Índice de Capítulo

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    A vidente contou o que se seguiu após aquela fuga improvisada junto ao seu novo salvador, que alegou que todos aqueles eventos ocorreram por uma força maior.

    — A minha família e a própria família imperial mandaram guardas a minha busca nessa época, chegaram a decretar um mandado por todas as regiões do reino. Tyrant Lewis, segunda filha da família do grão-duque de Zano, desaparecida desde a última semana. 

    Tyrant comentou em risos, pois ela lembrou por um momento como estava o seu desenho de procurada — não havia características do cartaz que condizsesse com a sua aparência real. 

    “Os meus pais não sabiam a minha própria aparência?” ela pensou naquela época um gosto amargo na boca, mas logo deixou de se importar. 

    — Eu e meu mestre que já havíamos escapado, estávamos na capital dos homens feras, Zefry, quando o decreto foi publicado. Durante alguns anos em que estive com ele, consegui descobrir e conhecer muitas partes do mundo no qual só era possível sonhar através das leituras dos livros. 

    — A felicidade de conhecer novas pessoas, desfrutar da minha nova vida e das minhas próprias escolhas… foi uma das melhores sensações que já tive. Então, era isso que significava “Liberdade?” pensei feliz naquele tempo.

    — Eu queria que as coisas fossem assim, mas infelizmente… os soldados do reino humano nos encontraram quando estávamos saindo da capital. Em questão de pouco tempo, eles haviam nos cercado e apontaram suas armas para o meu mestre. 

    Ela explicou com um tom de voz mais moderado do que antes, mas escondeu alguns detalhes de como isso ocorreu e de como ela foi emboscada com seu mestre. Embora sua voz não transbordasse hesitação ou medo, a impressão de suas palavras pareciam caminhar por outro rumo que não fosse a confiança. 

    Por fim, ela explicou como não entendeu como os soldados do reino humano ainda estavam-na procurando depois de tantos anos. A situação parecia inacreditável demais para ser real, pois eles persistiram em procurá-la mesmo sem pistas ao longo dos anos. 

    Afim de ganhar tempo, o seu mestre ficou para trás e confrontou os soldados. A vidente teve que correr por sua vida e não olhar para trás, somente a confiança em seu mestre persistiu nesse momento. Ele possuía habilidades extremamente fortes, nenhum tipo de incidente ocorreria. 

    — Eu corri em desespero em direção à floresta. Depois de algum tempo correndo sem parar, me deparei próxima do precipício que estava logo à minha frente. Não havia mais para onde correr. Eu não sabia o que fazer, se eu retrocedesse e voltasse, provavelmente iria ser capturada pelas tropas do reino humano. 

    — A minha mente parou por alguns minutos, eu fiquei imersa em pensamentos, tentando encontrar uma solução… Nesse meio tempo, os soldados saíram da floresta e vieram em minha direção. Eles me disseram que eu estava segura agora e que, a pessoa que havia me raptado já estava morta. 

    No momento em que disse isso, ela teve que apertar as mãos com força para não demonstrar os seus sentimentos mais fortes. Seus olhos pareciam carregados de resquícios de água nos cantos inferiores. 

    — Eu não consegui acreditar no que ele disse, então comecei a andar para trás, os ameaçando com a minha vida. “Meu mestre morreu?”, “Não, isso é impossível”… Pensei ao mesmo tempo que andava para trás. Enquanto estava na ponta do precipício os ameaçando com a minha própria vida, eu consegui ver de longe um homem vestindo uma armadura toda de preto, ele segurava uma cabeça.

    — Logo que o homem começou a se aproximar lentamente, a imagem tomou forma e consegui ver nitidamente o que era. Na mão dele, estava a cabeça de meu mestre. 

    Inevitavelmente, as mãos dela começaram a tremer nesta hora. Aquela imagem era o motivo de seus pesadelos e seu arrependimento. 

    — A única pessoa na minha vida que realmente me amou de verdade, e nunca esperou nada de mim… estava morta. Eu não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo, o homem que vestia a armadura preta quando viu meu estado, tirou o capacete.

    — Dmitry? Mas… Como? Apesar de ser diferente, era a mesma pessoa. Era o imperador do reino humano, e o meu amigo de infância… Dmitry. A pessoa que dediquei toda a minha vida para agradar, mas por causa da pressão familiar tive que fugir. A pessoa em que considerava o meu melhor amigo quando criança, havia matado o meu pai adotivo… Eu não consegui processar tudo que estava acontecendo. Eu então pulei do precipício, sem hesitação, esperando morrer. Me juntar com o meu mestre no pós vida.

    — “A única pessoa que me ligava a esse mundo, está morta”, “Se eu não morrer agora, tudo vai se repetir”, esses foram meus pensamentos, eu não suportava a perda da única pessoa que havia me acolhido e ajudado. Só de pensar em voltar a ver a minha família, eu sentia que a morte era melhor que ter que passar por aquilo. Eu não sabia por que Dmitry estava lá, mas eu também não me importava… ele havia matado a pessoa mais importante da minha vida, nunca iria perdoá-lo.

    — Depois de um tempo, eu acabei recobrando a consciência. Eu não sabia por que estava viva, eu tinha pulado de uma altura extremamente alta. Era óbvio que o impacto da água iria me matar… Mas, por quê? Por que eu estava viva? … Eu não conseguia entender.

    — Até que um elfo se aproximou de mim, e disse que havia me ajudado, ele relatou que estava por perto quando me viu caindo lá. Eu não conseguia nem me matar, foi uma dura realidade, não sabia mais o que fazer. Eu então pedi ao elfo para se afastar, que logo chegariam pessoas para me capturarem.

    — Ele se negou assim que me ouviu, e vendo o estado em que eu estava, ele disse que iria me ajudar, levando-me junto com o seu pequeno barco para longe. Acabei negando a sua ajuda, não queria que ninguém mais morresse por me auxiliar, porém, ele persistiu tanto, que no fim, acabei cedendo e indo junto. O elfo me levou para Svishtar, e eu fiquei morando lá por alguns anos. Até que logo eu mudei-me para essa vila. Eu não consegui sair daqui depois disso, por muitos e muitos anos, pois eu temia que o imperador do reino humano ainda estivesse me procurando.

    — Eu fiquei aqui, estudando as artes das estrelas e dos cosmos, assim como o meu mestre fazia… A única coisa que sobrou dele é esse colar Carmesim.

    Dito isso, ela revelou o colar que estava em seu pescoço e por debaixo da sua camiseta de seda. 

    — Eu queria ter tido coragem para sair dessa vila afastada do mundo, queria ter explorado mais o mundo… Queria que meu mestre estivesse vivo. Mas isso é só o meu querer… Eu sou tão iludida.

    Ela terminou o relato com algumas lágrimas nos olhos, mas não conseguia chorar. Este era o mesmo sentimento que teve que suportar durante todos aqueles anos de sofrimento. 

    Após vê-la daquela forma, o estudante aproximou-se para dar um abraço no intuito de confortá-la, ao menos minimamente. 

    — Está tudo bem.

    (…)

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