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    Antes que pudesse responder o comentário de Rei, pegadas são ouvidas a distância, próximo das árvores que contornam a carroça do comerciante. 

    As folhas secas na superfície do chão começam a se estalar e intensificar à medida que são pisadas por algo ou alguém. 

    A noite presente só recobra a atenção das pessoas por perto, que ao perceberem algo de incomum redobram as suas guardas. 

    — Ouviu isso?  — indaga Kazuki, com o olhar afastado, fixado nas árvores ao redor. 

    Com a visão na mesma direção, o garoto responde momentos depois: — Sim… parece que tem algo de errado. 

    O estudante pensa que talvez seja a aproximação de animais ou criaturas atraídas pelo odor da carne, ou por conta da iluminação da fogueira: Em meio às circunstâncias, seria previsível tal dedução. 

    Observar o ambiente ao redor faz Rei pensar momentaneamente no quão sombrio e perturbador aquela floresta é ao anoitecer. 

    Todas as vezes que a ventania bate na vegetação, o som do farfalhar das folhas dos arbustos e árvores resulta em um barulho parecido com o ruído de inúmeras vozes ecoadas: Como em plantas como o bambu, a ventania faz o caule dobrar, provocando um estalo instantâneo. 

    Além daquilo, o resto do lugar é frio, cheio de insetos e parcialmente iluminado pela lua e estrelas na atmosfera. 

    Se não fosse a fogueira que ilumina toda a região e espanta os insetos, e possivelmente algumas serpentes, certamente eles estariam em dificuldade. 

    Neste momento, uma alta voz vinda das árvores é ouvida, cortando os ares: Ela faz a atenção de todos se voltar para a sua direção. 

    — Com licença. 

    — Estivemos observando por um tempo… e… gostaria de perguntar, poderíamos nos juntar a vocês? 

    A voz feminina parece suplicar com a voz rouca, e mesmo que estivesse longe, ainda é possível ouvi-la com clareza. 

    Rei entreolha Kazuki e acena, em seguida responde com outra pergunta: — Por que você não aparece e pergunta isso diretamente? Está com medo que façamos algo? 

    Antes que pudesse responder, a dona da voz feminina começa a tossir com certa dificuldade. 

    — N-Não é bem assim… peço desculpas pelo meu comportamento inapropriado, vamos nos aproximar.

    Após uma breve pausa, a silhueta de quatro pessoas que estão na floresta aparecem, elas caminham entre as árvores e raízes tortas até se aproximarem da fogueira. 

    Com a iluminação do fogo, vê-se ao todo a figura de quatro homens-fera. 

    Suas roupas estão em péssimo estado, retalhadas e despedaçadas, sendo possível até mesmo notar alguns ferimentos de sangue seco e marcas de garras do peito para baixo. 

    “Como eles conseguiram andar nesse estado até aqui? Mesmo com a fogueira, estamos congelando de frio…” 

    Surpresa e dúvida vêm a mente de Rei em formato de pensamentos, como uma espécie de tentativa para tentar entender o que havia acontecido. 

    “Possivelmente essas pessoas estão na mesma situação que a nossa, tiveram que fugir da vila e adentrar à floresta, ou algo parecido.” 

    — Bem, vou perguntar novamente: Poderíamos nos juntar a vocês? — Tomando a liderança novamente, a mulher pergunta com receio e um olhar fixo sobre eles.

    Sua voz rouca e falha dá a ligeira impressão que isso reflete a sua personalidade.

    — Sim, fiquem à vontade. — Kazuki imediatamente responde, com um olhar de inquietação. 

    — Muito obrigada, eterna gratidão! — Satisfeita com a resposta, ela dá um sorriso e senta-se na superfície do chão, juntamente com o restante dos seus companheiros, de modo a ficarem sobre o entorno da fogueira.

    (…) 

    Momentos depois, com o grupo reagrupado, a mulher que parecia hesitante antes, pôs se a falar. 

    — Espero que não se importe que pergunte, mas vocês poderiam compartilhar alguma comida? Andamos por algum tempo e não conseguimos encontrar nada além de frutas e plantas comestíveis.

    Após soltar um suspiro profundo, com inúmeros pensamentos em mente, Rei percebe que ainda há muita carne sobrando na bancada. 

    — É mesmo? Certo, tudo bem. 

    — Comam à vontade, tem muita carne sobre aquela bancada — aponta para o local. —  Vocês só precisam fritá-la na churrasqueira que ainda está acesa. 

    Ao escutar a fala do garoto, eles apenas agradecem e acenam com a cabeça, lançando um tipo de cumprimento. 

    Após um tempinho, levantam-se e caminham até a bancada e começam a fritar a carne.

    (…)

    Com a atmosfera silenciosa, o homem fera aproveita para cortar a tensão.

    — Qual seu nome? — Kazuki volta a sua pergunta para a mulher que ainda está sentada no chão, próximo a eles.

    Seu cabelo é castanho claro amarrado sobre um longo rabo de cavalo, e sua pele branca ressalta as suas feições: provavelmente tendo entre 25 a 27 anos. 

    Sua vestimenta em parte está rasgada, e sua cintura para baixo está inteiramente preta, como se tivesse queimado: Ao ponto de quase se desmanchar ao menor toque possível. 

    Com os olhos esverdeados fixos na fogueira enquanto aproxima as mãos para aquecê-las, ela revira seus olhos em direção à Kazuki e Rei. 

    — Meu nome é Laili. Peço perdão pelo que fizemos, chegamos aqui e pedimos comida sem nem ao menos nos apresentar. 

    — Não se preocupe com isso, toda a situação está um caos aparentemente  — responde Kazuki. 

    — Sim… Eu… eu realmente sinto muito por incomodar vocês, mas não sabíamos mais o que fazer. — Laili diz olhando para as suas mãos pálidas. 

    — É natural que pense assim nessa situação, vocês por acaso são de alguma vila próxima daqui? 

    — Suas roupas estão inteiramente queimadas e rasgadas, com marcas de garras… Vocês por acaso tiveram que lutar com algum demônio? Como por exemplo, um demogorge? — pergunta Kazuki. 

    Uma vez terminado de escutar a dúvida, a mulher coloca suas mãos juntas sobre o cotovelo, e após alguns segundos de reflexão, ela responde de forma hesitante. 

    — Bem, infelizmente tivemos o desprazer de encontrar algo parecido. Na hora, não consegui acreditar nos meus olhos! Pensei que talvez eu estivesse morta, e tudo que estava acontecendo era alguma penitência divina, ou até mesmo o inferno! 

    — A situação estava saindo rapidamente do controle, se não fosse a ajuda de alguns refugiados que estavam conosco, estaríamos todos mortos. 

    Continua… 


    Kazuki

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