Capítulo 151 - Vamos todos juntos. X
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Com o pronunciamento de Rei, todos que estavam sentados em torno da mesa pararam de comer e olharam para o seu rosto. Eles não conseguindo esconder a surpresa em seus semblantes, Takayo até mesmo engasgou com o comentário.
— Como assim? Jovem, você realmente pretende ir até a capital, com os cavaleiros? — perguntou Tyrant.
— Humph… eu não sei se isso seria a melhor opção, mas acho que não deveríamos ficar aqui por muito tempo — respondeu.
— Por quê? A gente está tão bem aqui, por que não podemos ficar mais tempo…? — indagou Mia, um pouco apreensiva com a possibilidade de ter de ir embora naquele exato momento. Era desconcertante, ainda mais sabendo que ainda estava se recuperando.
Ao notar a expressão deprimente no rosto da menina, Takayo também decidiu apoiar a dúvida dela e disse imediatamente: — Eu também queria ficar mais tempo aqui, a gente não pode mano?
E assim que recebeu a resposta deles, o estudante soltou um suspiro antes de começar a explicar o que pensava, embora não quisesse decepcionar aquelas duas crianças que olhavam-no como dois cachorrinhos.
— Haa… Bem galera, vejam só: Nós não podemos abusar da hospitalidade dos elfos, eles estão ajudando mais do que deveriam.
— Além disso, mesmo que os elfos estejam aqui, ainda continua sendo um lugar desprotegido. Vocês também notaram, mas não são muitos os elfos que estão dispostos a lutar, a maioria apenas pensa em auxiliar os feridos e buscar outras alternativas para evitar um conflito — acrescentou.
Por fim, com um sorriso suave, ele declarou as últimas palavras na tentativa de persuadi-los.
— Não estou dizendo que precisamos sair nesse momento, mas já temos que ter essa ideia em mente, beleza? Não podemos ficar aqui para sempre.
“Nós não podemos depender dos elfos caso ocorra um ataque, duvido que eles conseguiriam proteger todos. Da mesma forma que várias vilas e cidades por perto, o refúgio seria destruído em um piscar de olhos.”
“Estamos dentro de uma montanha, se houvesse um ataque poderíamos ficar presos e seríamos encurralados.”
“Eu ainda acho a capital um lugar de risco, devido a situação política e dos ataques dos demônios… mas seria melhor comentar sobre essa hipótese, ao menos por agora.”
Com a explicação do garoto, as pessoas que estavam por perto acabaram respondendo positivamente após pensarem um pouco mais no assunto.
— Sim, o que você disse faz sentido, jovem — comentou Tyrant.
— Bem, pra mim tanto faz, desde que eu não esteja morta — disse em seguida Rina, sem se importar muito com aquilo.
Mia e Takayo apenas assentiram com a cabeça depois de pensarem a sério sobre a situação, mas não disseram nenhuma palavra.
Apesar do refúgio ser um ponto seguro para eles, onde encontraram conforto e extrema segurança física quanto mental, eles ainda não queriam ficar presos naquele local, onde não conseguiam sequer sentir o sol, o ar fresco do farfalhar das árvores e a paisagem natural do céu modificando-se a todo momento.
A região do refúgio era completamente diferente dos relevos naturais do vilarejo em que moravam, o comportamento animado dos aldeões e até mesmo o sabor dos alimentos.
Em contrapartida, Kazuki não parecia estar receptivo com aquela declaração de Rei. Ele tentou se mostrar indiferente, mas era pouco convincente. Sua testa parecia franzida e seus olhos estavam nublados de hesitação.
— Eu, eu acho que essa seja uma péssima ideia! Você sabe, Rei… — declarou Kazuki.
No tom de sua voz podia-se notar um ar de decepção e surpresa, ainda que não concordasse com a proposta do estudante, ele não queria discordar diretamente dele. Afinal, como ele estaria feliz com aquela ideia? Tivera que deixar a capital por causa do seu irmão, que não somente tentou assassinar sua sobrinha, mas também atentar contra sua própria vida.
Ir para Zefry, a capital do reino, significava para ele ter que reatar memórias dolorosas sobre aqueles dias terríveis, em que teve que fugir desesperadamente. Mesmo quando sua respiração ficava ofegante e faltava ar em seus pulmões, eles doíam como se estivessem sendo espremidos, ele só parou de correr quando estava longe o suficiente.
As palavras do homem-fera haviam sido firmes e exatas, deixando a atmosfera da conversa ligeiramente densa e estranha.
Quando Rei dirigiu o olhar em sua direção, ele acabou lembrando da história de Kazuki e sobre as questões políticas que envolvem o seu passado.
“Droga… isso não vai dar certo. Ele ainda parece abalado com o próprio passado, mas eu não posso julgar, foi algo extremamente zoado.”
“Preciso resolver isso logo.”
No mesmo instante em que pensou sobre isso, o estudante decidiu levantar-se de onde estava sentado e caminhar até Kazuki, até estar ao seu lado.
— Foi mal galera, mas preciso conversar com ele antes. Nos deem licença… — declarou Rei, pouco antes de sair da mesa.
— Ah, sim jovem… Claro. Podem ir, vamos ficar com Takayo e Mia enquanto isso — respondeu Tyrant, extremamente surpresa.
Aproximando-se, o garoto logo em seguida pediu para Kazuki levantar do assento imediatamente. Quando fez isso, Rei de repente agarrou as mãos de Kazuki e começou a caminhar e afastar-se da mesa, levando Kazuki para outro lugar, para que os dois pudessem conversar sozinhos.
Com uma expressão desnorteada e sem entender o comportamento do menor, Kazuki acabou aceitando e foi levado pelo garoto.
Observando eles indo, Rina acabou sussurrando baixinho no ouvido de Tyrant, sem conseguir esconder a emoção: — Uma relação um tanto quanto especial, não acha?! — disse soltando alguns risos bobos, com uma expressão repleta de felicidade.
— Chega disso, basta! A gente… nós não podemos nos meter no assunto de outras pessoas, Rina!!— declarou a vidente, com vergonha das palavras maliciosas da menina.
Enquanto o garoto caminhava puxando a mão de Kazuki, as poucas pessoas presentes no refeitório acabaram tendo sua atenção atraída para aquela cena.
“Droga… parem de olhar para a gente, maldita vergonha. Preciso encontrar um lugar para conversarmos logo, mas não muito longe daqui, não posso demorar muito.”
Foi nesse momento que ele percebeu que próximo da cozinha, existia uma pequena porta fechada. Por algum motivo, ele então decidiu que aquele era o melhor lugar para conversar, sem que outras pessoas pudessem escutar o que ele tem a dizer.
Acelerou os passos até chegar no local, onde abriu a pequena portinha de madeira e entrou no cômodo isolado e minúsculo de mantimentos. Momentos depois, Kazuki foi puxado para o seu interior também.
Apesar das prateleiras e estantes lotadas de ingredientes de cozinha ocupando quase todo o espaço, os dois ainda conseguiram caber no espaço, mesmo que estivessem apertados.
Continua…
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