Capítulo 54
Maxi se virou para ver Ruth de pé atrás dela. Ela ficou surpresa ao ver que ele parecia visivelmente mais pálido, talvez pelo esforço de tentar curar tantas pessoas. Com um suspiro cansado, Ruth se agachou ao lado do sentinela e levantou cuidadosamente o braço quebrado do homem.
“Minha senhora, seria tão gentil a ponto de segurar o ombro dele?”
Maxi olhou para o rosto inconsciente do homem antes de pressionar suas mãos sobre o ombro dele. Com Maxi contendo o homem, Ruth rapidamente puxou o braço dobrado para realinhar os ossos quebrados. Enquanto ele fazia isso, os olhos do sentinela se abriram. Seu corpo começou a se debater com tanta força que quase derrubou Maxi.
“Minha senhora! Você precisa segurá-lo!”
Depois de lutar para recuperar o equilíbrio, Maxi empurrou novamente o ombro do homem para baixo. Quando ele terminou de recolocar os ossos, Ruth colocou sua mão sobre a ferida sangrando e a envolveu em luz branca.
Maxi observou com uma expressão vazia. Em sua memória, a magia de cura era fria e amarga. Cada vez que um clérigo vinha tratá-la após uma surra de seu pai, a magia deles parecia gelo queimando sua pele.
Mas a luz envolvendo o sentinela parecia luz solar de primavera, suave e calorosa. Maxi estendeu a mão. Assim como da última vez em que tocou o carvalho pelo pavilhão, ela sentiu uma sensação de queimação na ponta dos dedos. O calor penetrando em sua mão era intoxicante.
Enquanto isso, Ruth examinava o braço curado do sentinela antes de abaixá-lo de volta ao chão.
“As garras e dentes de lobisomem contêm veneno, então por favor dê a ele o desintoxicante quando ele acordar. É melhor se você ferver as ervas e fazê-lo beber a poção.”
Maxi se levantou, sacudindo a estranha sensação.
“Eu vou pedir aos servos para ferver algumas imediatamente.”
“Obrigado.”
Ruth sentou-se em uma cama de palha para recuperar o fôlego. Ele parecia exausto. A magia de cura, parecia, consumia muita energia. Deixando-o descansar, Maxi saiu para dizer aos servos para ferver as ervas em um caldeirão cheio de água. Ela estava prestes a retornar à tenda com lenha para o braseiro quando notou um grupo de sentinelas e cavaleiros queimando carcaças de lobisomem em um terreno vago.
Maxi congelou diante da visão horrível. Quando o cheiro de carne queimada chegou ao seu nariz, a náusea que ela vinha reprimindo subiu pela garganta.
Ela deixou a lenha cair no chão e correu para a floresta. Seu estômago se retorcia dolorosamente enquanto ela se agachava diante de uma árvore e vomitava. A bile aquosa respingava nas raízes, e lágrimas escorriam por suas bochechas.
Ela estava tentando recuperar o fôlego quando ouviu uma voz baixa a chamar por trás.
“Você aí, está tudo bem?”
Maxi virou a cabeça, assustada, e viu um jovem cavaleiro de cabelos arenosos parado a alguns passos de distância. Seus olhos se arregalaram quando viram seu rosto.
“O que você está fazendo aqui, minha senhora?”
Envergonhada, Maxi rapidamente enxugou a boca nas mangas.
“Eu estava c-coletando lenha…”
Ela se interrompeu. Não queria admitir que estava doente.
“Este não é um lugar para você, minha senhora. Você deveria voltar para o castelo. Vou chamar um sentinela para acompanhá-la.”
Sem esperar por uma resposta, o cavaleiro virou-se e foi chamar um sentinela. Envergonhada, Maxi rapidamente foi atrás dele.
“I-Isso não será n-necessário. Você não precisa s-se preocupar—”
“Como podemos não nos preocupar quando você está vagando por essas florestas escuras sozinha? Você não é necessária aqui, então por favor, volte.” O jovem cavaleiro virou-se para os sentinelas que estavam por perto. “Você aí! Prepare a carruagem. A Lady Calypse está retornando ao castelo!”
Indignada, Maxi caminhou à frente dele e bloqueou seu caminho. Surpreso, o cavaleiro parou. Embora suas pernas tremessem de terror, Maxi firmou os nervos e o encarou.
“Como a dama de Anatol, é meu dever o-oferecer minha a-assistência! N-Não é seu lugar d-dizer que não s-sou necessária aqui.”
Ela queria soar digna, mas sua voz falhou, e ela tropeçava nas palavras mais do que o habitual. Suas orelhas ficaram vermelhas de uma vergonha insuportável. Ela mordeu os lábios, piscando nervosamente antes de abaixar os olhos para olhar para o chão.
“V-Você não precisa s-se preocupar comigo. V-Volte a s-se o-ocupar com o que e-estava fazendo.”
Antes que o cavaleiro pudesse dizer algo, Maxi pegou a lenha e voltou apressada para a tenda. Com o coração acelerado, ela jogou parte da lenha na fogueira moribunda e olhou nervosamente para a entrada.
Depois de um momento preocupante, pensando que o cavaleiro a considerava uma tola arrogante e gaguejante, ela decidiu que não importava. Os cavaleiros já a desprezavam; faria pouca diferença se o desgosto deles aumentasse um pouco mais. Com os ombros caídos, ela colocou a lenha restante ao lado do braseiro antes de se aproximar de Ruth.
“E-Está se s-sentindo melhor, Ruth?”
Ruth ergueu os olhos do tratamento do tornozelo quebrado de um lenhador e suspirou. Ele parecia visivelmente cansado.
“Eu quase esgotei minha magia. Não poderei usá-la por pelo menos meio-dia. Cuidei dos que estavam em estado crítico, mas o resto terá que ser tratado sem magia por enquanto.”
“D-Devemos c-chamar um c-curandeiro da v-vila?”
“Há apenas um curandeiro em Anatol que é capaz de nos ajudar, mas não seria certo pedir a ele que abandonasse seus pacientes. Podemos enviar nossos feridos para ele em vez disso.”
Ruth se levantou e acariciou o queixo, tentando determinar quem entre os feridos deveria ser enviado embora.
“O curandeiro não pode levar todos esses homens. Enviaremos aqueles que foram envenenados pelo veneno de lobisomem e trataremos o restante nós mesmos.”
Maxi engoliu em seco. “O que eu devo f-fazer?”
“Nada muito difícil. Comprima feridas inchadas com panos quentes, use ripas para imobilizar ossos quebrados e costure feridas abertas.”
“C-Costurar…?”
Maxi parecia que poderia desmaiar. Ruth suspirou.
“Eu farei a costura. Vossa senhoria pode ajudar.”
“T-Tudo bem.”
“Mas primeiro, devemos enviar aqueles com febres altas para o curandeiro.”
Ruth saiu da tenda. Depois de tomar um momento para acalmar seus nervos, Maxi o seguiu.
Seguindo as instruções de Ruth, os servos içaram quinze homens com febre para as carroças e os enviaram ao curandeiro da vila. Aqueles que foram tratados por Ruth receberam mingau e desintoxicantes preparados pelas criadas. Quando recuperaram a força, começaram a reparar as casas.
Havia oito cabanas no total, todas ocupadas por lenhadores, e quatro delas tinham paredes danificadas. Com uma onda de frio esperada para aquela noite, os homens não sobreviveriam se os reparos não fossem feitos imediatamente. Maxi tentou ouvir as instruções de Ruth em meio ao barulho ensurdecedor dos homens cerrando madeira e martelando nas paredes.
“Encharque um pano limpo em licor forte e use-o para limpar as feridas. Isso reduz as chances da ferida infeccionar, embora não saibamos o motivo.”
“É p-por causa de alguma c-coisa no licor?”
“É possível. Licor nunca estraga.” Ruth passou a linha por um pequeno orifício de uma agulha. “É um método usado pelos curandeiros do sul. Segundo eles, uma ferida deve ser mantida limpa, o sangramento deve ser evitado a todo custo, e os corpos dos pacientes nunca devem ficar muito frios ou muito quentes. Achei que fosse conversa fiada no começo, mas seus métodos se mostraram mais eficazes do que usar urina de cachorro e sanguessugas ou cauterizar a ferida com ferro. Embora inferior à magia, seus métodos são úteis nessas situações.”
Ruth começou a costurar a ferida aberta. Maxi estremeceu como se a agulha estivesse a espetando. “Fazer um nó após cada ponto facilita a remoção da linha uma vez que a ferida tenha cicatrizado. Gostaria de tentar?”
Maxi balançou a cabeça vigorosamente. Ela não queria ser vista como covarde, mas não conseguiu reunir coragem suficiente para perfurar a pele de alguém com uma agulha.
“Não é diferente de costurar sapatos de couro.”
Um gemido escapou do sentinela, que estava deitado de bruços em uma cama de palha. Sem lhe dar atenção, Ruth continuou a costurar a ferida. Maxi usou um pano embebido em licor para limpar o sangue que escorria da ferida, depois usou tesouras aquecidas para cortar a linha após cada nó que Ruth fazia.
“O último passo é aplicar uma pomada e enfaixar a ferida para ajudar na cicatrização.”
Ruth terminou o último ponto, cortou a linha e aplicou uma generosa gota de pomada pegajosa sobre a ferida. O sentinela, que tinha permanecido em silêncio até então, soltou um grito de dor.
“M-Mago Ruth, não pode simplesmente curar isso com magia? Minha costa está em chamas!”
“Eu esgotei minha magia, receio.”
“Céus…”
“Aguente só mais um pouco. Estou quase terminando.”
Ruth começou a enrolar firmemente um longo pedaço de pano ao redor da ferida.
“Aplique a pomada e faça o curativo na ferida a cada dois dias. Deve estar curada em dez dias.”
Ruth despejou um pouco da pomada em um pequeno frasco e entregou ao sentinela, que murmurou seus agradecimentos.
Maxi pegou as ferramentas e se moveu para o próximo paciente com Ruth. Enquanto ele costurava as feridas dos homens, Maxi os ajudava a tomar goles do desintoxicante, cortava tiras de pano e mergulhava a agulha e a linha em álcool forte para Ruth.
Embora fosse a primeira vez que realizava tais tarefas, ela permanecia calma sob a direção tranquila de Ruth. Quando ele realinhava ossos quebrados, ela amarrava uma tala na área com um pedaço de pano; quando ela viu um tornozelo que tinha inchado como uma bexiga de porco, ela o comprimiu com um pano encharcado em água quente.
Quando o último dos pacientes foi tratado, já estava escuro lá fora. Exausta, Maxi caiu de joelhos e aqueceu seu corpo trêmulo junto ao braseiro.

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