Capítulo 150

Era enlouquecedor como ela estava tão perto de Riftan e ainda assim não conseguia falar com ele. Ela considerou se aproximar e contar a verdade, mas só de imaginar a reação dele, sentiu calafrios na espinha.

“Você aí. O que está fazendo?”

Maxi estava hesitante atrás de uma árvore quando sentiu uma mão em seu ombro. Assustada, virou-se para encontrar um homem robusto tão grande quanto Hebaron olhando para ela.

O homem deu-lhe um sorriso malicioso e aproximou seu rosto peludo. “Você não é uma gracinha? Procurando por alguma companhia?”

Aterrorizada, Maxi começou a recuar. “N-Não, eu estou… n-não.”

“Seja honesta. Eu ficaria feliz em ajudar”, disse o homem com um sorriso sarcástico.

Ele deu um passo mais perto, e Maxi olhou freneticamente ao redor. Embora houvesse soldados por toda parte, nenhum parecia inclinado a ajudá-la.

Tentando desesperadamente esconder seu desconforto, Maxi respondeu com a voz mais fria que pôde reunir: “Obrigada… mas eu não preciso da sua assistência. Agora… s-se me der licença.”

Ela estava prestes a virar quando o homem segurou seu braço. Maxi reprimiu um grito. Ele puxou Maxi para perto dele e rosnou irritado: “Não precisa ser tão esquiva. Se é dinheiro que você quer…”

“O que está acontecendo aqui?”

Maxi girou na direção da voz familiar. Kuahel Leon encarava o homem com seu olhar gélido.

“Você não foi avisado de que qualquer um que cause uma perturbação dentro do acampamento será punido de acordo com a lei militar?”

O homem parecia não se intimidar. “Por que você está exagerando? A mulher parecia estar perdida. Eu só estava tentando ajudar.”

“Ela não é uma mulher”, Kuahel Leon rosnou friamente para o homem sem nem olhar para Maxi. “Você não vê a vestimenta dela? Ela é uma clériga enviada pela basílica. Tenho certeza de que não preciso explicar a você a punição que aguarda aqueles que tentam prejudicar alguém sob a proteção da igreja.”

“Porra, você é um durão, não é?” o homem resmungou descaradamente sem um pingo de remorso. “Como eu deveria saber se ela é uma clériga ou uma mulher aqui para confortar os homens cansados apenas pela aparência dela?”

Os lábios de Maxi tremeram. Finalmente ela percebeu que o homem a tinha confundido com uma prostituta.

Aparentemente cansado da audácia do homem, os lábios de Kuahel Leon se torceram com desprezo. “Estou cansado dessa discussão. Volte para o seu posto antes que eu o puna por zombar de uma clériga da igreja com a sua boca suja.”

O homem fez uma careta e quase arremessou o braço de Maxi para longe. “Sim, sim, tanto faz.”

Maxi se escondeu atrás de Sir Kuahel. O homem deu de ombros com indiferença antes de se afastar tranquilamente. Maxi o observou com cautela antes de sentir um olhar quente perfurando sua cabeça.

Ela olhou timidamente para cima. Kuahel Leon a encarava, com as sobrancelhas franzidas em profundas rugas.

“Siga-me”, ele ordenou curtamente. “Vou te escoltar de volta para a tenda das mulheres.”

Ela estava tão chocada que obedeceu timidamente, aliviada por se afastar. Enquanto atravessavam o acampamento movimentado, ela se manteve perto dele.

Sir Kuahel permaneceu em silêncio até chegarem a um local isolado.

“Por favor, evite se movimentar pelo acampamento sozinha o máximo possível.” Suas palavras eram educadas, mas carregadas de reprovação. “Os exércitos de Livadon, Wedon, Osiriya e Balto estão atualmente reunidos aqui no Castelo Eth Lene, e um terço deles são mercenários contratados. Por favor, abstenha-se de vagar pelos alojamentos do exército sozinha se não quiser encontrar uma situação tão repugnante novamente.”

“Eu v-vou… ter isso em mente.”

O cavaleiro suspirou e se virou. “Você deveria entrar agora. Vou colocar um guarda na tenda.”

“O-Obrigada.”

Maxi entrou como se estivesse fugindo. A tensão saiu de seu corpo, sugando a força de suas pernas. Quando ela cambaleou até seu leito e se sentou nele, Idsilla e Selina correram até ela.

“Você nos surpreendeu quando saiu apressada. Você… o encontrou?”

Maxi balançou a cabeça. “Não. E-Eu só… o observei de longe.”

“Não seria melhor contar a verdade para ele? Afinal, você veio até aqui para vê-lo,” sussurrou Selina. Sua testa franzida sugeria que toda essa tensão era demais para ela.

Maxi corou. Sentiu-se como uma criança tentando desesperadamente adiar sua punição. “Eu não quero incomodá-lo… enquanto estamos em guerra. E francamente… estou com medo de como ele pode reagir.”

“Eu entendo. Elba certamente gritaria como um louco se me encontrasse aqui.”

Idsilla encolheu os ombros com um tremor elaborado. Maxi mal conseguiu sorrir.

“V-Você ouviu notícias do seu irmão?”

“Ainda não. Estou esperando pelo momento certo para visitar os alojamentos livadonianos.”

Sua conversa foi interrompida por uma clériga entrando na tenda. Maxi enxugou as mãos frias em sua batina e tentou esquecer os eventos anteriores.

Isso não aconteceria novamente se ela seguisse as instruções de Kuahel Leon e se abstivesse de vagar pelo acampamento sozinha. Ela tentou acalmar seu coração acelerado enquanto saía com as outras clérigas.

Era noite quando Ruth veio vê-la novamente. A jornada forçada havia piorado as condições dos pacientes, e Ruth teve que cuidar deles antes. Ele indicou com a cabeça para que Maxi o seguisse. Depois de olhar ao redor, Maxi pegou uma pequena lâmpada e saiu.

Ruth os guiou pelo escuro bosque em silêncio por um longo tempo. Depois de verificar que estavam sozinhos, ele prontamente se deixou cair em um toco de árvore, exausto.

“Toda essa tensão vai me matar.”

“Você acha… que ele sentiu alguma coisa?”

Haveria um alvoroço se ele tivesse sentido algo. Acho que ele está muito preocupado com a lesão do Sir Hebaron para notar qualquer outra coisa. Embora eu não tenha certeza se isso é uma coisa boa…”

A expressão de Maxi ficou preocupada. “A condição do Sir Hebaron… é tão séria assim?”

Ruth passou a mão pelo cabelo e suspirou. “O ferimento em si não é tão grande, mas a dor parece ser excruciante por causa da maldição. Mesmo a magia divina se mostrou ineficaz, assim como a minha.”

“E-Então o que deve ser feito?”

“Eu preciso encontrar uma maneira de quebrar a maldição. Você não precisa se preocupar, minha senhora. O homem já suportou coisas piores sem problemas. Ele é tão tenaz que tenho certeza de que conseguirá superar isso também.”

Apesar de suas palavras, o rosto de Ruth estava marcado pela preocupação. Quando a expressão de Maxi também ficou desanimada, Ruth forçou um sorriso e mudou de assunto.

“Deixe Sir Hebaron comigo e foque nos seus próprios problemas, minha senhora. Os Dragões Brancos e do Templo partirão amanhã para ficar de guarda no campo de batalha pelos próximos sete dias. Devemos conseguir respirar mais aliviados durante esse tempo, mas… o problema é quando eles retornarem. Não tenho certeza de quanto tempo poderemos esconder sua presença do Sir Riftan…”

Os olhos de Maxi se arregalaram. “E-Ele vai para o campo de batalha? Você está dizendo… q-que a batalha vai começar logo?”

“Não será uma batalha em grande escala. Ainda não. Os monstros estão atualmente acampados além do desfiladeiro no Vale de Cabro. Para uma batalha em grande escala começar, um dos exércitos precisa passar pelo desfiladeiro estreito. Aquele que der o primeiro passo estará em clara desvantagem. Então, por um tempo, ambos os lados provavelmente estarão travados numa guerra de mentes.”

“I-Isso significa… q-que não será tão perigoso, então?”

Ruth olhou para ela como se ela tivesse feito uma pergunta ridícula.

“Minha senhora, estamos em guerra. Claro que será perigoso.” Depois, ele acrescentou mais gentilmente, “Pessoalmente, não acredito que haverá uma grande batalha por enquanto. Conseguimos garantir provisões suficientes, então não há motivo para o nosso lado correr riscos. Além disso, os monstros provavelmente não tentarão um ataque tão cedo. Eles sofreram pesadas baixas durante sua retirada de Eth Lene. Enquanto a situação não mudar inesperadamente, as coisas devem ficar pacíficas por um tempo.”

“E-Eu entendi.”

Embora soubesse que não deveria se sentir assim, Maxi se sentiu muito confortada com o conhecimento de que Riftan não estaria lutando contra os trolls imediatamente. Ruth soltou uma risada amarga quando viu o alívio em seu rosto.

“A chave para vencer uma guerra prolongada é salvar o máximo de homens possível para uma batalha em grande escala sem baixar a guarda. Me disseram que o exército da coalizão será dividido em três divisões que se revezarão na guarda das linhas de frente. De qualquer forma, acredito que será seguro para você relaxar enquanto os Dragões Brancos estiverem na linha de frente. Vamos deliberar sobre o que fazer quando eles retornarem.”

Maxi assentiu. Depois de tratar dos feridos na tenda da enfermaria, Ruth voltou para seus próprios alojamentos. Maxi permaneceu na enfermaria durante toda a noite, e já era quase amanhecer quando ela finalmente se deitou em sua cama para dormir.

No dia seguinte, os Dragões Brancos partiram para o campo de batalha na fraca luz do amanhecer. Uma estranha sensação de vazio e alívio tomou conta de Maxi enquanto ela os observava partir. Ruth a encontrou enquanto os portões estavam sendo fechados após a saída dos últimos cavaleiros dos terrenos do castelo.

“Eu preciso verificar Sir Hebaron. Se acontecer alguma coisa, mande alguém para a minha tenda. Instruí os soldados para me informarem imediatamente se uma clériga chamar por mim.”

“E-Eu entendi. Obrigada… por fazer tanto por mim.”

Ele deu de ombros como se dissesse que não era nada, e então seguiu em direção aos alojamentos dos cavaleiros.

Maxi passou seu tempo cuidando dos feridos assim como havia feito no Castelo Serbin. Como havia homens designados para preparar as refeições em Eth Lene, as tarefas das mulheres se limitavam a cuidar dos feridos.

No entanto, apesar da diminuição da carga de trabalho, elas se encontravam tão cansadas no final do dia devido às constantes investidas e flertes dos mercenários. Embora os soldados enviados pela basílica fizessem o possível para afastá-los, os olhares dos homens sexualmente frustrados as seguiam para onde quer que fossem.

Alguns eram flagrantes com seus comentários obscenos. Os homens do norte eram os piores. Segundo Ruth, era porque não havia clérigas em Balto, e eles não entendiam que as mulheres ali eram consagradas a Deus.

A depravação deles chocava Maxi. Eles não faziam caso das doutrinas da igreja. Seria normal sentir desejo por uma mulher que não era sua esposa ou amante? Com sua castidade ameaçada, Maxi se sentia aterrorizada.

Além disso, também havia questões práticas que não podiam ser ignoradas. Devido aos olhares constantes, as mulheres não haviam conseguido se lavar adequadamente por dias.

Embora Maxi e as clérigas lavassem o cabelo na fonte pelo menos uma vez a cada três dias, tomar banho havia se tornado um sonho impossível desde a chegada ao Castelo Eth Lene. Depois de um longo dia de trabalho sob o sol escaldante do verão, não poder tomar banho era torturante.

Incapaz de suportar mais, Idsilla gritou: “Não aguento mais! Por que não pedimos aos soldados da basílica para ficarem de guarda enquanto nos revezamos para tomar banho? Não me importo com o quão breve, só quero me mergulhar na água fria.”

As outras pareciam incertas, mas, incapazes de resistir à possibilidade, concordaram em pedir ajuda aos clérigos masculinos.

Felizmente, o sumo sacerdote concordou prontamente com o pedido delas. Dois soldados ficaram de guarda a certa distância enquanto as clérigas se revezavam para tomar banho na fonte em grupos de quatro.

Preocupadas que alguém pudesse reconhecê-las sem seus capuzes, Maxi e Idsilla se ofereceram para ir por último.

Já fazia um tempo desde que Maxi tinha tomado banho. A simples ideia de submergir seu corpo úmido e sujo na água gelada fazia seu coração inchar. Ela estava esperando sua vez com grande expectativa quando ouviu um tumulto do lado de fora.

Perplexa, Maxi espiou para fora da tenda e viu soldados correndo pelo acampamento.

“A-Aconteceu alguma coisa?”

Uma clériga entrou correndo na tenda. “Os homens da frente retornaram”, exclamou ela. “Alguns deles estão feridos.”

Maxi se levantou de um salto. Como se estivesse combinado, ela viu soldados carregando os feridos em direção à enfermaria. Ela saiu apressadamente e guiou os homens até as camas vazias.

Havia sete feridos no total, e embora nenhum estivesse em estado crítico, todos reclamavam de dor excruciante.

Depois de avaliar suas condições, Maxi se virou para um dos soldados que haviam trazido os homens. “O-Os outros… estão todos bem?”

“Alguns dos cavaleiros ficaram feridos, mas foram tratados com magia. Esses homens são os últimos dos feridos.”

“Houve alguma perda de vidas?”

“Nenhuma.”

Com um suspiro de alívio, Maxi imediatamente começou a preparar as ervas e instrumentos médicos. Os soldados ajudaram os homens a tirar a armadura enquanto ela fazia isso.

Maxi se agachou ao lado de cada um deles e inspecionou seus ferimentos. Um parecia ter uma costela quebrada, pois seu peito estava escurecido. Outros dois jorravam sangue de ferimentos de lança em suas pernas.

“Esses homens só têm contusões leves”, Nora, que estava avaliando os homens restantes, gritou para Maxi. “Vou aplicar compressas mornas em seus ferimentos, então por favor atenda primeiro aqueles que estão sangrando.”

Maxi imediatamente pegou os coagulantes e uma bacia de água fervida. Um dos ferimentos na coxa estava coberto por um tecido encharcado de sangue e rígido. Maxi cortou e limpou o sangue e a sujeira, revelando um corte profundo.

Depois de remover coágulos de sangue e outras impurezas da lesão, ela espalhou o coagulante sobre o corte e aplicou o desintoxicante. O soldado se contorceu de dor, e Maxi estava encharcada de suor quando terminou.

“Fiz o q-que pude por ele. Por favor, tenha os remédios para a dor e a f-febre prontos.”

“Entendido!”

As clérigas agiram em perfeita coordenação. Apesar da rapidez de suas ações, no entanto, já era quase o pôr do sol quando terminaram de tratar todos.

Exausta, Maxi sentou-se no canto para recuperar o fôlego. Seu rosto estava vermelho de correr pela abafada tenda o dia todo com o capuz sobre a cabeça.

Enquanto se abanava, ela se perguntava se os Dragões Brancos estavam descansando em seus alojamentos agora. O soldado a havia informado que mais ninguém estava ferido, então era seguro presumir que Riftan estava bem?

Ela estava perdida em seus pensamentos quando de repente ouviu a voz urgente de Idsilla.

“Lady Calypse!”

Maxi virou-se para encontrar a garota agitando uma toalha animadamente para ela.

“O que você está fazendo aí? Se já terminou de cuidar dos homens, vamos logo para a fonte tomar um banho antes que escureça.”

“A-Agora mesmo?”

“Se perdermos essa oportunidade, quem sabe quando teremos outra. Os soldados ainda devem estar lá. Vamos logo!”

Maxi rapidamente pegou uma barra de sabão e uma muda de roupas. Apesar das sombras crescentes, seu desejo por um banho era agudo. Determinadas a se limpar, as duas mulheres correram em direção à floresta que escurecia.

Elas correram ao longo do caminho da floresta por um tempo antes de avistarem os guardas adiante.

Virando as costas para os homens, Idsilla disse: “Eu vou pedir a eles para ficarem de olho enquanto tomamos banho, então você vá primeiro.”

Com isso, ela partiu como uma flecha sem esperar pela resposta de Maxi. Embora Maxi estivesse um pouco inquieta em andar pela sombria floresta sozinha, ela se apressou em direção à fonte, determinada a lavar antes que o sol desaparecesse completamente.

Uma clara fonte logo surgiu entre as densas árvores, e Maxi correu animadamente em direção a ela. Ela estava prestes a se despir quando ouviu o som de água sendo agitada nas proximidades. Ela ergueu a cabeça com um suspiro.

Não muito longe de onde ela estava, um homem de constituição poderosa estava meio submerso na água. Ela estava olhando chocada para as costas lisas do homem quando ele de repente virou a cabeça.

Maxi abaixou apressadamente a dela. Um suor frio brotou em suas costas, e seu coração batia erraticamente. O homem não era outro senão Riftan.