Capítulo 33
A voz tirou Maxi de sua desagradável devaneio. Ela se virou para ver dois jovens em túnicas pretas olhando para ela com expressões confusas. Reconhecendo-os como dois dos escudeiros que ela havia visto no banquete, ela se endireitou. Os jovens a cumprimentaram com as mãos no peito e fizeram uma reverência respeitosa.
“Não precisa se alarmar, minha senhora. Só queríamos ter certeza de que você está bem.”
“T-Tudo bem. Obrigada, oh…”
Incerta sobre como chamar o jovem escudeiro, Maxi desviou os olhos incertos. O jovem de cabelos prateados e bonito se apresentou rapidamente.
“Por favor, perdoe minha apresentação tardia, minha senhora. Eu sou Ulyseon Rovar, e serei cavaleiro no próximo ano.”
O jovem alto que estava em pé ao lado dele seguiu o exemplo.
“Garrow Livakion, minha senhora. Eu serei cavaleiro no mesmo dia que meu amigo aqui.”
“Eu sou Maximilian C-Calypse.”
Ela olhou para eles de forma desajeitada, sentindo-se boba por se apresentar quando eles já a conheciam. Ulyseon lhe lançou um sorriso tranquilizador.
“Você estava dando um passeio, minha senhora?”
“N-Não… eu estava apenas inspecionando o castelo.”
O rosto de Ulyseon ficou sério. “Podemos estar dentro da segurança dessas paredes, mas ainda é perigoso para você andar sozinha, minha senhora. O castelo tem recebido mais visitantes ultimamente, e se ocorresse um acidente…”
“Um a-acidente?”
Sua voz saiu trêmula, o que por sua vez deixou o jovem em um embaraço.
“Não foi minha intenção assustá-la. Eu só estava preocupado… Oh! Você me permitiria acompanhá-la, minha senhora?”
“T-Tudo bem. Eu não q-quero tomar seu t-tempo…”
“É uma honra para um cavaleiro servir uma dama. Eu ainda não sou um cavaleiro, mas estou preparado para protegê-la com minha vida!”
Seu fervor surpreendeu Maxi. Enquanto ela dava um passo para trás, Garrow o cutucou nas costelas.
“Pare de exagerar, Uly.”
“Eu sempre cumpro com minhas palavras!” exclamou Ulyseon.
Mas o som de seu próprio grito parecia convencê-lo de que ele estava exagerando. Ele limpou a garganta e dirigiu-se a Maxi com uma voz mais calma.
“De qualquer forma, você não deve andar sozinha. Se quiser, posso chamar os guardas para acompanhá-la.”
“Eu estou apenas f-fazendo um passeio… não há n-necessidade de c-chegar a tanto…”
“Essas paredes não garantem segurança, minha senhora! Se algo acontecesse, eu nunca seria capaz de enfrentar o Lorde Calypse…”
O rosto de Ulyseon empalideceu com suas próprias palavras.
“Se isso l-lhe preocupa tanto, então p-por favor…”
O rosto do escudeiro se iluminou instantaneamente.
“Onde devo acompanhá-la, minha senhora?”
“E-Eu estava a caminho da forja…”
“Que coincidência! Era para lá que estávamos indo. Permita-me conduzir o caminho.”
Ulyseon tomou a dianteira com um salto em seus passos. Garrow deu de ombros e o seguiu. Maxi hesitou, então começou a seguir com passos silenciosos.
A calorosa atenção do jovem escudeiro era refrescante. Embora Riftan fosse atencioso, sua maneira era brusca. Ruth tinha uma língua afiada e nunca escolhia suas palavras, enquanto o restante dos cavaleiros simplesmente ignorava sua existência.
Eles devem ter quinze anos, ou dezesseis no máximo.
“Você tem algum negócio especial na forja?”
“Nada em p-particular, mas ouvi dizer que os comerciantes visitam menos d-durante o i-inverno… e queria ver s-se eles precisavam de a-algo.”
“Íamos para a forja porque minha espada quebrou durante o treino” respondeu Ulyseon alegremente, apontando para a espada presa em seu cinto. “É embaraçoso admitir, mas esta é a segunda vez que acontece este mês. O ferreiro me repreende toda vez que me vê.”
Ele corou ligeiramente, e Maxi sorriu com sua sinceridade. Sua vontade de agradar a deixou um pouco desconfortável, mas ela podia ver que ele era um jovem gentil e sincero.
“Assim, nunca me tornarei nem um décimo do cavaleiro que o Sir Riftan é. Nem mesmo as pontas dos pés dele.”
“Seremos Cavaleiros dos Dragões Brancos no próximo ano, Uly. Não está estabelecendo a barra muito baixa para si mesmo?”
“Garrow, você não entende como o Sir Riftan é incrível. Esqueça um décimo! Tornar-se até um centésimo do cavaleiro que ele é seria uma conquista notável!”
“É mesmo?”
Garrow claramente já estava cansado da adoração de seu companheiro por Riftan. Maxi, no entanto, parecia satisfeita.
“R-Riftan é realmente um cavaleiro tão habilidoso?”
“Habilidoso é pouco para descrevê-lo!” Ulyseon olhou para ela incrédulo. “Sir Riftan é verdadeiramente o maior entre os cavaleiros. Ele não é chamado de reencarnação de Wigrew à toa! Apenas cinco cavaleiros no continente receberam essa honra, e dois deles foram derrotados por ele. Ele venceu Sir Sejuleu Aren de Livadon durante uma competição de esgrima seis anos atrás, e Sir Kuahel Leon de Osiriya não muito tempo atrás!”
Maxi sorriu incerta. Ela já tinha ouvido o nome do comandante dos Cavaleiros do Templo em várias ocasiões, mas tinha pouca ideia de sua fama ou da de Riftan por ter derrotado um homem assim.
“Decidi me tornar um cavaleiro depois de ver a habilidade com a espada do Sir Riftan em uma competição. Eu o admiro desde então!”
“E-Eu entendo…” sussurrou Maxi, incerta de como deveria reagir.
Ulyseon franziu a testa com sua reação morna.
“Parece que a senhora está pouco familiarizada com a grandeza de seu marido.”
“E-Eu sei! Ele a-abateu o d-dragão…”
“Ele já era um grande cavaleiro antes da Campanha do Dragão. A senhora já o viu empunhando uma espada, minha senhora?”
“C-Claro que sim! Eu o v-vi lutando contra m-monstros…”
Ela se calou, incerta se poderia afirmar ter visto alguma coisa. Da primeira vez, ela desmaiou, e da segunda vez, tudo já havia acabado antes que ela percebesse o que havia acontecido. Relutante em dar a impressão de que não sabia nada sobre seu próprio marido, ela preencheu as lacunas em sua memória com exageros.
“E-Eu vi Riftan c-cortando um gigante adulto ao meio! Eu v-vi com m-meus próprios olhos! D-Dez gigantes nos atacaram, e ele s-se livrou de t-todos em um piscar de olhos!”
Na verdade, ela não conseguia se lembrar de quantos monstros havia. Mas ela teimosamente manteve sua pretensão, certa de que não havia menos de dez. Dois pares de olhos começaram a brilhar em admiração.
“Dez ogros gigantes! Sério?”
“Que história incrível! Você poderia nos contar mais?”
Maxi recuou. Ela pôde perceber pelos rostos ansiosos dos escudeiros que eles esperavam uma história épica, mas ela já tinha dito demais para admitir a verdade. Desesperadamente, ela vasculhou sua mente em busca de contos heroicos que os bardos contavam.
“N-Nós estávamos na c-carroça quando ouvimos um r-ruído f-feroz! Era t-terrivelmente alto, alto o suficiente para r-rasgar o c-céu ao meio! Eu p-pensei que o c-céu estava caindo. Eu f-fiquei p-paralisada, mas R-Riftan saltou da c-carroça, espada pronta na mão. E-Ele se movia tão r-rápido, que eu nem v-vi ele s-sacá-la.”
“Ninguém pode bater o Sir Riftan em sacar espadas!” exclamou Ulyseon excitado. “Seus inimigos esguicham sangue dos pescoços antes mesmo de verem sua lâmina brilhar.”
A cena que dava pesadelos era apenas um conto encantador para os jovens. Maxi achou isso perturbador, mas continuou.
“Havia d-dez gigantes tão grandes quanto este castelo. T-Todos os c-cavaleiros sacaram suas espadas, e R-Riftan liderou o ataque. E-Ele brandiu sua espada no g-gigante mais g-grande, e c-com um f-flash de l-luz…”
Ela semicerrava os olhos, tentando se lembrar. O que Ulyseon tinha dito mesmo?
“A c-cabeça do m-monstro rolou para o c-chão, e começou a esguichar s-sangue do pescoço!”
“É claro! O a-aura da espada do Sir Riftan pode até cortar o S-Sopro do Dragão!” Ulyseon interveio excitado. “Um mero ogro não é nada!”
Com os olhos brilhando, os escudeiros esperavam que ela continuasse. Eles não mostraram sinais de frustração com sua gagueira. Seu entusiasmo alimentou sua excitação, e ela começou a balançar uma espada imaginária.
“Vendo seu parente assassinado, outro gigante soltou um rugido ensurdecedor. Ele balançou um clube tão grosso quanto esta árvore em direção ao R-Riftan! M-Mas Riftan saltou alto como uma águia em voo e desviou o golpe!”
Ela sorriu interiormente, elogiando sua própria escolha de palavras.
“O gigante era m-muito lento e bateu o chão com seu c-clube. A terra tremeu a cada golpe!”
Ela balançou os braços e fingiu bater no chão. Os escudeiros tensionaram os ombros expectantes. Maxi, que nunca tinha visto alguém tão absorvido por suas palavras, ficou ainda mais exaltada.
“Riftan empunhou sua espada novamente! Um f-flash repentino, e o braço do ogro caiu no chão, c-cortado limpo como uma s-salsicha! E s-sangue…”
Notando que os olhos dos jovens brilhavam com renovado entusiasmo a cada menção de sangue, ela levantou os braços e começou a gritar dramaticamente.
“S-Sangue jorrou como chuva quando o g-gigante sacudiu seu toco decepado! Uma chuva de s-sangue negro!”
“E nos levou meio-dia para lavar aquele sangue de nós.”
Maxi parou de agitar os braços e congelou.

Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.