Capítulo 178 - Vá na frente, X.
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A presença de Matsuno foi o suficiente para impressionar pela primeira vez Rina e as crianças, que olharam com admiração para aquela figura majestosa. Na visão deles, aquela cena até parecia uma parte tirada de um conto de histórias — um cavaleiro perfeito chegando com seu cavalo para salvar a princesa.
Embora não existisse uma princesa, quem estava lá era o estudante, com um olhar de surpresa no rosto e um semblante estático, como se tivesse visto um espírito.
Tyrant, que tinha conhecido aquele homem na noite anterior, logo entendeu o que estava acontecendo pelas entrelinhas. Entretanto, ela permaneceu em silêncio enquanto observava a situação como uma figurante.
— Opa, você chegou.
As botas do comandante não fizeram ruído quando ele se aproximou. Como sempre, Matsuno cheirava muito bem, seu aroma era bom. Familiar, da terra. Parecia um traço de outono que perdurava no ar parado e úmido, misturando-se ao cheiro da vegetação silvestre entre as estradas que marcavam uma trilha.
O cavaleiro negro comentou rapidamente após descer do cavalo para cumprimentá-los. No momento seguinte a isso, ele tirou o elmo da cabeça, revelando seu cabelo curto que tinha a mesma coloração dos seus olhos rubis.
Se não fosse por pertencer a uma família nobre de renome, a sua aparência facilmente seria confundida com vampiros ou demônios do alto escalão do outro lado do continente, Artys.
Por conta desse detalhe, ele constantemente usava seu elmo para esconder seus traços que eram considerados incomuns e fora da curva para a sociedade, ainda mais no reino dos homem-fera, que qualquer coisa causava desconfiança desnecessária.
— Matsuno? Era você que estava me esperando? — perguntou Rei, voltando-se para ele. Apesar da surpresa leve em seus lábios, os olhos dele evidenciavam uma ligeira alegria que emanava de seu brilho.
O homem balançou a cabeça. Talvez por isso ele tenha deixado o momento perdurar um pouco, antes de responder.
— Sim, eu mesmo. — Ele deu um sorriso de lado, então fez contato visual. — Pensei que Círdan havia avisado. Ele me pediu para cuidar de você, meu rapaz.
Embora estivesse sendo educado, a forma como sua resposta soou parecia arrogante. Por conta disso, Kazuki se impediu de falar e manteve uma postura defensiva, encarando-o fixamente.
— Bem, eu agradeço por aceitar então. Espero que consigamos chegar na capital em segurança, visto como está uma confusão desde que essa maldita guerra começou. — O estudante comentou firmemente, tentando não demonstrar suas emoções facilmente. Seu olhar neste momento estava voltado para os refugiados que estavam sendo alocados para as carruagens de madeira.
O mundo nadava em uma névoa espessa e fuliginosa. Não havia razão nem sentido, apenas raiva e arrependimento em muitos dos refugiados. Um sentimento profundamente enraizado nos recônditos de suas mentes, cujos tentáculos se contorciam como ramos de uma videira e transpassavam um âmago fétido.
O cavaleiro voltou o olhar para a mesma direção em que o garoto estava olhando. Ele prestou atenção em todos os indivíduos que estavam andando. Tristeza, alegria, arrependimento e esperança. Todas essas emoções podiam ser sentidas pela maneira como andavam e suas comumentes expressões faciais.
— É, espero que tudo isso se resolva.
No momento em que Matsuno concordou, uma faísca do sol poente iluminou a perfeita simetria das suas afeições, seus olhos vermelhos-intensos faiscando à luz dourada. O efeito ocorreu como se fosse cronometrado, e o estudante e seus companheiros olharam-no distraídos. Eles prestaram tributo à vaidade dele antes de perceber as suas reações.
— Onde vamos ficar? — indagou o estudante, desviando seu olhar do rosto do homem que mais parecia reluzir em uma beleza ancestral.
— Vocês irão me acompanhar no lado da frente. Os refugiados ficaram na região do meio, sendo defendidos pelos outros soldados que ficaram na dianteira.
Após ouvir aquela explicação, a sobrancelha da vidente franziu. Ela deu um passo para frente e entrou na conversa entre os dois rapazes.
— Vocês podem ir na frente, mas prefiro ficar na carruagem junto com os outros refugiados.
Ela simplesmente disse. Em meio às suas divagações, a menina pensou que seria melhor permanecer entre os refugiados, visto que estavam sendo protegidos por todos os lados possíveis.
A hipótese dessas pessoas serem atacadas eram mínimas. Além disso, estar no lado da frente significaria correr perigo. Os soldados estariam ocupados em combate.
— Tyrant, o que você…
A princípio, Rina não entendeu a decisão atípica de sua companheira. Somente depois de analisar as suas palavras, e notar como a vidente não recuaria dessa escolha, que a menina entendeu a linha de seu pensamento.
— Certo, vamos ficar aqui — Rina concordou momentos depois, com um olhar reluzente em confiança.
Matsuno ficou sem entender como aquelas crianças que não aparentavam ter mais de 13 anos, poderiam ser capazes de analisar a situação tão bem e responder logo em seguida.
— Tyrant… você tem certeza? — indagou Rei.
— Não estou duvidando da força que vocês possuem, nem sobre a sua segurança, mas caso ocorra uma emboscada, o lado da frente será o primeiro a ser atacado. Eu não tenho como me defender, não tenho habilidades ofensivas ou defensivas! Seria inútil eu permanecer desse lado, sendo que as carruagens dos refugiados estão sendo mantidas em segurança — respondeu ela, levando em consideração todas as complicações dessa escolha.
O comentário da vidente incitou um sentimento de insegurança em Mia e Takayo, que olharam para os lados assustados e com medo que mais alguma coisa pudesse acontecer — assim como ocorreu no vilarejo, onde os pais do garoto morreram tragicamente.
Apenas esse fator deixava-os apreensivos com a ideia. Esta era a primeira vez que eles estavam saindo desde o último incidente, nada poderia acontecer. Suas mentes não aguentariam.
Devido a isso, as crianças optaram pela segurança, eles não tinham confiança em ficar no lado da frente. Ainda que estivessem acompanhados de Rei e Kazuki, que eram fortes o suficiente para matar qualquer criatura da região.
As duas crianças deram alguns passos para trás e ficaram atrás de Rina e Tyrant.
— Bem, parece que eles também querem ficar conosco. Vocês podem ir na frente.
Continua…
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