Capítulo 159 - Uma aventura nas alturas. X
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Depois das pequenas conversas descontraídas da manhã em que todos puderam conversar confortavelmente enquanto o tempo parecia fluir rapidamente, Rei, Tyrant, Kazuki, Rina, Mia e Takayo voltaram para o refúgio quase no final da tarde.
Foi nesse momento que Mia e Takayo foram juntos com Alania para uma sala afastada das demais, assim como em outros dias anteriores, prontos para começar uma sessão psicológica com outras crianças que também estavam passando por problemas e traumas recorrentes.
Por sua vez, Rei e Kazuki decidiram tirar parte do próprio tempo para ajudar alguns refugiados e indivíduos que estavam em situações complicadas, devido ao ataque dos demônios em suas cidades e vilarejos natais.
Apesar do caos gradativamente ser contornado com o passar do tempo, ainda sim era possível ver a chegada de uma certa quantidade alarmante de refugiados em Svishtar.
Após a maior parte das grandes cidades e vilarejos serem alvos de uma retaliação, o próximo ataque dos demônios foram vilarejos e comunidades não tão conhecidas.
Devido a isso, houveram mais e mais pessoas no refúgio; não parecia ter fim aquele caos, e os elfos também já estavam cansados de sempre auxiliarem, muitas vezes ficando acordados por vários dias apenas no intuito de ajudar desconhecidos.
Dessa vez, Rei então decidiu tomar a iniciativa e ajudar o máximo de pessoas possíveis, assim como Kazuki, Tyrant e Rina, que não sentiam-se confortáveis com aquela realidade caótica.
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Ao anoitecer, com algumas horas passadas e ajudando sem descanso todos a sua volta, o estudante decidiu descansar em um banco no local, que era próximo da enorme árvore azul da região, — ele soltou um suspiro, com os braços enfraquecidos e cansaço no corpo. E, percebendo isso, não demorou muito para Tyrant e Rina também ficarem cansadas e sem fôlego, e sentarem no mesmo assento de Rei.
Examinando os arredores e vendo de longe Kazuki auxiliando uma senhora de idade e outros indivíduos, reflexivamente o estudante colocou as mãos sobre a cabeça e começou a pensar sobre várias coisas ao mesmo tempo.
“Isso é realmente cansativo, fiquei só algumas horas ajudando e estou completamente exausto… Que situação complicada, me pergunto como os elfos conseguem ficar tanto tempo assim.”
“Fora os refugiados, muitas pessoas da vila perto do rio Nertyrem vieram por causa daquele grupo de fanáticos da Igreja de Querpyn. Além disso, fiquei sabendo também pelos rumores que muitos homem-fera foram abusados pelos soldados do reino humano…”
“Não sei se isso é verdade, mas mesmo que não seja, muitas pessoas ainda vão acreditar nesse tipo de rumor. O reino humano e dos homem-fera tem uma relação extremamente frágil, qualquer motivo seria uma razão de revolta entre ambos.”
“Bem, espero que isso não tenha realmente acontecido, se não as coisas vão ser bem zoadas.”
Nesse momento, Tyrant que estava por perto cutucou o estudante que estava perdido em pensamentos e com o olhar fixo na direção de Kazuki, mas sem sequer conseguir prestar atenção em nada que está acontecendo.
— Rei?
Assim que ele dirigiu apressadamente o seu olhar para a menina ao escutá-la, Tyrant começou a conversar com ele e com Rina.
— Não posso acreditar que a situação esteja um verdadeiro caos… Porém as coisas nem sempre foram assim por aqui, até mesmo a atmosfera está pesada e sufocante. Quase não consigo respirar direito com toda essa pressão e sofrimento, céus… — comentou, transmitindo em seu tom de voz angústia e tristeza.
— Os corredores estão lotados de pessoas feridas, que estão com todos os tipos de ferimentos possíveis em torno de seus corpos. Existem crianças que perderam os seus pais e até mesmo famílias divididas pelo infortúnio. Não consigo suportar ver mais do que isso, jovem.
— Sei que você usou sua habilidade de cura sem que outras pessoas por perto percebessem, e eu também tentei ajudar com algumas ervas e alimentos junto com a Rina, mas parece que nada está adiantando. É como se chegassem mais pessoas a cada momento, e toda a responsabilidade fosse jogada para cima dos elfos!
— Eu… uh… eu já não sei mais o que fazer — concluiu por fim Tyrant, com um olhar cabisbaixo.
Ainda que a vidente fosse uma pessoa extremamente capaz e responsável, muitas vezes ela se deixava levar pelo seu lado emocional. Assim como quando estava na vila, onde usava em excesso as suas reservas de ervas e plantas medicinais em crianças machucadas ou aldeões em um estado crítico.
Após dizer isso, por sua vez, Rina acabou soltando um suspiro e logo respondeu Tyrant: — Sim, você tem razão. Eu quase não consigo me concentrar com toda essa confusão. Quando chegamos no refúgio ontem as coisas não estavam tão ruins, é como se todas as pessoas de uma dúzia de cidades tivessem resolvido chegar em conjunto hoje.
— Talvez seja por isso que essa situação esteja tão conturbada, pensando agora, será que os demônios também atacaram nosso vilarejo também? Meu deus… — finalizou Rina, com uma expressão de surpresa no rosto.
— Essa é a única coisa que consegue pensar no momento? Pelos céus Rina, vira sua boca pra lá — respondeu Tyrant, sem acreditar no comentário da amiga.
Dito isso, a vidente levantou do banco rapidamente e virou seu olhar para Rei e Rina novamente.
— Sinceramente, não estou me sentindo bem, e eu ainda preciso usar a minha habilidade『Visão Futura』. Agora que está de noite, eu tenho que observar as estrelas e astros maiores para conseguir obter algumas informações futuras, caso eu não faça isso todo dia, a minha habilidade começa a enfraquecer — declarou ela, ao dar alguns passos para o lado.
— Espera, é sério? Você vai sair do refúgio agora? — indagou Rei, surpreso com a atitude dela.
— Você é por acaso doida? Não tem medo de ser atacada por algum monstro? Já estamos de noite, quase de madrugada — perguntou em seguida Rina, voltando sua atenção para a menina.
Assim que recebeu a resposta dos dois, a vidente fez uma expressão de insatisfação e declarou rápido: — Não existem monstros por aqui, Rina, você sabe disso. Mas de qualquer forma, eu já iria perguntar isso antes; vocês não querem vir comigo?
Antes de respondê-la, Rei e Rina pensaram sobre isso por um tempo, até que depois de alguns momentos o estudante apenas resolve aceitar e acompanhar Tyrant.
“Então isso explica o porquê da última vez eu tê-la encontrado de madrugada próxima do penhasco. Mesmo que seja por causa da sua habilidade, isso não é meio exagerado?”
“Colocar a sua vida em risco só para saber do futuro? Ainda que tenham soldados e elfos protegendo o redor do refúgio, isso é um pouco de loucura de se fazer. Pensando agora, ela sempre agiu dessa forma.”
— Bem, pra mim tanto faz, eu posso ir junto — comentou o estudante, levantando-se do banco.
— Vocês são doidos, vou ficar por fora dessa vez. Estou cansada por tudo que aconteceu, preciso descansar e dormir. Boa sorte nessa loucura — respondeu de longe Rina, colocando as mãos no bolso e saindo da região, em direção ao seu cômodo. Ela sequer olhou para trás, apenas saiu como se nada tivesse acontecido.
Quando Rina afastou-se deles, o estudante então virou-se até onde Kazuki estava e perguntou se ele gostaria de sair do refúgio por um tempo, no intuito de tomar um ar e fazer uma pequena caminhada enquanto esperam Tyrant utilizar a sua habilidade. Porém, o homem-fera recusou, dizendo que preferia ajudar o máximo de pessoas possíveis, assim como um grupo de pessoas que se voluntariou para auxiliar os elfos.
Com essa resposta em mente, sem mais nada para fazer e cansado de ajudar outras pessoas sem descanso, devido a utilização de suas habilidades por perto, o estudante apenas resolveu sair com Tyrant.
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Depois de saírem de Svishtar, Tyrant e Rei começaram a conversar enquanto caminhavam até um local à céu aberto, para que a vidente pudesse utilizar a sua habilidade com mais eficiência; somente observar os céus e localizar as estrelas não era o suficiente, sendo necessário também saber distinguir todos os pontos brilhantes com nitidez, assim como ela mesmo havia comentado no percurso.
De acordo com ela, a melhor região era perto do penhasco em que abaixo estava a descida que ia direto para a sua antiga vila. Entretanto, essa também era uma zona um pouco afastada do refúgio. E, com todas as coisas que estavam acontecendo recentemente, não seria improvável ocorrer um ataque de monstros ou coisas do gênero. Mas, mesmo com esse tipo de pensamento em mente, no final ela escolheu ir para essa região acompanhada de Rei.
No momento em que chegaram no penhasco, cerca de alguns minutos depois, Tyrant então começou a analisar o céu e tentar encontrar alguma resposta nas estrelas.
“Pensando agora, não existem monstros por aqui, nem na estrada. Talvez isso seja pelos elfos ou pelo que está rolando com os soldados do reino humano?”
“De qualquer forma, isso não faz diferença. Vamos sair do refúgio depois de um tempo. Eu realmente sou grato pela ajuda que recebi, espero conseguir retribuir no futuro toda a gentileza dos elfos.”
“Círdan sempre comenta sobre unificar as raças e tals, não acho que essa seja uma ideia ruim, mas também não é algo tão simples de ser realizado.”
“Existem muitas desconfianças na relação entre todos. Cada raça tem os seus próprios problemas, acho que não daria certo essa ideia, ao menos se todos estiverem no comando de uma única pessoa… talvez funcione.”
“O ambiente hoje está realmente frio, consigo sentir os meus pelos se arrepiando só com a brisa do vento.”
Assim que pensou sobre isso, o estudante olhou para Tyrant e notou que ela parecia não conseguir usar sua habilidade, fazendo uma careta enquanto tentava posicionar suas mãos no alto.
— Eu não estou conseguindo usar a minha habilidade corretamente. Eu não entendo. O que está acontecendo? — disse ela, em um misto de ansiedade e preocupação.
— Essa é a primeira vez que estou utilizando ela e não estou conseguindo… espera… oh céus, talvez isso tenha sido efeito da sua habilidade de rejuvenescimento, jovem?
Ao ouvi-la, o garoto apenas pensou se realmente a sua habilidade de rejuvenescimento causava um efeito colateral ou algo do tipo, então ele olhou para verificar no sistema, no status da habilidade do『Tato Divino』, mas percebeu que não tinha nada referente às consequências de seu uso.
“Droga… se isso se prolongar, vamos ficar a noite toda falando sobre esse problema. Eu só estava pensando em acompanhá-la por alguns minutos.”
“Ela disse que não consegue usar a sua habilidade direito, talvez o seu poder tenha enfraquecido ou ela não esteja conseguindo se concentrar. Se esse for o caso, talvez eu consiga fazer algo em relação a isso…”
No mesmo instante em que terminou com a linha de pensamento, o garoto aproximou-se de Tyrant e pronunciou outra de suas habilidades.
— 『Manifestação de Asas』
Pouco depois do poder ser pronunciado, dois pares de asas negras surgiram nas costas do estudante através do éter da atmosfera, elas então abriram-se em toda a sua obscuridade.
Apesar da beleza estonteante das asas, a sua textura parecia um pouco sombria e assustadora, — ainda assim ela era surrealmente incrível na visão de Tyrant.
— Rei? — perguntou ela um pouco assustada, sem saber o que estava acontecendo.
— Eai, daora né? Eu nunca usei essa habilidade antes, bora testar.
Ele então pegou Tyrant e deu um pequeno pulo para cima, dando assim impulso em suas asas, fazendo-o voar lentamente em direção acima.
Devido a alta velocidade das asas, o vento começou a bater no rosto de Rei e Tyrant fortemente, mas por causa da adrenalina do momento, nenhum dos dois percebeu a intensidade de tudo que estava ocorrendo.
Por alguns minutos, que pareciam durar eternamente, a altura começou a subir cada vez mais. Quando os dois olharam para baixo, a visão do terreno e das montanhas próximas começou a se distanciar e ficar mais longe de duas vistas.
Em certo momento, o único pensamento do estudante que percebeu a dimensão da sua ação era: “Onde eu tô com a cabeça em fazer isso?”
Quando Rei pousou perto das nuvens, Tyrant olhou para o responsável por ela estar ali, e no seu rosto se forma a feição mais aterrorizante que ela já fez.
— O-O que você está fazendo? Me coloca no chão, não seja imprudente — declarou ela, sem conseguir esconder o medo crescente no peito após ver a altura em que estava.
Continua…
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