Capítulo 102: Unhas de Ferro e Chamas, uma combinação sem igual
Com as unhas suspensas no ar, mãos esticadas, Fred mirava aquele grupo de gorilas que ficava um tanto quanto admirado por aquela magia desconhecida para eles. Alguns começaram a apontar os dedos tremelicantes enquanto tremulavam o maxilar com os olhos arregalados e traços contorcidos em espanto.
Mas apenas um não se deixava enganar por aquela demonstração. Sua cara já não era nada amigável, mas agora estava ainda mais furiosa porque sua comida estava resistindo e ele não gostava quando uma comida resistia.
Seu lema era: comida tinha que ser comida quieta. Nada mais, nada menos que isso.
Então, cerrando os punhos, soltando fumaça pelas narinas, o líder daquele grupo recuou um dos pés em posição ofensiva de combate.
— Estilo açougue! Unhas cortantes, vão!
Quando Fred proferiu enquanto cerrava os punhos, cortando o vento, as unhas voaram contra aquele grupo de gorilas. No entanto, com apenas um soco, uma grande fenda no vento abriu-se frontalmente, desfazendo aquelas unhas em pedaços.
Mas não parou por aí. O vento causado pelo punho prosseguiu com intensidade contra Fred, que, defensivamente, formou uma barreira redonda de unhas para o protegerem. No entanto, não logrou sucesso, a pressão era tão grande que ele foi arremessado com suas unhas numa velocidade em que já não tinha mais controle dos seus membros.
Aquele vento estava arrastando tudo o que estava ao redor enquanto uivava pelos seus tímpanos, despedaçando suas vestes e chicoteando sua pele, que cedeu a arranhões e feridas abertas.
“ Com apenas um soco… Que assustador”
Assim que o vento começou a diminuir a pressão, conseguiu formar uma barreira quadrada de unhas que amparou suas costas e permitiu que seus pés pudessem se estabelecer na terra para que pudesse travar.
— Parece que você é mesmo durão… — Fred murmurou, olhando aquela distância tão grande entre eles, que havia sido completamente devastada. Árvores, ou ao menos o que sobrou delas totalmente destroçadas, havia uma confusão de folhas e troncos pelo caminho em meio a um pequeno buraco em termos de profundidades, mas grandes em termos da extensão que delimitava onde seus pés haviam conseguido travar.
— Mas era isso que eu queria… — Com um sorriso largo, Fred extraiu uma grande quantidade de unhas das suas mãos, as concentrando no céu.
Em contrapartida, o gorila líder começou a correr, pulando aqueles troncos que sua pressão havia causado enquanto seus subalternos o observavam, alguns soltando assobios enquanto batiam as palmas.
Sem perder tempo, Fred lançou suas unhas, mas com apenas um soco aquilo tudo foi destruído e a pressão prosseguiu com velocidade. Teve que correr para a lateral direita, se reagrupar em um lugar melhor enquanto pensava em como lidar com a presente situação.
Saltando de ramo em ramo, assim fugia daquele espaço, mas não por muito tempo… Quando revirou um dos olhos, viu a pressão que destrói tudo que encontrava pelo caminho, trazendo consigo um vento uivante e lá, ao longe, estava o gorila com o punho erguido, que soltava uma fumaça.
“ Eh, parece que me dei mal… ” Assim, Fred formou uma escada com suas unhas e subiu ao céu rapidamente, se esquivando daquela pressão. No alto, agora amparado por milhares de unhas que formavam uma espécie de Jangada para o céu, observava aquele gorila no alto enquanto tirava sua língua. “ Ou não. ”
Claramente uma zombaria.
— Veja, a comida está voando…
— Caramba, é a primeira vez que vejo uma comida voando sem asas!
Os gorilas começaram a murmurar enquanto contemplavam Fred ali no céu, mas não imaginam o esforço que ele estava fazendo para se manter voando, pois aquela técnica exigia muito controle de mana, além da mesma técnica consumir muita mana por manusear muitas unhas para manter sustentado seu peso.
— Se eu tivesse fogo… — murmurou, logo avistando a baixo aquela fogueira acesa que soltava fumaças e os arbustos ao seu redor. Não precisava pensar muito para saber que tudo aquilo que era mais do que necessário para provocar um incêndio por toda aquela floresta que se estendia ao horizonte.
Mas, parece que o líder dos gorilas não deixaria que o seu plano fosse um sucesso. Por instinto lhe dado, ele apenas queria acabar com sua presa. Se não a conseguia comer, tinha de eliminá-la.
Dando um grande salto, seguiu arremessando uma grande pressão de vento após desferir um soco nele. Manipulando suas unhas, Fred seguiu voando para onde estava aquela fogueira. Tinha de ser rápido o suficiente para que uma das pressões não apagasse antes que desse luz a uma chama que incendiaria aquele lugar.
Após o gorila pousar no chão, Fred se lançou contra aquela fogueira enquanto os gorilas se dispersavam, temendo serem atingidos por ele. No instante em que marcava seu pouso rente à fogueira, o líder dos gorilas lançou uma pressão que foi contra aquela fogueira na pretensão de golpear o Fred, mas no processo, acabaria por apagá-la.
Assim que fincou seus pés no chão, Fred acabou se vendo em uma escolha irritante naquele momento. Salvar seu amigo ou preservar a chama para que lhe desse uma grande vantagem sobre aquele gorila líder e dos demais que se protegiam naquelas árvores.
Fred escolheu absorver toda aquela chama e formar uma barreira defensiva, que amparou aquele golpe, dispersando o vento para as laterais, onde aqueles gorilas procuravam se abrigar, mas se vendo arrastados.
Depois que desfez aquela barreira, Fred semicerrou os olhos diante dos passos que o gorila líder dava. Ao passo que, após se recompor, os demais gorilas também vinham a si, agora determinados a combatê-lo.
E no meio disso, Zernen revirou seu corpo enquanto roncava, tirando um balão das narinas.
— O quê? Afinal, você só está dormindo? Espera… — Fred se lembrou imediatamente de que aquele garoto tinha o necessário para eles vencerem aquela luta. Naquele momento… Lembrou-se daquele momento em que se explodiu diante do dragão na terceira fase. — Ei! Acorda! — Começou a cutucar o garoto, que levemente abriu os olhos, roubando um sorriso de esperança dele.
— O que foi? Ah! Espera!
Tomado pela confusão que reinava na sua mente, Zernen ergueu-se enquanto balançava a sua cabeça freneticamente, buscando os dinossauros ósseos da quinta fase para uma revanche.
— Cadê eles?!
— Eles quem? Ah… — Fred deu um sorriso, percebendo de imediato. — Oceano os derrotou. Agora a gente está na sexta fase.
— Quê? Mas que injusto! — Ele cerrou os punhos, indignado. — Eu queria ter acabado com eles… Assim, eu fiquei fora da aventura.
— Quer aventura, é? E se eu te contar que nessa fase há uma masmorra cheinha de portais para explorar? E que esse é um deles? O que acha?
— Woooooo! — Zernen deu um sorriso largo enquanto batia no ombro do seu companheiro. — Agora, sim, você falou minha língua! Mas e os outros?!
Antes que o Fred pudesse responder, o líder dos gorilas estava ali bem à frente deles, enquanto rangia os dentes e franzia as sobrancelhas.
— Ei, comida…
— Entendi, então parece que eu vou ter que acabar com você, não é? Não… — Zernen rodeou seus olhos contra os demais que haviam se reunido ao seu redor enquanto batia o punho na palma. — Com vocês…
— Essa outra comida também é ousada, não é?
— É sim. Por que elas não ficam quietas?
— Comida, é? — Deu um sorriso largo. — Vejo que vocês também falam minha língua…
— Olha, eles tentaram te comer há pouco, quando você estava inconsciente.
— Hum … Vocês são canibais por acaso? — Zernen questionou enquanto levantava uma das sobrancelhas em confusão, deixando aqueles animais mais confusos com aquele termo.
— Ei, psiu… — Fred atraiu seus olhos. — Canibais é quando um semelhante come outro semelhante.
— Oh… Sempre achei que era quando comíamos qualquer coisa!
— Me diga imediatamente a escola onde você estudou para eu destruí-la depois, sabe?
— Hahahahah! Eu não fui à escola!
Aqueles dois conversavam tão naturalmente, que era como se aqueles animais não estivessem ali, não representassem qualquer perigo e isso apenas os deixava enfurecidos. Agora, comida não tinha medo, agora comida estava rindo à vontade enquanto falavam de coisas que eles não entendiam.
— Grrrrrr!
Ambos foram atraídos pelo rugido do líder, que carregou consigo um vento que apalpou o rosto de ambos, provocando mexidas nas suas madeixas.
— Caramba, está tão ansioso assim para ser derrotado? — Zernen questionou, lançando um olhar confrontador, mas logo, em questão de segundos, viu o punho do líder contra o seu rosto enquanto os demais vinham contra eles, lançando seus socos que geraram uma forte pressão.
Zernen segurou o punho do líder dos gorilas, o deixando de olhos arregalados enquanto a pressão dos demais gorilas caiam por terra perante a barreira de unhas, também os deixando pasmados.
— Escuta, Fred… Acho melhor você se distanciar…
— Vai mandar uma explosão? Não tem problema, eu aguento…
— Não quero ouvir ninguém reclamar depois… — Deu um sorriso enquanto via o líder dos gorilas retirar o punho enquanto recuava.
— Fazia tanto tempo que eu não sentia essa sensação… — enquanto dizia isso, um clarão tomava conta do Zernen, deixando aqueles gorilas super assustados, ao passo que aquela sensação de ver seus inimigos daquele jeito abria um sorriso travesso. — Ex … Explosãoooooo!
Um booomm que estremeceu aquele todo lugar se ouviu, transformando aquele todo ambiente em um mar de fumaça negra que omitia uma grande devastação ao seu redor.
Quando virou, observou que Fred estava todo escurecido, como se lhe tivessem banhado com carvão, enquanto seus cabelos pareciam haver sofrido uma eletrificação.
— Caramba… — Suas palavras se misturavam com fumaça enquanto caía no chão.
— Aí, eu disse que você deveria… — Com o rosto preocupado, Zernen tentou acudi-lo, mas ele esticou um dos braços.
— Não precisa… Eu ainda estou bem.
— Bem, se você diz… — Assim que aquela névoa começou a se desfazer, seus olhos ficaram arregalados com a grande visão que tinha. Havia um gorila de aproximadamente trinta metros de altura ali, seus músculos mais definidos do que nunca enquanto seus olhos amarelos pousavam contra aqueles que considerava seres inferiores, uma comida que não daria para sua grande barriga.
— SEJAM ESMAGADOS!
Ao som dessa vez grossa e imponente, que trazia consigo grande vento, contemplaram a escuridão de um pé enegrecido pairando sobre suas faces como um prenúncio do seu iminente fim.
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