Capítulo 174 - Certo, X.
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A revelação de Círdan deixou Kazuki perplexo. Ele não conseguia imaginar como alguém que era da sua própria raça pudesse fazer aquele tipo de coisa.
O homem-fera cerrou os olhos e apertou a mão com força. Gotas de suor formaram-se em seu rosto, e sua expressão estava ligeiramente alterada.
Kazuki, que conhecia parte da situação política do reino, sabia que Svishtar estava localizada em uma região não muito longe da capital do reino dos homem-fera, Zefry.
Era de conhecimento comum esse fato para todos no reino. Os elfos que habitavam nessa região não eram aliados e nem inimigos, pertenciam a uma facção pacifista.
Entretanto, ainda continuavam sendo elfos. Poderiam representar uma ameaça caso alguém não tivesse boas intenções, o famoso ditado “Não cutuque uma onça com vara curta” parecia entrar no caso.
— Você está dizendo que alguém causou tudo isso propositalmente. E que provavelmente tenha sido uma pessoa forte o suficiente que veio da capital. — Quando o estudante terminou sua declaração, Círdan balançou a cabeça e concordou.
Nesse momento, o garoto revirou toda a sua memória para encontrar um vestígio de informação, no intuito de achar uma justificação para o comportamento atípico dessas pessoas.
— A igreja de… Querpyn, talvez? — levantou a possibilidade.
— Ah, não pode ser… Eu não duvido que eles possam estar atrás desses incidentes infelizes. Você não disse que alguns dias atrás alguns de seus membros estavam atacando os aldeões de um pequeno vilarejo nas proximidades?
— Sim, Círdan! Aqueles filhos da puta estavam queimando as pessoas vivas, eles eram realmente uns babacas. Antes do líder deles morrer, ele disse que os representantes da igreja iriam vingá-lo — respondeu Rei.
Kazuki franziu a testa e tentou suprimir sua raiva e irritação, e declarou com os punhos ainda fechados: — Eles foram longe demais caso tenham destruído mesmo a barreira.
A personalidade tranquila de Kazuki, mesmo em momentos de raiva e tensão, impediu ele de omitir comentários maliciosos que queria fazer, mas a leve curva no canto da boca dele disse muito mais do que cem palavras poderiam.
— Entendo, mas mesmo que seja a igreja de Querpyn, isso não justifica o porquê deles terem destruído a barreira! Mesmo que sua hipótese faça sentido, Reiji, o que eles ganham fazendo isso? Temos que levar em consideração que eles não sabem quem matou os seus membros. Atacar sem uma razão ou prova os elfos, afetaria muito mais as relações políticas.
— Não faço ideia, cara. Tipo, do jeito que eles são loucos, eu não duvido que eles ataquem sem ter uma prova! Você ainda espera o mínimo de senso desses desgraçados? Eles devem ter comido cocô de cachorro quando eram crianças. Filhos da puta.
Rei não poupou palavras, ele disse tudo que estava em sua mente sem nenhum filtro. As suas palavras eram grossas e transbordavam todos os piores sentimentos possíveis, mas acima de tudo, transmitiam sinceridade.
Círdan soltou um suspiro e pensou: “Não vamos chegar a lugar nenhum com essa conversa. Fico surpreso em saber que talvez a igreja de Querpyn esteja envolvida com a destruição da barreira, mas não podemos fazer nada. Precisamos pensar no futuro primeiramente.”
— Você me procurou de manhã, o que você queria?
— Ah, sim…
Após ouvi-lo, o elfo sentou-se em uma cadeira próxima. Ele inclinou sua cabeça para o lado e posicionou sua mão até o rosto, como se estivesse fazendo um sinal de seriedade.
— Você sabe que aqui não é mais um lugar seguro, ainda mais depois que você usou a sua habilidade de cura.
— Então você ficou sabendo.
O estudante respondeu coçando a parte de trás da cabeça, sentindo-se um pouco envergonhado.
— Com todos chamando-o de “santo” e “salvador”, acho que era difícil não ficar sabendo, não acha?! Mas essa não é a questão agora. Você sabe que não ficará seguro se permanecer aqui, e nem se for para a capital.
— Mas ironicamente, a sua melhor opção é ir para a capital. Se você permanecer aqui, tenho certeza que viram pessoas buscando por você. Vejamos, com isso em mente, eu conversei com o Matsuno e ele concordou em levá-lo até a capital em segurança. — No momento em acabou com a declaração, ele ajeitou a postura e fixou seu olhar no rosto do estudante.
Por outro lado, Kazuki não parecia nada feliz com aquele comentário. Ele sentiu como se Círdan estivesse pedindo um favor para Matsuno.
— Espera, o que você quer dizer com isso, me levar em segurança até a capital? Está falando sério? Eu já pretendia acompanhar o grupo de escolta, mas você precisou conversar com ele pessoalmente? — As palavras do estudante foram educadas, mas com seu tom e atitude, foi praticamente um deboche.
— Bem, acho que você não compreendeu. Na viagem até a capital, ele estará protegendo pessoalmente você e seus aliados, sem que nenhuma adversidade aconteça.
[Isso não é muito diferente do que uma babá.]
Elfina comentou, sem conseguir esconder as risadas em seu tom de voz.
“Ficou em silêncio até agora para falar esse tipo de coisa? Bem, mas você tem razão. Isso não é diferente do que ter uma babá…”
— Ah…
O estudante soltou um suspiro, sem saber ao certo o que responder. Ele não estava tão contente com essa notícia, mas não queria dizer diretamente, para não parecer ingrato.
— Ele não precisa de mais proteção. Eu sou o suficiente.
O comentário de Kazuki reverberou na atmosfera, a sua voz firme conseguiu chamar atenção de todos que estavam naquela sala. Automaticamente todos os olhares foram direcionados para a sua figura, e ele olhou momentaneamente para baixo, envergonhado pela forma como agiu.
— Ah, claro. Certo… — comentou Círdan.
Em seguida ele disse com um pouco mais de cautela:
— Não pensem demais nessa situação, ele só estará protegendo vocês até a capital. Pensem nisso como uma medida de defesa aprimorada, eu conheço muito bem o Matsuno.
— A princípio, pensei que o meu favor seria recusado sem ele pensar duas vezes. Por incrível que pareça, ele acabou aceitando sem nenhuma exigência, chegou a sorrir.
— Ele aceitou sem pensar duas vezes? — indagou o estudante, confuso com aquele comportamento.
Continua…
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