Capítulo 225 - X.
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Depois de uma caminhada de 35 a 40 minutos, em meio ao silêncio denso da floresta, Kazuki e Matsuno finalmente encontraram o grupo que havia sido separado quando o solo cedeu de forma repentina momentos antes.
Kazuki avistou, à distância, o acampamento improvisado que havia sido feito, mas o cenário não passava de um refúgio às pressas, com um semblante pesado no rosto daqueles que estavam presentes.
Tac
Tac
Matsuno foi direto falar com Yudi, o oficial administrativo, enquanto Kazuki correu em direção a Mia, sua sobrinha, e seus amigos, que estavam sentados sob uma árvore, conversando e esperando ansiosos.
De um lado, Matsuno conversava com seu oficial e os soldados que se aproximaram assim que souberam que ele ainda estava vivo, embora com a roupa rasgada em trapos e marcas verdes espalhadas por seu corpo.
Do outro, Kazuki falava com Tyrant e Rina, que estavam visivelmente preocupadas com Rei.
O garoto estava nos braços do homem-fera, mas sua aparência pálida indicava que não estava bem.
Diante disso, Tyrant pediu que Kazuki deixasse o estudante abaixo da árvore onde elas estavam e se aproximou do garoto.
A pequena vidente retirou alguns itens de sua bolsa de couro, provavelmente poções, e começou a misturá-las em frascos.
Após algum tempo, inclinou a cabeça de Rei para que ele pudesse engolir o líquido.
Em poucos minutos, sua pele recuperou a cor e, embora ainda inconsciente, ele parecia um pouco melhor.
Seus batimentos estavam estáveis e a pressão normal, sem grandes variações.
No entanto, havia algo estranho no motivo de ele ainda estar desacordado.
Kazuki relatava tudo o que havia ocorrido desde a queda dele, Matsuno e Rei.
Contou sobre as longas caminhadas, as ruínas antigas, as passagens estranhas e como a percepção do tempo abaixo da superfície era distorcida.
O que para ele parecia algumas horas, na verdade se estendia por semanas. Durante esse tempo, conheceu um pouco melhor Matsuno e, com isso, teve um pouco mais de afinidade, ainda que, embora, não fosse realmente grande coisa.
Falou também, de forma resumida e sem entrar em muitos detalhes, sobre como Rei encontrou uma entidade e decidiu ajudá-la, sem revelar a forma como o fez. E seguiu o assunto dos crentes que apareceram assim que saíram das ruínas.
— Oh, graças. Fico feliz que nada de ruim tenha acontecido.
Comentou Tyrant, olhando para Rei, que estava deitado com a cabeça apoiada na bolsa de Rina, servindo de travesseiro para confortá-lo.
— Tipo, isso ainda foi ruim… Esses caras da igreja de Querpyn são doentes. Eles têm algum parafuso solto para causar tantos incidentes de uma vez só. Olha que zoado, pensa comigo, invadiram nossa vila e agora estão fazendo essa merda? — disse Rina, visivelmente irritada, com a mão fechada e a expressão de raiva habitual.
— Você tem razão. Eles nunca param. Pelos céus, o que estão pensando…
Tyrant concordou, expressando sua indignação.
Enquanto conversavam, Matsuno, que estava ao lado de Yudi, fechou os punhos e, com uma força impressionante, bateu contra a árvore ao lado.
O impacto fez as folhas voarem em todas as direções e o tronco se distorcer, mostrando a potência da força que ele exerceu.
Os soldados próximos se assustaram com a cena, apenas observando os olhos rubis de Matsuno, que estavam em chamas.
Ele parecia a personificação de algo como um demônio, e os soldados tremiam diante daquela visão. Yudi, embora surpreso, parecia meio que acostumado com tudo aquilo.
Nos anos em que serviu Matsuno, Yudi nunca havia visto o rapaz tão alterado, nem mesmo quando, em uma ocasião, o homem discutiu intensamente com o pai, que o forçava a um casamento arranjado em prol da família.
Na família de Matsuno, ele era obrigado a seguir as rígidas regras da nobreza, especialmente por vir de uma linhagem prestigiada. Aos 24 anos, já considerado “velho” para os padrões de sua família, ele enfrentava constantes discussões com seus pais, que insistiam em arranjar um casamento com uma mulher do reino humano.
— Eu sei que devemos seguir as ordens dos superiores, mas isso realmente se aplica a eles querendo nos matar? — Matsuno comentou, claramente irritado.
— Por favor, senhor, se acalme. Embora tenha acontecido isso, não muda o fato de termos que concluir a missão. Caso contrário… todos sofreremos uma reprimenda de críticas, e podemos até perder nossos cargos — Yudi disse, tentando acalmar a situação, mas foi interrompido pela risadinha de Matsuno.
— Você pode até tentar, mas vai perder sua vida no processo — respondeu Matsuno, a maneira como falou fez a moral de todos os soldados presentes despencar.
— Além disso… — Matsuno olhou ao redor, claramente irritado.
— Se está em dúvida sobre o Vice-Capitão, desde que saiu ele assumiu o controle da situação.
Ele olhou para Yudi, que, embora não quisesse admitir, sabia que as palavras dele meio que diziam muito mais do que só aquilo. Desde o desaparecimento do Vice-Capitão, ele se colocou como figura central, com uma postura autoritária.
— Onde ele tá agora? Ah, porra. Tenho que me preocupar com esse inútil ainda nessas horas. — Matsuno disse, franzindo a testa.
— Ele está cuidando dos homem-fera, capitão. Estava preocupado que algo pudesse acontecer e que a mentalidade deles desabasse por conta dos últimos eventos… — Yudi respondeu apressadamente, mantendo o máximo de respeito enquanto observava Matsuno pegar um dos frascos próximos e aplicá-lo no peito. As marcas verdes diminuíram um pouco, mas não desapareceram completamente.
— Corte o papo furado, oficial. Você realmente acha que ele está auxiliando? E onde estão os homens-feras, afinal?
— Senhor, eles estão mais atrás. Consegue ver aquela luz ao longe? Estão naquela região por segurança, apenas para evitar qualquer incidente.
Matsuno seguiu o olhar de Yudi, fixando-se na direção indicada. Assim que terminou de aplicar as bandagens no peito, levantou-se da cadeira, pegou a espada que repousava sobre a mesa e a segurou firmemente.
— Senhor, o que está…
— Venha comigo, oficial. Temos que resolver alguns pontos deixados de lado.
Matsuno soltou um suspiro, segurando a bainha da espada com a mão direita, enquanto começava a caminhar em direção ao local onde os civis estavam.
— Pontos soltos…? — Yudi murmurou, hesitante.
— Meu cavalo morreu, oficial.
— Eu sinto muito, senhor. Era um bom cavalo — Yudi respondeu rapidamente, mantendo o tom respeitoso.
— Bem, ele não será o único a morrer hoje.
— Capitão, como…?
Matsuno franziu as sobrancelhas, deixando Yudi sem resposta no mesmo instante.
Entretanto, pela maneira como estava tão irritado, podia-se dizer que alguma coisa com certeza aconteceria.
Continua…
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