Capítulo 175 - Olho do mundo, X.

❖ ❖ ❖

Só de imaginar aquela cena, de repente arrepios foram sentidos nas costas de Círdan, que conhecia Matsuno desde quando o rapaz ainda era uma criança pequena. 

A imagem de Matsuno sorrindo no momento em que aceitou o pedido de seu velho amigo, deixou Círdan perplexo e sem reações. O elfo não sabia a razão daquele comportamento atípico, levando em consideração que a poucos dias atrás, o cavaleiro negro estava passando por um momento de infortúnio em sua vida. 

Então, no final, ele não compreendeu como a atitude daquele homem de repente mudou — era quase como se fosse outra pessoa. 

Embora não fosse sempre assim, em algum momento, as palavras de Matsuno começaram a transbordar indiferença e frieza, seguidos de um sentimento e humor amargo em seu rosto. 

— Ele simplesmente aceitou? — o estudante perguntou, surpreso com Círdan.

Por outro lado, Kazuki não parecia nada feliz com aquela sentença de decisões. Ele colocou um braço possessivo caído sobre o ombro de Rei. 

O estudante não entendeu o comportamento súbito de Kazuki, mas não disse uma palavra em resposta. Não era como se não estivesse gostando daquela atitude repentina, a sensação dos músculos firmes do braço do homem-fera sobre a sua pele, isto sim era algo que ele nunca se cansava de receber. 

— Sim, além disso, ele me pediu para que você o acompanhasse nas linhas de frente. Eles estarão partindo agora de tarde, melhor vocês se apressaram. 

Após o elfo dizer isso, Kazuki esfregou o queixo com seu dedo indicador e o longo dedo polegar enquanto estava perdido em pensamentos. Na visão de Rei, talvez ele estivesse achando toda essa situação absurda demais para ser real, embora não estivesse demonstrando seus verdadeiros sentimentos. 

Por outro lado, no momento em que ouviu o comentário de Círdan, uma minúscula parte do subconsciente de Rei disse imediatamente: “Ele está fazendo isso para vê-lo”.

“Não é possível”

O estudante até tentou negar apressadamente as vozes de seu subconsciente, pois a ideia era absurda. Não fazia sentido. No entanto, o seu subconsciente zombou dele, alto, orgulhoso e rabugento. Em reação, o garoto ficou ligeiramente vermelho com seus tolos pensamentos impertinentes. 

— Certo, vamos fazer como você disse. Se eu estiver na linha de frente, não vou ter que me preocupar com os outros refugiados, que ficaram me chamando de santo, salvador e… essas coisas. Chega a ser meio vergonhoso. — Rei disse em resposta, com o tom de voz um pouco mais baixo que o habitual. 

Nesse momento, os elfos voltaram dos cofres de Svishtar com artefatos e itens mágicos em suas mãos. Lorde Zash estava segurando dois jarros de mármore com pequenas figuras estranhas desenhadas em sua superfície. 

Em comparação com os itens dos outros elfos, esses pequenos jarros pareciam conter muito mais energia e mana, possivelmente poderiam ser classificados como únicos ou de grau A. 

Assim que chegaram no cômodo, Rei e Kazuki se levantaram da cadeira e foram diretos para a porta. Depois daquela breve conversa, o estudante não veria Círdan por um longo período de tempo. 

— Espera um minuto. — Círdan pediu, antes que o estudante pudesse sair do cômodo. 

Ele então caminhou até um dos elfos, murmurou baixinho algo em seu ouvido e pegou um item que o mesmo ofereceu. Essa ação durou menos de 10 segundos, e quando terminou, Círdan foi até o Rei e estendeu a mão. 

— Gostaria de te agradecer por tudo que fez até agora. Sei que não é muito, mas aceite esse item! Assim como Terqueo que ofereceu-lhe os seus tesouros por tê-lo salvo, eu também não posso ficar de fora. 

Círdan disse com uma voz inexplicavelmente calma e honrosa, suas palavras transbordavam uma gratidão que não poderia ser medida em palavras comuns. 

Embora estivesse sendo amigável e gentil, seu olhar estava ressentido e carregava uma extrema relutância, não pelo fato de estar deixando um artefato que considerou como um segundo coração, mas por saber que o estudante estava partindo. 

Ainda que a percepção de tempo não significasse muito para os elfos, eles ainda tinham os mesmo sentimentos dos humanos. Por isso, raramente os elfos se envolviam com outras raças, pela simples razão de vê-los submetidos ao tempo. 

Era difícil conviver com uma pessoa que ao longo da vida nasceu, cresceu, envelheceu e por fim morreu. Levando em consideração que aquele mesmo elfo permaneceu com a mesma aparência durante centenas de anos, tendo que observar o ciclo da vida terminar inúmeras vezes. 

O artefato que estava nas mãos de Círdan era um pequeno anel com runas envoltas, no centro dele estava posicionada uma pedra vermelha escarlate, uma coloração muito mais intensa do que a própria palavra “vermelho” deveria significar. 

As runas entalhadas no interior do anel pareciam pulsar como se tivesse vida própria. No momento em que pegou o anel, o estudante sentiu um calafrio que percorreu sua espinha, como se estivesse em um sonho lúcido, um momento que fugia da sua própria compreensão.

A aura mágica daquela relíquia parecia fundir-se com seu ser, criando uma conexão profunda, diferente de quando conseguiu o livro arcano. 

Quando colocou o anel em seu indicador, ele não demorou para ajustar-se perfeitamente na medida correta em seu dedo. E, como uma reação imediata, o seu corpo parecia revitalizado, enquanto sua respiração parecia muito mais estável do que antes — houve um aumento no poder de atributo.

「Sistema」

「Aumento em atributos」

『300 de Vida』

『50 Vitalidade』

『50 Defesa』

『50 Sabedoria』

Na hora em que viu o aumento dos atributos, inadvertidamente o rosto de Rei ficou pálido. Ele não pôde acreditar naquele aumento exponencial em seus atributos, aquelas estatísticas eram insanas demais para ser realidade. 

Ele se perdeu no momento por um instante, antes de contorcer os lábios em um sorriso torto e olhar para a tela do sistema novamente. Rei não conseguia prestar atenção em seus pensamentos corriqueiros, enquanto tentava ao mesmo tempo concentrar-se. 

Em comparação com o anel de Amahabele, que estava alocado em seu dedo do meio, o total que todos os seis atributos que ele dava não passava de 50. 

Continua…