Capitulo 6 - Pintura X
No início da manhã, Kazuki, que já está acordado, decide ir de encontro ao quarto em que Rei está hospedado.
Com o intuito de avisar o garoto sobre o café da manhã, que está preparado.
Toc, Toc ༄
— Reiji, se você estiver acordado e quiser tomar o café matinal… Estaremos no andar de baixo — diz de forma deliberada, enquanto toma fôlego e baixa o tom de sua voz.
[Silêncio]
(…)
O homem percebe que a porta do cômodo está meio entreaberta… Provavelmente por conta da correnteza de ventos causada pelas janelas abertas.
Decide fechá-la.
Mas é impedido, após reparar entre a sua brecha, a visão do garoto que está dormindo tranquilamente.
Os pequenos raios de sol que batem em seu rosto destacam e resplandecem suas afeições.
Em consequência a insolação e irritação causada pela iluminação, o garoto faz uma expressão conflituosa, mas que transmite intensa tranquilidade.
Todos os detalhes à sua volta parecem se encaixar, e complementar aquele cenário, que mais parece um quadro de artes.
Analisando surpreso de longe aquela paisagem, o homem sem acreditar, decide entrar no quarto e se aproximar do estudante.
De perto, repara que seu cabelo preto tremula ao vento, e seus olhos, mesmo fechados, brilham sob longos cílios… Seu rosto bonito, cheio de traços harmoniosos lhe proporcionam uma atmosfera mais do tipo agradável, do que cintilante.
“Pin-… Pintura divina.”
Declara em pensamento, e segura sua respiração à medida que se aproxima.
Inclinando-se para frente, de forma instintiva, começa a sentir uma fragrância leve de morango emitida por Rei.
Milhares de pensamentos percorrem sua consciência, e, antes que pudesse fazer algo, acorda daquele transe.
“O que estou fazendo?”
Pensa atônito, e sai do cômodo com as mãos sobre o rosto corado.
(…)
Quando seus olhos se abrem… Involuntariamente, murmura algo e, de maneira hesitante, se levanta da cama de forma súbita, como um reflexo.
Arrepios por todo o seu corpo são sentidos, pois, havia ficado tão surpreso com o sonho, que perdera o restante de sua concentração.
(…)
O garoto sai do quarto, e caminha pelo corredor até descer as escadas, sem pensar muito, ainda está sonolento.
À medida que desce as escadas, o som de seu tênis que pisa no chão amadeirado, repercute nos arredores do primeiro andar.
— Reeiii, bommm dia — diz Mia que está à mesa, e observa o garoto na escada.
— Wuaaaa — bocejo. — Bom dia Mia — responde já próximo da menina, sentando-se em uma das cadeiras próximas.
Naquele mesmo momento, o amigo da menina aparece do lado de fora da janela do cômodo, e a convida para brincar no jardim de sua residência.
Mia então acena como sinal de despedida para os ali presentes, e se afasta apressadamente enquanto corre, até chegar na posição de Takayo, que porventura começa à correr também.
(…)
Curioso com o silêncio, Rei pergunta: — Você não falou nada até agora, tá tudo bem?
— E-eu? S-só estava comendo e pensando sobre algumas coisas, me de-desculpe se causei alguma impressão errada — responde gaguejando, com o tom de voz hesitante, e desvia seu olhar de forma envergonhada.
Estranhando o comportamento suspeito, o garoto apenas ignora, e continua a comer as panquecas que estão em seu prato.
(…)
— Pode parecer meio indelicado e intrometido da minha parte perguntar isso, mas por que vocês vivem nessa vila? Pelo que percebi, vocês possuem uma ótima situação financeira — pergunta de forma modesta, ainda mastigando a comida.
Ao escutar a pergunta, o homem vacila e olha para o garoto com uma expressão em branco.
Logo após acontecer isso, o clima fica misteriosamente esquisito.
— Não precisa responder, só foi uma dúvida que eu tive quando estava andando pelo corredor — declara nervoso, após perceber a atmosfera.
De maneira hesitante, Kazuki pensa sobre isso por alguns segundos, e decide que seria melhor responder honestamente; afinal, a pessoa que está a sua frente é o salvador de sua sobrinha, e a pessoa que ele deve favores.
— Eu sei que não tem más intenções… Mas, você conhece a minha história? — pergunta olhando no fundo dos olhos do garoto.
— Acho que você tem o direito de saber… Vou tentar explicar resumidamente.
— Antes de vir parar nesta vila, eu era de Zefry, a capital dos homens fera. Na época, eu era considerado o 1° príncipe herdeiro da família real Arther — relata, enquanto coloca as suas mãos sobre a mesa, e as cruza uma em cima da outra.
— O terceiro príncipe, Katsi, assassinou o meu melhor amigo e também irmão, o segundo príncipe, Theo. Que também é pai de Mia.
— Foi declarado que a morte de Theo havia sido causada por insuficiência respiratória, porém… Posteriormente descobri que ele, na verdade, havia sido envenenado.
— Logo após a morte de Theo, a sua esposa por conta do estresse pós parto ao saber da notícia de sua morte, acaba falecendo. A Mia então acaba nascendo nesse momento trágico.
— Naquela época eu só tinha 16 anos, e tive que fugir apressadamente com o bebê em meus braços — relata com uma expressão melancólica em seu rosto.
— A Mia não tinha a proteção dos pais, já que estavam mortos. E caso viesse a falecer, tudo seria acobertado pelos subordinados do 3° príncipe, que também planejavam uma rebelião para me tirar do posto de herdeiro.
— O meu pai, o rei, era um cético que não se importava com esses pequenos conflitos relacionados ao trono.
— Mesmo sabendo da verdadeira causa da morte de seu filho, ele não se prontificou a tomar uma iniciativa.
— Não disse nada… Tratou o assunto como algo trivial — acrescenta, de modo a franzir a testa, e morder a boca afim de conter a raiva crescente.
— Eu não queria mais estar naquele lugar sufocante.
— Assim que vi a Mia nascer, me senti extremamente emocionado, foi uma das poucas ocasiões em minha vida em que senti um extremo senso de responsabilidade.
— E, naquele momento, eu soube que tinha que fugir, mesmo que instintivamente.
— Foram incontáveis vezes, em que, quase morri pelas mãos dos subordinados de meu irmão Katsi. Que, Sabendo que eu tinha abandonado e deserdado do trono, havia mandado diversos assassinos e mercenários à minha procura.
— Por sorte, e graças a ajuda de algumas pessoas que encontrei na estrada, consegui sobreviver enquanto carregava Mia em meus braços… De um canto para o outro, foram inúmeros lugares que me escondi, até chegar nessa vila — diz, após soltar um suspiro desanimado.
— Eu fiquei sabendo que 3 anos depois de ter conseguido escapar de meu irmão… Ele através de uma rebelião civil, incriminou falsamente o rei. E por fim, reivindicou o trono para si.
— Mesmo eu sendo considerado um dos melhores espadachins do continente… Não consegui revidar ou mudar algo… Eu, eu só… Consegui fugir — pronúncia de forma taciturna, e olha cabisbaixo para o chão.
— Quando eu soube que Mia quase tinha morrido ontem, a minha consciência paralisou. Se algo tivesse acontecido… Eu não sei o que seria de mim — diz com a voz trêmula, com uma expressão desnorteada e segurando as mãos.
Logo que termina de relatar, Rei, que havia escutado toda a história, tenta acalmar o homem, que está visivelmente abalado. E diz algumas frases motivacionais, e tenta o confortar com suas palavras.
Passados alguns minutos, Kazuki já calmo, diz: — Muito obrigado por me ouvir até o final, eu acabei me emocionando, peço desculpas por ver essa cena — declara com uma expressão deprimente.
— Não se coloque sob pressão, como você mesmo disse, naquela época você só tinha 16 anos, e mesmo assim, conseguiu fugir com a Mia em seus braços. Você é um grande homem — responde confiante, de modo a olhar em seus olhos, e abrir um imenso sorriso no rosto.
Kazuki que havia guardado sua história por tanto tempo, não havendo contado à ninguém, fica feliz ao sentir as palavras do garoto o confortando.
Relatar tudo aquilo é como se pesos de suas costas tivessem sido tirados.
Ao olhar Rei sorrindo a sua frente, ele começa a corar.
‘’Deve ter sido difícil guardar essa história durante todos esses anos… Me sinto feliz que ele tenha confiança o suficiente para poder compartilhar isso comigo.’’
Pensa reflexivamente, após ouvir todo o relato.
‘’Eu me sinto meio culpado por ter mentido antes.’’
(…)
Após pensar sobre o caso, o garoto toma coragem e se levanta, e diz: — Você não vai ser o único a contar algo também — declara com um tom de voz animado.
— Eu, na verdade, não perdi as memórias…
Rei então explica a sua real situação para Kazuki, como ele temia ser chamado de louco caso dissesse algo relativo a esse assunto de reencarnação.
Como não faz ideia de absolutamente nada no mundo, e não sabe o que fazer de agora em diante…
Relata toda a sua situação com uma expressão desnorteada e confusa.
Por algum motivo, para Rei está sendo difícil dizer algumas coisas sobre isso. Entretanto, ele continua a tentar explicar o máximo possível, mesmo sem saber se transmite suas falas corretamente.
(…)
— Então… Você é de outro mundo? — pergunta em dúvida, ainda a tentar processar todas as informações.
…
— Eu acredito em você…
—Não tenho motivos para duvidar, mesmo que o seu caso seja um pouco extremo.
— Pode contar comigo! Vou te ajudar em tudo que precisar — diz após abrir um sorriso de leve, e olhar para ele.
— Você deve ter pensado seriamente se me contava ou não, fico feliz ao saber que sou digno de sua confiança.
O garoto sorri, e fica emocionado ao receber o apoio de Kazuki, que acredita em toda a historia.
Continua…
Autor: X X X
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