Capítulo 43 - Meu eu do passado, X.
Enquanto caminha em direção ao refúgio sem prestar atenção aos arredores, o garoto prossegue com a sua linha de pensamento.
“Que senhora mais doidinha, apesar de não falar coisa com coisa, eu ainda achei ela super simpática e legal. Espero conseguir encontrá-la algum dia, seria bacana bater um papo.”
“Pensando agora, ela havia dito algo sobre confiar nas pessoas, né? Bem, talvez eu realmente esteja relaxado com isso desde que cheguei aqui. Preciso tomar mais cuidado.”
“Tanto faz, vamos só voltar por agora, já está bem tarde, tarde o suficiente para quase amanhecer… droga! Acho que fiquei fora por tempo demais, Kazuki deve estar preocupado.”
『…』
Rei passa pelo portão do refúgio, adentra o seu interior e atravessa o corredor inicial até chegar próximo dos cômodos. Ele estranha a movimentação das pessoas que passam por perto, com expressões de ansiedade e pressa em seus olhares enquanto respiram pelas bocas.
“Até mesmo agora, chegam muitas pessoas da guerra por aqui, tanto os elfos quanto os humanos não parecem conseguir descansar direito.”
“A diferença entre a atmosfera do lado de fora é completamente diferente daqui, é como se todo o seu arredor estivesse denso, dificultando a própria respiração… ao menos é assim que me sinto.”
Pouco antes de chegar ao quarto em que está hospedado, o estudante vê Círdan, responsável administrativo e líder de todos os elfos daquele lugar, próximo da grande árvore branca.
Estando acompanhado de outros elfos, que vestem vestimentas simples e leves. Um pouco atrás deles está um senhor bem idoso, com cabelos grisalhos e uma aparência debilitada, sentado em uma maca no chão.
Ainda que estivesse observando de longe, nota que a perna daquele senhor parece estar em péssimas condições: Não bastando a pele danificada da cintura para baixo, a sua perna está dilacerada, sendo possível ver algumas artérias e veias que saltam para fora.
Por sua vez, os elfos tentam auxiliá-lo a todo momento, aplicando ervas e poções na ferida para estabilizar a sua condição frágil e severa. Alguns gritos do senhor acabam saindo involuntariamente, como se as poções e ervas estivessem causando um tipo de ardência momentânea, mas nada muito sério.
Círdan, em um ato final, aplica ataduras no ferimento e utiliza-se de uma magia tranquilizadora no paciente, acalmando-o até que o mesmo adormeça ainda na maca do chão.
O elfo então agradece pelo auxílio dos companheiros com um sorriso, que é recebido pelos mesmo com grande gratidão e alegria.
Em seguida, Círdan caminha de antemão para o corredor do lado, enquanto os outros elfos voltam às suas rotinas e dispersam-se para ajudar outras pessoas nos arredores.
“Será que ele está ajudando os outros daquela hora que cheguei no refúgio, até agora, sem descansar? Que loucura.”
“Ele parece exausto, ao ponto de quase desmaiar, como ninguém consegue perceber isso? Pra falar a real, por que ele está ajudando tanto?”
Declara em pensamentos Rei, observando atentamente o elfo.
Com aquela dúvida em mente, o garoto desiste de entrar no cômodo e começa a seguir Círdan. Aproximando-se dele, pôs-se a falar imediatamente.
— Círdan, espera um minuto…
Escutando o seu chamado, o elfo olha para trás e para de andar.
Nesse momento, Rei aproveita para questioná-lo diretamente, sem poupar palavras.
— Cara, qual o sentido em ajudar todos à sua volta dessa forma? Sério, qual o sentido nisso? Foi mal caso eu esteja sendo invasivo, mas na moral, eu não consigo te entender.
— Sim, sim, claro! Concordo com a ideia ao qual vocês pregam, em que as raças deveriam se unificar e deixar as guerras de lado, mas…
— Você não está levando isso a sério demais? Auxiliar as pessoas até chegar no estado em que está agora, mal se aguentando de pé. Você não está apenas se auto martirizando? — complementa.
Ouvir aquilo faz o elfo arregar ligeiramente os olhos em surpresa, apesar de não estar sequer um dia naquele lugar, o ponto que havia abordado foi certeiro.
— E-Então, como você pode ver, eu não estou muito bem no momento… Vamos nos sentar naquele banco? — Termina de falar apontando para o assento ao lado.
『…』
Momentos depois de sentarem, e o elfo descansar por um breve tempo, ele deliberadamente toma fôlego e começa a responder às dúvidas deixadas pelo menor.
— Agora, respondendo. Estou me auto martirizando? Sim, você não está errado.
— Mas deixa eu te pergunta algo, você sabe por que nós nos isolamos do mundo inteiro? — pergunta logo em seguida, com o tom de voz calmo e sereno.
— Por causa das suas ideologias?
— Em parte, sim. Entretanto, não é somente por isso.
Com a resposta curta mas direta, o elfo vira-se para o lado e começa a contar uma história de outrora, enquanto seu olhar está sobre a majestosa árvore do local.
— Há mais ou menos quinhentos anos atrás, todas as raças eram unificadas. Viviam em harmonia e organização mútua, e apesar das divergências culturais e morais, ainda assim era possível encontrar um ponto de equilíbrio entre todos. Cada pessoa complementava-se e contribuia de sua própria forma maneira na grande sociedade.
— Foi uma época boa, não vou negar. Era conhecida como “a era de ouro” — diz com um pequeno sorriso avista, ainda com a memória vívida na mente.
— Eu fazia parte dos 12 anciões da época, que mantinham a ordem e funções administrativas do povo, todos nós éramos responsáveis também pela diplomacia das raças.
Com uma expressão de surpresa no rosto, o garoto questiona um pouco assustado.
— Calma, quinhentos anos atrás? Espera, quantos anos você tem?
Círdan solta um pequeno riso ao perceber a expressão confusa de Rei, em seguida declara prontamente.
— Sim, nossa raça pode viver mais do que mil anos, mas depende bastante dos laços sanguíneos.
— Quantos anos eu tenho? Bem, fica em segredo — complementa, e uma expressão relaxada forma-se em seu rosto.
Continua…
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