Índice de Capítulo

    Que frio… Eu senti o meu corpo imerso em uma superfície gelada e macia. E os meus olhos se deparavam com um céu nublado, me lembrando que nestes tempos de baixa temperatura eu ficava enfiado no meu cobertor bem quentinho, assistindo aquilo que eu mais gostava na tela do celular.

    — Ah, que saudades… — Quando levantei, meus olhos saltaram de espantos quando verifiquei que aquilo não se tratava de uma simples areia em seu estado gélido. Não, aquilo era o que eu sempre via na TV e sonhava em um dia conhecer, me jogar e fazer os famosos bonecos de neve.

    Sim, era neve. Um sorriso se abriu nos meus lábios enquanto eu pegava aquela coisa macia, que deslizava nas minhas mãos.

    — É neve! É neve! É neve! — Me joguei e levantei, e me joguei e me levantei, e de novo e de novo, sentindo o afago no meu rosto. Queria que os outros pudessem compartilhar desta sensação que sentia, mas enfim, fazer o que, não é?

    — Ai, valeu, rei dos bandidos! Pelo menos uma coisa que preste!

    Eu estava tão emocionado que estava esquecendo de que isso se tratava de uma prova, e que tudo aqui estava em causa.

    “Mas que problema tem se eu me divertir um pouco?”

    Dei um sorriso, arrastando a neve até forma uma bola. Repeti esse processo continuamente até formar bolas de neves, apesar de ter a mão tremelicante e gelada, continuava seguindo com isso.

    Depois que empilhei uma bola em cima da outra, faltavam os olhos, o nariz e os braços. Então corri para algumas árvores que estavam ao redor, ainda tremendo, com os braços cruzados. Minha mãe dizia que tomar banho aliviava o frio, então tinha que procurar um lago depois disso.

    Assim que arranquei os galhos das árvores, coloquei nos bonecos que havia criado, sentindo falta da cenoura. Enfim, dei um suspiro. Não podia fazer nada. Então acenei para cada um dos três bonecos que havia criado e prossegui andando em busca de um lugar para me abrigar desse frio ou de um lago para espantar esse frio que agora estava invadindo o interior do meu corpo, me fazendo soltar respirações ofegantes.

    Após caminhar, encontrei uma descida que me fez esquecer todo frio. Escorreguei a todo vapor para um lugar onde havia uma superfície gelada e a maravilha, mais maravilhosa de todas, eram os pinguins que me receberam com um ar totalmente hostil.

    Após pousar naquela superfície, senti um choque e arrepios, estava muito gélido, tão gélido que só a força de vontade para me manter de pé. Soltando suspiros envolvidos em fumaças, comecei a deslizar por aquele gelo em direção aos pinguins que, com o abanar de seus braços, lançavam rajadas de ventos.

    Ziguezagueando, me esquivei de cada um enquanto projetava esferas calorosas na minha mão, que me davam conforto nas mãos. Minha busca pela sobrevivência foi tão forte que acabei gerando mana ao redor do corpo, os exercícios que eu estava fazendo enquanto patinava na superfície gelada acabando por gerar partículas calorosas.

    Ainda assim, não foi suficiente para dissipar o frio, mas agora eu estava me sentindo bem confortável, como se tivesse usado um casaco quentinho.

    Senti pena de eliminar aqueles pinguins fofinhos, mas era eles ou eu. Eles só queriam saber de lançar rajada para aqui, rajada para acolá. Minhas esferas acabaram causando ferimentos fatais em seus pontos vitais, me deixando admirado e aliviado por serem tão fracos.

    Abandonei aqueles cadáveres ali com uma tristeza evidente. Não estava gostando da minha mente estar normalizando esse tipo de cenário, eu não queria perder minha empatia. A cena da mulher das cavernas sendo aniquilada daquela forma ainda estava cravada na minha cabeça. Oceano havia pegado pesado. No fundo, ela era apenas uma marionete nas mãos do rei dos bandidos e, talvez, quem sabe, tivesse seus restos mortais desenterrados por aquele desumano.

    Me arrependi imediatamente de tê-lo agradecido. Ele era desumano. Ele estava na posse dos irmãos da Meredith, irmão da Frida e aquele casal. E o pior de tudo, havia trazido aquela demonia para superfície.

    Dei um suspiro, balançando minha cabeça negativamente.

    Mais adiante, depois de uma pequena poça de lago na extremidade, havia uma montanha de neve, que deixava rolar bolas de neve, uma atrás das outras. É, eu teria problemas para escalar essa montanha.

    Mas primeiro, tentei experimentar a teoria da minha mãe, tomando um choque que me jogou de traseiro no chão após mergulhar meu braço naquela água que estava muito, mas muito fria. De certeza, não.

    Dando um suspiro, depois que a última remessa caiu e gerou uma explosão de neves, corri, acelerando os meus pés a cada passo. Então comecei a minha subida, enquanto cerrava os punhos, armazenando uma grande energia e a arremessando enquanto gritava soco invisível em homenagem ao Zernen.

    No fundo, eu gostava desse nome. As bolas foram explodindo, e a neve foi apalpando as minhas vestes, quase me derrubando. Continuei correndo, sentindo meu peito arder em chamas, minha respiração mais ofegante e então, consegui chegar ao cume, descobrindo a razão de todas aquelas bolas de neve.

    Agarrei os joelhos, ainda suspirando fumaças gélidas, enquanto observava um ogro com pelagem branca que soltava fumaça por suas narinas envolvidas por dois chifres.

    — Então é você, não é?

    Ele me respondeu com uma bola de neve lançada. Me esquivei por pouco e dei mais um suspiro.

    — Tá solitário? Quer conversar?

    — Grrrr! — Ele começou a se bater no peito enquanto lançava seu rugido para o alto.

    — Quer lutar, não é?

    Como resposta, ele correu até mim enquanto arrastava seus braços volumosos pela neve, arremessando aquela enxurrada, que cegou a minha visão para o punho que vinha contra mim.

    Cruzei os braços, recebendo tanto o dano do seu punho, assim como da neve que me arrastou para trás. Depois disso, começou uma sequência de socos, que me aproximavam mais do início da montanha.

    O objetivo dele era me jogar para o chão. Dei um sorriso, aproveitando os pequenos milésimos com que ele alternava os punhos para segurar um deles e então, rapidamente avançar o meu punho contra seu abdômen, a pressão o jogando para trás, enquanto ele lançava um rugido de fúria.

    Depois que se recompôs, correu contra mim descontroladamente. Elaborei minha investida furtiva, deslizando a neve e passando por debaixo das suas pernas, as segurando no processo. Ele caiu no chão. E então me levantei, recebendo seu rugido enquanto lançava uma série de socos impiedosamente, que desfiguravam seu rosto, abrindo feridas sangrentas.

    Como ele já não se mexia mais, julguei estar morto e avancei na pretensão de descer aquela montanha para outra margem. No entanto…

    — Boa tentativa.

    Quando ele se levantou, virei com uma esfera já preparada. Assim que entrou em contato com sua pele, ele foi lançado para fora da montanha enquanto lançava ruivos de clamor.

    — Foi uma boa luta — suspirei, me sentindo mais forte em comparação quando vim pela primeira vez a esse mundo. Naquele momento, eu nem conseguiria imaginar que chegaria a esse patamar… Aquela luta em que usei a mana da Frida me fez pensar que eu ainda poderia me tornar mais forte. Eu queria me tornar mais forte e assim passar a proteger os meus companheiros e a mim dos perigos que esse mundo tenebroso ainda escondia.

    Desci a montanha a deslizar com o meu traseiro, pegando fogo atrás de tão quente que estava. O vento sussurrava os meus ouvidos enquanto eu apreciava aquela paisagem abaixo, havia uma árvore linda no centro, formada por folhas cristalinas reluzentes. Nas laterais, também árvores magrinhas de abeto-de-douglas, que completavam aquela paisagem radiante. Eram altas e se estendiam ao horizonte nublado.

    Terminada a descida, comecei a caminhar em direção à árvore para observá-la de perto, no entanto, dois seres pequeninhos voadores que saíam do seu interior me fizeram travar e arregalar os olhos. Eram duas fadas gêmeas, portadoras de madeixas brancas longas e agasalhadas por peles que mesclavam branco e marrom. Suas asas eram prateadas, assim como seus olhos.

    — Nossa!! — Fiquei fascinado, com olhos tão brilhantes quanto estrelinhas, mas assim como todo ser desse mundo, me fizeram uma postura hostil.

    Me preparei contra uma possível batalha contra esses seres fofinhos. Era uma pena, mas eu também teria que eliminá-los para poder sair desse espaço e quem sabe alcançar a sétima fase.

    — Fuuuuu…

    Assim que abriram sua boca para soprar um vento que pensei ter conseguido esquivar, me deslocando para direita, meus pés começaram a ser invadidos por gelo. Tentei descolar os meus pés, mas não dava, o gelo continuava subindo. Tentei desferir socos atrás de socos, mas aquilo era tão duro que sangue jorrava dos meus punhos imbuídos de aura.

    — Que magia é essa? Tão forte… — murmurei, olhando para aquelas duas que não paravam de bater suas asas, enquanto me lançavam olhares frios ao mesmo tempo em que despejavam purpurinas.

    Ao passo que o gelo já estava no meu pescoço. Então, antes do gelo tampar minha boca, com as poucas palavras que me sobraram, anunciei a minha desistência, tendo em seguida a boca selada enquanto fechava os meus olhos lacrimejantes, mergulhando em um apagão.

    Mas antes disso, algo me veio à mente, repentinamente… As asas de borboletas daquelas fadas e o ogro que derrotei lembravam a imagem inicial de quando entramos na caverna. Segundo a teoria da Frida, essas coisas não eram meras coincidências…

    Eu sabia que não duraria muito tempo… Mas se esse for o portal para a sétima fase, eu estava rezando para que Meredith e os demais conseguissem chegar aqui e concluíssem essa prova de uma vez por todas.

    De súbito, tudo ficou escuro. Esse foi o game over para mim.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (3 votos)

    Nota