Índice de Capítulo

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    — Estamos juntos, não consegue ver? — respondeu a vidente, sem entender o intuito do questionamento do desconhecido.

    Quando terminou de perguntar, Rei olhou para Tyrant com uma expressão confusa e acabou por explicar com um tom de voz mais baixo a intenção por trás daquelas palavras de Matsuno. 

    — Tyrant… Acho que ele não perguntou nesse sentido…

    — É, n-não…? 

    Após a indagação, a menina voltou seu pensamento e analisou a pergunta de Matsuno, ainda sem entender. Mas assim que percebeu, seu rosto corou e ela levantou rapidamente seu olhar para o homem, a fim de respondê-lo. 

    — Não! C-Céus, não estamos. Juntos. Nesse. Sentido… p-por favor.

    Assim como ela, Rei permaneceu no mesmo estado.

    No ponto de vista do estudante, como se não fosse vergonhoso o suficiente ouvir aquela pergunta de Tyrant, ele ainda teve que explicar o sentido por trás das palavras daquele homem para ela. 

    — Qual foi, por que está me perguntando isso? Talvez você tenha algum interesse em mim? — indagou o garoto como reação, tentando esconder a sua vergonha nas primeiras palavras em que pensa na hora. 

    Escutar esse comentário faz Matsuno olhar em surpresa para Rei, pouco antes de abrir um pequeno sorriso no rosto e respondê-lo de volta na mesma altura da provocação. 

    — Hahaha! E se eu estiver garotão? Você gostaria de ir em um encontro comigo? — brincou o homem, com um sorrisinho bobo no rosto. 

    A voz confiante e a afirmação audaz de Matsuno, junto com sua expressão calma, fez o rosto do estudante tornar-se vermelho. 

    A visão de Rei ficou presa por um momento no rosto do homem com olhos de rubis, com a imaginação correndo à solta, sem saber o que realmente dizer. 

    Na realidade, ele pensou que com aquele tipo de provocação, aquele cara iria recuar — mas ocorreu o contrário, algo que nunca tinha acontecido antes em sua vida. 

    —Co-Como? Está falando sério? Você não tá vendo que sou homem? — comentou nervoso, sem conseguir esconder a hesitação nas palavras.

    — Não tem problema. O amor não vê o gênero das pessoas — respondeu de volta. 

    Após declarar isso, Rei pegou a mão de Tyrant e começou a andar envergonhado em direção ao refúgio. Ao contrário do estudante, a vidente acabou tampando a boca com a outra mão depois de ouvir o comentário de Matsuno, enquanto é levada pelo garoto. 

    Embora as pessoas sempre comentassem como Rei era bonito, Tyrant nunca imaginou que uma situação dessas pudesse realmente acontecer. A única coisa que ela pensou na hora é em um comentário que Rina havia dito anteriormente — sobre como esses tipos de coisas poderiam acontecer, apesar da descrença da vidente em acreditar em tais situações. 

    — Espera! Calma, não vai. Eu só estava te zoando — declarou Matsuno e impedindo o garoto de continuar a caminhar. — Foi mal por isso, só queria te provocar um pouquinho. Não pensei que você fosse se comportar dessa forma.

    — Tá me tirando? E isso é culpa de quem? — respondeu de volta, com o olhar voltado para o homem. 

    — Enfim, se vocês não se importam, eu gostaria de perguntar algo. Vocês também vão para a expedição no caminho até a capital, junto com os outros refugiados? — indagou, mudando de assunto repentinamente, sem conseguir esconder a curiosidade atrás do questionamento. 

    Após ouvir a pergunta de Matsuno e perceber o olhar fixo dele, Rei foi pego de surpresa com aquele tipo de intromissão. Ele então responde sem ligar muito:

    — É, eu acho que sim. Mas antes, me conta uma coisa, nós já não nos encontramos? Não era você que estava no refúgio, sentado próximo da saída?

    — Você ainda se lembra de mim, mesmo que o capuz estivesse tapando o meu rosto? — questionou em surpresa. 

    — Bem… são os seus olhos. Se não fosse por eles, eu não teria te reconhecido de primeira. Além do mais, eu te vi mais cedo conversando com o dono do refúgio com a sua patrulha…

    — Humm… entendo. E então, você não acha os meus olhos bonitos?

    — Ehh? Tipo, acho que sim… Eu nunca vi alguém com olhos tão profundos quanto os seus, eles parecem especiais… de alguma forma…

    — Olha, eu quem deveria dizer isso de você. Se os meus olhos são bonitos, os seus são ainda melhores… 

    — É sério que vai continuar falando esse tipo de coisa? — disse o garoto, cansado de ouvir aqueles flertes. 

    Enquanto os dois discutiam, Tyrant observou os dois conversando com um pouco de estranheza — como se fosse uma pessoa por fora do assunto. 

    “Pelos astros! O que está acontecendo aqui…? Esses dois por acaso já se conheciam antes? Não, não acho que seja isso. Mas então por que estão conversando tão naturalmente?”

    “Não importa quanto tempo eu olhe para isso, parece que estou completamente de lado da conversa, sinto até mesmo que estou segurando vela…”

    “Huh? Espera, que barulho foi esse?”

    Pensou Tyrant, olhando de uma direção para a outra, querendo sair logo daquela região e voltar para Svishtar. Entretanto, nesse momento ela notou que a floresta ao redor parecia diferente de como ela se lembrava.

    As árvores pareciam mais escuras e mais altas do que o normal, enquanto o ar e atmosfera estavam repletos de um silêncio perturbador. 

    — Vocês também estão sentindo algo estranho? — perguntou Tyrant aos dois, mas eles apenas balançaram a cabeça e disseram que não. 

    De repente, um barulho estranho vindo de um arbusto próximo faz todos eles olharem para o local. O barulho se intensificou e, em seguida, uma criatura horripilante saltou do arbusto — no mesmo momento em que ela saiu, outras criaturas começaram a saltar; como se fossem apenas formigas seguindo o seu líder. 

    Assim como os demogorges, aquelas criaturas pareciam sair diretamente de um filme de terror. Sua pele é avermelhada e escamosa, enquanto seus olhos brilham com um preto intenso. Além de seu formato um tanto quanto estranho, semelhante a um lobo, mas com uma diferença de altura anormal e patas longas e ásperas. 

    — O que é isso? — perguntou assustado Rei, sendo a primeira vez vendo aquele tipo de criatura. 

    — Pelos céus! O que essas coisas estão fazendo aqui? Elas não deveriam estar nessa região, como isso é possível? — comentou a vidente, sem conseguir esconder a surpresa no rosto. 

    — Como assim? Eles não deveriam estar aqui?

    — Sim, jovem, alguma vez você já viu algum monstro próximo do refúgio? Não, isso nunca aconteceu. Normalmente eles não conseguem se aproximar daqui por causa dos elfos, que acabam inserindo uma mana extremamente maleável em todos os arredores de Svishtar — explicou a vidente, e ela então prossegue. 

    — Eu estou surpresa que eles conseguiram chegar aqui. Mas suponho que eles não irão chegar muito mais longe do que isso. Quanto mais perto eles se aproximam do refúgio, mas os seus corpos tornam-se pesados, por conta do atributo da mana dos elfos que afeta os monstros que têm energia demoníaca — terminou ela com a breve explicação.

    — Entendi, mas cara, por quê você acha que eles aparecem? ~~ ESPERA, essa não é a hora de ficar se perguntando ou explicando sobre essas coisas. A gente tem que matar esses desgraçados logo — comentou rapidamente Rei. 

    Com a aproximação dos monstros, Matsuno acabou sacando a espada que estava na bainha da cintura e soltou um pequeno suspiro, ele não parecia nenhum pouco surpreso com a aparição daquelas criaturas por perto — na realidade, até mesmo a sua postura e a respiração estavam estáveis, sem nenhuma mudança aparente, como se estivesse acostumado com esse tipo de situação. 

    — Por favor, fiquem aqui. Eu não vou demorar muito — avisou Matsuno, dando alguns passos adiante. 

    — Ei, cara, você vai ficar bem? Não precisa de uma mãozinha não? Pelo que notei, tem pelo menos 6 ou 7 desses monstros por aqui — indagou Rei. 

    Escutar esse comentário faz o homem abrir um pequeno sorriso no rosto e olhar rapidamente de relance para trás novamente, em direção ao rosto do estudante, antes de respondê-lo com completa confiança, mostrando sua masculinidade:

    — Matsuno. Meu nome é Matsuno Lancellotti, sou o cavaleiro obscuro dos campos de batalha e capitão de todas as tropas da 1° divisão do reino humano! 

    — Se eu não fosse capaz de derrotar essa quantidade de demônios, então não deveria ao menos ser considerado um guerreiro de verdade!

    — Tá, certo. Faça como quiser então, mas não venha me pedir ajuda caso aconteça alguma merda e você fique com problemas — respondeu de volta Rei, satisfeito com a demonstração de confiança daquele homem. 

    O garoto por fim sentou-se no chão perto de uma árvore caída, e colocou as suas duas mãos no bolso, pronto para assistir o que iria acontecer daquele ponto em diante. 

    Por outro lado, mesmo relutante com a conversa que rolou entre os dois rapazes, Tyrant apenas segue o mesmo exemplo de Rei e se senta perto do garoto. 

    Com os olhos de Tyrant repletos de preocupação e que parecem dizer constantemente para Rei: “Você irá interferir caso algo aconteça, certo?”

    Em resposta, o garoto apenas assentiu com a cabeça e disse para a pequena menina não se preocupar demais com o desfecho daquele confronto, pois a batalha já estava decidida. 

    Poucos segundos depois de Matsuno desembainhar a espada, as criaturas não demoraram para avançar em sua direção, apenas seguindo o instinto, um comportamento bem previsível. 

    Contudo, dois dos demônios ignoraram a figura do cavaleiro e prosseguiram seus avanços na direção de Rei e Tyrant, no intuito de acertá-los com as garras, em um movimento rápido e letal. 

    Com um simples movimento de espada, tão rápido que quase não é possível vê-lo, Matsuno cortou a cabeça dessas duas criaturas primeiro. 

    O barulho do movimento da espada foi como o vento, misturando-se com as brisas e o farfalhar das folhas das árvores e arbustos, enquanto o cavaleiro permaneceu parado na mesma posição, sem mexer um único músculo do corpo — a sua arte na espada era como uma faca quente cortando manteiga. 

    A precisão e habilidade impecáveis de Matsuno faz o estudante e a vidente levantarem as sobrancelhas em surpresa, sem conseguir desviar o olhar para o restante do combate. 

    Sem grandes dificuldades, o cavaleiro negro usou seus pés para pegar uma aceleração de movimento incrível e partir para cima do restante das criaturas. Com o impulso de velocidade, ele cortou todos os monstros com a espada, que inevitavelmente acabou sendo encharcada pelo sangue preto dos demônios. 

    O que se seguiu a isso não pôde ser chamado de batalha. Foi uma carnificina. Os oito demônios haviam morrido rapidamente, alguns tiveram as cabeças cortadas enquanto outros tiveram partes de seus corpos dilacerados por um simples movimento de espada. 

    Embora esses demônios não tivessem um nível elevado, podendo ser classificados no rank de monstros como algo entre o ranking D e C, suas peles eram resistentes e dificilmente poderiam ser perfuradas por métodos normais.

    Assim como explicado por Kazuki anteriormente na conversa em grupo entre Rei, Tyrant e Mia, todos os monstros no reino eram classificados pelo grau de dificuldade. Existindo cerca de 8 tipos, sendo eles:

    S (1)

    A (2) 

    B (3) 

    C (4) 

    D (5) 

    E (6) 

    F (7)

    A maior classificação era a S, e a menor classificação F. 

    Além dessas classificações, existia o nível de calamidade, que ultrapassava o rank de perigo S e era considerado o 1° grau de dificuldade, o maior entre todos os outros. Apesar de ser algo muito raro de acontecer, já ocorreram algumas situações em que cidades precisaram ser evacuadas por completo. 

    Quando o jovem com olhos rubis terminou de subjugar os inimigos, ele caminhou até o estudante e a vidente, para se gabar de suas habilidades. Porém antes que pudesse, ele foi interrompido repentinamente por um questionamento de Rei. 

    — Suas habilidades são incríveis, mas você vai mesmo deixar aquele monstro vivo?! — perguntou com o dedo apontado para o demônio caído no chão, tentando com dificuldade manter-se em pé, mas falhando miseravelmente na tentativa. 

    — Sim, pode deixá-lo daquela forma. Ele não vai durar muito mesmo. 

    — Está dizendo que ele vai morrer pelos ferimentos?! 

    — Exatamente. O pulmão daquele monstro está danificado, mais ou menos daqui 30 minutos o sangue lentamente irá enchê-los, e à medida em que o sangue acumular, ele irá sufocar lentamente até a morte — explicou cuidadosamente, sem mostrar nenhum sinal de surpresa, como se aquilo fosse algo normal e rotineiro no seu cotidiano. 

    — É sério? Por que você simplesmente não o mata?! 

    Continua…  

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