Capítulo 180

Maxi folheou os pergaminhos com as mãos trêmulas. Não havia dúvida: aquele era o rascunho da runa que ela mesma havia destruído.

Ela olhou para o ancião, perplexa. “P-Por que você tem isso, Mestre Calto?”

“Eu consegui com o Landon,” ele disse com sua habitual indiferença.

“M-Mas o Mestre Landon devolveu o rascunho para mim.”

“Ele te deu uma cópia, não o rascunho original que você entregou,” respondeu Calto, massageando a têmpora. “Antes das apresentações, os magos principais testam as runas enviadas para evitar problemas devido a falhas não percebidas. O rascunho que você tem agora é uma versão simplificada do núcleo da sua runa. Fique tranquila, a Torre não possui a totalidade da sua runa de golem.”

Maxi rapidamente folheou as páginas. Embora apenas parte da runa estivesse ali, qualquer mago proficiente em dispositivos mágicos poderia deduzir sua função. Ela olhou para Calto, desconfiada.

“Eu disse ao Mestre Landon que não tinha intenção de apresentar isso, então por que… ele te deu isso?”

Calto respondeu calmamente, “Me disseram que você escolheu não apresentar porque temia ficar presa em Nornui. No entanto, a Torre revisou drasticamente seus padrões sobre magia proibida. Sua runa provavelmente não seria mais classificada como tal.”

Os olhos de Maxi se arregalaram com a notícia surpreendente. Enquanto isso, o ancião continuou despreocupadamente, “Em troca da nossa ajuda, a Torre garantiu a promessa do papa de proclamar um novo edito sobre magia. Haverá uma revisão na doutrina que declara a magia como uma força contrária à vontade divina. Em breve, muitos feitiços proibidos serão permitidos.”

Maxi segurou a cabeça, lutando para seguir suas palavras. Sentia uma forte dor de cabeça se aproximando.

As duas facções da igreja tinham opiniões opostas sobre magia. A Igreja Reformada adotava uma postura mais leniente em comparação com a Igreja Ortodoxa, que via a magia como pecado. Mas, quando se tratava de magia ofensiva, até mesmo a facção Reformada mais tolerante era contra. Uma proclamação unilateral do papa não mudaria essa percepção da noite para o dia. Mais provavelmente, desencadearia uma enorme reação contrária.

Maxi mordeu o lábio, ainda não convencida pela garantia de Calto de que a runa não a colocaria em problemas. Se a facção Ortodoxa recuperasse o poder, sua runa poderia rotulá-la como herege, e ela teria que enfrentar um julgamento.

Mas talvez possamos conseguir defender a cidade com isso.

Ela olhou para o pergaminho em sua mão. Embora o rascunho completo tivesse sido destruído antes de ela deixar a Torre dos Magos, ela estava confiante de que isso era tudo o que precisava para recriar a runa.

Fortalecendo-se, ela declarou, “Eu farei os golems. Mas vou precisar da ajuda dos magos.”

“Deixe os magos de Umri ajudarem. O resto de nós protegerá as muralhas. Aqueles que não são bons em defesa devem te auxiliar também.”

“Vou precisar também… de pedras de alta qualidade,” acrescentou Maxi, hesitante.

A testa de Calto se franziu, refletindo sobre os recursos limitados. Finalmente, ele disse, “Use as pedras que precisar. Os golems nos ajudarão a defender a cidade, mesmo sem dispositivos mágicos.”

Profundamente pensativa, Maxi encarou a vela tremulante sobre a mesa. Se ela reduzisse o tempo de sono, deveria conseguir terminar um golem em cinco dias. As muralhas teriam que resistir até lá. Ela decidiu reservar quatorze pedras para os dispositivos mágicos, usando o resto para os golems.

“Vou começar agora mesmo. Você sabe onde… Alec e Dean estão?”

“Eles estão consertando as armas de cerco no parapeito,” respondeu Calto, recostando-se na cadeira.

Maxi percebeu de repente que o rosto do ancião estava muito mais pálido que o normal. Manter um escudo ao redor de uma cidade inteira era claramente exaustivo, até mesmo para ele.

Esfregando os olhos avermelhados, Calto acrescentou, “Você pode usar a sala de trabalho no terceiro andar. Eu a preparei para você.”

Enrolando os documentos, Maxi os guardou em sua túnica antes de sair. Havia nevado novamente. A camada fresca de neve rangia sob seus pés enquanto caminhava.

Ela girou a válvula da lâmpada para aumentar a luz e, em seguida, subiu cuidadosamente as escadas até a muralha. Vários soldados com tochas montavam guarda. Além deles, ela avistou os irmãos Godric, concentrados em consertar uma catapulta.

“Preciso da ajuda de vocês,” disse ela ao se aproximar.

Alec parou, olhando para cima da corda rompida que estava substituindo. “Com o quê?”

“Venham comigo. Vou explicar no caminho.”

Os irmãos trocaram um olhar antes de abaixar suas ferramentas e se levantarem. Juntos, o trio caminhou ao longo da muralha, onde o olhar de Maxi foi atraído pela visão assustadora abaixo. Milhares de olhos vermelhos brilhavam na escuridão sob um céu sem estrelas. Após um momento de coragem, ela continuou.

Eles começaram a trabalhar no golem sem demora. Maxi elaborou as fórmulas mágicas complexas usando inúmeros símbolos, enquanto Alec e Dean desenhavam os projetos sob sua orientação. Logo ficou claro que os irmãos eram fracos em teoria mágica, pois não entendiam como a runa funcionava.

No entanto, o rascunho deles era impecável. Não era à toa que o trabalho dos gêmeos era conhecido como o melhor de Salão dos Gnomos. Maxi só podia observar admirada o golem que eles haviam projetado conforme suas especificações.

“Se continuarmos nesse ritmo, acho que conseguiremos terminar muito mais rápido,” comentou Maxi.

“Você acha que pode ser feito ainda hoje?” Dean perguntou, olhando para cima do diagrama intrincado, seus olhos brilhando de expectativa.

Maxi o olhou incrédula. “O rascunho em que estamos trabalhando é apenas o núcleo do golem. Ainda faltam o circuito de mana e o exoesqueleto. Depois disso, precisamos combinar todas as runas.”

Alec estremeceu. “Só de pensar nisso me dá arrepios.”

“Pare de resmungar e continue trabalhando,” repreendeu Maxi, anotando mais fórmulas.

Vendo um erro, ela irritadamente rasgou a parte inferior do pergaminho. Seus cálculos apressados pareciam estar levando a detalhes incorretos com mais frequência do que o normal.

Com um longo suspiro, ela pegou uma folha nova. Nesse momento, Anette entrou na sala.

“O Mestre Calto disse que você precisava de ajuda. Eu entendi a essência, então me diga o que fazer,” disse ela, seguida por um grande bocejo.

Maxi sentiu um alívio enorme. Sua salvadora estava ali.

“Estamos fazendo o circuito de mana do golem. Você poderia organizar essas fórmulas?”

Anette marchou até a mesa, onde pegou alguns pergaminhos da grande pilha empilhada. Após folheá-los, franziu os lábios e soltou um assobio baixo.

“Eu sempre soube que você tinha talento para teoria mágica, mas isso é excepcional.”

Ao contrário dos irmãos, Anette parecia não ter problemas para entender a mecânica da runa. Uma série de exclamações escapou dela enquanto examinava a pilha, um pergaminho de cada vez.

“P-Por favor, admire depois,” disse Maxi, impaciente. “Preciso que você comece a trabalhar.”

“Não me apresse. Preciso entender para saber o que devo fazer. Ao contrário desses dois, eu não consigo criar diagramas sem a teoria.”

Puxando sua cadeira para mais perto da mesa, Anette apontou o polegar para os irmãos enquanto se sentava. Os gêmeos franziram a testa, sem saber se levavam suas palavras como um elogio ou insulto. No final, deram de ombros desinteressados e voltaram ao trabalho.

Maxi suspirou e entregou os documentos de Calto a Anette. “Isso deve te ajudar a entender a estrutura fundamental.”

Anette aceitou a pilha de pergaminhos e demorou-se estudando-a. Quando finalmente levantou a pena para começar a organizar as fórmulas, Maxi voltou sua atenção para a elaboração da runa.

Lentamente, o papel amarelado à sua frente se encheu de pequenos símbolos. Ela estava profundamente concentrada quando um barulho alto ecoou lá fora.

O ataque inimigo havia recomeçado.