Capítulo 23 - Laili? X
Antes que pudesse responder o comentário de Rei, pegadas são ouvidas a distância, próximo das árvores que contornam a carroça do comerciante.
As folhas secas na superfície do chão começam a se estalar e intensificar à medida que são pisadas por algo ou alguém.
A noite presente só recobra a atenção das pessoas por perto, que ao perceberem algo de incomum redobram as suas guardas.
— Ouviu isso? — indaga Kazuki, com o olhar afastado, fixado nas árvores ao redor.
Com a visão na mesma direção, o garoto responde momentos depois: — Sim… parece que tem algo de errado.
O estudante pensa que talvez seja a aproximação de animais ou criaturas atraídas pelo odor da carne, ou por conta da iluminação da fogueira: Em meio às circunstâncias, seria previsível tal dedução.
Observar o ambiente ao redor faz Rei pensar momentaneamente no quão sombrio e perturbador aquela floresta é ao anoitecer.
Todas as vezes que a ventania bate na vegetação, o som do farfalhar das folhas dos arbustos e árvores resulta em um barulho parecido com o ruído de inúmeras vozes ecoadas: Como em plantas como o bambu, a ventania faz o caule dobrar, provocando um estalo instantâneo.
Além daquilo, o resto do lugar é frio, cheio de insetos e parcialmente iluminado pela lua e estrelas na atmosfera.
Se não fosse a fogueira que ilumina toda a região e espanta os insetos, e possivelmente algumas serpentes, certamente eles estariam em dificuldade.
Neste momento, uma alta voz vinda das árvores é ouvida, cortando os ares: Ela faz a atenção de todos se voltar para a sua direção.
— Com licença.
— Estivemos observando por um tempo… e… gostaria de perguntar, poderíamos nos juntar a vocês?
A voz feminina parece suplicar com a voz rouca, e mesmo que estivesse longe, ainda é possível ouvi-la com clareza.
Rei entreolha Kazuki e acena, em seguida responde com outra pergunta: — Por que você não aparece e pergunta isso diretamente? Está com medo que façamos algo?
Antes que pudesse responder, a dona da voz feminina começa a tossir com certa dificuldade.
— N-Não é bem assim… peço desculpas pelo meu comportamento inapropriado, vamos nos aproximar.
Após uma breve pausa, a silhueta de quatro pessoas que estão na floresta aparecem, elas caminham entre as árvores e raízes tortas até se aproximarem da fogueira.
Com a iluminação do fogo, vê-se ao todo a figura de quatro homens-fera.
Suas roupas estão em péssimo estado, retalhadas e despedaçadas, sendo possível até mesmo notar alguns ferimentos de sangue seco e marcas de garras do peito para baixo.
“Como eles conseguiram andar nesse estado até aqui? Mesmo com a fogueira, estamos congelando de frio…”
Surpresa e dúvida vêm a mente de Rei em formato de pensamentos, como uma espécie de tentativa para tentar entender o que havia acontecido.
“Possivelmente essas pessoas estão na mesma situação que a nossa, tiveram que fugir da vila e adentrar à floresta, ou algo parecido.”
— Bem, vou perguntar novamente: Poderíamos nos juntar a vocês? — Tomando a liderança novamente, a mulher pergunta com receio e um olhar fixo sobre eles.
Sua voz rouca e falha dá a ligeira impressão que isso reflete a sua personalidade.
— Sim, fiquem à vontade. — Kazuki imediatamente responde, com um olhar de inquietação.
— Muito obrigada, eterna gratidão! — Satisfeita com a resposta, ela dá um sorriso e senta-se na superfície do chão, juntamente com o restante dos seus companheiros, de modo a ficarem sobre o entorno da fogueira.
(…)
Momentos depois, com o grupo reagrupado, a mulher que parecia hesitante antes, pôs se a falar.
— Espero que não se importe que pergunte, mas vocês poderiam compartilhar alguma comida? Andamos por algum tempo e não conseguimos encontrar nada além de frutas e plantas comestíveis.
Após soltar um suspiro profundo, com inúmeros pensamentos em mente, Rei percebe que ainda há muita carne sobrando na bancada.
— É mesmo? Certo, tudo bem.
— Comam à vontade, tem muita carne sobre aquela bancada — aponta para o local. — Vocês só precisam fritá-la na churrasqueira que ainda está acesa.
Ao escutar a fala do garoto, eles apenas agradecem e acenam com a cabeça, lançando um tipo de cumprimento.
Após um tempinho, levantam-se e caminham até a bancada e começam a fritar a carne.
(…)
Com a atmosfera silenciosa, o homem fera aproveita para cortar a tensão.
— Qual seu nome? — Kazuki volta a sua pergunta para a mulher que ainda está sentada no chão, próximo a eles.
Seu cabelo é castanho claro amarrado sobre um longo rabo de cavalo, e sua pele branca ressalta as suas feições: provavelmente tendo entre 25 a 27 anos.
Sua vestimenta em parte está rasgada, e sua cintura para baixo está inteiramente preta, como se tivesse queimado: Ao ponto de quase se desmanchar ao menor toque possível.
Com os olhos esverdeados fixos na fogueira enquanto aproxima as mãos para aquecê-las, ela revira seus olhos em direção à Kazuki e Rei.
— Meu nome é Laili. Peço perdão pelo que fizemos, chegamos aqui e pedimos comida sem nem ao menos nos apresentar.
— Não se preocupe com isso, toda a situação está um caos aparentemente — responde Kazuki.
— Sim… Eu… eu realmente sinto muito por incomodar vocês, mas não sabíamos mais o que fazer. — Laili diz olhando para as suas mãos pálidas.
— É natural que pense assim nessa situação, vocês por acaso são de alguma vila próxima daqui?
— Suas roupas estão inteiramente queimadas e rasgadas, com marcas de garras… Vocês por acaso tiveram que lutar com algum demônio? Como por exemplo, um demogorge? — pergunta Kazuki.
Uma vez terminado de escutar a dúvida, a mulher coloca suas mãos juntas sobre o cotovelo, e após alguns segundos de reflexão, ela responde de forma hesitante.
— Bem, infelizmente tivemos o desprazer de encontrar algo parecido. Na hora, não consegui acreditar nos meus olhos! Pensei que talvez eu estivesse morta, e tudo que estava acontecendo era alguma penitência divina, ou até mesmo o inferno!
— A situação estava saindo rapidamente do controle, se não fosse a ajuda de alguns refugiados que estavam conosco, estaríamos todos mortos.
Continua…
Kazuki

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