Pov do Riftan - Capítulo 17

Riftan lançou um olhar desaprovador para o feiticeiro que estava revirando sua bolsa de bagagem. Desta vez, ele tentou aceitar uma missão nas costas do feiticeiro na esperança de evitá-lo, mas ele o seguiu como um fantasma cheirando dinheiro. O feiticeiro estava como que segurando seu tornozelo figurativamente, e Riftan não conseguia se livrar dele. Ele gritou irritado para o feiticeiro, que já mastigava ervas de recuperação com um rosto exausto quando ainda faltava um longo caminho até chegarem ao destino.

“Estamos apenas na metade do caminho para o nosso destino e você parece alguém que esteve em uma jornada por um mês. De que adianta você estar parecendo meio morto por uma simples caminhada na montanha?”

“Você realmente acha que todo mundo no mundo é como você, Sir Calypse? Não é normal para uma pessoa marchar por uma semana e estar em boa forma!”

Ruth, que era bastante descarado, gritou em resposta. Então, ele se deitou em uma pedra plana. Riftan franziu a testa em espanto irritado.

“As harpias vivem ali na esquina. Não pode se levantar agora?”

“Tenho o Sir Calypse ao meu lado, com o que devo me preocupar? Não seria mais conveniente para o Sir Calypse se eu descansasse por um momento sempre que tivesse a chance? Se eu desmaiar no meio da jornada, você terá que me carregar.”

“Te carregar? Não fale besteira. Eu te jogaria de um penhasco no exato momento em que isso acontecesse e seguiria em frente tranquilamente. Eu teria abandonado…”

“Então, isso significa que preciso descansar mais. Já que o Sir Calypse não vai cuidar de mim se eu desmaiar.”

O feiticeiro acenou displicentemente com a mão e deitou-se de costas para Riftan, que seriamente considerava chutar o feiticeiro e deixá-lo rolar montanha abaixo. No entanto, mesmo que fizesse isso, o cara tenaz ainda o perseguiria pelo resto da vida.

Eventualmente, Riftan começou a ranger os dentes e a recolher lenha sozinho. O feiticeiro dormia roncando alto e só depois que o jantar já estava preparado é que ele acordou de seu sono.

Riftan, que estava atento ao cheiro da comida, atraindo animais selvagens ou monstros, viu o feiticeiro tirar sua tigela, fazendo suas bochechas se contraírem de irritação. Ele era como um inseto zumbindo ao redor de seu nariz e estava furioso com cada ação dele.

“Faltam quantos dias até chegarmos ao nosso destino?”

“… se um cara como você não estivesse por perto, eu teria chegado lá nos próximos dez dias.”

“Então vamos levar mais quinze dias.”

O feiticeiro respondeu com desinteresse e mastigou a carne de pássaro que Riftan caçara no caminho até a montanha, que não conseguia encontrar ou sentir um pouco de culpa, ou desculpas do feiticeiro. Resignado, ele tomou mais um gole, suspirou profundamente e lamentou em seus pensamentos.

“De fato, não deveria estar te seguindo… seguir o Sir Calypse coloca alguém em sério perigo.”

Riftan o encarou com uma expressão perplexa. “Então não me siga!”

“Você não sabe quantas vezes eu cerrei os dentes pensando, ‘devo seguir este cara de novo?’ Mas sempre que me junto ao Sir Calypse, nunca é uma brincadeira…”

O feiticeiro fez um formato de moeda com o indicador e o polegar, sugerindo o bom pagamento. Neste ponto, Riftan nem se preocupava mais em ficar bravo. Ele comeu silenciosamente sua comida e encostou-se a uma pedra, fechando os olhos.

O feiticeiro, que estava empurrando comida para dentro da boca com as bochechas inchadas de tão cheias, olhou de soslaio para Riftan.

“Você está planejando dormir assim de novo hoje?”

“…”

“Sir Calypse… você sequer é humano?”

Riftan abriu os olhos cerrados. Que tipo de crítica ousada era essa? O feiticeiro esfregou o queixo pensativamente com os dedos, ele estava sério.

“Você pode me dizer a verdade. Realmente não há segredos entre nós, né? Você acontece de ser descendente de quimeras ou de uma raça heterogênea antiga?”

“Pare com essa bobagem e vá dormir!”

“Se não, então o que diabos você é? Desde que saímos da cidade, nunca te vi deitado!” O feiticeiro estremeceu como se estivesse arrepiado com Riftan. “Sua resistência e habilidades físicas certamente vão além do que um humano normal pode fazer. Às vezes realmente me assusta! Por favor, me diga honestamente. Algumas raças foram misturadas, certo? Foram monstros de sub-raça, talvez lobisomens ou trolls?”

Riftan, cuja paciência havia se esgotado, colocou a mão no cabo de sua espada. Ao desembainhar metade de sua espada, o feiticeiro balançou as mãos como se fosse um mal-entendido e gritou.

“E-eu estou um pouco confuso!” Com a declaração inesperada, Riftan pausou e se enrijeceu. O feiticeiro disse isso às pressas e espirrou como se estivesse surpreso com suas próprias palavras, depois riu e agiu como se não tivesse dito nada estranho. “De verdade, é só um pouquinho. Há um elfo antigo entre os ancestrais do meu clã. Graças a isso, minha afinidade com mana era muito mais avançada do que a de um feiticeiro comum e minha vida útil era de 20 ou 30 anos a mais que a de um humano comum. Isso é tudo, não tenho outras características especiais.”

Ele penteou os cabelos grisalhos quebradiços para mostrar suas orelhas arredondadas, que teriam sido pontiagudas se ele fosse um elfo puro-sangue. “Ao longo das gerações, o sangue dos elfos foi diluído quase ao ponto de agora sermos apenas como humanos com vidas mais longas.”

Riftan olhou de soslaio e examinou cada uma das características faciais do feiticeiro. As características pareciam arrumadas, exceto pelos olhos azul-acinzentados que eram um pouco peculiares, mas não eram particularmente notáveis.

Será que esse idiota está realmente dizendo que é descendente de elfos que se extinguiram nos tempos antigos? Seu olhar varreu para cima e para baixo incrédulo para a aparência desalinhada e insignificante do feiticeiro.

Este feiticeiro é mais como um Seiren. Pálido, mole e barulhento como esses monstros.

Se o homem estava apenas derramando críticas amargas ou não, ele tinha sido convencido e secretamente despertou a curiosidade de Riftan sobre sua própria raça.

“Por favor, me diga a verdade, Senhor Calypse. Mesmo que haja um monstro entre seus ancestrais, eu não vou julgar você nem contar para a igreja. Há algum segredo em sua família, certo?”

“Não existe tal coisa.”

Riftan murmurou em um tom ambíguo. Como poderia ele, um filho ilegítimo, saber a história da linhagem sanguínea de sua família? O feiticeiro persistiu, como se sentisse sua hesitação.

“Por favor, não minta para mim! Como pode um ser humano puro ser tão poderoso?”

Riftan cerrou os dentes. “Não teste meus limites e apenas vá dormir! Se você mencionar a mesma coisa amanhã, eu realmente te deixarei para trás.”

“Pare de enrolar e por favor me responda! É injusto e covarde da sua parte manter a boca fechada quando alguém acabou de te contar seu segredo mais profundo!”

“Do que diabos você está falando?!”

Independentemente de Riftan rosnar severamente, o feiticeiro rastejou até ele como um homem de lama emergindo de um pântano com um brilho estranho nos olhos.

“Estou desesperado para saber! Isso me incomoda e me deixa louco! Qual é o segredo por trás de suas habilidades fenomenais? Como e por que diabos você é assim? Apenas me permita fazer algumas pesquisas!”

Riftan levantou-se da sua cadeira, sentindo um arrepio frio na espinha que nunca havia sentido antes, nem mesmo quando se deparou com um bando de monstros. Desta vez, ele pegou uma pedra pesada com a intenção de esmagar o homem que era como um inseto irritante. O feiticeiro percebeu uma crise quando viu o que Riftan estava prestes a fazer e rapidamente diminuiu o tom e recuou, oferecendo um compromisso bastante convincente.

“Só vai levar cerca de 10 minutos! Se você me permitir determinar se você está usando magia, prometo não te seguir por três expedições.”

Riftan ponderou por um momento, segurando uma pedra do tamanho do seu punho. Embora ele não soubesse exatamente a razão pela qual precisava saber por que era assim, a sugestão do feiticeiro lhe agradou. Ele até estava disposto a pagar se ao menos pudesse se livrar daquele tagarela do feiticeiro.