Índice de Capítulo

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    Depois do súbito agradecimento de Tyrant, que mais pareceu uma lamentação louca entre raiva e felicidade, Rina não conseguiu esconder a expressão de surpresa e nervosismo no rosto. 

    O seu olhar estava cheio de incredulidade, ela não conseguia acreditar que tudo finalmente havia terminado, não daquela forma tão simples. 

    “Que desgraça é essa? Esse garoto acabou de matar todos aqueles caras arrogantes com tanta facilidade. Isso não faz sentido! Se eu tivesse olhado para ele antes, apenas pela aparência, eu teria o subestimado.”

    “Que monstro. Ele está longe de ser considerado um gênio. De onde um cara desses saiu? Agora estou com medo de fazer alguma merda e acabar sobrando pra mim.”

    Com essa suposição em mente, a jovem decidiu apenas agradecer ao estudante depois que Tyrant terminou com o discurso, e logo em seguida afastou-se. 

    — Obrigada pela ajuda, então eu… eu vou na frente, para avisar ao vilarejo sobre o que aconteceu aqui. Obrigada mais uma vez pela ajuda. 

    Quando terminou de agradecer, ela correu em direção a residência dos moradores enquanto gritava em euforia, “estamos livres”. 

    A repercussão dessas palavras puderam ser ouvidas pelos aldeões que já estavam dentro de suas casas. Pouco depois da explosão acontecer, eles se abrigaram em suas residências, temendo que algo mais pudesse acontecer e que os problemas caíssem em suas costas. 

    No momento que presenciou a felicidade da jovem que saiu correndo pelas ruas, que estavam parcialmente destruídas, Rei olhou de longe para ela com um sorriso no rosto. 

    — Você também não precisa agradecer tanto assim, Tyrant. Só fizemos o que achávamos correto — respondeu Rei consentido, observando toda a confusão que causou perto da prefeitura. O cheiro de sangue forte que causava até mesmo tontura emanava da pilha terrível de cadáveres no local. 

    — Honestamente, eu não esperava que as coisas terminassem dessa maneira. Assim que passamos nesse vilarejo e notamos como aqueles fanáticos estavam tratando os residentes daqui, acho que foi naquele momento que perdi a minha paciência! 

    — Aquele tipo de visão foi realmente desagradável, ainda não consigo acreditar que um babaca qualquer estava puxando uma mulher pelos cabelos, enquanto ninguém fazia nada. Apenas assistiram e ainda tiveram alguns que riram da forma como ela era tratada, como se aquele tipo de atitude fosse normal. 

    — Enfim, eu estava com medo de que se eu fizesse algo naquele momento, não seria capaz de lidar com todos os problemas e consequências que viriam em seguida. Vendo o desenrolar do que aconteceu, percebo agora que agi mais como um covarde. 

    Após escutá-lo, o coração de Tyrant e Kazuki pareciam doloridos — as palavras finais do estudante pareciam carregar uma enorme culpa, dava para sentir. 

    — Você precisava falar isso? — perguntou o homem-fera amargamente, gentilmente acariciando a sua mão. 

    A boca de Kazuki se contraiu levemente, como se ele não pudesse aceitar o fato de como Rei parecia tratar com tamanha culpa e frieza as coisas que aconteceram. 

    As palavras finais do estudante sequer faziam sentido e se fosse realmente levado em consideração a sua linha de pensamento, então todos presentes ali seriam considerados covardes de alguma forma. 

    — Eu estou aqui também, você não precisa se culpar por todas as atrocidades que aconteceram. E por isso…  

    — Entendo que eu não esteja sendo muito útil para você agora Rei, mas então é por isso que você precisa colocar toda a culpa em suas costas pelo que aconteceu? — indagou ele, talvez com demasiado sentimentalismo, a considerar o momento presente. Com uma expressão de tristeza no rosto e as duas orelhas abaixadas. 

    O corpo de Rei congelou após escutá-lo, ele não conseguia formular uma palavra, até mesmo o cheiro do corpo de Kazuki próximo do dele era tão avassalador que ele sentiu um branco por um tempo. 

    Rei analisou com cuidado o dilema que tinha em mãos, demorou para formular uma frase e tomar coragem para olhar para os olhos do companheiro com confiança. 

    — Não! Não é assim Kazuki! Olhe pra mim! 

    — Você foi de grande ajuda nessas últimas horas. E eu te agradeço com todo meu coração por isso. Você é uma das melhores pessoas que eu conheci e se não fosse a sua ajuda, eu não teria resolvido o resgate das bruxas com tanta facilidade. 

    — Não estou colocando toda a culpa nas minhas costas Kazuki, peço desculpas caso vocês tenham interpretado dessa forma. Eu só comentei que eu errei em não ter tomado uma decisão no momento em que vi aquela mulher sendo puxada pelo cabelo. 

    Quando o estudante terminou com a explicação, ele deu um suspiro e complementou dizendo com o olhar em direção à prefeitura: — Eu não vim aqui para fazer justiça, mas acabei fazendo de alguma forma. E, bem, no final saiu do meu jeito… se é que isso possa ser chamado de justiça… hehe. 

    — Garoto… — interrompeu Tyrant. — Você está bem? — disse ela, mas com o olhar fixo no machucado em sua testa. 

    — Ah, isso? Não tinha notado até você falar.

    — Deixa eu dar uma olhada — ofereceu Kazuki, afastando o cabelo de Rei para examinar. — Você precisa ter mais cuidado, mesmo que você seja durão, não é invencível. 

    — Deixa disso, eu estou bem — comentou o parceiro, um pouco surpreso com a emoção crescente que sentia enquanto Kazuki mexia em seu cabelo. 

    Apesar da hesitação de Rei, o homem-fera continuou a examinar a cabeça do parceira até terminar. O que não teve qualquer resultado, já que ele não tinha nenhuma bandagem ou magia curativa. A única coisa que ele conseguiu fazer foi contemplar os traços do rosto do estudante sob a luz do luar. 

    — Já terminou? 

    Kazuki estremeceu, — Tá, não está tão ruim.

    — Eu disse que não precisava se preocupar, estou melhor do que você, cara — protestou Rei, evitando contato visual enquanto colocava as mãos no bolso nervosamente. 

    Os dois ficaram em silêncio por um tempo. Um silêncio relativo, levando em consideração toda o cenário abaixo marcado de sangue e a luz do luar. 

    Continua…  


     

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