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    De repente, uma voz hesitante é ouvida por Kazuki e Rei no meio da estrada — carregada com uma certa surpresa e elevação em seu timbre, como se tal pessoa tivesse visto algo da qual não deveria e não conseguiu esconder o espanto na voz. 

    — Jovens, o que estão fazendo?! 

    Rei então inclina seu olhar para o lado, sem acreditar na possibilidade de haver justamente alguém naquele local e naquela hora exata. “Talvez eu só seja muito azarado” pensa o estudante consigo mesmo, antes de olhar para o rosto do indivíduo. 

    Por um breve segundo, a raiva no rosto de Rei torna-se evidente — afinal, quando finalmente conseguiu trocar alguns beijos e carícias com seu companheiro, o momento não durou por muito tempo e ambos foram interrompidos inesperadamente. 

    Kazuki também está em uma situação parecida, ele não sabe o que fazer e como esconder o seu rosto manchado de vermelho, como um tomate prestes a explodir. Parecendo um adolescente pego em flagrante após cometer um pequeno delito. 

    E é nesse momento que os dois se afastam de perto um do outro e começam a pedir desculpas para a senhora, que não entende nenhum pouco o que está acontecendo ou o motivo daqueles dois estranhos estarem pedindo desculpas. 

    — Com licença, mas, como? Por que estão me pedindo desculpas, exatamente? Vocês estavam fazendo algo de errado, por acaso? 

    Após ouvir a indagação, o estudante move seu olhar para o rosto da idosa, confuso com aquelas perguntas proferidas.

    “Como? Você não acabou de ver o que fizemos? Talvez esteja tirando uma com a nossa cara…?” 

    Apesar dessa conclusão que vem espontaneamente em sua mente, depois de notar que os olhos da senhora são esbranquiçados e parecem afastados da realidade, a única conclusão ao qual consegue chegar é que aquela senhora é cega. 

    — Bom, pedimos desculpas por estarmos parados na estrada, então acabamos atrapalhando você de continuar o seu caminho, senhora.

    Acaba por mentir o menor, tirando vantagem da situação para inventar uma desculpa esfarrapada, sem deixar que a vergonha afetasse o seu senso. 

    — Humm. Certo. Está tudo bem, vocês não estão atrapalhando. Senti que havia alguém na estrada e acabei por perguntar, mas não esperava que realmente tivesse alguém por perto.

    — Eu jurava ter escutado alguns gemidos… provável que tenha sido minha imaginação, devo estar ficando velha… 

    Tanto Rei quanto Kazuki ficam nervosos assim que escutam o comentário dela, eles não sabem o que dizer daquele ponto em diante e o garoto apenas concorda com ela.

    — É, talvez seja isso.

    “D-Droga… por que você teve que aparecer justamente agora, minha senhora? Puta merda, que vergonha.”

    — A princípio, você está indo para o vilarejo que fica lá embaixo da estrada? — pergunta Rei, mudando de assunto rapidamente. 

    — Eu? Não, não estou indo para lá… não mesmo. 

    — Pelo contrário, estou saindo daquele pequeno vilarejo depois do que aconteceu hoje, não quero mais estar naquele lugar — reponde em seguida ela, com certa hesitação e nervosismo nas palavras. 

    — Por acaso vocês estão indo para lá?! — pergunta ela. 

    — Sim. 

    O rosto da senhora então muda de expressão após escutá-lo. Ela arquea a sobrancelha e junta as duas mãos, como em um sinal de oração quase desesperado. 

    — Eu não recomendo que façam isso. 

    — O quê? 

    — Por favor, não desçam até aquele vilarejo. 

    — Erhh… por quê? — pergunta um pouco confuso, sem entender o pedido pouco convincente da senhora. 

    — Aquele vilarejo está uma confusão nesse exato momento. Então peço que tomem cuidado com as pessoas de lá, a ignorância delas é algo de se espantar! Não esperava que essa geração fosse tão arrogante e mente fechada…

    As palavras dela são carregadas de ressentimento e tristeza, sendo notado pelo garoto imediatamente.

    — Sei que não expliquei muito do que está acontecendo, mas fica ai o meu aviso. Não me sinto apta para comentar sobre a situação, mas espero que vocês reconsiderem o que eu acabei de falar e retrocedam, por favor… 

    Assim que a declaração é feita, há um breve silêncio e tanto o estudante quanto o homem-fera não respondem, apenas o som do vento batendo na folha das árvores é ouvido. É só então que a senhora percebe que os dois não irão voltar e solta um pequeno suspiro e abaixa as mãos. 

    — Se vocês seguirem reto, encontrarão a vila depois de andarem 25 minutos nessa estrada. Assim que passarem pelo rio Nertyrem, vocês avistaram algumas casas do outro lado da região. — Quando a senhora termina de explicar, ela não pôde deixar de caminhar e passar direto por Rei e Kazuki. 

    Apesar do breve encontro entre eles, antes de ir embora, ela se despede de ambos e abre um pequeno sorriso no rosto. 

    — Estou indo para Svhistar encontrar o meu professor, adeus jovens… espero que possamos nos encontrar algum dia… talvez. — Ela por fim segue a estrada contrária a de Rei e Kazuki, marchando até o refúgio. 

    Rei apenas agradece pelas informações da senhora e inclina seu olhar para o companheiro ao lado. 

    — O que você acha?

    — Sobre o que ela disse? — pergunta o homem-fera. — Bem, não faria sentido duvidar do que disse. Ainda mais pela forma como ela estava falando e se expressando, acho que a situação deve ser bem séria, além do fato dela pedir persistentemente várias vezes para voltarmos…

    — Sim, isso foi um pouco estranho… mas na boa, já estamos aqui, por que iríamos voltar? Mesmo que algo esteja acontecendo no vilarejo, isso não é da nossa conta, não concorda? 

    — É… sim, claro… — responde Kazuki, ainda sem conseguir esquecer o que aconteceu entre os dois. 

    — Ah… então, vamos voltar a caminhar, não estamos longe… — comenta logo em seguida Rei, após perceber que o clima havia ficado estranho após a partida da senhora. 

    Continua…  


     

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