Capítulo 57 - A dor é a minha amiga, X
Com o olhar voltado em sua direção, a expressão do estudante torna-se um pouco confusa com a pequena figura com asas pretas à sua frente.
— O que é você? — pergunta, sem conseguir esconder em palavras o susto repentino.
— Haa…
— Quanto tempo passou desde que estive presa nesse caderno? Ahhh, não aguentava mais esse inferno… — comenta ela, com certo descontentamento.
— Se não fosse aqueles elfos idiotas, eu não teria ficado presa por mais de 1230 anos… — sussurra baixinho, antes de olhar para o garoto e analisá-lo da cabeça para baixo.
— Então, foi você? Você quem me libertou? É um prazer te conhecer, mestre. Meu nome é Elfina, e como você pode ver, obviamente você consegue ver, sou uma mainterne.
Sem entender o que está acontecendo, o garoto pergunta com certa surpresa: — Mestre? Mainterne?
— Você não sabe o que é, mestre? Os tempos realmente mudaram, mas que loucura.
— Enfim, de onde eu começo a explicar… Certo, certo. As mainternes são armas que podem se transformar e ter ego, podendo até mesmo pensar e ter sentimentos próprios.
— A princípio, as coisas nem sempre foram assim, no começo éramos só armas ou acessórios frequentemente usados pelos seres terrenos. Em algum momento, começamos a ter consciência e devido a isso, fomos usadas como armas e tals.
Após concluir a breve explicação, Elfina começa a pairar no ar e olhar para todos os arredores da floresta. Ela então fecha os olhos ao sentir o vento bater em seu rosto, com uma expressão de satisfação por finalmente estar livre.
— Você então era aquele livro e virou uma fada?
Imediatamente, assim que escuta isso, a expressão de Elfina muda rapidamente e ela volta seu pequeno olhar para o estudante.
— Que deselegante, mestre, por favor não me compare com aquela raça desprezível. Eles só sabem sonhar e viver em um mundo translúcido por insegurança de serem vistos pelos demais. Que coisa patética.
— Mas respondendo a sua pergunta, sim. Eu sou aquele livro, e se não fosse pelo seu sangue, eu não conseguiria me transformar. Fala sério, eu estava sem energia fazia séculos, eu só precisava de um pouco de sangue fresco — comenta em frustração, com as mãos cruzadas e um olhar perdido para longe.
— Deve ter sido complicado ficar isolada do mundo por tanto tempo… Mas, você antes comentou que era uma arma? E que eu agora sou seu mestre?
— Oh, sim, sim. Sim, mestre. Os requisitos foram completos, assim que senti o seu sangue escorrer pelo meu corpo, o contrato foi finalizado.
— Eu sou uma arma ofensiva de criação e, por você ter me desperto e usado do seu próprio sangue para me saciar, agora temos uma ligação de mestre e servo — explica com o seu tom de voz animado, sem conseguir esconder o rosto vermelho.
— Então temos essa relação agora… Nada mal — responde o garoto.
“Uma arma com ego? Está falando sério? Que daora.”
— Ainda que eu não tenha certeza de tudo que você falou, como eu faço para te usar como arma, Elfina?
— Oh, mestre… Sim, eu preciso. Se você quer me usar, e-eu… eu preciso de sangue — responde obcecada, com o olhar fixo no braço de Rei, que ainda tinha sangue escorrendo.
— Ah… é, beleza, aqui — diz com o braço estendido, após perceber a intenção de Elfina.
— Ah, mestre, sim, isso mesmo. Obrigada pela refeição.
Momentos depois de dizer isso, Elfina com o estalar de seus pequenos dedos usa uma magia para drenar todo o sangue que escorre da mão de Rei, concentrando-o em um tipo de bola de sangue que paira sobre o ar.
E, com uma simples movimentação de seu dedo, ela leva o sangue até a sua boca e o toma por inteiro, como se aquilo fosse um copo de suco pouco depois de seu líquido ser sugado por um canudo.
— Kyaaa. Incrível, magnífico, esplêndido. Estava muito bom, mestre — comenta em êxtase, com o rosto vermelho e a voz levemente alterada.
— Certo… Tem como você virar uma arma agora? — indaga o garoto, com o tom de voz desconfortável e sem entender a reação dela por beber apenas um pouco de sangue.
— Minhas sinceras desculpas, mestre, já fazia algum tempo em que eu não bebia sangue, acabei agindo de forma instintiva — comenta Elfina, depois de perceber a sua reação.
— Agora que eu estou carregada, consigo me oferecer-lhe todas as minhas habilidades por completo. — Dito isso, ela aproxima-se de Rei e se transforma novamente em um livro.
Diferente de antes, o livro inteiro parece se mexer, como se aquilo fosse um organismo vivo e em constante movimentação.
— Me abra agora — pede Elfina, em forma de livro.
Assim que escuta o seu comentário, Rei abre alguma página aleatória do pequeno livro. Quando ele inclina seu olhar para ver o seu conteúdo, ele nota que as folhas haviam mudado: as folhas tinham colorações diferentes umas das outras, além das inscrições e uma linguagem complementa desconhecida.
Esse padrão estranho parece se repetir, cada página contendo um idioma diferente com inúmeras figuras e descrições de feitiços e habilidades que ele nunca havia visto antes. Embora o seu conteúdo fosse de difícil compreensão, assim que Rei tenta entender o que está escrito em cada página, a complexidade parece diminuir e seu conhecimento aumentar.
— Meu senhor, agora você consegue ver? Deixe-me explicar agora o que você realmente precisa fazer. Cada folha é contêm uma série de encantamentos, feitiços e habilidades diferentes.
— Você só irá conseguir usá-las se rasgar a folha em que precisa da habilidade. Assim que a folha é rasgada, outra irá surgir de volta no lugar depois de algum tempo, então não precisa se preocupar muito com isso.
— Você não sente dor ou alguma coisa assim se eu rasgá-las? — indaga por sua vez Rei.
— Dor senhor? Ah sim… A dor me excita, ela é a minha amiga.
— Como?
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