Índice de Capítulo


    ❖ ❖ ❖

    Ela antes de fechar a porta comentou:

    — Por favor, jovem. Espere um minuto.

    Rei encostou as costas na parede do corredor, esperando pacientemente enquanto Rina se arrumava. Mas a paciência logo virou preocupação quando ouviu barulhos estrondosos vindo do quarto — algo caiu pesadamente no chão, seguidos de sons que pareciam tapas e alguns gritos abafados.

    Ele até cogitou abrir a porta e ver se estava tudo bem, principalmente porque Rina era a que mais gritava no meio da confusão. Mas antes que pudesse decidir, a porta se abriu e a garota saiu.

    O rosto dela estava vermelho — e não dava para saber se era de raiva, vergonha ou simplesmente falta de ar depois do caos lá dentro.

    Agora, Rina usava um vestido azul elegante, que realçava sua beleza de forma absurda comparado aos trapos acinzentados que vestia antes. Uma pulseira de borboleta azul adornava seu pulso, e seus sapatos e meias tinham detalhes dourados, completando o visual.

    — Vocês podem ir agora, mas antes…

    Tyrant disse, interrompendo-se para se aproximar de Rina e lhe entregar uma pequena bolsa de couro.

    Curiosa, a garota abriu a bolsa e viu algumas moedas de ouro e preta dentro. Seus olhos se arregalaram de surpresa, e ela olhou para Tyrant, esperando uma explicação.

    — Não se preocupem, vocês podem precisar disso. Afinal, quem sai por aí sem dinheiro no bolso? Vocês jovens são muito ingênuos.

    Tyrant comentou, levando a mão ao rosto e rindo discretamente. O arquétipo leve da sobrancelha e o sorriso torto no canto dos lábios davam um ar de provocação, como se estivesse se divertindo com a situação.

    — Vamos nessa, a gente não precisava dessa merda, sua velha!

    Rina rosnou, a voz carregada de raiva, enquanto disparava à frente com o rosto ainda vermelho, andando sem nem saber direito para onde ia.

    Rei ficou só observando, se perguntando que diabos tinha acontecido naquele quarto para que as duas estivessem agindo de forma tão estranha. Mas, no fim, decidiu que talvez fosse melhor nem saber.

    Sem muito o que fazer, apenas seguiu Rina, que andava como se quisesse fugir daquele corredor o mais rápido possível.

    ❖ ❖ ❖

    Assim que deixaram a mansão para trás, começaram a explorar os arredores da região, caminhando por várias áreas e se acostumando com o ambiente ao redor.

    As ruas eram pavimentadas com um tipo de azulejo branco reluzente, enquanto algumas áreas possuíam um acabamento diferenciado, com azulejos de madeira formando caminhos distintos. Nessas partes, pequenos jardins decoravam o ambiente, com flores vibrantes crescendo sobre a terra bem cuidada.

    A cada passo, Rei notava a marca de árvore em sua mão se tornando mais nítida, pulsando com uma energia sutil. Em certos momentos, ela brilhava mais intensamente, parecendo reagir à direção em que ele caminhava.

    E o brilho só aumentava conforme ele se aproximava da área comercial. O local era movimentado e luxuoso, repleto de lojas sofisticadas. Sorveterias e confeitarias espalhavam um aroma doce pelo ar, enquanto boutiques de grife exibiam roupas elegantes em vitrines impecáveis. Bibliotecas locais também estavam presentes, frequentadas por nobres e homem-feras de aparência refinada, claramente pertencentes à elite da capital.

    Tudo ali exalava riqueza e exclusividade. Até mesmo os pisos na entrada dos estabelecimentos pareciam feitos de um material semelhante a diamante, refletindo a luz e dando um ar quase surreal ao cenário.

    Guiado pelo entusiasmo de Rina, Rei apenas a seguiu enquanto ela caminhava  determinada para dentro de uma sorveteria local. A essa altura, ela parecia apenas uma garota comum, aproveitando o momento sem se preocupar com sua verdadeira idade ou com qualquer outra coisa.

    E, honestamente, ela não parecia ligar a mínima para isso.

    Só queria se divertir e explorar a região da grande metrópole, que contrastava completamente com a cidade de interior que vivia.

    Sem hesitar, Rina agarrou a mão de Rei e o puxou para dentro da loja. Lá, escolheu uma mistura caótica de sabores, enchendo o recipiente com bolas de sorvete coloridas até que mal coubessem. Quando terminou, saiu para se sentar em uma das mesas externas, balançando as pernas enquanto admirava a vista e se deliciava com o doce gelado.

    Rei, por outro lado, foi mais reservado.

    Apenas pediu que um dia funcionários  montassem um copo de sorvete para ele e se juntou a Rina do lado de fora. 

    O ambiente era incrivelmente agradável, e a tranquilidade do local fazia parecer que estavam em um pequeno jardim, sem ter de que se preocupar com qualquer problema. 

    No meio da calmaria, Rina quebrou o silêncio:

    — Então, como vai ser?

    Ela perguntou com um sorriso divertido, encarando Rei com a boca completamente lambuzada de sorvete. 

    Era uma cena meio ridícula, para não dizer nojenta. 

    Mas, curiosamente, para quem olhava à distância, ela parecia apenas uma criança normal, se divertindo sem preocupações e brincando com a comida. 

    — O que diabos você quer dizer com isso?

    Rei franziu a testa, encarando aquele sorrisinho irritante que já estava começando a dar nos nervos. Ele conhecia Rina bem o suficiente para saber que, quando ela dava aquele olhar sacana, vinha coisa pela frente.

    Os dois eram parecidos demais, então demorou só alguns segundos para ele entender onde ela queria chegar.

    — Ah, sei lá.

    Ele suspirou, passando a mão no rosto e apoiando o cotovelo na mesa. Sentado tão perto dela, não dava pra esconder a expressão meio frustrada.

    Foi então que Rina soltou a bomba:

    — Você não tá querendo montar um harém, né?

    O rosto de Rei ficou vermelho na hora, mas não de vergonha, — era mistura de confusão também.

    — O quê? Mas que porra?! Como assim?!

    Ele perguntou na defensiva, bufando irritado.

    — Nada a ver! Eu nunca pensei em algo assim, isso é imoral pra caralho! Não fica colocando essas ideias erradas na minha cabeça!

    Rina observou a reação dele e segurou uma risada, claramente se divertindo com a situação.

    — Relaxa, eu só tava zoando, não precisa surtar.

    Ela então deu uma colherada no sorvete antes de continuar, dessa vez com um tom um pouco mais sério:

    — Mas, falando sério, não brinca com os sentimentos dos outros. Isso não é legal, principalmente quando se trata de relacionamento. Mexer com esse tipo de coisa pode dar uma merda. 

    Após ouvir o que ela tinha a dizer, ele ficou quieto por um tempo, tentando analisar as palavras antes de se jogar em alguma resposta.

    — É, você tem razão. Não planejei que as coisas ficassem assim, do jeito estranho que estão, e agora… bem, tô perdido. Eu meio que gosto dos dois.

    Rei disse isso de forma honesta, sem saber direito como lidar com o que sentia naquele momento. Ele amava quando estava com Kazuki, principalmente pela forma tranquila que o homem tinha, sempre fazendo ele se sentir o centro do mundo.

    Kazuki era tudo o que ele sempre quis, especialmente pelos beijos quentes e o jeito cuidadoso que tinha com ele.

    Mas Matsuno… ah, isso era outra história. Ele era aquela mistura de mal-educado e formal, um cara que sabia ser selvagem e agressivo com um simples olhar quando queria. Era como se os seus olhos estivessem o devorando por completo.

    Os olhos rubis dele eram vulgares e sinceros, e quando o cara ficava puto, a expressão dele deixava tudo no ar estático, como se o tempo parasse.

    — Pois é, isso é muito complicado, Rei… mas eu acho que…

    Antes que ela pudesse continuar, um dos funcionários do local interrompeu, jogando um comentário sem graça.

    — Aqui está o pedido.

    Ele disse, colocando a bandeja na mesa, com o sorvete que Rei tinha pedido.

    ❖ ❖ ❖

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota