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    — Voltando ao assunto… 

    Com a expressão relaxada no rosto, o elfo coloca uma de suas mãos no banco e volta a contar sobre um passado remoto em que as raças eram aliadas. 

    — A grande matriz dos acontecimentos foi quando houve um conflito entre a raça humana e a dos demônios. Em resumo, na época, foi alegado pelos humanos que a princesa Escarlet, do reino do sul, havia sido raptada pelos demônios. 

    — Após isso, houve uma intensa discussão entre o senado dos anciãos e líderes das respectivas raças, onde foi comprovado pela energia espiritual do mundo que a princesa, de fato, não havia sido raptada pelos demônios. 

    — Quando isso ocorreu, os humanos, por sua vez, desculparam-se com a sua honra em risco pela forma como agiram injustamente com os demônios. Sendo assim, aquele conflito resolveu-se pacificamente, ou era o que pensávamos na época… — E assim que termina com a declaração, um riso baixinho é solto.

    Ele então prossegue calmamente, ainda a manter o tom da sua voz indiferente. 

    — Eu era um dos poucos responsáveis pela diplomacia, mas acabei negligenciando a minha função por conta da minha própria arrogância. Pensei que, assim como outros problemas cotidianos, aquele era somente um pequeno desentendimento, e como antes, resolveria-se como qualquer outro de forma simples. 

    — Além dos meus subordinados que sempre me apoiaram, meus pensamentos foram a ponta do iceberg para me levar à queda. No fim, não consegui enxergar e consertar a situação claramente, devido ao meu ego inflado.

    Nesse momento, o estudante percebe que o elfo franze as sobrancelhas e a sua voz torna-se cada vez mais densa e irritada, como se aquele assunto fosse extremamente desconfortável para ser levado à tona. Apesar da forma que começa a falar, ele continua a contar todos os eventos, sem deixar nenhum detalhe para trás. 

    — Nossa raça infelizmente tem disso, preciso admitir que somos arrogantes até certo ponto. 

    — Não consigo me recordar daquela época, mas lembro que aconteceu um ataque planejado. Sinto muito Reiji, mas a minha mente ainda está nublada sobre os eventos daquele dia — comenta olhando para ele. — A única coisa que consigo lembrar foram os anciãos, que por algum motivo foram encontrados mortos no senado. Pouco tempo depois, houve um golpe de estado e os poucos que sobreviveram nesse desastre foram abandonados pelas raças que pertenciam. 

    — Por sorte, eu estava em um local afastado na hora com meus companheiros, e não acabei sendo alvo de retaliação. Caso contrário, eu seria apenas mais uma estatística, como os anciões — comenta com sarcasmo, com uma expressão de ironia no rosto. 

    “São muitas informações, não estou conseguindo acompanhar. Houve um golpe de estado, certo? Como assim os sobreviventes foram abandonados pelas raças que pertenciam?”

    “Na realidade, isso realmente importa? Eu perguntei sobre a sua ideologia de pacificação, provavelmente esta história tenha correlação entre isso? Bem, tanto faz.”

    Declara em pensamento o estudante, decidindo não interferir e somente escutar o que Círdan tem a dizer. 

    — Em contraste, as raças começaram a se juntar com as que mais tinham empatia e se dividiram. Os humanos foram para um lado, acompanhados dos elfos, anões e homem-feras. Em contrapartida, os demônios juntaram-se com os seus semelhantes, como os trolls e orcs. 

    Ele se perde em pensamentos por um momento antes de olhar para baixo e prosseguir. 

    — Até hoje, desconheço como as coisas seguiram esse rumo, nem como os anciões, dotados de grandes poderes e status políticos e sociais, morreram como se não fossem nada! Porém, eu tenho certeza de algo… em parte, a culpa foi minha. Se eu não tivesse negligenciado os meus deveres diplomáticos, possivelmente não estaríamos assim atualmente, afundados em guerras e conflitos. 

    — Naquele tempo, haviam muitos indivíduos de diferentes raças que ansiavam pela paz, não queriam que a união acabasse com o golpe de estado. Entretanto, eles tiveram que mudar suas ideias e seguir os seus respectivos líderes no momento em que perceberam que aquela causa seria em vão, e foram-se como um efeito manada. 

    Por fim, ele deixa de comentar sobre o passado e decide responder a pergunta inicial de Rei. 

    — Em resumo, eu e os muitos elfos que eram meus subordinados que estão aqui hoje, foram abandonados pela própria raça por não desistir dessa ideologia que há muito tempo foi considerada uma vertente social e ideológica política universal.

    — Espero que compreenda que, nosso isolamento é como uma redenção pelos nossos erros em não conseguir impedir as raças de se afastarem uma das outras — termina o pronunciamento, com um pequeno sorriso no rosto enquanto fixa o olhar no garoto ao lado. 

    Após escutar a história inteira de Círdan, o estudante compreende o porquê dos elfos daquele lugar serem tão gentis e compreensivos. Em suma, eles estão fazendo tudo isso apenas para tentar se redimir pelo passado, ou seus auxílios estão sendo verdadeiros, sem conseguir nada em troca dos refugiados?

    — Certo, mas que história longa… Então vocês foram exilados de sua própria raça por terem uma visão ideológica diferente, mas isso não soa um pouco extremo de mais? Tipo, os elfos não deveriam ser solidários? Claro que existe essa questão da arrogância, mas até mesmo chegar ao ponto de expulsar a própria raça?  — pergunta Rei. 

    — Certamente, pois este período é considerado um tabu, não se fala sobre o assunto. Afinal, muitos dos elfos da linhagem de sangue puro da alta sociedade pereceram após os ataques coordenados do golpe de estado. Todos causados pela raça dos trolls, que sentiam inveja pela sabedoria e aparência dos elfos. 

    — Tudo que esteja vinculado ou que transmita algo relativo aquela era, no ponto de vista da maioria dos elfos isso é considerado algo abominável — complementa Círdan, sem comentar mais nada. 

    —  Que pensamento ultrapassado, independente do que tenha ocorrido, isso ainda faz parte do passado da raça de vocês. Querer esconder algo que aconteceu é algo realmente infantil — reponde Rei logo em seguida, sem esconder o desgosto daquela atitude. 

    Continua… 


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