Capítulo 17 - Gratidão X
30 minutos depois
Assim que conseguem adentrar às pressas a floresta densa nas proximidades, o comerciante continua a sua marcha incessante, com medo só de pensar no que ocorreria caso parasse no meio do caminho. A carroça, à medida que esbarra nos galhos secos, árvores, pedras e cipós tortos que apenas servem para dificultar a passagem que está no percurso, desfragmenta-se periodicamente até o ponto em que está completamente destruída.
O comerciante somente para de marchar assim que avista na estrada, logo a sua frente, uma imensa cachoeira que cobre toda a pequena região do local.
Com base em sua expressão de nervosismo, pode-se considerar que todos estão na mesma situação, incrédulos e assustados.
Naquele momento, onde só o silêncio prevalece, o senhor que está a esfregar os olhos, declara de maneira abrupta, soltando um longo suspiro.
— E-Eu acho que já estamos longe o suficiente.
Em resposta, Kazuki e Rei que estão ao lado, apenas assentem com a cabeça em sinal de concordância.
O garoto começa a examinar de certa distância toda a área, e Kazuki, vira-se até as crianças que estão na parte de trás da carroça.
— Acho que podemos parar para descansar agora, já passou um bom tempo… Bora lá — aponta o garoto, para uma parte da cachoeira.
“Mas que mundo louco mano…”
Pensa.
Virando-se para trás, o garoto nota que Mia e Takayo ainda estão abalados, o estudante diminui o tom de sua voz e sussurra baixo em suas direções.
— Então… Sinto muito pelo que aconteceu, vocês precisam de alguma ajuda?
Kazuki que está a abraçar Mia e Takayo, olha para Rei, e com uma sombra de sorriso leve enquanto seus olhos estão sem brilho, declara.
— Estamos bem, não precisa se preocupar…
Mesmo que fosse uma realidade complicada, não há o que possa ser feito. Todas as vezes que tentava acolher pessoas que estavam em situações deprimentes, o garoto mais atrapalhava do que ajudava com suas palavras desleixadas.
No fim, talvez, a coisa mais importante nessas situações é “estar presente, e por perto.”
(…)
Após descerem a carroça, Kazuki segura Mia e Takayo, e conversam sobre algumas coisas, que não são possíveis de serem ouvidas por Rei, que está um pouco afastado.
O comerciante aproveitando-se da circunstância, aproxima-se do garoto que parece analisar todo o cenário, e observar a cada instante o céu avermelhado e nebuloso que escurece a cada minuto.
— O…Obrigado jovem, se você não tivesse me alertado naquela hora, eu não teria conseguido reagir a tempo… Obrigado.
Rei o olha de relance, e volta a prestar atenção no cenário, e pensar consigo mesmo.
— Não fiz isso por você… Fiz por mim e por meus amigos — responde com o tom de voz ríspido e rápido.
Após pronunciar essas palavras, a atmosfera torna-se novamente silenciosa, apenas o som da água que cai da cachoeira próxima é nitidamente ouvida.
O comerciante percebendo que o garoto não está disposto a conversar, e sua expressão parece não haver rastros de humor, volta-se para a carroça ao lado.
— Maldita guerra! Toda a minha mercadoria foi destruída… Maldição. Se eu soubesse que isso teria acontecido, teria ido para o reino dos elfos — declara impacientemente, enquanto chuta uma árvore por perto várias vezes.
A maior parte das mercadorias dele haviam sido destruídas, pela forma que marchava de forma acelerada.
Duas caixas de madeira, e um recipiente de mármore parcialmente quebrado, é o que sobrou de sua mercadoria.
(…)
Após Kazuki terminar a conversa que teve com as crianças, Rei, de maneira sorrateira, aproxima-se dele.
— Eai… Como foi? Você está bem cara?
Kazuki, ao notar a sua presença, dirige seu olhar para ele, e lança um pequeno sorriso em sua direção. E declara calmamente, ainda incerto sobre tudo que aconteceu.
— Ainda estou sem conseguir processar tudo que rolou, porém, não posso demonstrar hesitação agora — diz olhando para o garoto, que faz uma expressão cabisbaixa, e seus olhos são nublados de preocupação.
— As crianças precisam de uma figura materna agora, se eu demonstrar fraqueza ou medo, elas só se sentirão mais angustiadas… preciso fazer o papel de protetor nessas horas — acrescenta.
Ainda com o tom de sua voz baixo e apologético, o homem mantém sua postura, e por fim, questiona o garoto.
— Aquela habilidade que você usou agora pouco, o que era aquilo? Senti a presença de energia divina.
“Bem… não adianta esconder isso agora.”
Pensa Rei, que havia planejado inventar alguma desculpa, mas apenas decide agir abertamente, como sempre.
— Sabe aquele demogorge gigante de antes? Quando eu matei ele, consegui muita experiência, evolui alguns níveis, e obtive algumas habilidades e talzs.
— Quando o lorde demônio ou seja lá que infernos aquilo era, usou aquela habilidade de fogo que quase acertou a gente, eu ativei essa habilidade de relance sem saber se iria funcionar mesmo.
— E olha que deu certo… Apostei nisso, hehehe. Caso contrário, estaríamos mortos agora. Parece que aquela coisa não era tão forte assim — Termina de falar soltando um pequeno riso.
Assim que percebe o quão inconsequente era rir de algo que matou várias pessoas, e criou um verdadeiro caos na pequena cidade, o garoto finaliza dizendo.
— Foi mal, acabei rindo um pouco da situação.
Kazuki não liga muito para isso, durante todo o tempo em que esteve com Rei, ele já estava acostumado com o seu comportamento.
— Está tudo bem, não precisa de preocupar com isso… Em fim, queria te agradecer por salvar o Takayo e por salvar todos com a sua habilidade — agradece.
— Você está sempre nos ajudando, nem sei mais como te recompensar — diz, ao inclinar a cabeça em sua direção e o seu sorriso alcançar os olhos do garoto.
Com o rosto transbordando de emoção, o garoto esfrega timidamente a parte de trás da cabeça, não conseguindo impedir que a felicidade enchesse seu coração.
— N-Não foi nada.
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