Pov do Riftan - Capítulo 40

“Eu só ouvi histórias sobre como a segunda filha do Duque é excepcionalmente bonita… fiquei surpreso. Em apenas alguns anos, ela não se tornará a mulher mais bonita do continente ocidental?”

Riftan piscou os olhos e olhou na direção para onde Gabel estava olhando novamente. Foi só então que ele percebeu que não era Maximillian Croyso quem capturara sua admiração, mas a garota de cabelos dourados ao lado dela. Ele franziu a testa para a garota com uma atmosfera fria que parecia esculpida no gelo. Ele não conseguia entender como alguém poderia olhar para outra mulher quando Maximillian Croyso estava por perto.

Gabel não era o único olhando para ela com admiração, os outros cavaleiros também estavam impressionados com a irmã mais nova de Maximillian. Ursuline Ricaydo lançou a eles um olhar descontente, vendo como eles estavam encarando.

“Estamos aqui para resolver os assuntos relativos à disputa. É patético ficar encarando mulheres no meio de uma guerra.”

“Quem está encarando?”

Gabel resmungou com uma expressão constrangida e corrigiu sua postura e com a menção da “guerra” seu rosto instantaneamente escureceu. Pouco antes de chegarem a Croyso, tiveram que lutar em uma batalha feroz contra quase três vezes o número usual de bandidos e Gabel perdeu um de seus queridos aprendizes no meio dela. 

Embora sarcasticamente declarasse que o aprendiz caído não era digno de usar a armadura dos Dragões Brancos por perder a vida para um bando de bandidos, ele pagou um funeral caro para ele. Gabel não era o único que tinha perdido um aprendiz querido.

Os bandidos de Dristan, que não passavam de um grupo armado desorganizado, estavam rapidamente se transformando em um exército sistemático. E como um grupo de ratos em um armazém de comida, eles continuavam vindo em bandos de algum lugar, não importava quantos deles fossem abatidos e expulsos. 

Era bastante óbvio que eles tinham o apoio da Casa Real de Dristan. De onde mais os camponeses, que estavam morrendo de fome, poderiam obter cavalos de guerra poderosos e colocar as mãos em armas de aço? O fato de vinte mil homens se tornarem soldados em questão de segundos e serem controlados por um sistema de comando específico era ameaçador.

“Por aqui.”

O mordomo que os guiava os levou até o terceiro andar em vez da recepção. Riftan o seguiu e deu uma última olhada em Maximillian Croyso. Seu rosto de repente tinha uma expressão ansiosa e ela se escondeu nas sombras.

Riftan pôde ver claramente seus olhos se turvando como uma névoa, seu rosto redondo estava pálido como um fantasma, e seu corpo pequeno vestido com um simples vestido marrom-avermelhado se enrijeceu de nervosismo. 

Ele desviou o olhar dela novamente. Ele queria acreditar que a razão pela qual ela o olhava tão cautelosamente era porque estava preocupada com as notícias que os cavaleiros trariam.

“Por favor, espere um momento. Vou pedir permissão ao Duque e volto.”

O mordomo pediu-lhes para esperar no final de um corredor de azulejos de mármore e entrou por uma porta de mogno gigantesca que tinha pelo menos 10 Kevettes (cerca de 3 metros). Riftan ficou calmamente em frente à porta do escritório, que foi fechada humilhantemente em seu rosto da última vez, esperando que seu pedido de audiência fosse concedido.

O Duque de Croyso permitiu que entrassem depois de um longo tempo, deixando o vapor esfriar o suficiente de sua cabeça, e Riftan atravessou a porta vermelha com seus cavaleiros. O Duque estava sentado em uma cadeira requintada adornada com pele de leão e o encarou com um olhar frio em seus olhos verdes.

“Ouvi dizer que você veio trazendo uma mensagem de Sua Majestade.” Ele cruzou os braços sobre a mesa e tinha uma expressão descontente no rosto. “Como ele não enviou um mensageiro diretamente para meu castelo?”

“Sua Majestade queria transmitir uma consciência clara do que está acontecendo nas fronteiras orientais. Esta é também a razão pela qual regularmente relatamos a situação.”

Riftan se aproximou da mesa do Duque e falou em um tom monótono, mas ele respondeu sarcasticamente, seu bigode cuidadosamente aparado tremendo.

“Bem, que ordens deu Sua Majestade?” 

“Sua Majestade está preocupado com a possível prolongação do atual conflito. O Exército Real de Dristan está intervindo e há uma alta chance de que este conflito escalasse para uma guerra total. Sua Majestade não deseja que a situação piore ainda mais.”

“Se for provado que os Reais de Dristan estão apoiando os bandidos, então são puníveis de acordo com o Tratado de Paz.” O Duque recostou-se em sua cadeira e retorquiu sem rodeios. “Não posso chegar a um acordo com pessoas que invadiram meu território. Nem mesmo o rei deveria impor tal humilhação sobre mim.”

“Então, como diabos você vai punir esses governantes de Dristan?” Riftan o confrontou veementemente. “Você será o líder de um exército até as fronteiras orientais e colocará o Rei Turben no banco dos réus em Osiriya?”

O rosto do Duque ficou vermelho. “Os outros monarcas dos seis reinos me ajudarão!”

“O Tratado de Paz é garantido pelos monarcas dos sete reinos. Você realmente acredita que esses monarcas trarão o governante de Dristan à justiça?” Riftan continuou a falar de maneira calma, diminuindo sua hostilidade o máximo possível. “Dristan destruirá o Tratado de Paz dos Sete Reinos e será usado como um meio de desencadear uma guerra. Os reis não acham que o Santo Papa tem o direito de julgá-los.”

“Como você se atreve… está tentando me dar uma lição agora?”

“Estou apenas transmitindo a vontade dos monarcas.” Apesar da expressão enfurecida do Duque, Riftan permaneceu composto. “Sua Majestade disse que ameaçar perturbar a paz é absolutamente inaceitável. Portanto, eu o encorajo a terminar imediatamente este conflito e pôr fim à rixa com Dristan.”

Ele tirou uma carta com o selo real de suas vestes e colocou-a na mesa. Em vez de pegá-la, o Duque a encarou com uma raiva glacial em seus olhos verdes pálidos. Em seguida, ele exclamou em um tom agudo.

“Se já entregou sua mensagem, saia!”

Riftan saiu da sala junto com seus cavaleiros, sem demora. Gabel soltou um longo suspiro enquanto caminhavam pelo corredor.

“Está certo ter dado a ele essa atitude firme? É melhor evitar o olhar daquela pessoa, caso contrário será problemático…”

“Mostrei a ele uma quantidade decente de respeito.”

Riftan respondeu sem rodeios e desceu as escadas. As mulheres que se reuniram antes nos corrimãos do segundo andar não estavam mais lá. Ele lançou um olhar momentâneo para onde Maximillian se escondera e desceu os degraus restantes em silêncio. Ao chegarem ao térreo, os servos se aproximaram e os conduziram aos quartos de hóspedes.

“Prepararemos uma refeição e traremos água para um banho imediatamente.”

Enquanto os servos saíam, Riftan tirou sua armadura e foi até a janela para contemplar os jardins. O sol pálido de inverno lançava uma luz tênue sobre as árvores coníferas verde-escuras, e os pássaros colhiam sementes nos canteiros de flores onde a grama estava morta e amarela. Ele abriu as janelas e observou o jardim onde Maximillian costumava passear e suspirou enquanto se apoiava na parede. Sentiu como se tivesse envelhecido três ou quatro anos nos últimos meses. Riftan se jogou na cama e soltou outro suspiro cansado.

O Duque eventualmente decidiu ceder às negociações com Dristan, afinal não havia outra opção. Riftan escoltou os mensageiros do Duque até as fronteiras, onde negociaram com o Exército Real de Dristan. Enquanto viajavam de um lado para o outro entre o Castelo Croyso e as fronteiras, a estação chuvosa chegou.

Quando as negociações para encerrar o conflito terminaram sem problemas, o Duque convidou os nobres do leste e os mensageiros de Dristan para um grande banquete. Isso foi feito com a intenção de apaziguar as queixas dos vassalos que haviam sido afetados por meses de conflito intenso. O salão do banquete estava decorado mais luxuosamente do que nunca, a comida estava temperada com especiarias raras e todo tipo de fruta enchia infinitamente as mesas.

Os lábios de Riftan se torceram cinicamente enquanto observava o Duque de Croyso no pódio. O homem que tinha sido autoritário durante todo o processo de negociação sentou-se ao lado dos mensageiros de Dristan, agindo naturalmente amigável e até compartilhando risadas. No entanto, o humor desagradável de Riftan desapareceu de uma vez quando seus olhos pousaram em Maximillian, que estava sentada modestamente ao lado do pai.

Ele observou atentamente enquanto ela comia uvas pedaço por pedaço, então deu um longo gole de vinho, sentindo a garganta arder com a visão. De alguma forma, ela estava ficando muito mais bonita aos seus olhos cada vez que olhava para ela. Recentemente, só de olhar para ela, ele sentia uma dor por dentro. Ele soltou um suspiro preocupado e chamou um servo para encher seu copo vazio. Hebaron clicou a língua, olhando para a expressão de Riftan.

“Quem te ver com essa cara pode pensar que perdemos. Por que você parece que está morrendo?”

“… não exatamente ganhamos.”

“É uma conquista ter parado 20.000 bandidos com apenas 4.000 tropas e aguentado meio ano. As negociações correram melhor do que o esperado e Sua Majestade está satisfeito com os resultados.”

Hebaron murmurou enquanto chupava os dedos sujos de suco da comida gordurosa. “Ninguém pode negar os esforços louváveis do vice-comandante. Haverá uma cerimônia anunciando o novo comandante dos cavaleiros quando voltarmos, então esteja preparado.”

Riftan não respondeu e Hebaron o olhou com suspeita nos olhos. “Você não está pensando em quebrar sua lealdade, está?”

“Assim que me tornar o comandante dos Dragões Brancos, você estará então a serviço de Anatol. Você ficaria contente em servir a um senhor de um mero território nos arredores?”

“O que você está tagarelando agora? De qualquer forma, a maioria dos cavaleiros não está em posição de adquirir um feudo, sendo bastardos, plebeus, nobres caídos ou segundos filhos de famílias nobres menos proeminentes.” Hebaron resmungou alto. “Se eu realmente me importasse com isso, o vice-comandante já teria sido expulso há muito tempo.”

Riftan queria questionar sarcasticamente a capacidade de Hebaron para fazer isso, mas se conteve. Hebaron deu um gole na cerveja e continuou a falar de maneira calma.

“Além disso, todos estão cientes de que o vice-comandante está se esforçando para reconstruir aquele pequeno pedaço de terra. Todos nós estamos ansiosos para ficar lá.”

Então, os lábios de Hebaron se torceram enquanto ele olhava para o assento onde Ursuline Ricaydo estava, o homem o encarava com olhos desaprovadores.

“É claro, há alguns que parecem esperar que o vice-comandante estabeleça uma posição no Palácio Drachium.”

“…”

“No entanto, é o vice-comandante quem toma a decisão. Quanto a nós, já decidimos seguir a vontade de Riftan Calypse.”

O homem exigiu silenciosamente uma resposta dele com os olhos, e Riftan olhou para baixo para seu copo de vinho com uma expressão indescritível, então suspirou pesadamente.

“Não tenho intenções de evitar isso desta vez. Quando o Rei Ruben baixar sua espada sobre mim, eu vou aceitar.”

Hebaron deu-lhe um sorriso satisfeito e colocou um copo cheio de cerveja na frente dele com um baque. “Quando o vice-comandante assumir o posto de nosso comandante, vou tratá-lo muito gentilmente.”

“… estou ansioso por isso.”

Riftan suspirou e pegou o copo que Hebaron lhe estendeu. Beber com ele geralmente durava até o final do banquete, às vezes até o amanhecer. Normalmente, ele teria ficado irritado e rejeitado a oferta, mas naquele dia Riftan também estava disposto a desafiá-lo com álcool.

Conforme ficavam mais barulhentos com o tempo, alguns nobres os olhavam com desdém. No entanto, ele estava desesperado o suficiente para fazer qualquer coisa tola se pudesse manter o olhar de Maximillian sobre ele por um minuto. Riftan engoliu as bebidas que Hebaron continuava a entregar enquanto sentia o olhar curioso dela sobre ele.

No entanto, como se ridicularizasse tal comportamento patético, ela saiu silenciosamente do salão de banquetes com suas servas. Sentindo que seu entusiasmo tinha sido estragado, Riftan colocou seu copo meio vazio de volta na mesa. A ideia de ir atrás dela passou por sua mente por um momento, mas teria sido muito óbvio, pois ele teria perdido o desafio em que estava envolvido. Ele tentou pedir desculpas várias vezes pelo que aconteceu, mas todas às vezes, falhou repetidamente.

Os lábios de Riftan se torceram ao lembrar-se de Maximillian, que sempre estava ocupada fugindo dele no momento em que ele tentava se aproximar dela. Agora, a garota provavelmente o consideraria não apenas um homem intrometido, mas também um bêbado e um festeiro.

Ótimo. Riftan murmurou sarcasticamente e tomou o resto de sua bebida. Quem sabe, talvez seja o melhor.

Não havia chance de que ele pudesse ficar ao lado dela de qualquer maneira, e mesmo que fosse o caso, Maximillian provavelmente o desprezaria terrivelmente. Naquele ponto, ele seria capaz de se livrar de seus sentimentos tolos também. Ele encheu seu copo novamente. Os melhores vinhos pareciam ter um sabor desagradavelmente amargo.

No raiar do dia seguinte, Riftan e os outros cavaleiros partiram para o Palácio de Drachium. Os vassalos do Duque estavam hospedados no Castelo de Croyso por várias semanas enquanto os Cavaleiros Reais precisavam permanecer de guarda até que os delegados de Dristan partissem. A missão dos Dragões Brancos era apenas fornecer apoio militar e eles tinham cumprido isso, então não havia motivo para ficar mais tempo em Croyso.

Eles viajaram sem parar por vastas planícies, passando ocasionalmente por mercados bem abastecidos e vilarejos entre os campos de arroz verde-claro. Movendo-se um pouco para o norte, encontraram uma enorme fazenda onde milhares de bois e ovelhas pastavam. Riftan clicou a língua ao perceber a riqueza do Duque. Os rumores de que o Lorde oriental poderia ser mais rico que o Rei, não eram exagerados.

Depois de cavalgarem por terras por quatro dias inteiros, finalmente chegaram à muralha norte que fazia fronteira com o território do Duque. Além das magníficas muralhas que se erguiam quase cem Kevette (30 metros), estavam as ásperas Montanhas Callic, marcando o fim das suaves planícies. A capital real apareceu diante de seus olhos depois de cruzarem cerca de três ou quatro colinas.

“Até quando você pretende ficar na capital?”

Ursuline Ricaydo aproximou seu cavalo e perguntou enquanto marchavam pelos portões do castelo e viam as ruas cheias de pessoas observando. Riftan olhou para ele e respondeu sem rodeios.