Capítulo 231 – X
❖ ❖ ❖
[Santuário da igreja de Querpyn]
A sala, mergulhada na escuridão, era iluminada apenas pela fraca luz da catedral, que atravessava as frestas e criava sombras distorcidas nas paredes.
Naquela região inóspita, havia duas figuras.
— Meu senhor, o plano falhou.
A voz do servo era baixa e quase temerosa. De cabeça abaixada, ele aguardava uma resposta, mas o silêncio se prolongava de maneira desconfortável. Quando finalmente ergueu os olhos, viu a figura sentada no trono, imóvel, mas carregada de tensão.
Asa Shumei Aki, líder da Igreja de Querpyn, mantinha um olhar frio, endurecido pela irritação. Veias saltavam em sua testa enquanto ele, distraído, arranhava o apoio do trono com um punhal, fazendo um som metálico que ecoava como um arranhão de garfo em porcelana.
— Que inconveniência… Eles ainda estão vivos.
A voz grave e carregada de fúria fez o servo estremecer.
— E os enviados?
— Morreram, meu senhor.
Um estalo violento reverberou pela sala. O punhal de Asa Shumei Aki cravou-se no apoio do trono com força suficiente para fazê-lo vibrar.
O servo encolheu os ombros involuntariamente.
— Ah, sério…
Ele passou a mão pelo rosto, como se tentasse dissipar a frustração.
— Mesmo sendo meros peões descartáveis, não deveriam ter sido eliminados com tanta facilidade. Que incompetência!
Com um suspiro carregado, ele se levantou, com uma presença ainda mais intimidadora. O servo, tentando não tremer, estendeu um pequeno envelope.
— Senhor, aqui está o relatório.
Asa pegou o documento e leu rapidamente. Um sorriso surgiu em seus lábios.
— Reino humano… Vocês não vão interferir mais nesse reino.
Em um instante, chamas surgiram em sua mão, consumindo a carta em um piscar de olhos.
— Avise aos outros fiéis. O segundo plano começa agora.
— Sim, senhor.
O servo se curvou em respeito, saiu apressado e deixou para trás aquele ambiente sufocante e cômodo escuro.
Nesse momento, a expressão no rosto do líder da igreja lembrava a de um demônio, enquanto ele se acomodava novamente no seu trono.
Enquanto isso, o servo que antes estava com ele caminhava apressadamente pelos corredores da igreja, seguindo até o salão onde os outros fiéis estavam reunidos.
Ao chegar, ainda ofegante pela pressa, percebeu que alguns o olhavam com desprezo: Takagi Sanjiro (o mestre espiritualista), Sumeji Yuki (o senhor das lâminas) e Wakagusi Naoaki (o senhor do fogo).
Outros, no entanto, nem sequer demonstraram qualquer reação, como Eguchi Sen (o artesão dos venenos), Kyoya Jori (o médium transcendental) e Tanabe Jori (o amante de cadáveres), que o encaravam com uma frieza quase indiferente.
Diante da grande mesa redonda onde os líderes religiosos estavam reunidos, o servo aproximou-se de Kondo Saikaku (o crente devoto) e cochichou-lhe ao ouvido, transmitindo as palavras do líder da igreja de Querpyn.
— Que comece o segundo plano! O mestre deu início ao plano. Vocês devem seguir a sua vontade. A vontade dele é a mesma que a da nossa deusa Vermeti. Devemos agir em nome da honra sagrada.
Kondo Saikaku anunciou com convicção, mas foi recebido com a hesitação habitual de Kyoya, o médium transcendental.
— Tem certeza que esse plano vai funcionar? Parece improvável… Se falharmos de novo, tudo terá sido em vão.
Kondo franziu a testa ao ouvir as mesmas incertezas de sempre. Kyoya vivia a duvidar dos planos, o que era irritante. Mas antes que ele pudesse responder, outra voz surgiu.
— Ele tem razão. Que garantia temos de que isso vai dar certo, Kondo? Estou cansado dessas suas palavras bonitas. “Sagrado”, “iluminação divina”, “bênção de Vermeti”… Não foram esses mesmos planos que mataram Cerin e Maria?
Wakagusi, o senhor do fogo, apoiava a cabeça sobre a mão, os olhos fixos em Kondo, enquanto suas orelhas de homem-fera estavam erguidas, atentas.
— Sacrifícios acontecem em nome de um bem maior. Você deveria saber disso, Wakagusi.
A voz fria veio de Eguchi, o artesão de venenos.
— Ahahaha! — Wakagusi riu sarcástico. — Disse o cara que matou o próprio povo numa estratégia estúpida para tomar o controle da região dos demônios. Que piada!
Eguchi arregalou os olhos, mas logo a surpresa deu lugar à raiva.
— Seu…!
Ele quase avançou contra Wakagusi, mas foi interrompido por uma voz furiosa.
— Calem a boca, os dois!
Sumeji Yuki, senhor das lâminas, que até então se mantivera em silêncio, finalmente se pronunciou. O ambiente se calou imediatamente, e todos voltaram sua atenção para ele.
— As regras devem ser seguidas. O segundo plano já está em andamento, e não haverá discussão sobre a decisão do nosso líder. Estarei me preparando para agir no palácio imperial, então…
Ele lançou um olhar severo para todos antes de continuar:
— Se não têm nada a acrescentar além de brigas inúteis, parem de desperdiçar nosso tempo e comecem os preparativos antes que suas patentes sejam retiradas pelo líder!
Os religiosos tremeram. Sabiam que Asa Shumei não hesitaria em matá-los ou destituí-los caso fossem considerados inúteis. Isso já acontecera antes.
Sem dizer mais nada, Sumeji Yuki se levantou e deixou o salão, caminhando em direção ao palácio imperial.
— Droga, ele se acha demais!
— Concordo, alguém deveria ensinar uma lição a ele.
Wakagusi e Tanabe Jori resmungaram enquanto observavam Sumeji desaparecer pela porta.
— Chega de conversa. Todos sigam suas ordens. Nossa vitória e nossa fé dependem deste plano para Vermeti. Agora vão! Cumpra cada um seu propósito.
Kondo Saikaku decretou, segurando firmemente uma pequena estátua de Vermeti. Fechou os olhos, ignorando o burburinho dos outros membros ao saírem da sala. Quando abriu os olhos novamente, um sorriso brotou em seu rosto.
— Oh, minha deusa…
Ele acariciou a estátua com devoção e então a beijou com ternura, o rosto levemente corado.
— Vamos ficar juntos para sempre, não é?
Atrás dele, o servo apenas tremia, acompanhando-o em silêncio até a saída da igreja.
❖ ❖ ❖
[Região fora do continente]
[Continente de Artys]
[Templo Sombrio]
— Por favor, me poupe!
A cabeça do homem que implorou pela vida se desfez em poucos minutos.
Havia explodido repentinamente, e todo o chão havia se tornado sujo.
Sangue escorrendo por toda a parte.
— Uhr!!!
Todos os demônios que estavam alinhados e presentes na região do grande templo não conseguiam parar de tremer nessa hora.
Nem mesmo o ambiente sombrio e escuro, dentro daquele templo enorme, com cheiro de sangue metálico, era mais assombroso do que a imagem à frente deles mesmos.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.