Capítulo 62
Maxi foi despertada de um sono profundo pelos miados dos gatinhos. Enquanto ela piscava para a luz brilhante que entrava pelas janelas, sentiu como se sua cabeça fosse explodir. Gemeu e segurou as têmporas.
Algo estava raspando as entranhas de seu estômago, e sua cabeça latejava como se alguém tivesse desferido marteladas nela. Nunca havia sentido um desconforto tão grande em sua vida. Sobrecarregada, seu rosto se contorceu. De repente, uma xícara de água foi colocada à sua frente. Ela virou lentamente a cabeça para ver Riftan olhando para ela, uma expressão sombria no rosto e três gatinhos animados pendurados em sua perna.
“A minha dama boêmia finalmente acordou?”
Maxi se enrijeceu ao lembrar-se da noite anterior. Riftan colocou a xícara de água em sua mão.
“Você estava um espetáculo na noite passada. Não sabia que você gostava tanto de beber.”
Ele falou com uma voz tão suave que Maxi começou a se sentir inquieta.
“E-eu n-não! O-ontem foi a primeira vez q-que eu bebi tanto.”
Sua voz vacilou. Olhando-a com dúvida, Riftan sentou-se na beira da cama e soltou um profundo suspiro. Parecia que ele estava tentando conter sua raiva. Maxi abaixou a cabeça.
Segurando a xícara fresca em sua mão, ela se olhou no espelho. O cabelo que Ludis havia arrumado tão elegantemente na noite anterior agora parecia um emaranhado de vinhas, e seu vestido não estava em lugar nenhum. Vestida apenas com sua camisola, parecia uma mendiga.
Ela lentamente ergueu o cobertor para cobrir seu rosto inchado. A voz suave de Riftan chegou aos seus ouvidos tão alta e clara quanto um rugido.
“Que seja este meu único aviso. Se eu te vir bêbada entre um grupo de homens barulhentos novamente, farei questão de que você não consiga sair da cama por um tempo.”1
Maxi ergueu a cabeça em surpresa. Não era a ameaça dele que a surpreendia, mas o fato de ela não ter medo. Ela tinha absoluta confiança de que ele nunca a machucaria.
“Sabe o que eu faria com você?”
Quando Riftan viu que sua ameaça falhou em assustá-la, ele rosnou suavemente. Os pelos em seu pescoço se arrepiaram. Percebendo que sua raiva era genuína, Maxi rapidamente balançou a cabeça.
“N-nunca v-vai a-acontecer de novo.”
“Se eu pudesse ter o que eu queria…”
Ele olhou ressentido para sua aparência desalinhada, então respirou fundo resignado.
“Vou mandar as criadas trazerem um chá de ervas para ajudar na ressaca, então descanse aqui um pouco. Guardarei o restante de minhas palavras para a noite.”
“P-p-por onde v-você vai?”
“Tenho negócios para cuidar no campo de treinamento.”
Riftan pulou da cama, sua voz estranhamente calma. Depois de retirar os gatinhos de suas botas, ele os colocou na cama e saiu do quarto. Maxi rapidamente os reuniu em seu colo; os miados indignados deles começavam a agravar sua dor de cabeça lancinante.
Enquanto ela apaziguava os gatinhos, Ludis entrou com uma bandeja de chá.
“Como você está se sentindo, minha senhora?”
Ela se sentia terrível, mas depois do espetáculo que tinha feito na noite anterior, não queria ser vista sofrendo de ressaca. Tentando parecer o mais digna possível, ela tomou um gole do chá de ervas para acalmar o estômago. Ludis, no entanto, rapidamente percebeu sua condição.
“Deixe-me preparar um banho para você, minha dama. Um bom banho quente e uma tigela da sopa de ovos especial do cozinheiro devem ajudá-la a se sentir melhor.”
Maxi assentiu, reconfortada pela sugestão atenciosa.
“S-sim, s-seria bom.”
Pouco tempo depois, uma banheira de água morna foi trazida para o quarto. Maxi rapidamente se despiu e entrou. Ela se sentiu revigorada depois de mergulhar o corpo na água vaporosa e lavar o cabelo grosso com um tônico de ervas. Permaneceu até a água ficar morna antes de sair para vestir um novo vestido limpo.
Ludis retornou com uma tigela de sopa cozida com cevada, batatas, cebolas e ovos sobre um fogo baixo. Depois de comer o suficiente, Maxi sentou-se junto à lareira com um livro. Ela conseguiu ler sem dificuldade, pois o chá de ervas provou ser eficaz no alívio de sua dor de cabeça.
“Devo levar os gatinhos embora para que não a perturbem?”, perguntou Ludis.
Maxi balançou a cabeça, relutante em permitir que as pequenas criaturas saíssem do calor de seu quarto.
“N-n-não será n-necessário. E-Eles têm se c-comportado.”
Ludis sorriu. “O preto é bem dócil, mas os outros dois são pequenos pestinhas arteiros. Assim que recuperaram um pouco de energia, começaram a correr pela sala. Vão se tornar ótimos caçadores de ratos quando crescerem.”
Maxi suspirou aliviada ao ver a expressão terna no rosto de Ludis. Ela estava preocupada que Ludis pudesse se ressentir da responsabilidade adicional, mas a criada parecia encantada com os novos membros da casa.
“Eu p-pensei em nomes para eles ontem. O preto é Roy, a branca é Laura, e o cinza é Ron.”
Ludis franziu o cenho concentrada e pronunciou cada nome, então sorriu.
“Vou avisar os criados. Todos eles gostaram dessas coisinhas preciosas. O cozinheiro tem grandes esperanças para eles. Ele até preparou petiscos para que cresçam mais rápido e comecem a caçar ratos na cozinha.”
Ludis apontou para uma tigela de madeira no chão. Maxi assistiu com adoração enquanto os gatinhos enfiavam o nariz no mingau de leite e peixe, e depois voltou sua atenção para o livro. Era o último dos que Ruth lhe havia dado. Embora tivesse feito pouco progresso em cultivar afinidade com mana, a leitura lhe deu uma melhor compreensão do conceito e dos princípios da magia.
Ela pegou um pedaço de pergaminho fresco de uma bolsa de couro e abriu o último capítulo do livro. No momento em que ela estava prestes a começar a ler, Laura, que tinha adormecido após sua refeição farta, saiu da cesta e começou a arranhar a barra de seu vestido.
Maxi olhou para baixo para o gatinho com carinho e coçou suas costas, mas os miados altos do gato logo a distraíram a ponto de as palavras na página não fazerem mais sentido. Agitada, ela olhou para o gatinho. Ludis rapidamente pegou Laura e a colocou na cesta, mas a infeliz continuou a miar.
“Devo levá-los para fora, minha senhora?”
“N-Não, eu estava prestes a ir para a biblioteca. P-Poderia cuidar deles p-por um tempinho?”
“Deixe comigo. Eles vão se acalmar depois de tomar um pouco de leite.”
Ludis acariciou o gatinho com ternura antes de aquecer leite em uma panela sobre o fogo. Depois de vestir um roupão sobre seu vestido, Maxi saiu do quarto com seu livro. Ela passou pelos corredores frios até chegar à biblioteca. Foi recebida por Ruth, que olhou com um sorriso sarcástico de seu lugar habitual.
“Você cresceu mais enquanto dormia?”
Maxi olhou confusa antes de corar ao lembrar-se de seu comportamento embriagado.
“Envergonhar uma dama além de trazer à tona seus erros é uma grande falta de educação.”
“Eu não conheço nenhuma dama capaz de beber meio barril sozinha.”
Maxi o encarou desconfiada. “V-Você está mentindo. Eu não poderia ter bebido tanto.”
“E isso é só contando a cerveja. Se incluirmos o vinho… mas como você está perfeitamente bem esta manhã, suponho que você tenha talento natural para isso. Sir Hebaron não parava de elogiá-la.”
“E-eu sofri uma d-dor de cabeça terrível quando acordei esta manhã.”
“Mas você parece perfeitamente bem.”
“P-Porque eu bebi chá de ervas!”
Como uma nobre, ela não podia pensar em nada mais constrangedor do que ser rotulada como uma beberrona. Para seu alívio, Ruth deu de ombros e se sentou à mesa, aparentemente sem interesse em provocá-la mais.
“Temos muitas oportunidades de ver o quão bem você aguenta o álcool.”
“C-Como se atreve! Eu n-não vou beber assim a-partir de agora.”
“Se você diz. Você está aqui para estudar, não é? Por favor, sente-se. Até onde você leu?”
Ela lhe lançou um olhar ressentido antes de se sentar desanimada.
“Eu s-só tenho este livro restante, embora eu não possa dizer que eu entendi t-tudo o que eu li…”
“Você progrediu rapidamente. Vou tentar explicar as partes que você achou difíceis da forma mais simples possível.”
Maxi tirou rolos de pergaminho de sua bolsa e entregou-os a Ruth, que examinou as páginas e sorriu.
“Vejo que você tem estudado muito. Fico feliz em ver que você está tão determinada.”
“Eu anotei as coisas que não p-pude entender”, Maxi murmurou, envergonhada pelo raro elogio.
Ruth limpou a garganta e adotou uma expressão séria mais uma vez.
“Então deixe-me explicar. Por favor, preste atenção.”
Maxi retirou apressadamente uma pena, uma garrafa de tinta e um pedaço de pergaminho de sua bolsa. Ruth sorriu enquanto esperava. Assim que ela estava pronta, ele começou sua explicação. Maxi ouvia atentamente, fazendo anotações de cada palavra. A voz monótona de Ruth e o som da pena riscando o pergaminho ecoavam pela biblioteca nas próximas horas.
À medida que a lição continuava até a tarde, Maxi pediu uma refeição leve a uma criada. Eles moveram a mesa mais perto do braseiro e continuaram sua lição enquanto comiam pão e sopa. Maxi dava pequenas mordidas no pedaço de pão que segurava em uma mão, enquanto a outra estava ocupada fazendo anotações.
De tempos em tempos, Ruth começava a divagar animadamente sobre conceitos complexos, mas sempre os explicava novamente em termos mais simples quando ela perguntava. Ele era surpreendentemente paciente; mesmo quando ela não conseguia entender os conceitos imediatamente, ele não ficava exasperado ou a repreendia. Encorajada, Maxi fazia perguntas livremente.
“Isto me lembra do meu tempo na Torre dos Magos,” Ruth murmurou de repente, com uma expressão nostálgica no rosto.
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