Pov do Riftan - Capítulo 06
Ele não entendia as intenções de seu padrasto. Ele morava com eles há dez anos; estaria melhor sem uma esposa que age como se fosse de outra pessoa e um menino de pele escura com quem não compartilhava uma única gota de sangue.
Ele comeu uma tigela cheia de mingau e enxugou grosseiramente o rosto com uma toalha molhada antes de deitar em uma cama feita de palha. Sua mãe olhou para ele e perguntou baixinho, “… como você está se sentindo?”
“Estou me sentindo melhor agora.”
O interesse repentino de sua mãe parecia estranho para ele, então ele respondeu lentamente e virou o corpo para deitar de frente para a parede.
A mulher hesitou ao puxar o cobertor sobre o ombro de Riftan. Suas mãos cautelosas fizeram seu nariz se enrugar. Riftan fechou os olhos, pensando que, de vez em quando, estar com dor não parecia tão ruim.
O próximo dia foi ocupado sem falhas. Ele estava ocupado correndo pela forja desde o amanhecer. Os ferreiros estavam ansiosos para terminar todos os reparos antes que os cavaleiros reais se preparassem para deixar o castelo.
Tentando não os irritar, Riftan se esforçou para fazer suas tarefas quando viu um vislumbre de cabelos vermelhos e cacheados.
Riftan, que naquele momento carregava uma carga de lenha, piscou estupidamente. A filha mais velha do duque estava escondida atrás da porta, só sua cabeça estava espiando dentro da ferraria.
O que diabos você está fazendo aqui?
Ele franziu os olhos enquanto olhava para fora. Não havia ninguém a acompanhando. O rosto de Riftan ficou rígido. A ferraria fica a uma boa distância do edifício anexo.
Ela veio até aqui sozinha? Ele jogou a lenha ao lado do forno e então fez seu caminho até a porta. Ela esteve em perigo há apenas alguns dias e ali estava ela novamente, desprotegida.
Por que eles permitiram que você andasse sozinha? Os guardas estão com a cabeça no lugar certo, por que não ficaram de olho em você?
Ele avançou com firmeza e atenção quando um ferreiro brutalmente o agarrou pelo braço.
“Finge que não viu nada. Você não sabe que os servos não têm permissão para falar com um nobre?”
“Mas é perigoso para uma criança estar por perto deste lugar!”
“Isso não é problema nosso, é problema das servas que cuidam dela.”
O ferreiro respondeu brutamente e o empurrou de volta agressivamente.
“Devemos nos concentrar em fazer nosso trabalho e evitar criar problemas irritantes.”
Riftan o encarou ressentido, mas todos os outros ferreiros pareciam concordar com o que o homem disse e enviaram olhares irritados para o menino. Todos sabiam de sua presença, mas escolheram ignorá-la. Enquanto Riftan ficava parado, o ferreiro o ameaçava com os punhos.
“Você não ouviu o que eu disse?! Faça seu trabalho e finja que ela não está aqui!”
Riftan se virou relutantemente. Mas enquanto martelava, ele não conseguia se impedir de olhar furtivamente para a porta.
A menina estava olhando ao redor da ferraria com grandes olhos curiosos.
O que você está procurando?
Havia muitos objetos perigosos na ferraria para uma criança. Armas estavam empilhadas por toda parte, faíscas quentes voavam de todos os lados e o ar estava turvo devido à fumaça. Ele assistiu ansiosamente, preocupado que ela entrasse no local, quando encontrou seus olhos por coincidência.
Ela pareceu assustada e se escondeu atrás da porta. Riftan riu em vão quando notou as franjas torcidas e os cabelos escarlates ondulados que se projetavam na soleira.
Você pensa que não sei que está se escondendo ali?
Enquanto Riftan balançava a cabeça, a garotinha espiou novamente e olhou para ele. Quando seus olhos se encontraram pela segunda vez, ela se escondeu novamente atrás da porta, então levantou a cabeça para olhar para ele pela terceira vez…
As sobrancelhas de Riftan se franziram. Talvez você tenha vindo me encontrar? Ela deve ter vindo perguntar por que ele não trouxe seu cachorro. Com esse pensamento, Riftan sentiu como se tivesse sido esfaqueado e virou a cabeça para o lado.
Ele não teve coragem de dizer a ela que tinha enterrado seu cachorro. Riftan recomeçou a martelar, fingindo estar ocupado.
Passou tanto tempo que quando ele virou a cabeça para olhar para a porta, a garota não estava mais lá. Ela provavelmente ficou entediada e voltou para o edifício anexo. Riftan mordeu os lábios. De jeito nenhum ele poderia deixá-la ir sozinha.
Riftan fingiu reunir materiais escassos do depósito e saiu da ferraria com sacos vazios. Ele então pegou o carrinho ao lado da ferraria quando algo desconhecido chamou sua atenção.
Seus olhos piscaram em branco. Na beira da janela havia uma coroa feita de flores coloridas de verão tecidas juntas. Ele a pegou, ficou olhando para ela, e então levantou a cabeça e procurou ao redor com os olhos. A menina estava escondida atrás de uma árvore, observando-o.
Você colocou isso aqui de propósito?
Ele hesitou e colocou de volta na janela, então pegou o carrinho pelos cabos. A menina ruiva pulou e bateu os pés no chão, parecendo inquieta. Riftan engoliu um riso e pegou a coroa de flores novamente.
Riftan olhou para a menina, seus olhos brilhavam de antecipação.
… você veio aqui só para me encontrar e me dar isso?
Ele tocou cautelosamente as flores na coroa. Nesse momento, um grito alto veio dos degraus da ferraria.
“Está uma loucura lá dentro, e o que diabos você está fazendo aí fora!”
Assustada pela voz irritada, a menina, que havia hesitado por um tempo, virou-se e correu para a floresta. Riftan lançou um olhar desagradável para a forja.
“… só estou tentando trazer mais carvão já que acabou.”
“Então se apresse e pare de sonhar acordado!”
Riftan suspirou e empurrou o carrinho para dentro da floresta, seguindo na direção em que a menina havia corrido.
Ele precisava ver com seus próprios olhos que a menina retornasse em segurança ao prédio, caso contrário, se sentiria inquieto. Ele olhou ansiosamente para ela, que corria entre as árvores da floresta exuberante. Então, olhou novamente para a coroa de flores que pendia no cabo.
Você fez isso para mim?
Ele não pôde deixar de rir com a ideia de ela ter tecido uma coroa de flores com suas pequenas mãos. Sua fadiga foi esquecida enquanto ele empurrava o carrinho vigorosamente com passos leves.
Depois de confirmar que a menina tinha retornado em segurança ao prédio, ele voltou para a ferraria, onde viu os ferreiros martelando ocupados. Um deles o olhou furiosamente, como se dissesse para ele se apressar e fazer suas tarefas, e Riftan engoliu um suspiro.
Ele ansiava por ir para casa e colocar a coroa de flores em um lugar seguro, mas ainda havia muito tempo antes do trabalho na ferraria acabar. Riftan escondeu o presente no depósito, então voltou para os fornos e começou a ventilá-los com a forja. Finalmente, quando chegou a hora de voltar para casa depois de terminar o trabalho do dia, seu corpo inteiro estava encharcado de suor.
Ele lavou o rosto rude com a água da pia e foi ao depósito buscar a coroa de flores. Depois de meio-dia, as flores tinham murchado um pouco. Olhando para elas com pesar, ele escapou da ferraria e segurou cuidadosamente com uma mão para evitar danificar as pétalas.
Passando pela floresta tingida de vermelho pelo pôr do sol, ele foi para trás do prédio onde um jardim cheio de flores de verão se desdobrava diante de seus olhos. No entanto, a menina não estava em lugar algum. Talvez ela tenha sido repreendida por andar secretamente sozinha.
Riftan olhou para o lugar onde ela costumava sentar sozinha e alcançou suas roupas, tirando a coroa de ferradura que ele havia feito. Ele pensou em deixá-la lá para ela encontrar, mas ainda estava muito desgastada. Riftan, que tocou o aro de ferro opaco com as pontas dos dedos, pegou-o de volta em suas mãos.
Se eu comprar algumas miçangas na vila e decorar a coroa com elas, ela ficará mais bonita de se ver.
Ele caminhou rapidamente além do prédio e dos portões do castelo. Mesmo tendo tido um dia mais ocupado do que o normal, ele sentia como se estivesse voando. Ele desceu a colina cuidadosamente, para evitar que uma única pétala caísse por causa da brisa.
A cabana deles estava silenciosa como um rato morto, sua mãe provavelmente estava esperando na colina novamente hoje. Sua mãe, que sempre subia a colina, ou ficava olhando para a distância ou fingia não o conhecer. Riftan engoliu um suspiro amargo enquanto olhava para a chaminé deles, de onde não saía uma única fumaça. Pensar na fria e desconfortável quietude na casa fez seu peito se apertar.
Ele olhou para a flor como se buscasse conforto, e então abriu a porta e entrou na cabana. Um estranho cheiro perfurou seu nariz, ele pensou que animais selvagens devem ter entrado e deixado sujeira para trás. Riftan franziu o cenho ao abrir uma janela para deixar entrar um pouco de luz, então se virou para acender o fogo no forno, quando notou uma figura escura pendurada no ar.

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