Capítulo 214 - X.

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A mente de Rei, antes perdida em pensamentos, voltou ao foco ao avistar duas figuras à distância. Não importava o quão longe estivessem, ele sempre as reconheceria, especialmente por seus traços tão característicos.

Ele acelerou o passo, e as silhuetas começaram a ganhar nitidez. O que antes eram formas borradas pela distância agora haviam mais detalhes inconfundíveis.

Seus passos, ecoando pelo ambiente silencioso, chamaram a atenção das duas figuras. Matsuno e Kazuki, que estavam encostados na parede, conversando animadamente, voltaram seus olhares para ele.

Os dois pareciam estranhamente à vontade, rindo e sorrindo, como se não houvesse qualquer tensão entre eles. Para Rei, aquilo era estranho. Ele parou por um instante, observando a cena, sem saber ao certo como reagir. 

Afinal, até pouco tempo atrás, a relação entre eles parecia completamente diferente, — um caos, por se dizer a verdade. 

Que viagem estava acontecendo?

— Rei! — Kazuki gritou, a voz carregada de alegria e alívio, quase transbordando de emoção.

Antes que pudesse sequer refletir sobre a loucura da situação, Rei viu os dois homens largarem tudo o que tinham e correrem em sua direção, como se nada mais importasse.

Que diabos?

Eles avançavam com tanta pressa que até abandonaram suas armas e pertences ao chão. Da perspectiva de Rei, era como observar dois cachorros animados correndo para os seus braços.

Tudo aconteceu em um piscar de olhos. Quando percebeu, Kazuki já estava o abraçando com força, como se nunca mais quisesse soltá-lo. Com a outra mão de Kazuki, ele mantinha Matsuno afastado, que tentava se aproximar. 

Rei apenas olhou para aquilo tudo sem saber se se afastava ou continuava daquela maneira, ainda um pouco surpreso com aquela cena tão caótica. 

Enquanto sentia os bíceps de Kazuki ao ser abraçado, e com o rapaz sendo um pouquinho mais alto que ele, Rei simplesmente não conseguia se concentrar. 

Se concentrar? Era impossível! 

Tudo ao seu redor parecia balançar, e a única coisa que ele conseguia perceber era a maciez de seu rosto contra aquela parede musculosa. 

Seu rosto esquentou instantaneamente, ficando vermelho como um tomate.

A sensação era boa, talvez até boa demais, e parecia que nem o fato de Kazuki estar discutindo com Matsuno, que estava ali ao lado, conseguia afetar o momento.

Rei então explodiu. 

Afastou-se rapidamente dos braços de Kazuki e, com o rosto vermelho, gritou:

— O que vocês estão fazendo?!

Sua voz soou um pouco mais alta do que ele imaginava, enquanto tentava se controlar. 

Aquele definitivamente não era o momento para todo aquele drama!

Definitivamente. 

Rei sabia que provavelmente a intenção de Kazuki era apenas abraçá-lo por saudades e preocupação, mas a intensidade do gesto fez com que sua mente começasse a se embebedar em malícias. 

Tudo parecia ter um tom diferente agora, como se o abraço tivesse um significado maior do que ele esperava.

— Você… não gostou? 

Kazuki perguntou com os olhos quase como se tivessem refletindo gotas de choro, naqueles pequenos globos oculares azuis como o oceano.

Com uma aparência decadente, mas tão atraente…

Golpe baixo! 

Isso era um golpe baixo! 

A cara que estava fazendo, não era justo!

Rei teve que engolir em seco, como Kazuki conseguia fazer esse tipo de coisa?

Além do mais, por que ele parecia mais composto? Seu olhar, antes mais bruto, agora estava mais maduro, mais refinado, mas com aquele toque requintado que ainda mantinha.

E aquele pequeno sinal de barba por fazer? Aquele detalhe, junto com os cabelos loiros que pareciam sempre impecáveis, mas agora bagunçados, deixou Rei completamente atordoado. 

O coração de Rei foi acertado por um turbilhão de sentimentos nessa hora. Ele não sabia como reagir, e acabou gaguejando. 

— E-e-e-eu, claro… Porra… Eu… 

Ele não conseguia articular uma palavra direito, vendo a aproximação inebriante de Kazuki. 

— Você está bem? 

Matsuno perguntou ao pegar a mão de Rei nesse momento, pois estava preocupado pela maneira como o garoto estava se comportando.

Talvez fosse febre? Ou quem sabe dor de garganta? 

A maneira como Rei falava parecia indicar algo, mas Matsuno não conseguia entender o que exatamente estava acontecendo.

Após sentir o toque quente da mão de Matsuno, o estudante olhou diretamente para os olhos rubis do homem, e ficou paralisado com aquela vista.

Manteve por um bom tempo o contato visual. 

Os olhos de Matsuno estavam mais maduros, assim como os de Kazuki. A única diferença era que o vermelho rubi estava mais vibrante, como um mar de fogo em chamas.

Ele era tão atraente.

Era simplesmente incrível.

E também o completo oposto dos azuis de Kazuki. 

Os vermelhos rubis de Matsuno era como um enorme incêndio florestal, que inevitavelmente destruiria toda a fauna da região. 

Além do mais… 

… Essa não era a única mudança. 

Antes a barba por fazer de Matsuno incompleta e bruta, estava agora um pouco mais formada e alinhada. E tal característica dava completamente beleza ao seu rosto. 

Enquanto o homem estava com aquele semblante habitual sério em sua face, o coração de Rei simplesmente estava parando.

Os estímulos estavam tão intensos que Rei acabou perdendo o equilíbrio e caindo levemente de bunda para trás. Não foi nada grave, mas o suficiente para atrair a atenção imediata de Kazuki e Matsuno, que rapidamente se agacharam para ajudá-lo.

Cada um estendeu a mão para ele, oferecendo apoio para se levantar.

Vê-los assim tão de perto com o cabelo totalmente bagunçado, e as expressões desajeitadas, por alguma razão deixou Rei ainda mais corado. 

O que mais importava para os dois naquele momento era simplesmente garantir que Rei estivesse bem. Nada mais parecia relevante, exceto sua segurança e bem-estar.

— V-valeu… — Rei disse, ainda surpreso, aceitando a mão de Kazuki com a esquerda e a de Matsuno com a direita.

Ele se levantou rapidamente, sentindo o calor das mãos de ambos, mas logo seus olhos se encontraram com os rostos sérios dos dois rapazes.

— O que aconteceu com você? — Kazuki perguntou, sua expressão preocupada, enquanto Matsuno apenas observava, o semblante mais fechado do que nunca.

Rei ficou em silêncio por um momento, sentindo o peso da situação.

— Por onde eu começo… — Rei murmurou, antes de caminhar até a parede da região. Colocou suas costas contra ela e fechou os olhos por um instante, tentando reunir seus pensamentos.

Então, ele começou a contar o que havia acontecido, sem entrar em muitos detalhes. Ele omitiu as partes mais complicadas, aquelas que poderiam causar mais problemas. Apenas mencionou que havia encontrado um ser superior nas ruínas, que o ajudou de certa forma a encontrá-los.