Capítulo 128 - Imagine. X
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Kazuki esperava que Takayo e Mia não estivessem estáveis, ainda mais Takayo. No entanto, não imaginou que a situação estivesse agravada até este ponto.
Exclusivamente para Takayo.
O garoto perdeu a mãe e o pai durante a invasão que ocorreu no vilarejo, e apesar de parecer estar bem fisicamente, isso era apenas uma fachada superficial.
Seu coração provavelmente estava constantemente passando por um turbilhão de sentimentos de culpa e remorso. Mas o que Kazuki poderia fazer para ajudá-los? Simplesmente relatar, seria a melhor solução.
Ele não poderia tomar uma iniciativa sabendo que Takayo não estava apto a se abrir.Deixar a situação nas mãos de Alania, uma elfa com conhecimento aprofundado e experiência sobre o assunto, era a melhor solução.
Era natural que pensasse assim, visto que até o momento presente não conseguiu ao menos ajudá-los apropriadamente.
Alania, por fim, disse algumas palavras finais para Kazuki, que parecia assustado olhando os desenhos das crianças, enquanto emergia em pensamentos.
— Quando perguntei a Mia e Takayo sobre o que os incomodava, eles não disseram nada. Pelo contrário, pareciam fechados e desanimados!
— Você poderia me contar o que realmente ocorreu, por favor?
Momentos depois, após a pergunta da elfa, Kazuki começou a contar o que realmente havia acontecido, declarou fatos antes mesmo da invasão acontecer.
Relatou que, poucos dias antes da invasão ocorrer, a situação de Mia já era preocupante. Ela havia sido raptada por duas mulheres, em seguida teve que correr por sua vida de duas criaturas parecidas com demogorges.
No momento que tropeçou no percurso, quase acabou sendo morta. Se não fosse a ajuda de um garoto que estava na região, ela não escaparia com vida.
Declarou que tentou ajudá-la a se estabilizar, e se não fosse a invasão, ela estaria mais estável psicologicamente assim como era antes.
Em seguida, relatou também a situação de Takayo, que sem dúvidas, era a mais preocupante, levando em consideração seus pais que morreram em sua frente.
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Após ouvir o relato de Kazuki, Alania começou a tremer e sua expressão parecia estar à beira das lágrimas, tentando ao máximo permanecer firme.
— E-Eu… eu sinto muito por isso. Não esperava que tudo isso realmente tivesse acontecido… Eu… eu apenas sinto muito, não consigo dizer nada. — Ela disse trêmula.
— Por favor, espere um minuto — acrescentou Alania, tentando se recompor.
Para Alania era extremamente difícil assimilar o relato de Kazuki, pois ela se imaginou a todo momento naquele cenário, então seu corpo certamente iria congelar de medo.
Em sua vida, a jovem teve que ouvir inúmeros relatos de pessoas em situações similares, e como era extremamente sentimental, o seu coração se entristecia e a dor a atormentava internamente.
À medida que o tempo passava, sua visão de um mundo igualitário e idealista cada vez, aos poucos, tornava-se longe da realidade que projetava mentalmente.
As declarações, confissões e relatos que tinha que ouvir diariamente, lentamente, começaram a atingir o seu ponto fraco.
Às vezes, por causa da pressão, ela sofria mais do que a própria vítima.
Entretanto, ela continuava a persistir e ajudar, pois sabia que era a única capaz de auxiliar e estabilizar pacientes e indivíduos debilitados.
Alania sentia que ser psicóloga era o mesmo que viver a vida andando por um lago congelado, só dando passos cautelosos, para que o gelo abaixo de seus pés não quebrasse.
Porém, mesmo que sofresse, ainda assim, os seus esforços sempre valeriam a pena.
Afinal, mesmo hesitante sobre a natureza humana, e de outras raças, a jovem contribui de sua maneira, de modo a visar um futuro melhor.
Ao notar o semblante ligeiramente resignado da elfa, que tentava se recompor, Kazuki de forma cautelosa, em resposta ao seu comentário, declarou:
— Está tudo bem. O que aconteceu, eu sinto que foi minha culpa de certa forma. Sei que não poderia prever o ataque da invasão, mas ainda assim, sinto que poderia ter feito mais… muito mais! Principalmente pelo Takayo. Eu falhei.
— Eu realmente não sei o que fazer, doutora. Antes, você disse que sempre quando tentava ajudar, eles se fechavam e não estavam abertos para uma conversa… A mesma coisa aconteceu comigo, e até hoje não pude conversar a sério sobre o assunto com os dois.
— Você poderia fazer algo? Sei que é pedir muito, porém isso está além das minhas capacidades. Poderia me ajudar, por favor? — perguntou Kazuki, com a voz baixa e um semblante de lástima.
Ele parecia abalado, como se não conseguisse lidar mais com a situação que, em sua visão, estava fora de controle, e que a última esperança que poderia vislumbrar estava em sua frente.
No fim, a única coisa que conseguiu fazer foi pedir auxílio, envergonhado pela incapacidade de não conseguir ajudar crianças que considerava como filhos.
Após terminar o relato, Kazuki olhou em direção à Alaina, esperando uma resposta.
A jovem por outro lado, após ouvir o pedido de ajuda inesperado, começou a pensar antes de dar uma resposta concreta, arrumou seu óculos e ajustou sua postura.
Se ela poderia ajudar? A única resposta a dar era: Sim ou não.
Entretanto, Alaina hesitou em entregar a resposta.
Ela sabia que tudo que ocorreu com Mia e Takayo, provavelmente estava afetando totalmente o psicológico de ambos. A esse ponto, deveriam estar instáveis ao extremo.
Em resposta, de forma cautelosa, ela abriu a boca e dissr algumas palavras calmamente.
— Sr. Kazuki, os eventos e situações tiveram um caráter negativo e desdobramentos extremamente prejudiciais em suas vidas, a ponto de influenciarem os seus pensamentos, comportamentos e até as suas próprias personalidades.
— Sei que é difícil, mas todos temos visões e paradigmas diferentes. Nós, como adultos, não conseguimos imaginar como é estar no lugar de crianças, que são intensamente sensíveis a isso.
— Imagine experimentar emoções perturbadoras, memórias tristes, sensação constante de perigo, desconexão com a realidade, incapacidade de confiar em outras pessoas e lembranças assustadoras.
Assim que tentou imaginar a dor que sentia antes, a respiração de Kazuki começou a se tornar instável. Suas memórias da invasão começaram a retornar, como se fossem flashbacks.
Momentos depois, ele olhou para Alania novamente, e assentiu com a cabeça. A elfa então prosseguiu com a sua prescrição, mesmo que fosse difícil pedir para ele ter que reviver tais memórias.
— Conseguiu imaginar? Provavelmente sim. Então, agora multiplique todas essas emoções negativas em duas ou até três vezes mais fortes.
— Nesse tipo de caso, pode ser muito difícil superar a dor e seguir a vida normalmente, afinal… a pessoa ficaria traumatizada, como é o caso de Mia e Takayo, que provavelmente sentem constantemente algum tipo de dor psicológica.
Kazuki então interrompeu a fala da elfa, e disse: — Eu não consigo imaginar isso, doutora. Eu sinto muito. É uma dor horrível…
Continua…
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