Pov do Riftan - Capítulo 53

Os soldados prontamente se levantaram de seus descansos e foram ajudar a carregar as cargas trazidas pelas tropas de suprimentos. A Princesa Agnes, acompanhada pelo exército real, cavalgou em sua direção, sua capa verde-escura tremulando ao vento.

“Faz tempo”, ela olhou para os rostos dos cavaleiros e sorriu aliviada. “Todos parecem bem, parece que não chegamos tarde demais.”

“Foi mais tarde do que o esperado”, Riftan retrucou bruscamente ao desmontar de seu cavalo. “Os sinais que deixamos para indicar nossa localização foram apagados enquanto vocês nos procuravam?”

“Fomos contatados pelas tropas de exploração do leste enquanto estávamos a caminho, o que nos atrasou, tivemos que investigar alguns assuntos.”

“Eles descobriram algo?”

A princesa assentiu em resposta à pergunta de Gabel. “Acho que encontramos o local onde está instalada a fórmula mágica que cria as barreiras que cercam as Montanhas Lexos.”

Riftan estreitou os olhos diante da explicação vaga. “O que você quer dizer com ‘acho’ que encontraram?”

“Os Cavaleiros Sagrados de Osyria encontraram uma fórmula mágica que parece formar metade das barreiras estabelecidas no leste. Depois que os magos de Alex inspecionaram a magia, teorizaram que a outra metade da fórmula mágica provavelmente está instalada em uma área exatamente simétrica. Levou mais tempo do que eu esperava para descobrir a localização deles e encontrar os Cavaleiros de Osyria.”

A princesa desmontou de seu cavalo avermelhado enquanto explicava rapidamente, mas Riftan tinha um brilho cauteloso nos olhos. Dois anos se passaram desde que ele começou a vagar pelas Montanhas Lexos. Ao ouvir que finalmente poderiam ter uma chance de localizar a Cova do Dragão, Riftan sentiu todo o seu corpo tenso. Uma vez que as barreiras fossem removidas, eles poderiam encontrar a Cova do Dragão mais facilmente com a ajuda da magia de rastreamento dos magos. Como se lesse a expressão sombria no rosto de Riftan, ela sorriu levemente e falou.

“Vamos descansar e compartilhar os detalhes mais tarde. Estamos todos exaustos de viajar até aqui.”

Riftan olhou para baixo para o rosto corado e suado dela e virou-se sem dizer uma palavra. O céu subitamente se tornara roxo. Agnes e os magos instalaram escudos para impedir que monstros se aproximassem de seu acampamento, então instruíram os soldados a montar suas tendas. Os soldados também carregavam constantemente barris, frutas secas, grandes pedaços de carne, farinha e manteiga dos suprimentos. Os cantos dos lábios dos cavaleiros se ergueram: fazia tempo desde que tinham visto tamanha abundância de comida.

“Faz tempo desde que tomei uma bebida!”, a voz rouca de Hebaron ressoou alto.

Riftan tentou dizer-lhe para nem sonhar em beber álcool, mas mordeu os lábios. O moral das tropas havia caído vertiginosamente devido ao seu incessante e incansável caminhar, sem saber quando perderiam suas vidas em um ataque repentino de monstros, então uma pequena recompensa deveria de alguma forma levantar o espírito da expedição. Riftan os permitiu se banquetear com comida gordurosa e beber álcool, mas os guardas de serviço não deveriam estar embriagados.

“Abstenham-se de beber até perderem os sentidos. Espero que ninguém perca tola e desnecessariamente a vida por estar fora de si em caso de um ataque repentino.”

Apesar de seu severo aviso, os sorrisos nos rostos dos cavaleiros não desapareceram. Eles mereciam a recompensa, pois nos últimos dois anos a expedição os obrigou a levar uma vida mais restrita do que a dos monges. Um simples gole de uma cerveja picante, pão com manteiga e carne gordurosa os fazia sentir como se tivessem chegado ao paraíso.

Riftan sentou-se amargurado perto da fogueira. Naturalmente, a Princesa Agnes sentou-se em frente a ele e perguntou sobre o progresso da expedição de busca. Ele umedecia os lábios com vinho e deu a ela uma resposta simples.

“Não encontramos nenhuma pista especial além do labirinto localizado no centro. De acordo com a observação de nosso mago, parece que o dragão está usando magia para controlar monstros sub-raciais. A área estava infestada de ogros, golems e densa de mortos-vivos.”

A Princesa Agnes lançou um olhar para Ruth, que mexia na fogueira num canto, e fez um comentário sarcástico. “Talvez o mago do senhor tenha deixado passar algo? Ele poderia ter descoberto algo mais se tivesse investigado mais a fundo aquele labirinto.”

“Você está sendo muito dura.” Hebaron veio com um grande barril colocado sobre os ombros e se jogou para sentar em frente à fogueira. “O que restaria se você não tivesse as habilidades mágicas?”

“Pelo menos eu teria uma figura esbelta, beleza esplêndida e inteligência afiada restantes!”

O mago soltou um gemido audível. A Princesa Agnes olhou com olhos frios de desprezo para Ruth e sentou-se de costas para ele, fingindo que ele não existia.

Riftan fez uma pergunta enquanto pegava o copo que Hebaron lhe ofereceu.

“Onde está localizada a fórmula mágica que forma as barreiras?”

A Princesa Agnes tirou um mapa e o espalhou no chão. “Aqui. É mais provável que esteja localizada a meio caminho da montanha mais ocidental.”

“Teremos que voltar um pouco do caminho que percorremos.”

Riftan examinou o mapa, traçando uma rota em sua cabeça para estimar o tempo de viagem. Iria demorar cerca de duas semanas para chegar até lá.

“Assim que as barreiras forem completamente removidas, reforços de todo o continente serão enviados. A Torre dos Magos também se comprometeu a enviar um número generoso de arquimagos. Eles estarão estabelecendo barreiras mágicas ao redor das cadeias de montanhas para evitar que o dragão escape.” A princesa apontou várias partes do mapa com um galho de árvore.

“Enquanto falamos agora, os magos da Torre dos Magos estão instalando fórmulas mágicas em várias partes das cadeias de montanhas para interromper o fluxo de mana, com a intenção de enfraquecer os poderes mágicos de Secto. Os Sete Reinos estão unindo forças para tentar derrotar o dragão aproveitando-se de seus poderes enfraquecidos. Como você sabe, as subespécies de dragão têm uma forte imunidade mágica, o que as torna resistentes a qualquer ataque mágico. Um dragão seria provavelmente cem vezes mais resistente à magia. Quando uma batalha em grande escala começar para subjugar o dragão, os magos ficarão nas fileiras de trás, enquanto os mestres da espada e os sacerdotes principais, que podem lançar magia divina, serão as forças principais. Os Dragões Brancos também estarão na vanguarda.”

“Estou me preparando para essa situação.” Riftan respondeu com compostura e bebeu a cerveja de um gole. “Quantos mais reforços estão prestes a chegar?”

“Cerca de mil e duzentas pessoas…”

“Apenas cerca da metade delas permanecerá quando alcançarmos a Cova do Dragão.”

O rosto da princesa se nublou com seu comentário cínico. Custou enormes fundos e mão de obra para sustentar sua expedição de longo prazo, os monarcas de cada reino também limitaram o envio de forças de elite e compensaram isso enviando mercenários e criminosos. A maioria deles não conseguiu suportar a extremidade da expedição e desertou ou morreu em batalha por falta de habilidades. Menos da metade da expedição tinha habilidades polidas.

Embora Agnes soubesse disso muito bem, ela murmurou suas palavras como se estivesse se desculpando. “Os senhores também estão tendo dificuldade em impedir que os monstros desçam das Montanhas Lexos. A unidade de Wedon será abalada se emitirmos uma ordem de recrutamento ou aumentarmos mais os impostos.”

“A maldição cairá sobre todo o continente ocidental se não derrotarmos o dragão.”

A princesa não levantou mais objeções e fechou a boca. Riftan relaxou sua expressão severa. O fato de a princesa, membro da Família Real, liderar um exército em uma expedição significava que os reais de Wedon estavam fazendo seus melhores esforços. O problema era que os senhores estavam ocupados passando o fardo uns para os outros.

Riftan cerrou os dentes, lembrando-se do rosto astuto do Duque de Croyso. No entanto, sua raiva se dissiparia rapidamente sempre que pensasse nele, lembrando-se da mulher que inevitavelmente apareceria em sua mente junto com ele.

 Uma estranha sensação de vazio então tomaria o lugar de sua raiva. Riftan reprimiu a vontade de perguntar se ela estava bem: tudo o que ouvira sobre ela desde que partira era que não tivera filhos. Se ele perecesse em batalha, o fino fio que o conectava a ela seria quebrado da noite para o dia. 

Então, ela esqueceria completamente seu rosto em apenas alguns anos: ele seria vagamente lembrado por ela como um homem monstruoso que lhe trouxera experiências desagradáveis e dolorosas.

Riftan escondeu sua expressão amarga, limpando a cerveja dos lábios com o dorso da mão. Ele podia dizer apenas pelo fato de ela se recusar a ir para o Castelo Calypse o quanto ela o via com desprezo. Talvez, até mesmo esperasse que ele nunca voltasse. Uma dor aguda se abateu sobre ele, uma dor à qual se acostumara a sentir agora.

“Chega de conversa sombria”, Hebaron interrompeu subitamente a conversa, sentando-se com suas longas pernas musculosas esticadas à sua frente. “Vamos descansar por um dia ou dois. Podemos discutir sobre os reforços ou a subjugação do dragão enquanto estivermos na estrada, não é mesmo? Ainda temos tempo.”

“Você está falando em apenas beber ou ficar bêbado?”

Hebaron riu do comentário sarcástico lançado a ele.

“É a primeira vez que provamos cerveja em 9 meses. Não quero ouvir mais histórias desviando do sabor do álcool.” Ele estremeceu e gritou por cima do ombro. “Ei, ninguém aqui sabe contar histórias animadas? Deveria haver alguma diversão em uma festa de bebedeira.”

“Esta é uma expedição vital que determinará o destino do Continente Ocidental! Uma diversão…!”

Hebaron ignorou Ursuline, que gritava veementemente, e apontou para um dos cavaleiros aprendizes sentado ao redor da fogueira. “Harman, conte um pouco sobre aquela vez em que você viajou para o Sul, quando foi enganado por três meretrizes, roubado de todo o dinheiro que tinha e depois jogado nu nas ruas.”

“Senhor, você acabou de contar toda a história.” O cavaleiro preocupado murmurou, como se a sugestão de Hebaron fosse absurda.

“É muito mais engraçado quando você conta. Pare de hesitar, você nunca sabe quando terá outra chance de se gabar de suas experiências.”

Harman hesitou diante dos incentivos de Hebaron, mas acabou se levantando. Riftan acenou para ele com um suspiro depois que o jovem olhou para ele como se pedisse permissão. Então, o rapaz de 20 anos, filho de um mercador, começou a contar histórias e experiências exageradas que teve enquanto viajava pelo mundo.

Riftan assistiu silenciosamente enquanto os soldados se envolviam em suas histórias, como se estivessem tentando esquecer os medos de suas mentes e o cansaço de seus corpos. Assim como Hebaron disse, Harman era bom em contar histórias. Risos, zombarias e vaias irromperam de todos os lados enquanto ele contava a história de como lutara contra cem ladrões.

“Quem você está enganando? Você nem poderia ter lutado contra dois deles!”

“Apenas veja e ouça até o final da história. Estou lhe dizendo, centenas de Pagãos do Sul gritaram o nome de Deus enquanto fugiam de mim porque os superei com meu cérebro superior.”