Índice de Capítulo

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    Assim que recebeu o questionamento de Círdan, sobre o que realmente aconteceu próximo do rio Nertyrem, o garoto resolveu dizer a verdade, sem poupar palavras. Ele encostou as costas contra a cadeira, com uma postura totalmente aberta e então disse:

    — Está falando sobre a confusão que teve lá, sobre o pessoal fanático? Sabe… eles tiveram um final que mereceram, não passavam de uns filhos da puta.

    O olhar de surpresa de Círdan e Terqueo ficou nítido assim que escutaram tais palavras. Eles não esperavam de acordo com os relatos, que o garoto conseguiria de fato aniquilar todos aqueles indivíduos. 

    Tanto Círdan quanto Terqueo já sabiam sobre o ocorrido, devido à informação de alguns aldeões que chegaram no refúgio pela manhã. Eles somente queriam ouvir diretamente o assunto de Rei. 

    — Eles eram realmente imprevisíveis, mas não eram de maneira alguma fracos. Você realmente conseguiu matá-los sem grandes dificuldades? — perguntou Terqueo, ainda com um semblante de surpresa no rosto. 

    — Bem, não foi lá essas coisas. Exceto o líder deles, ao qual eu não conseguia usar bem a minha magia. O resto foi moleza — respondeu, sem esconder qualquer detalhe do ocorrido. 

    Do outro lado da mesa, quando Círdan escutou as palavras de Rei, o elfo acabou deixando um pequeno suspiro sair e colocou a mão no rosto pálido. Isso chamou a atenção de Terqueo e Rei, fazendo-os imediatamente voltarem a visão para o elfo. 

    Na mente de Cirdan, a sua cabeça parece mergulhar em uma tonelada de pensamentos. Dúvidas, incertezas, inseguranças e verdades, — E, até certo ponto, era difícil dizer o que ele sentia ou conseguia concluir com o pronunciamento audacioso do garoto. 

    “Não é certo matar. Entretanto, talvez isso não tenha sido algo ruim. Por todas as atrocidades que fizeram… De certo modo a culpa foi nossa, estamos tão perto da vila e mesmo assim não ajudamos… sequer sabíamos da situação deles.”

    “Até mesmo em uma ocasião de calamidade, a igreja Querpyn manda seus membros para fazerem tal coisa… Que decadência.”

    Círdan não conseguiu prestar atenção em todos os pensamentos, então logo respondeu ao perceber que o ambiente parecia ligeiramente estranho, por conta do silêncio subsequente. 

    — Eu… eu sinto muito pelo que teve que passar Rei, mas você tem a minha gratidão eterna. Se não fosse por isso, provavelmente muitos dos sobreviventes da vila não estariam vivos para contar suas histórias. 

    — Nunca pensei que a igreja de Querpyn pudesse agir de forma tão descarada, isso chega a ser ultrajante! Em um momento de guerra, preocupam-se em tomar o poder do próprio povo por meio da violência — acrescentou, com extrema calma e racionalidade em suas palavras, sem transmitir raiva ou ressentimento. 

    Receber o agradecimento de Círdan fez o garoto abrir um pequeno sorriso de lado, ainda com a memória fresca do dia em que tiveram de matar os vários fanáticos. 

    — Não precisa agradecer, aquilo que fiz estava longe de ser uma justiça. No fim, acabei os massacrando de uma forma unilateral — declarou o estudante, soltando um pequeno suspiro de cansaço. 

    — Você não deveria pensar dessa forma, pelo que nos foi dito por alguns aldeões que chegaram aqui, eles cometeram muitos crimes! Os membros de Querpyn claramente foram punidos por suas crueldades, não coloque-se em culpa por isso — esclareceu Terqueo. 

    Escutar o comentário do homem que parecia tentar o consolar, causou uma reação oposta a Rei, fazendo-o olhar para baixo e pensar sobre aquilo. 

    Não era exatamente um sentimento de culpa que o estudante estava a sentir. E, se fosse definir claramente, estava mais para um sentimento de decepção, — decepção em ter que matar alguns para salvar outros, como uma balança, sendo possível apenas escolher um lado. 

    Em resposta a declaração de Terqueo, que não parecia colocar a culpa em suas ações, o garoto somente acenou com a cabeça e deu um pequeno sorriso de lado. 

    Antes, quando recebeu o questionamento de Círdan, Rei nunca esperou receber uma resposta tão positiva. Imaginou que possivelmente diriam:

    ﹂Então, você matou todos? Eu esperava mais de você, poderia ter feito diferente. 

    ﹂Ainda que tenham causado uma trilha de morte, você não deveria ter agido da mesma forma que eles! Assassino. 

    Apesar disso, a realidade foi diferente: Tanto Círdan quanto Terqueo pareciam calmos, agradecendo e consolando o garoto por suas decisões. A sinceridade deles foi ouvida e respondida com sinceridade, deixando o garoto confortável. 

    Demorou algum momento para que Círdan, Rei e Terqueo pudessem discutir o assunto com calma. Até que finalmente tudo tinha sido resolvido e explicado adequadamente, sem deixar nenhuma informação de lado.

    Quando isso aconteceu, houve um pequeno silêncio no cômodo, pois a discussão havia tornado a atmosfera tensa, — tensa ao ponto de que quando terminado, não havia sequer mais o que ser dito.

    Querendo ou não, inúmeros aldeões inocentes tiveram que arcar com aquela tragédia. Grande parte das mulheres foram acusadas injustamente de serem bruxas, enquanto outros indivíduos foram mortos violentamente apenas pelo simples fato de tentar ajudá-las. 

    Percebendo a situação, Terqueo decidiu quebrar o gelo e voltar sua atenção para Círdan, que apesar de sua personalidade calma e divertida, parecia sério e nervoso. 

    — Certo, certo! Então, por que não mudamos de assunto? Qual é, vamos lá galera.

    Com a voz do homem, o elfo do outro lado da mesa voltou aos sentidos. Levantou de onde estava sentado e enquanto caminhava em direção a um balcão de cozinha de mármore, posicionado no canto do cômodo, disse: 

    — Rei, você comentou sobre os cavaleiros antes, não quer saber o por que do reino humano estar aqui agora? 

    — Ah, bem, sim. Eu ouvi alguns rumores nos corredores que eles vieram para cá para ajudar com a guerra, é isso mesmo? Estou curioso agora. 

    Círdan pegou um bule de chá na superfície do balcão, cortou um pedaço das pétalas de uma planta que estava em um pequeno jarro próximo, em seguida as colocou em seu bule e adicionou água. 

    Seu dedo indicador foi alocado em sua textura, esquentando a água no interior do bule com um tipo de magia de fogo, até estar suficientemente aquecida. 

    — Você está certo, eles vieram para ajudar, assim como disseram. Não acha estranho? — perguntou brevemente, de uma maneira mais curta e rápida enquanto preparava o chá.

    Continua…

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