Capítulo 62 - Obrigado pelo apoio, X
Quando o garoto finalmente chega no refúgio e abre a porta do quarto em que está hospedado com o seu companheiro, a primeira coisa que ele nota após abrir a porta é as costas de Kazuki, ainda acordado sentado próximo à uma poltrona.
Enquanto parte da lenha queima lentamente na pequena lareira do cômodo, a figura do homem-fera é refletida em meio aquela simples iluminação — com uma das pernas cruzadas ao passo em que lê um livro, que possivelmente é sobre armas e manejo de espadas, devido a ilustração de espada quebrada e nome peculiar na capa “estocadas rápidas”.
Embora a sua expressão estivesse calma naquele momento, no instante em que ele ouve o barulho da porta se abrindo, o rapaz levanta do assento e vira-se rapidamente para olhar o rosto do estudante.
Rei não esperava que ele ainda estivesse acordado, ainda mais naquele horário, tão tarde da noite, entre as três e às quatro horas da madrugada. Contudo, o que mais preocupa o menino é saber como explicar o que realmente aconteceu.
Além da roupa rasgada e ensanguentada, há também algumas contusões e ferimentos por todo o seu corpo. Quando ele sente o olhar fixo de Kazuki em sua direção, Rei decide contar tudo que havia acontecido, sem esconder algum detalhe.
— Rei?! O que aconteceu com você? — pergunta com o tom de voz elevado e preocupado, com as sobrancelhas caídas e franzidas.
Aproximando-se mais perto do menor, ele pergunta em seguida: — Você está bem?
— … Bem, mais ou menos. Aconteceu muita coisa nesse meio tempo em que estivemos separados.
Dito isso, ele então começa a relatar todos os acontecimentos daquele dia, desde a hora em que havia saído do quarto de Círdan com os novos itens, até o momento em que saiu para testar seu caderno, momentos depois de ser sequestrado por dois caras estranhos. Os mesmos homens pervertidos da tarde anterior, que queriam desesperadamente vingança pela humilhação que tiveram que passar.
À medida em aquela história é contada, mesmo tentando controlar a sua expressão no rosto, o semblante de Kazuki não parece melhorar, alterando-se entre raiva e tristeza a cada segundo que escuta os eventos que sucederam-se.
— Bem… foi isso que aconteceu. Que viagem, não acha? Se não fosse por aqueles caras que queriam vingança, as coisas com certeza seriam diferentes. Mas no final, eu tive que matá-los, era eu ou eles — relata com a voz calma, sem mostrar raiva ou rancor.
Depois de ouvir aquilo, há um momento de silêncio antes de Kazuki assentir e dizer: — Como eles… desgraçados — comenta em poucas palavras ele, ao tentar segurar a raiva apertando a mão com força, com uma veia quase saindo do rosto.
O estudante fica surpreso após escutar essas palavras — contudo, ele deixa um pequeno sorriso visível no rosto e retorna a conversa, antes que o homem-fera pudesse dizer algo a mais.
— Não precisa se preocupar com o que rolou. Eu estou bem agora, mas acho que fui bem descuidado em deitar e dormir em um banco sem olhar para o local direito.
Kazuki concorda e diz: — sim, você deveria ter mais cuidado de agora em diante. Até mesmo aqui, em uma região isolada, esse tipo de coisa ainda pode acontecer…
— Eh, sim. Então, de qualquer forma, eu preciso tomar um banho e deitar. Valeu por me ouvir até agora, você não sabe como isso me alivia, como se eu tivesse tirado um peso das minhas costas. Eu estava confuso se eu realmente devia tê-los matado.
Observando a hesitação nas palavras do estudante, Kazuki somente tenta o apoiar, visto que ele nunca havia matado um humano até aquele momento.
— Você não deveria colocar esse peso no seu coração. Apenas imagine o que teria acontecido se você não tivesse revidado… — aperta as mãos com força. — As coisas iriam acontecer da forma que eles queriam, então não se culpe por isso. No final, eles mereceram pelo que fizeram e pagaram com as suas vidas. Não digo que matar é certo, mas foi algo necessário nessa situação.
— Se pelo menos eu estivesse lá… você não teria que sujar suas mãos com esse tipo de coisa — comenta cabisbaixo, com sua mão no ombro do estudante.
— Eu… eu preciso sair agora, vou no banheiro e já volto. Preciso de um tempo para respirar e refletir um pouco sozinho. — Quando termina de falar, ele caminha apressadamente até um pequeno anexo do quarto, usado como banheiro.
— Certo…
Quando a porta é fechada do banheiro, ainda parado na mesma posição, Kazuki senta na beira da cama e começa a pensar no que acabou de ouvir de Rei.
“Como ele consegue tratar todo esse assunto com tanta calma e naturalidade? Fico feliz que ele tenha me contado sobre o que aconteceu, mas as vezes eu sinto que ele guarda muitos sentimentos dentro de si.”
“Me sinto ansioso sempre que ele está longe, meu coração começa a pesar só na possibilidade de algo dar errado… Hoje mesmo, não consegui dormir direito, preocupado em saber aonde ele estava.”
“Por que eu estou sentindo isso agora? A situação está uma bagunca total, a minha vila inteira foi destruída e sequer sei o que fazer de agora em diante…”
“Preciso parar de pensar sobre essas questões, isso só vai me atrapalhar… “
Declara em pensamentos, sem notar o coração acelerado.
•Minutos depois•
Assim que retorna para o cômodo novamente e sai do banho usando seu kimono de pijama, o garoto deita do outro lado da cama, contrário ao de Kazuki. Embora eles dividissem a mesma cama, ainda existia um limite de espaço para ambos — apesar de Rei sempre extrapolar esses limites quando estava dormindo.
Após deitar-se na cama, o garoto olha para o canto do cômodo e nota a presença de Mia e Takayo dormindo profundamente. Ele então lembra da conversa que teve com Kazuki, sobre a ajuda que elas estavam recebendo dos elfos.
— Eu espero que elas fiquem melhores.
— …
— Pensando agora, estou lembrando de ontem a noite… você esqueceu, não foi? O que acha de me beijar de novo?! — brinca Rei, olhando para os olhos de Kazuki.
— Ehhhh? Você não deveria brincar com essas coisas… — responde com o tom envergonhado, dando as costas para o estudante.
— Vendo você ficar todo vermelho, acho que eu consegui a minha resposta.
— R-Rei! Por favor, não me provoque…
Antes de dormir, o garoto acaba rindo da expressão nervosa do homem-fera e acaba comentando sobre uma última coisa.
— Lembra sobre a vidente na qual eu havia conhecido antes? Bem, eu tô pensando em encontra-la depois, para saber mais sobre o caderno que eu ganhei. Ela deve ser muito boa na previsão… — comenta ele com a voz sonolenta, pouco antes de adormecer.
— É melhor irmos juntos, então quando voc-
— Eh? Uh? Você já dormiu?
“Como ele consegue pegar no sono enquanto está falando? Ele deveria estar realmente cansado com tudo que ocorreu hoje…”
— Haaa… melhor eu ir dormir também.
“Ainda não consigo me acostumar em dormir ao seu lado…”
Afirma em pensamentos, sem desviar o olhar do rosto do garoto, pouco antes de cair no sono.
Continua…
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