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    Rei, olha para Laili, que a todo momento que fala parece querer dizer algo a mais, mas se contém engolindo as próprias palavras. Era esperado seu comportamento atípico. 

    A jovem teve que passar por uma situação de quase morte, e por pouco conseguira fugir com vida.

    O surpreendente mesmo, é como consegue relatar com certa naturalidade, apesar de omitir algumas informações.

    No ponto de vista de Rei, a jovem ainda é suspeita, pela forma como age constantemente, suas expressões e até o tom de voz hesitante. 

    Após presenciar que até pessoas normais, como aldeões, fazendeiros e comerciantes podem cometer atrocidades em prol da sobrevivência, todas as possibilidades de um cenário causado por ações sem um pingo de empatia são possíveis. 

    No fim, a única conclusão que pode-se chegar, é que: O ser humano inerentemente seja cruel e egoísta, visando a própria sobrevivência primeiramente. 

    Apesar de sua visão negativa, ainda existe um pouco de verdade em suas deduções. Entretanto, ele não pôde duvidar da coerência e avidez das falas de Laili. 


    Após a declaração da mulher, a atmosfera torna-se silenciosa, até que o restante dos seus companheiros voltam. 

    Com pratos de carne em mãos, eles entregam um a Laili, em seguida sentam em torno da fogueira, próximos à todos. 

    — Vocês são de alguma vila próxima? — pergunta Rei. 

    — Éramos de Tierney, uma cidade que ficava na parte costeira. Com a invasão, infelizmente ela acabou sendo devastada. — Uma das moças responde de imediato, sem hesitação.

    Rei solta um suspiro desanimado com o comentário, e olha para a jovem.

    No momento em que pensa profundamente sobre outras questões relacionadas, sua cabeça se enche de dúvidas. 

    Ele coloca suas duas mãos no bolso, pensativo. 

    Cadê o restante dos sobreviventes?

    Todos se refugiaram nas florestas ou conseguiram adentrar a capital? Mas e a estrada, ela não estava bloqueada?

    Outras vilas, elas talvez foram destruídas também…

    Será que o ataque não foi direcionado somente as cidades e vilas, mas também a todo o reino? E quanto a capital? Ninguém de lá vai ajudar?

    Antes que sua mente fosse lotada de perguntas e dúvidas desnecessárias, sua atenção é voltada para a fonte de voz ao lado. 

    — Espera, repete o que você acabou de dizer — solicita o comerciante, com a respiração contida e abrindo amplamente os olhos.

    Confusa com a reação repentina do senhor, a moça de cabelos pretos repete: — Erhh… Que a cidade de Tierney… não existe mais?

    — Como isso é possível? Inacreditável! A cidade de Tierney era para ser uma fortaleza impenetrável, como um posto de vigilância para inspecionar as costas marítimas. 

    — Caso houvesse um ataque ou movimentação estranha nos arredores, era para ser alertado para a capital e todas as cidades locais através do orbe de comunicação — ressalta o comerciante, com o tom de voz aflito e resignado, relutante com a informação.

    Ele não acredita que até mesmo uma cidade de renome, que perdurou por milênios, poderia ter sido destruída em um piscar de olhos. 

    Rei, que queria deixar soltar outro suspiro após ouvir a informação do comerciante, volta seu olhar para a moça de cabelos pretos, e indaga. 

    — Isso realmente aconteceu? Ela foi completamente destruída…? 

    Ao ouvir a fala do senhor e a pergunta do garoto, a jovem olha para Laili e o restante dos companheiros, e coloca seu prato no chão. 

    Em resposta, diz: — Sim, ela está… completamente destruída. 

    A maneira como falou, deu a impressão que estava hesitante em dizer mais sobre o assunto.

    Principalmente pelo tom de sua voz, que transpareceu raiva, tristeza e descrença ao mesmo tempo.   

    — É sério, a cidade inteira foi devastada? Que merda de situação, cara — declara Rei. 

    “Humm… Sobraram apenas 4 pessoas de uma cidade inteira? Beleza… mas de certa forma, não acredito. Com certeza mais pessoas conseguiram fugir. Ahrr! Bem, tanto faz… Não é da minha conta mesmo.”

    Após a fala de Rei, um dos homens do grupo de Laili começa a contar tudo que ocorreu. 

    — A vila de vocês também foi destruída? Quando estávamos caminhando, percebemos que vários vilas e cidades próximas da nossa estavam semi destruídas.

    — Fugimos da cidade de Tierney e seguimos a parte baixa do mapa, para não atrair a atenção indesejada de criaturas e demônios, até chegarmos aqui, na floresta de Heir. 

    — Não tivemos grandes problemas no percurso, o nosso objetivo era caminhar sorrateiramente pela floresta, até a direção da capital. No caminho, até mesmo conseguimos agrupar algumas pessoas que estavam perdidas, e na mesma situação. 

    — Estava tudo indo bem, até que… poha! As desgraças dos demônios apareceram — declara com raiva.

    O homem cerra seus dentes e aperta suas mãos com força, assim que lembra das memórias fatídicas que havia esquecido.

    Ao perceber a relutância de dizer algo a mais sobre o assunto, Laili continua a contar o relato do homem-fera. 

    — Há dois dias atrás, fomos atacados por alguns demônios que estavam por perto. Você por acaso já viu algum demônio adentrar a floresta de Heir? Tecnicamente, isso era para ser algo impossível! Não era para isso acontecer, isso não deveria acontecer.

    — O que? Por que isso não deveria acontecer? — pergunta Rei, confuso com a afirmação e indignação dela. 

    — Você… não sabe? — Laili solta um suspiro. — A floresta de Heir, apesar de ser um local que muitos dizem ser assombrado e sinistro, ainda é o lar de espíritos da natureza. 

    — Humm…

    — Mas o que isso tem haver com os demônios? Os espíritos impedem eles de virem aqui, ou algo assim? — pergunta Rei.

    Laili encara o garoto, e deixa algumas palavras saíram da boca. 

    — Sim, os espíritos da natureza deveriam afastar os demônios de chegarem aqui. A energia dos dois são opostas, e a floresta é como uma barreira natural, expelindo a entrada de criaturas que contém energia demoníaca, ou miasma no corpo.

    Continua… 


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