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    30 minutos depois

    Assim que conseguem adentrar às pressas a floresta densa nas proximidades, o comerciante continua a sua marcha incessante, com medo só de pensar no que ocorreria caso parasse no meio do caminho. A carroça, à medida que esbarra nos galhos secos, árvores, pedras e cipós tortos que apenas servem para dificultar a passagem que está no percurso, desfragmenta-se periodicamente até o ponto em que está completamente destruída. 

    O comerciante somente para de marchar assim que avista na estrada, logo a sua frente, uma imensa cachoeira que cobre toda a pequena região do local. 

    Com base em sua expressão de nervosismo, pode-se considerar que todos estão na mesma situação, incrédulos e assustados. 

    Naquele momento, onde só o silêncio prevalece, o senhor que está a esfregar os olhos, declara de maneira abrupta, soltando um longo suspiro.  

    — E-Eu acho que já estamos longe o suficiente. 

    Em resposta, Kazuki e Rei que estão ao lado, apenas assentem com a cabeça em sinal de concordância. 

    O garoto começa a examinar de certa distância toda a área, e Kazuki, vira-se até as crianças que estão na parte de trás da carroça. 

    — Acho que podemos parar para descansar agora, já passou um bom tempo… Bora lá — aponta o garoto, para uma parte da cachoeira. 

    “Mas que mundo louco mano…” 

    Pensa. 

    Virando-se para trás, o garoto nota que Mia e Takayo ainda estão abalados, o estudante diminui o tom de sua voz e sussurra baixo em suas direções.

    — Então… Sinto muito pelo que aconteceu, vocês precisam de alguma ajuda? 

    Kazuki que está a abraçar Mia e Takayo, olha para Rei, e com uma sombra de sorriso leve enquanto seus olhos estão sem brilho, declara. 

    — Estamos bem, não precisa se preocupar… 

    Mesmo que fosse uma realidade complicada, não há o que possa ser feito. Todas as vezes que tentava acolher pessoas que estavam em situações deprimentes, o garoto mais atrapalhava do que ajudava com suas palavras desleixadas. 

    No fim, talvez, a coisa mais importante nessas situações é “estar presente, e por perto.” 

    (…) 


    Após descerem a carroça, Kazuki segura Mia e Takayo, e conversam sobre algumas coisas, que não são possíveis de serem ouvidas por Rei, que está um pouco afastado. 

    O comerciante aproveitando-se da circunstância, aproxima-se do garoto que parece analisar todo o cenário, e observar a cada instante o céu avermelhado e nebuloso que escurece a cada minuto. 

    — O…Obrigado jovem, se você não tivesse me alertado naquela hora, eu não teria conseguido reagir a tempo… Obrigado. 

    Rei o olha de relance, e volta a prestar atenção no cenário, e pensar consigo mesmo. 

    — Não fiz isso por você… Fiz por mim e por meus amigos — responde com o tom de voz ríspido e rápido. 

    Após pronunciar essas palavras, a atmosfera torna-se novamente silenciosa, apenas o som da água que cai da cachoeira próxima é nitidamente ouvida. 

    O comerciante percebendo que o garoto não está disposto a conversar, e sua expressão parece não haver rastros de humor, volta-se para a carroça ao lado. 

    — Maldita guerra! Toda a minha mercadoria foi destruída… Maldição. Se eu soubesse que isso teria acontecido, teria ido para o reino dos elfos — declara impacientemente, enquanto chuta uma árvore por perto várias vezes. 

    A maior parte das mercadorias dele haviam sido destruídas, pela forma que marchava de forma acelerada. 

    Duas caixas de madeira, e um recipiente de mármore parcialmente quebrado, é o que sobrou de sua mercadoria. 

    (…) 


    Após Kazuki terminar a conversa que teve com as crianças, Rei, de maneira sorrateira, aproxima-se dele. 

    — Eai… Como foi? Você está bem cara?

    Kazuki, ao notar a sua presença, dirige seu olhar para ele, e lança um pequeno sorriso em sua direção. E declara calmamente, ainda incerto sobre tudo que aconteceu. 

    — Ainda estou sem conseguir processar tudo que rolou, porém, não posso demonstrar hesitação agora —  diz olhando para o garoto, que faz uma expressão cabisbaixa, e seus olhos são nublados de preocupação. 

    — As crianças precisam de uma figura materna agora, se eu demonstrar fraqueza ou medo, elas só se sentirão mais angustiadas… preciso fazer o papel de protetor nessas horas — acrescenta. 

    Ainda com o tom de sua voz baixo e apologético, o homem mantém sua postura, e por fim, questiona o garoto. 

    — Aquela habilidade que você usou agora pouco, o que era aquilo? Senti a presença de energia divina. 

    “Bem… não adianta esconder isso agora.” 

    Pensa Rei, que havia planejado inventar alguma desculpa, mas apenas decide agir abertamente, como sempre. 

    — Sabe aquele demogorge gigante de antes? Quando eu matei ele, consegui muita experiência, evolui alguns níveis, e obtive algumas habilidades e talzs.

    — Quando o lorde demônio ou seja lá que infernos aquilo era, usou aquela habilidade de fogo que quase acertou a gente, eu ativei essa habilidade de relance sem saber se iria funcionar mesmo. 

    — E olha que deu certo… Apostei nisso, hehehe. Caso contrário, estaríamos mortos agora. Parece que aquela coisa não era tão forte assim — Termina de falar soltando um pequeno riso. 

    Assim que percebe o quão inconsequente era rir de algo que matou várias pessoas, e criou um verdadeiro caos na pequena cidade, o garoto finaliza dizendo.  

    — Foi mal, acabei rindo um pouco da situação. 

    Kazuki não liga muito para isso, durante todo o tempo em que esteve com Rei, ele já estava acostumado com o seu comportamento. 

    — Está tudo bem, não precisa de preocupar com isso… Em fim, queria te agradecer por salvar o Takayo e por salvar todos com a sua habilidade — agradece. 

    — Você está sempre nos ajudando, nem sei mais como te recompensar — diz, ao inclinar a cabeça em sua direção e o seu sorriso alcançar os olhos do garoto. 

    Com o rosto transbordando de emoção, o garoto esfrega timidamente a parte de trás da cabeça, não conseguindo impedir que a felicidade enchesse seu coração. 

    — N-Não foi nada. 


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