Capítulo 86

Assustada com a súbita aparição da princesa, Maxi estava prestes a recuar quando conseguiu se conter. Ela não queria ofender a princesa.

“N-Não… Vossa Alteza.”

“Agora que penso sobre isso, você nunca visitou o Palácio de Drachium, não é? Parece que sua irmã visita todos os anos… você não gosta da capital, Maximilian?”

Incomodada com a direção da conversa, Maxi começou a suar frio.

“E-Eu não… gostava de viajar…”

“Mesmo assim, você deve vir visitar a capital com o Sir Riftan algum dia. Se o fizer, ficaria feliz em mostrar-lhe ao redor.”

Antes que Maxi pudesse dizer algo, Riftan interrompeu bruscamente.

“Agradecemos pelo convite, Vossa Alteza, mas minha esposa não está forte o suficiente para lidar com uma viagem tão longa.”

Com isso, ele mais uma vez conduziu Maxi em direção ao portão. Aflita, Maxi olhou por cima do ombro e viu a princesa encolher os ombros com um sorriso ambíguo nos lábios. Parecia que ela não estava ofendida pela rudeza de Riftan, mas também não parecia satisfeita.

Correndo atrás dele, Maxi disse nervosamente: “Você não deve… s-ser tão rude com Sua Alteza… você deve tratá-la com muita cortesia…”

“Não há necessidade de você se preocupar com a princesa. Aquela mulher só quer me provocar,” Riftan cuspiu com acidez enquanto avançava. “Vou mostrar ao restante de nossas terras para a princesa, então você não precisa mais se preocupar com ela. Como eu disse, ela tem o talento de manipular as pessoas conforme deseja. Nada de bom virá de se associar com ela.”

“M-Mas… você não está ocupado com a construção da estrada?”

Riftan franziu a testa como se estivesse descontente.

“Acontece que a princesa nos ajudará com a construção,” ele murmurou com um suspiro.

“C-Como?”

“Para construir a estrada que conecta Anatol aos portos, precisamos erradicar os monstros que habitam nas partes sul das Montanhas Anatolium. Ter uma alta maga como a Princesa Agnes nos auxiliando certamente será útil. E ao levá-la junto, estaria hospedando ao mesmo tempo. Dois coelhos com uma cajadada só.”

Maxi ficou sem palavras por um momento.

“M-Mas… a Princesa Agnes é nossa hóspede enviada pelo rei. C-Como poderíamos… pedir tal serviço de nossa hóspede? Se algo der errado…”

“Os cavaleiros dela já resmungaram comigo pelos mesmos motivos,” Riftan disse, lambendo os lábios levemente. “O que é ridículo, já que foi a própria princesa que ofereceu ajuda primeiro.”

Parecia que este era o assunto pelo qual Riftan havia duelado com o cavaleiro real. Quando Maxi olhou para ele com preocupação, Riftan sorriu e afagou seu cabelo com a mão descoberta.

“Você não precisa ficar tão preocupada. Eles não estavam realmente contra. Eles estavam apenas procurando uma desculpa para me desafiar para um duelo. Não apenas a princesa é capaz de se proteger, como também não sou tão insensato a ponto de colocar nossa hóspede real em perigo.”

Maxi apertou os lábios. Ele falava tão gentilmente que ela não conseguia mais pensar em uma desculpa para dissuadi-lo. Ela não podia discordar simplesmente porque não gostava da ideia.

“Então não se preocupe desnecessariamente. Apenas descanse. Sei que fazer todas essas preparações não foi fácil para você.”

“H-Há… alguma coisa que eu possa fazer… para ajudar?”

Riftan estreitou os olhos como se ela tivesse dito algo absurdo.

“Você?”

Firmando-se para não ser desencorajada, Maxi gaguejou: “Também sou c-capaz de magia de cura… e-então tenho certeza de que poderia ser útil.”

“Agradeço sua oferta, mas não. Atualmente há muitos magos em Anatol, então pretendo empregar os serviços deles. Não há necessidade de você se preocupar com essas coisas.”

A recusa foi tão resoluta que Maxi fechou a boca, incapaz de dizer mais nada. Os únicos papéis que Riftan queria que ela desempenhasse eram os de dama do castelo e sua esposa.

Embora ele tivesse dito que ela era a única família que ele tinha, ele não a considerava uma companheira com quem pudesse compartilhar seus problemas. Escondendo sua decepção, Maxi seguiu atrás de Riftan enquanto ele caminhava um passo à frente dela.

Fiel às palavras de Riftan, Maxi não teve mais que lidar com a princesa depois daquele dia. A princesa passava a maior parte do tempo com Riftan. Eles saíam cedo de manhã para inspecionar as partes sul das montanhas de Anatol, e nos dias em que não faziam isso, discutiam assuntos nos campos de treinamento ou passeavam pelas terras.

É claro que nunca estavam sozinhos. Sempre que saíam de Anatol, os Dragões Brancos e os cavaleiros reais os acompanhavam. Quando faziam turnês dentro das fronteiras, os acompanhantes da princesa os seguiam.

Não havia absolutamente nenhuma razão para Maxi se sentir ansiosa ou insatisfeita, mas ansiosa e insatisfeita ela estava. Ver uma mulher tão deslumbrante quanto o próprio sol ao lado de Riftan fazia seu coração doer.

Ela soltou um suspiro melancólico e olhou pela janela para o jardim lá embaixo. Estava começando a mostrar mais sinais de vida. Para Maxi, a Princesa Agnes era o oposto completo dela. Não só era bonita e cheia de confiança, como também era uma força a ser reconhecida.

Maxi se preocupava que, ao passar muito tempo com a princesa, Riftan logo reconheceria as inadequações de sua esposa. Ele finalmente veria o quão patética e miserável ela era.

Um calafrio percorreu sua espinha sempre que tais pensamentos invadiam sua mente. Durante toda a sua vida, Maxi tinha sido comparada à sua irmã, Rosetta. Portanto, o pensamento de que até mesmo seu marido poderia compará-la com outra mulher a enchia de medo. Maxi mordeu o lábio. Tão enraizada estava sua sensação de inferioridade que ela não conseguia se livrar completamente dela, não importava o quanto tentasse.

“O que chamou sua atenção, minha senhora?”

A voz tirou Maxi de seus pensamentos, e ela virou a cabeça para olhar para o falante. Ruth estava na entrada da biblioteca, mastigando uma maçã. Maxi franziu a testa para sua atitude indiferente.

“Onde… você esteve? Eu estava preocupada quando você não estava aqui… sempre que vinha à biblioteca.”

“Tive que me trancar na minha torre nos últimos dias para terminar de fazer o dispositivo mágico,” ele respondeu planamente.

Ele entrou na biblioteca e se sentou em sua cadeira habitual.

Maxi o olhou com curiosidade. “Mas você não costuma… trabalhar neles na biblioteca?”

“Eu queria evitar encontrar aquela mulher problemática.”

“M-Mulher… problemática?”

“Estou me referindo à Princesa Agnes. Eu gostaria de evitá-la o máximo possível.”

Os olhos de Maxi se arregalaram com a resposta inesperada. Como a maioria dos Dragões Brancos parecia estar em bons termos com a princesa, Maxi havia assumido que Ruth também tinha uma alta consideração pela princesa.

“Vocês… não se dão bem?”

“Receio que a animosidade seja unilateral. Eu sou apenas uma vítima do bullying da princesa. Você vê, ela me vê como um renegado por quebrar as regras da Torre dos Magos.”

Ruth envolveu os braços em volta de si mesmo e tremeu.

“Para ser sincero, eu gostaria de não ter nada a ver com ela, se possível. Ela fez questão de me dar um tempo difícil durante a campanha. Duvido que nem um clérigo tratasse um pagão tão cruelmente.”

“Eu… eu não sabia disso. Você… nunca disse nada… quando mencionou a princesa no passado.”

“Não vejo por que eu teria que mencionar tal coisa.”

Ele pegou um livro da pilha ao seu lado e o abriu.

Um estranho senso de solidariedade surgiu dentro dela. O fato de haver alguém que não gostava da princesa lhe deu consolo. Embora soubesse o quão vergonhoso isso era, ainda a fazia se sentir melhor.

“Eu… eu não acho… que ela seja uma pessoa má…” ela murmurou em um tom velado.

“De fato. Objetivamente falando, é verdade que ela é talentosa, além de ser uma pessoa justa quando quer. Ela também é cordial com os Dragões Brancos. Mas acredito que sou livre para ter minha própria opinião sobre ela, e na minha opinião, ela é difícil de lidar.”

A franqueza de Ruth fez Maxi se sentir um pouco mais animada. Depois de um momento de hesitação, ela confessou seus próprios sentimentos.

“Para ser honesta… eu também me sinto desconfortável com a princesa.”

“Eu teria ficado surpreso se não se sentisse,” Ruth respondeu de forma banal, virando uma página do livro. “Seria estranho se você estivesse feliz em receber a princesa, já que ela costumava ser uma possível noiva para o seu marido.”

As palavras de Ruth a fizeram se sentir muito melhor. Sempre que sentia ciúmes da princesa, Maxi sentia como se fosse uma das bruxas más mencionadas nos contos antigos.

“Seja como for… eu ainda me sinto bastante mal… por achar ela difícil… quando ela está ajudando o Anatol.”

Ruth bufou, virando mais uma página. “Acredite em mim, minha senhora, a princesa não está nos ajudando apenas por bondade. Ouvi dizer que ela pediu espólio de monstros em troca de sua assistência. Isso por si só torna este um acordo frutífero para a princesa. E tenho certeza de que ela quer aproveitar essa oportunidade para convencer o Sir Riftan a ir para a capital, já que o Rei Reuben desesperadamente quer manter o Sir Riftan por perto.”

Os ombros de Maxi se enrijeceram. “A princesa Agnes… quer levar o Riftan de volta para a capital com ela?”

“Bem, eu não vejo por que mais ela viria para um lugar tão distante.”

Ruth respondeu indiferentemente, mas quando viu a expressão no rosto de Maxi, ele rapidamente acrescentou, “Claro, duvido que o Sir Riftan concordaria com isso, não importa o quanto a princesa tente convencê-lo. Nosso suserano não gosta da vida na capital, nem gosta de ficar no Palácio de Drachium.”

“P-Por quê?”

“Eu pensaria que fosse óbvio. Desde que ele se tornou um cavaleiro, os nobres visitantes de Drachium mostraram abertamente seu desprezo por ele. Mesmo que mudassem de atitude agora, não acredito que o Sir Riftan receberia bem a companhia deles, já que ele despreza a presunção ao extremo.”

Ruth encolheu os ombros como se o que tinha acabado de dizer fosse de pouca importância.

“Além disso, o Sir Riftan gosta do Anatol. Por que ele iria querer ir para Drachium quando poderia ser o rei aqui?”

“R-Rei?”

“Para os Anatolianos, Sir Riftan é um suserano maior do que o Rei Reuben. Afinal, foi Sir Riftan quem ajudou esta terra desolada à beira do reino a se tornar a aldeia florescente que é agora. As pessoas o adoram como seu suserano, e Sir Riftan também se preocupa profundamente com elas.”

Maxi olhou pela janela. Ela foi subitamente dominada por uma emoção que não entendia. A paisagem deslumbrante lá fora era tão bonita quanto um mural pintado com pinceladas audaciosas. Essa terra era especial para Riftan? Embora ela estivesse aliviada, também se sentia um pouco solitária. Era como se ela estivesse com inveja dessa terra que o prendia…

“De qualquer forma, a Princesa Agnes não poderá ficar aqui para sempre. Ela certamente retornará à capital assim que perceber que Sir Riftan não pode ser persuadido. Apenas suporte ela até então, minha senhora. Eu, pelo menos, pretendo evitá-la o máximo possível.”

A voz jovial de Ruth despertou Maxi de seus pensamentos tolos, e ela lhe deu um pequeno sorriso. Ele estava certo. Ela só podia esperar e torcer para que a princesa desistisse de persuadir Riftan e retornasse à capital o mais rápido possível. Então, esperançosamente, ela seria libertada dessa ansiedade de perder seu marido.