Capítulo 80
Maxi nunca imaginou que a princesa estaria tão favoravelmente disposta em relação a ela, então ficou totalmente confusa com seus avanços amigáveis. Será que a princesa não queria se casar com Riftan?
“Suponho que Riftan esteja no anexo com os cavaleiros?” Princesa Agnes perguntou enquanto deixavam o grande salão.
O rosto de Maxi endureceu ligeiramente ao ver como o nome de seu marido vinha tão naturalmente da boca da princesa.
“E-Ele pode estar… Vossa Alteza.”
“Então acho que terei que esperar para pedir a ele um tour pelos campos de treinamento. Podemos subir pelas muralhas? Eu gostaria de ver os arredores do castelo.”
Maxi hesitou por um momento antes de assentir e conduzir a princesa por um estreito caminho na floresta à direita. Era um caminho normalmente percorrido pelos sentinelas. Depois de segui-lo por um tempo, chegaram a uma escada de pedra que levava à muralha externa. Os sentinelas em patrulha os avistaram e imediatamente se curvaram em cumprimento.
Maxi explicou que estava mostrando os terrenos para a princesa antes de subirem os degraus. Ainda era início da primavera, e embora o clima estivesse mais quente, o vento que soprava das montanhas era gelado. A Princesa Agnes subiu à frente e ficou na beira do parapeito, sua longa saia tremulando como uma bandeira. Ela se esticou no vento fustigante como se achasse refrescante.
“Que lugar bonito.”
Maxi seguiu o olhar da princesa sobre a muralha. Uma rajada violenta soprou sobre as encostas íngremes e picos afiados das montanhas cobertas de neve. Seus olhos fixaram no horizonte, a princesa jogou os cabelos que estavam sendo sacudidos pelo vento para trás.
“Me disseram que Anatol estava infestado de monstros. Eu estava esperando uma paisagem sombria, como um portal para o mundo dos demônios.”
Eles começaram a passear pela rota de patrulha quando a princesa de repente se virou para Maxi.
“Mas a vila é maior do que eu esperava, com um mercado próspero. Devo admitir, estou bastante surpresa.”
“Mercenários e… comerciantes se dirigem a Anatol… durante a primavera,” Maxi murmurou, repetindo o que tinha ouvido como se fosse algo que ela conhecesse bem.
A princesa acariciou o queixo, parecendo pensativa. “Eu consigo entender por que Riftan é tão apegado a isso. Deve ter exigido um esforço enorme tornar uma terra que foi negligenciada por décadas tão próspera.”
Algo se retorceu no baixo abdômen de Maxi; era como se a princesa estivesse mostrando sua intimidade com Riftan. Um impulso de gritar com ela, de dizer para parar de agir tão familiarmente com ele, momentaneamente dominou Maxi. Surpreendida pelo impulso feroz, Maxi mordeu o lábio. Um rubor ardente subiu até a ponta de suas orelhas como se seus pensamentos mesquinhos e estreitos tivessem sido expostos.
“R-Riftan… tem trabalhado… dia e noite sem descanso… pelo bem de Anatol.”
“Foi o mesmo durante a campanha. Ninguém jamais viu o homem descansar, nem demonstrar hesitação ou fraqueza. Todos começaram a chamá-lo de Mago1 por medo e reverência.”
“Ma…go?”
“Uma criatura mítica que não dorme nem se cansa. Acredita-se que tenha cem vidas,” respondeu a princesa, com um sorriso amargo. “Foi um apelido dado a ele pelos Cavaleiros do Templo de Osiriya quando o viram se lançar de cabeça ao perigo como se fosse invencível.”
Embora Ruth já tivesse lhe contado sobre a imprudência de Riftan, o peito de Maxi se apertou com a revelação da princesa. Ela encolheu os ombros para enfrentar o frio cortante.
A Princesa Agnes a estudou com olhos azuis calmos. “Sempre me perguntei como seria a esposa do Mago. Eu queria saber quem era aquela que o cavaleiro que ousadamente se lançou ao fogo do dragão queria proteger…”
Sem palavras, Maxi umedeceu os lábios ressecados. A declaração da princesa não era um bronca, mas Maxi não pôde deixar de sentir que estava sendo repreendida. Ela sabia que não merecia ser a esposa de um cavaleiro tão louvado.
A princesa com certeza também sabia disso. Maxi não suportava ver sua patética pessoa refletida nos olhos azuis da princesa. Apesar de saber que pareceria rude, Maxi virou abruptamente.
“O-O vento… está frio. Deveríamos… voltar para o castelo, Vossa Alteza. H-Há também assuntos que devo resolver…”
“Claro.”
A Princesa Agnes olhou mais uma vez para as Montanhas Anatolium antes de descer as escadas de pedra. Maxi a observou por um momento, então se apressou como se estivesse fugindo do local, uma tempestade de ansiedade rugindo em seu coração.
Ao cair da noite, os servos subiram escadas para acender o lustre dentro do salão de banquetes. Braseiros recém-abastecidos com brasas ardentes foram colocados ao redor da sala, e as mesas estavam carregadas com um banquete luxuoso.
Maxi estava posicionada ao lado de Riftan na cabeceira de uma das mesas. A princesa e sua comitiva se sentaram em frente a eles, enquanto os cavaleiros reais ocupavam o restante dos lugares. Assim que os pajens serviram todos os convidados com vinho perfumado, Riftan ergueu seu cálice dourado.
“Recebemos vocês em Anatol.”
Todos ergueram suas bebidas em uníssono. A princesa levantou seu cálice, transbordando de vinho, bem alto no ar e deu a Riftan um sorriso elegante.
“Agradecemos pela calorosa recepção.”
“Deve estar cansada de sua longa jornada, Vossa Alteza,” falou um velho cavaleiro. “Por favor, aproveite o banquete.”
A princesa riu e levou o cálice aos lábios. Seguindo o exemplo, os comensais ao seu redor pegaram seus utensílios e começaram a comer.
Maxi deu uma mordida no pão e olhou ao redor da mesa lotada. Os cavaleiros reais que acompanhavam a princesa pareciam estar bem familiarizados com os Dragões Brancos; estavam envolvidos em uma conversa amigável. Até mesmo a própria princesa dirigia-se aos Dragões Brancos sem se importar com formalidades.
A Princesa Agnes parecia não dar importância à etiqueta e decoro esperados de uma nobre, e Maxi ficou um pouco surpresa com isso. Mesmo sentada entre homens muito maiores que ela, a princesa se destacava e não parecia intimidada nem um pouco. Ela ria em voz alta enquanto dava um tapa no ombro do cavaleiro ao lado dela. Sua maneira de falar era animada e provocativa. O que surpreendeu Maxi ainda mais foi como os cavaleiros não pareciam se importar com isso.
A princesa estava no meio de uma conversa animada com o rapaz que estava do seu lado quando abruptamente se virou para Riftan.
“Gostaria de dar uma olhada em Anatol o mais rápido possível. Poderia te incomodar para um passeio amanhã, Sir Riftan?”
Riftan deu um gole de vinho e respondeu friamente: “Vou pedir ao Sir Ursuline para te mostrar por aí, Vossa Alteza.”
“Escute aqui, Senhor de pedra de Anatol. Não pense que pode me descartar tão facilmente. Viajei até o fim da terra para te ver.”
“Não me lembro de ter feito tal pedido antes.” As expressões dos cavaleiros reais escureceram diante da impertinência de Riftan. Maxi estudou nervosamente o rosto da princesa. Tal falta de educação para com a família real não seria tolerada, mesmo de um cavaleiro cujo prestígio era conhecido em todo o continente. No entanto, em vez de ficar indignada, a Princesa Agnes irrompeu em risos como se Riftan tivesse feito uma piada.
“Vejo que você não mudou”, disse ela, virando seu olhar para Maxi com um sorriso encantador. “Então, poderia te incomodar para ser minha guia, Lady Calypse?”
Riftan parou de cortar sua carne de cordeiro para encarar a princesa. Maxi piscou sem palavras, confusa por ter sido arrastada para a conversa.
Imperturbável pela reação dela, a princesa continuou. “Estive ansiosa para conhecê-la melhor.”
Riftan abaixou a faca com um ruído.
“Sua Alteza”, ele disse em voz baixa e gélida. “Se não se importar em acordar cedo, serei seu guia pessoal.”
Ele falou entre dentes.
“Oh, que gentileza sua”, brincou a princesa, claramente não intimidada pelo tom ameaçador dele. “Você tem minha mais sincera gratidão.”
Maxi se enrijeceu com a conversa fácil deles. Só de imaginar os dois dando um passeio agradável por Anatol juntos era o suficiente para fazer seu estômago revirar.
“Por favor… p-posso… me dar… a honra, Sua Alteza”, Maxi disse impulsivamente.
Riftan pareceu surpreso.
Molhando os lábios secos, Maxi acrescentou calmamente: “Você está ocupado, Riftan… então… deixe-me mostrar a Ela—”
“Como poderia esperar acompanhar Sua Alteza quando você mesma chegou apenas no último outono?”, interrompeu ele.
Um rubor profundo tingiu as bochechas de Maxi.
“M-Mesmo assim. Acho que sou c-capaz… de mostrar a ela por aí. Eu estive… no m-mercado com Ruth… e… também estive nos arredores…”
“Nos arredores?”
A voz de Riftan soou subitamente grave.
Envergonhada, Maxi olhou para cima e viu seus olhos brilhando perigosamente. Pensando bem, ela nunca tinha lhe contado sobre sua viagem para ajudar os feridos após o ataque dos lobisomens. Isso tinha acontecido enquanto ele estava ausente na incursão dos goblins.
Maxi olhou em volta para os cavaleiros sentados à mesa. No fim, viu Sir Elliot balançando vigorosamente a cabeça, sinalizando para que ela não dissesse nada.
Maxi engoliu em seco. Ela só estava cumprindo seu dever como dama do castelo, mas sabia que Riftan talvez não visse as coisas desse jeito. Lembrando de sua fúria ao descobrir seus esforços para aprender magia, ela mudou rapidamente de assunto.
“O-Que eu quero dizer… é que… eu também conheço Anatol… o suficiente… para guiar Sua Alteza.”
“Chega. Enviar você para fora do castelo desprotegida está fora de—”
“Oh meu”, interveio habilmente a Princesa Agnes. “E está tudo bem para mim sair do castelo desprotegida?”
Riftan lançou um olhar irritado. “Você é capaz de se proteger, Sua Alteza, mas não é o caso da minha esposa. Tudo o que ela conheceu foram as paredes do Castelo de Croyso!”
“A-Até eu sou… capaz de m-mostrar a nossos convidados… nossas terras!” Maxi exclamou, encarando ele.
Ser tratada como uma criança incompetente diante de uma princesa distinta era um golpe em seu orgulho.
Seu rosto ficou vermelho enquanto ela retrucava: “E… e-eu vi… outros lugares. Se você se lembra… t-tive que viajar para chegar a Anatol… do Ducado de Croyso.”
Hebaron foi rápido em apoiar Maxi.
“Sua senhoria está certa, Comandante. Que mal poderia lhe acontecer com os cavaleiros do rei acompanhando ela? Se isso ainda te preocupa, eu as acompanharei.”
O rosto de Riftan ficou cada vez mais sombrio com as rebatidas persistentes. Maxi estava interiormente aterrorizada ao ver que sua raiva mal estava contida. Mas mesmo assim, ela não podia recuar. Precisava evitar que Riftan passasse tempo com uma mulher tão cativante a todo custo.
“Riftan… você m-mal tem tempo… para descansar. Por favor… me deixe ajudar.”
Vendo ela tão teimosamente obstinada, o rosto de Riftan ficou sério. Depois de um breve silêncio, ele finalmente ergueu a bandeira branca.
“Está bem. Vou deixar isso com você.”
- é Mago mesmo, não é a mesma coisa que o Ruth é, mas o nome continua sendo Mago[↩]
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