Pov do Riftan - Capítulo 32

“Não adianta tentar te convencer com palavras. Venha e veja por si mesmo. Você não tem para onde ir mesmo, não é? Irmão, você gritou dizendo que ser mercenário proporciona uma vida melhor, mas isso foi quando você estava em um grupo de mercenários. Não há idiota que confiaria uma grande quantia de dinheiro a um espadachim errante como você.” O cavaleiro cuspiu apenas fatos e verdades. “A menos que você se junte a outro grupo de mercenários, não será capaz de ganhar dinheiro decente. Nesse caso, seria melhor para você se juntar a uma ordem de cavalaria. Eu garanto, assim que você se juntar a nós, você vai gostar.”

“Por que eu deveria ouvir um homem que me atacou do nada?” Retaliou Riftan friamente. 

O cavaleiro riu, sem demonstrar qualquer sinal de vergonha.

“Vamos deixar isso no passado. Eu só queria ver suas verdadeiras habilidades. O modo como os duelos foram conduzidos na competição não parece ser do seu agrado, irmão.”

“Eu também não tenho gosto por ataques-surpresa.” 

“Vou prestar mais atenção às minhas ações da próxima vez.”

Não há próxima vez. Riftan sentiu seus nervos pulsando nas laterais da cabeça e se afastou deles. No entanto, enquanto as ruas cinzentas e nebulosas surgiam à sua vista, ele começou a se perguntar o que diabos estava tentando evitar. O líder dos cavaleiros abriu a boca, lançando-lhe um olhar contemplativo e calmo, como se pudesse ler a hesitação de Riftan. 

“Provavelmente nossa abordagem é muito repentina.” Ele deu um passo para trás. “Que tal abordarmos isso com outra opção? Tente passar três meses primeiro como parte dos Dragões Brancos. Se você não gostar, pode sair quando quiser. De qualquer forma, se você se juntar à ordem de cavalaria, precisará passar por um período de aprendizado; vamos aceitá-lo como membro temporário.”

“Que tipo de ordens você vai me dar nesses três meses?”

“Oh, céus. Ele é o homem mais teimoso e cínico do mundo!” O cavaleiro esbelto perdeu a paciência e exclamou frustrado. O comandante levantou a mão como se para contê-lo e continuou a falar.

“Você não receberá nenhuma ordem até se tornar um cavaleiro juramentado. Em vez disso, se você aceitar esta oferta, vou te orientar nas táticas básicas e no domínio da equitação. A maioria dos cavaleiros aprendizes passa pelo mesmo processo para se tornar cavaleiros juramentados.”

“…”

“Claro, será com você decidir se deseja completar os três meses. Se não gostar da ordem de cavalaria, pode sair a qualquer momento, ou permanecer se quiser se tornar um cavaleiro juramentado. Você não tem nada a perder.”

“… por que você quer tanto que eu me junte?” 

“Digamos apenas que suas habilidades extraordinárias são extremamente cobiçadas.” O homem acariciou sua barba escura bem cuidada, um sorriso despreocupado estampado em seus lábios. 

“Outra razão talvez seja que nosso rei tem grande estima por você. Você é uma joia rara. Com o treinamento adequado, não há dúvida de que você pode se tornar um grande cavaleiro. Parece também que o rei decidiu que é melhor te levar antes que outro país possa te tirar dele.”

Riftan fitou intensamente os olhos cor de avelã do homem, tentando procurar por motivos ocultos. No entanto, o homem não demonstrou nada, pelo contrário, era vago como neblina e indecifrável.

Riftan apertou os lábios. Não conseguia entender por que estava tão covarde e nervoso. Como o homem disse, a oferta seria benéfica para ele. Ele estava planejando deixar Balbon de qualquer maneira e, se não gostasse dos Dragões Brancos, tinha a opção de sair imediatamente.

“… tudo bem. Aceitarei sua oferta.”

Um sorriso satisfeito se espalhou pelo rosto do homem. “Você pensou bem.”

Nesse momento, a névoa e a bruma gradualmente se dissiparam, os raios do sol se filtrando pelas nuvens. O homem se virou na direção do grande templo e falou.

“Então, vou te apresentar aos outros membros da cavalaria. Vamos para a estalagem onde estamos hospedados.”

Riftan observou as costas do homem e o seguiu sozinho. Então, o mago, que estava observando de longe, o seguiu. Somente então os cavaleiros se voltaram para questionar Ruth.

“Vocês se conhecem?”

“Sim, sou o mago de Sir Calypse.”

Ruth levantou a cabeça e respondeu rigidamente. Riftan olhou para Ruth como se ele tivesse dito algo sem sentido. Desde quando esse parasita se tornou meu mago?

A inquietação lavou o rosto jovem do mago enquanto ele tentava insistentemente afastar os homens. Riftan cerrou os dentes. Detestava como ele o fazia se sentir desconfortável.

Droga… Riftan bagunçou os cabelos de volta com rudeza. Tudo bem. Pelo menos esse cara é confiável, apesar de me incomodar espalhando rumores e conversas irritantes, pensou consigo mesmo enquanto hesitava e, finalmente, cuspiu suas palavras sem rodeios.

“Sim, ele é meu mago.”

“Ótimo. Eu estava procurando um mago de qualquer maneira. Serei considerado e o levarei também.”

Depois que o homem anunciou com uma voz alegre, o mago começou a falar vaidosamente sobre suas habilidades. Riftan avançou, irritado com a voz de Ruth tagarelando sobre o quão excelente era como mago. Riftan rezou fervorosamente por um bom presságio enquanto as nuvens se dissipavam e o sol dourado brilhava levemente em todas as direções.

O tempo passou como um rio furioso. Riftan liderava sua cavalaria pelos desfiladeiros quando ouviu o uivo agudo de um falcão, fazendo-o parar. A ave era Agalde, o mensageiro real que o favorecia educadamente. Ela voou pelo vale graciosamente, procurando um apoio para pousar.

Riftan ergueu o braço revestido de armadura. Agalde pousou em seu braço e arranhou sua manopla. Ele acalmou a criatura com seu toque habilidoso e afrouxou a bolsa amarrada em seus tornozelos. Ele tirou um pequeno pedaço de pergaminho e seus olhos leram as linhas escritas. Ursuline Ricaydo se aproximou dele, perguntando impacientemente.

“Como está a situação?”

Riftan amassou o pergaminho com uma mão e respondeu casualmente. “Todos os remanescentes da frente nordeste foram eliminados. Agora estamos ordenados a retornar a Wedon.”

“Isso significa…”

“Nós conseguimos.”

Assim que ele terminou de falar, cerca de cento e quarenta cavaleiros irromperam em altos vivas. Riftan tinha um sorriso leve brincando ao redor de sua boca. Passara meio ano desde que patrulharam as fronteiras eliminando os saqueadores de Dristan, todos estavam ansiosos pelo comando finalmente retornar à sua terra natal. Riftan exclamou em voz alta.

“Rumo ao leste! Rápido, juntem-se ao comandante.” Agalde voou vigorosamente de volta para o céu, como se entendesse suas palavras.

Ele guiou seu cavalo contra o vento cortante, seguindo o exemplo. Quando finalmente partiram do longo desfiladeiro, duzentos homens de cavalaria receberam seus olhares, cavalgando sobre a vasta natureza selvagem. Riftan suspirou aliviado ao avistar a bandeira azul tremulando ao vento.

“Felizmente, parece que não houve muitas baixas.”

“Se você pode ser derrotado por um bando de meros bandidos, não merece fazer parte dos Dragões Brancos.”

Ursuline, que agitava seu cavalo ao lado dele, proferiu em voz orgulhosa. Riftan tinha um olhar distante no rosto. Passaram-se quatro anos desde que ele se juntara à ordem dos Dragões Brancos e desde então a ordem cresceu a um ritmo assustador, alcançando um número de mais de 400 homens. Ganhou fama sendo os guardiões da fronteira oriental, atraindo a atenção dos nobres. Até mesmo o segundo filho do Conde Ricaydo, uma das famílias mais prestigiadas de Wedon, se voluntariou para se alistar na ordem.

“Quando voltarmos, teremos alguns meses de descanso. Você planeja ficar em Anatol novamente?”

Ursuline Ricaydo o observou de lado e perguntou. Riftan respondeu vagamente em um murmúrio.

“Não tenho certeza…”

“E que tal ficar na capital desta vez? Sua Majestade pretende conceder a Sir Calypse o título de Barão. Para que ele possa conceder isso, a rejeição do júri central deve ser reduzida…”

“Você está me dizendo para tremer diante dos nobres e obedecer como um cordeiro?” Riftan soltou uma risada de escárnio. “Peço desculpas, mas não tenho intenções de fazer coisas fora do meu gosto apenas para obter um título. Para mim, é o suficiente ser ordenado cavaleiro e possuir um pedaço de terra.”

“Sua terra não passa de uma concessão formal para Sir Calypse poder assumir o cargo de vice-comandante. Um título adequado e um território melhor…”

“Você é um incômodo.”

Ursuline fechou a boca com uma expressão de desapontamento no rosto. Riftan fingiu não perceber e guiou seu cavalo em direção ao comandante.

“Você se machucou em algum lugar?”

“Como se atreve a me fazer uma pergunta tão insultante?”

Evan Triden, que comandava os cavaleiros, resmungou e tirou o capacete da cabeça. O falcão, que voava sem rumo no céu, pousou graciosamente em seu ombro. O comandante jogou um pedaço de carne para Agalde e sorriu de forma relaxada.

“Não estou nessa idade para ser tratado assim por você.”