um sorriso amargo, Maxi seguiu e entrou no abrigo. Devido ao seu trabalho árduo nas últimas semanas, as condições dentro da instalação haviam melhorado consideravelmente. Os pisos antes sujos agora estavam brilhantes e impecáveis devido à constante varrição e esfregação, e eles haviam contratado carpinteiros recentemente para consertar o telhado, escadas e molduras das janelas. Como resultado, o abrigo não parecia mais um prédio precário.

Maxi observou orgulhosa as mudanças antes de seguir para a cozinha para lavar as mãos e arrumar seus cabelos e roupas desarrumados. Do lado de fora, os cocheiros e guardas as esperavam. As mulheres se despediram dos clérigos com a promessa de retornar antes de entrar nas carruagens.

“Quando vocês pretendem visitar novamente?” perguntou a nobre sentada em frente a Maxi assim que a carruagem começou a se mover.

Alyssa pareceu ponderar por um momento, depois disse com um suspiro: “Eu diria que não será até a próxima semana. Os clérigos no mosteiro pediram que nos abstivéssemos de sair da basílica por um tempo.”

“Por quê? A segurança dentro da cidade não melhorou?”

“Há atualmente um grande número de mercadores do sul na capital, e os clérigos consideram os sulistas politeístas mais perigosos do que os refugiados,” disse Idsilla com seu típico tom sarcástico. “Eles permitem relutantemente que eles entrem em nossa cidade porque precisamos de seu dinheiro, mas acreditam firmemente que eles são problemáticos.”

Franzindo a testa, Maxi retrucou: “I-Isso não é verdade. Sua sabedoria… ultrapassa a nossa. A maioria do… conhecimento sobre a arte de curar que aprendi é baseado em seus conhecimentos.”

“Seria melhor se você se abstivesse de fazer esses comentários na frente dos clérigos,” Alyssa a advertiu cautelosamente. “Os clérigos de Levan são principalmente adeptos da Igreja Reformada, então eles podem ser relativamente tolerantes quando se trata de magia… mas isso não significa que eles também aceitam pagãos. Defendê-los poderia atrair a inimizade deles para você.”

Maxi se sentiu ligeiramente desanimada. “V-Vou… lembrar disso.”

A carruagem viajava lentamente das áreas externas para as vias mais largas e internas. Sentindo-se sem ânimo e cansada, Maxi olhou pela janela. Um alto trompete soou quando chegaram na estrada que levava à praça.

As nobres, que estavam cochilando com a cabeça encostada na parede da carruagem, acordaram abruptamente e olharam pela janela. Os pedestres se apressaram para abrir caminho, e um cavaleiro de armadura galopou passando por eles como o vento.

“Você acha que é um mensageiro?”

“S-Sim, parece que sim,” respondeu Maxi, seu rosto se endurecendo.

As nobres trocaram olhares cheios de esperança e preocupação.

“Pode ser notícias do exército recapturando com sucesso o Castelo de Eth Lene.”

A expressão de Maxi ficou cautelosa. Poderia ser notícias de vitória, mesmo quando o exército considerou a mensagem urgente o suficiente para ser entregue por um cavaleiro em vez de um pombo-correio? Maxi encolheu os ombros enquanto uma sensação de pressentimento fez um calafrio percorrer sua espinha.

Idsilla abriu o painel acima do assento dianteiro e instou o cocheiro a dirigir mais rápido. “Por favor, apresse-se! Devemos saber o que são as notícias o mais rápido possível!”

A carruagem sacolejou quando passou pela praça. Segurando a moeda que Riftan lhe havia dado, Maxi rezou para que fossem boas notícias.

Quando chegaram, o ar na basílica estava pesado de tensão. Os rostos das nobres se tornaram ansiosos quando viram clérigos ocupados em grave deliberação.

O clérigo que saiu para encontrá-las disse com uma voz calma: “Bem-vindas de volta. Não haverá orações da tarde hoje, então vocês podem descansar em seus quartos.”

O clérigo estava prestes a sair quando Alyssa o deteve. “Vimos um mensageiro passar quando estávamos voltando. Aconteceu alguma coisa?”

O clérigo parecia preocupado. Ele hesitou antes de dizer de forma monótona: “Eu poderia muito bem lhes contar agora. A basílica não será mais capaz de cuidar de vocês. Permanecer aqui só significaria muito desconforto. Se alguma de vocês desejar voltar para casa, enviaremos mensagem para suas famílias.”

“O que você quer dizer com isso? Por favor, nos diga o que está acontecendo!” Idsilla exigiu, parecendo que queria estrangular o clérigo.

O clérigo suspirou. “Receio que os monstros tenham virado o jogo da batalha. Eles empurraram nosso exército de volta para a fronteira nordeste até Balto.”

Houve um suspiro coletivo.

Alyssa ficou tonta com a notícia. O clérigo correu para apoiá-la enquanto acrescentava rapidamente: “A situação não é tão terrível, então, por favor, não se preocupem. Como o exército espera que a guerra seja longa, eles enviaram uma mensagem solicitando mais provisões e unidades de apoio. A basílica também enviará muitos de nossos clérigos. O que significa que será mais difícil atender às suas necessidades. Sugiro que vocês voltem para seus—”

“Você está nos dizendo para sair porque somos um incômodo?” disse Idsilla bruscamente. Alarmada pela impertinência da garota, Alyssa tentou contê-la, mas Idsilla não piscou. “Não estamos aqui porque desejamos ser atendidas!”

“Por favor,” disse o clérigo após uma pausa, “sugiro que vocês voltem para seus quartos por enquanto e pensem sobre isso com calma. Vou explicar a situação às outras senhoras.”

Quando Idsilla abriu a boca novamente para argumentar, o clérigo saiu correndo da basílica como se estivesse escapando. Maxi o viu sair com desespero. O abismo da barriga dela picou como se tivesse engolido agulhas. As outras nobres pareciam atordoadas enquanto afundavam nos bancos.

“O clérigo disse que a situação não era terrível, então tudo deve estar bem, não é?”

“Ele pode ter dito isso para não nos preocupar. Se a situação realmente não fosse grave, eles não estariam tentando se livrar de nós, tão grosseiramente.”

A avaliação objetiva de Idsilla apenas aumentou a ansiedade delas. As mulheres voltaram para seus quartos com rostos pálidos como fantasmas. Maxi seguiu para o seu quarto também e caiu na cama.

Seu coração estava tão angustiado e ansioso que, pela primeira vez, ela se arrependeu de ter vindo aqui com os cavaleiros. Se tivesse permanecido em Anatol, não teria sido consumida por uma preocupação tão extrema. Depois de testemunhar os terrores da guerra com seus próprios olhos, não saber se Riftan estava seguro a deixava louca.

Naquela noite, Maxi perdeu completamente a paz de espírito que acabara de recuperar, pois seus pesadelos voltaram. Quando se forçou a sair da cama na manhã seguinte e saiu, deparou-se com rostos tão pálidos e abatidos quanto o dela. Era óbvio que ninguém mais tinha conseguido ter uma noite tranquila também.

As mulheres exaustas saíram do mosteiro como uma fileira de espectros. Depois de passarem pelo jardim, Maxi viu clérigos agitados em todas as direções. Ela deduziu que eles deviam estar se preparando para se juntar à campanha.

De repente, alguém puxou seu braço. Era Idsilla. A jovem nobre colocou o dedo sobre os lábios de Maxi e fez um sinal com a cabeça para que a seguisse. Confusa, Maxi seguiu-a. Idsilla a levou até o pomar e não disse nada até ter certeza de que estavam sozinhas.

“Peço desculpas por te chamar aqui tão de repente, mas há algo que gostaria de discutir com você em particular…”

“O q-que é?”

Idsilla estava tão hesitante, de uma forma tão incomum, que Maxi ficou preocupada. Depois de um momento de silêncio, a garota começou a falar rapidamente.

“Fui questionar todos os clérigos que conhecia ontem porque simplesmente não conseguia ficar parada. Foi-me dito que a unidade de apoio viajará para nordeste até o Castelo de Serbin. Eles pretendem usar o castelo como base e ajudar o exército da coalizão de lá.”

Maxi piscou vagamente. Ela não entendia por que Idsilla estava compartilhando tal informação com ela tão secretamente. Quando lhe deu um olhar questionador, Idsilla hesitou antes de continuar.

“Como o nome sugere, a unidade de apoio é a divisão do exército que auxilia as forças combatentes de trás. Eles são responsáveis por fazer todo tipo de tarefa, como tratar os feridos, lavar roupas, preparar comida para os homens, identificar os mortos, e assim por diante. Acho que um grande número de mulheres se juntará à campanha desta vez. Como a maioria dos homens saudáveis já foi convocada, os clérigos dizem que caberá as clérigas resolverem a escassez.”

Sentindo que a conversa estava estranhamente desviando do assunto, Maxi engoliu em seco.

Idsilla respirou fundo e declarou: “Eu pretendo ir com as clérigas.”

Maxi arregalou os olhos e imediatamente tentou dissuadi-la. “V-Você não deve! S-Seria muito perigoso.”

“Sou filha de um cavaleiro. Tenho meios para me proteger. Além disso, eu não estaria lutando na linha de frente. Apenas ajudaria com as tarefas simples na retaguarda. Acredito que sou totalmente capaz disso. Afinal, não é muito diferente do trabalho que temos feito no abrigo.”

“I-Isso não é a mesma coisa! Segui-los para o campo de batalha—”

Idsilla ficou alarmada com o tom elevado de Maxi e rapidamente cobriu a boca dela. “Por favor, abaixe o tom de voz. Se Alyssa ouvir isso, ela vai me levar para casa como uma mala.”

Maxi decidiu naquele momento informar Alyssa sobre isso imediatamente.

Como se lesse sua mente, Idsilla estreitou os olhos e disse solenemente: “Eu te conto isso em confiança, Lady Calypse. Você não faria nada para trair minha confiança, faria?” 

Maxi hesitou. “Idsilla, p-por favor, reconsidere. Você só tem… d-dezoito anos.”

“O que significa que já faz dois anos desde que cheguei à maioridade. Sou uma mulher adulta que pode assumir a responsabilidade por minhas ações.”