Uma tarde tranquila em Anatol - Parte 02
Ulyseon se enrijeceu, percebendo tarde demais que havia falado com ela no pior momento possível. Seus ombros se tensionaram, mas sua boca se moveu em vão, com os olhos se mexendo em pânico. Hebaron avançou para resgatá-lo.
“O senhor está atualmente ocupado com seus deveres oficiais lá em cima,” respondeu o cavaleiro robusto. “Posso perguntar sobre o que é isso, minha senhora?”
“Eu tenho contas a acertar com ele,” disse ela firmemente, e virou-se para subir as escadas antes que alguém pudesse responder.
Elliot observou a senhora da casa desaparecer com um olhar distante nos olhos antes de olhar para Hebaron. Os olhos deste agora brilhavam como os de um gato que acabara de ver um novo brinquedo.
“Tenho a sensação de que nosso comandante logo vai se meter em encrenca. Preciso ir imediatamente oferecer minha ajuda,” disse Hebaron.
“Você só quer assistir ao dilema de Sir Riftan,” murmurou Elliot, incrédulo.
Mas Hebaron não fez nem questão de ouvir. Já estava metade das escadas acima. Um a um, os outros cavaleiros começaram a segui-lo, ansiosos para não perder o espetáculo estranho do maior cavaleiro do Continente Ocidental se atrapalhando diante de uma mulher que era metade do seu tamanho.
Com um suspiro pesado, Elliot, a contragosto, os seguiu. Ele não queria ser testemunha da disputa conjugal de seu comandante, mas tinha o dever de relatar suas descobertas sem demora.
“Eu também quero terminar meu trabalho logo para poder descansar…”
Ele subia as escadas lentamente, massageando o pescoço rígido. Estava exausto, pois havia passado a manhã inteira no porto, se encontrando com várias pessoas. Pensava que deveria voltar para seus aposentos e descansar assim que terminasse o relatório. Perdido em seus pensamentos, enquanto caminhava pelo amplo corredor, uma voz clara de repente ecoou pelo ar, trazendo-o de volta ao momento presente.
“Isso é uma injustiça grotesca!”
Parece que ela já começou…
Elliot parou e olhou para a entrada da sala do conselho no final do corredor. Pela porta entreaberta, ele viu Maximilian Calypse se inclinando sobre a mesa. Do outro lado, estava o superior que tanto admirava. Só era possível ver suas costas, e ele estava esfregando as têmporas com uma expressão preocupada.
Brincando com o relatório guardado em sua túnica, Elliot pensou no que deveria fazer. Deveria sair de fininho para proteger a dignidade do comandante? Mas já havia uma multidão de observadores reunida dentro.
Resignado com o fato de que sua presença não faria diferença para garantir privacidade, Elliot engoliu um suspiro e se dirigiu até a porta.
“Não vou aceitar isso!”
Ao entrar na sala, a voz severa de Maximilian ecoou com mais clareza. Elliot deu uma olhada rápida em seu rosto antes de fazer uma vistoria rápida na sala.
Apesar de sua declaração anterior de ajudar o comandante, Hebaron estava casualmente encostado na parede, observando a troca com grande interesse. Os outros cavaleiros estavam apostando em quem sairia vencedor desta vez.
Depois de lançar um olhar reprovador para eles, Elliot olhou para a fileira de mesas em frente à janela. Ruth Serbel e Ursuline Ricaydo estavam imersos em seus trabalhos, aparentemente alheios à tempestade que se desenrolava atrás deles.
Isso é estranho por si só…
Ainda assim, era melhor que se comportassem como observadores.
Decidindo que o comandante já tinha o suficiente em suas mãos, Elliot se virou para Ursuline para entregar seu relatório.
“Bom dia, senhor,” disse ele, aproximando-se com cautela. “Organizei as informações coletadas pelos nossos informantes posicionados no leste.”
Ele colocou um montante de pergaminhos na mesa.
Ursuline parou de escrever e olhou para cima. “Muito bem. Algo de especial para relatar?”
“Você verá por escrito, mas alinha-se com o que já sabemos. No entanto, a situação parece estar se desenrolando de forma mais drástica do que esperávamos—”
“Não vou recuar desta vez, Riftan, então desista!”
Elliot estremeceu, interrompendo-se no meio da frase enquanto a declaração ardente de Maximilian preenchia a sala. Nesse momento, não pôde deixar de perguntar.
“Por que… sua senhoria está tão brava?”
“Como você sabe, estamos planejando desenvolver uma pedreira no próximo ano,” respondeu Ursuline. “Vamos enviar uma equipe para fazer um levantamento da terra e encontrar um local adequado, e sua senhoria está furiosa por ter sido excluída.”
Ursuline carimbou um dos pergaminhos e acrescentou de forma seca, “É sempre a mesma rotina. Eu me pergunto como eles não se cansam disso.”
“Eu ouvi vocês!” Maximilian retirou seu olhar assassino do marido e gritou em direção a eles.
Em vez de responder, Ursuline retomou o carimbo nos pergaminhos em silêncio.
Após olhar fixamente para Ursuline por um longo momento, Maximilian voltou-se para o marido para retomar sua feroz protesto.
“Sou uma maga elemental. Uma maga de alto nível, ainda por cima! Como você pode sequer considerar levar um mago de Sigrew ao meu lugar para a tarefa de levantamento da terra? Isso é um insulto!”
“Ruth Serbel é capaz de lançar magia de todos os elementos.” O comandante, que havia suportado o olhar assassino da esposa com uma expressão impassível, abriu a boca calmamente. No entanto, a língua afiada, que normalmente seria capaz de destruir seus inimigos, vacilou diante de Maximilian Calypse. Pior ainda, ele fez uma observação desnecessária, cavando sua própria cova.
“Ruth também é melhor em magia elemental que—”
Vendo os olhos da esposa se estreitarem perigosamente, o comandante fechou a boca.
Maximilian se inclinou para frente, enfatizando cada palavra. “Em outras palavras… você quer levar Ruth Serbel porque não acredita nas minhas habilidades?”
Riftan, um homem cuja compostura nunca vacilava — nem mesmo diante de reis ou papas — agora parecia visivelmente desconfortável, como um animal encurralado por um predador.
“O que eu quero dizer é que não vai haver muita diferença sobre quem conduzirá essa investigação,” disse ele apressadamente.
“Se é assim, não importa se eu for!” Maximilian retrucou. “Por que você está indo tão longe para me excluir?”
“Porque…”
Riftan hesitou, depois se levantou abruptamente de sua cadeira, como se tivesse tomado uma decisão.
“Você não está entendendo?” perguntou ele, caminhando até a esposa para se colocar diante dela. “Eu não quero te levar para esse frio, fazendo um trabalho tão árduo.”
Ele então segurou sua mão e a beijou suavemente. O rosto de Maximilian corou ao ser alvo de um cortejo explícito, daquele tipo que só os bardos mais baratos empregariam.
Enquanto isso, os cavaleiros que observavam a troca congelaram, fazendo caretas como se tivessem acabado de presenciar o impensável. Um homem tão frio que suspeitavam até que tivessem ferro nas veias havia se transformado em um marido carinhoso diante de seus olhos. Não importava quantas vezes testemunhassem isso, a cena nunca deixava de ser estranha.
Enquanto isso, Riftan ignorava as reações horrorizadas e continuava a se esforçar para encantar sua esposa.
“Você é a maga mais inteligente e talentosa que existe. Como eu poderia questionar isso? Eu só quero que todos os trabalhos árduos e difíceis fiquem com Ruth Serbel.”
“Você realmente sabe como conquistar a lealdade de um homem,” murmurou Ruth de forma seca, da sua mesa, onde estava quieto, revisando documentos.
Mas o casal já estava perdido em seu próprio mundo, e a voz de Ruth não os alcançou.
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