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    Assim que deixou o portal, Fred se deparou com o interior daquela caverna que abrigava uma extensão de portais que não paravam de girar em espiral. Carregava consigo em suas costas o Zernen, enquanto avistava dois portais que fugiam do padrão. Dois verdes e um vermelho, que por algum motivo não estava atraindo nada como seria o habitual.

    Franziu as sobrancelhas tentando compreender e deu um suspiro, deixando o rapaz, que roncava em suas costas, contra a parede. Deu um sorriso ao vê-la soltar um balão nas narinas e apoiou ambas as mãos contra sua cintura. Seus olhos logo foram atraídos para os portais que revelavam duas silhuetas saindo dali.

    Uma ruiva, com alguns arranhões em torno de suas vestes amazônicas, colocou suas sandálias assentes naquela superfície enegrecida primeiro. Logo depois, um homem de cabelos azuis que trazia em sua pele uma quantidade considerável de supor imbuído em arranhões.

    Os olhos de Fred se iluminaram em estrelinhas diante da presença daqueles dois. Ele foi se aproximando deles enquanto dava um sorriso largo.

    — Então quer dizer que voltamos? — disse Meredith retoricamente, recebendo um aceno de cabeça do Fred.

    — Essa já é a minha terceira vez…

    — Fred, responda uma pergunta — disse Oceano após observar aquela área, identificando uma anormalidade. — O que é esse portal vermelho?

    — Ah, é quando as pessoas são sugadas para outras dimensões!

    Depois que a ruiva rodeou os olhos além daquele portão vermelho peculiar, ficou desiludida por não encontrar o que pretendia e mirou seus olhos no homem de cabelo semelhante às chamas, que havia chegado antes deles.

    — Espera um pouco, Fred… E os outros? Pelo que saiba, o portal verde identifica a ocupação de um portal.

    — Ih, é mesmo! Será que eles perderam?

    O rosto do Fred começou a ficar tenso enquanto pensava nisso.

    — E normalmente os portais só ficam vermelhos quando sugam alguém… — Impondo a mão no queixo, Meredith estreitou os olhos enquanto mirava os olhos no portal anormal. — O que está acontecendo aqui?

    — Deixa eu ver se entendi… — disse Oceano, atraindo seus olhos. — Os portais ficam verdes quando estão ocupados e vermelhos quando sugam alguém?

    — Isso! Isso! — Fred balançou a cabeça positivamente.

    — Nada bom. Muito provavelmente, eles desistiram pela prova ser bastante intensa. Eu mesmo quase perdi contra um oponente que tinha a mesma força.

    — É, parece que essas dimensões não facilitam. Eu também quase perdi contra um gorila, mas graças ao Zernen acabei vencendo.

    — Espera… — Meredith interveio. — Você estava com o Zernen?

    — Sim. Graças ao acordo do Jarves, eu fui capaz de entrar no mesmo portal que o Zernen.

    — Que acordo é esse?

    — Jarves dará o seu corpo ao rei dos bandidos.

    — O quê???

    — Ah, entendi. Então, ele está mesmo obcecado em obter magia do tempo.

    — Magia do tempo?

    — Sim, foi o que o rei dos bandidos disse.

    Apesar de ter relatórios de que sua magia era de saber do futuro, cogitei que pudesse também se alargar para o passado.

    — Eh, nem lembrava disso…

    Em contrapartida, Meredith acabou torcendo seus traços em irritação.

    — Então, ah… — Deu um suspiro enquanto apoiava a mão na testa, cobrindo metade da face à medida que algumas lembranças passavam de sua mente sobre o momento em que falara do seu segredo constrangedor. — Jarves vai me explicar direito isso.

    — Bem, pessoal, e agora? O que faremos? Se continuarmos a atravessar portais atrás de portais e encontrar oponentes mais fortes, desse jeito não teremos como chegar à sétima prova.

    Meredith concordou com a cabeça, direcionando seus olhos ao portal carmesim.

    — Eu acho que a solução pode estar neste portal… Algo me diz isso.

    — Tentemos — disse Oceano. — Mas caso não consigamos atravessar em conjunto, quero que explorem essa área rapidamente a procura de alguma dica sobre o verdadeiro portal.

    Quando assentiram, Oceano avançou para o portal e entrou nele, sendo envolvido por aquelas purpurinas até desaparecer completamente. Por sua vez, o portal não ficou verde como acontecia quando alguém entrava, o que os deixou muito expectantes quanto à probabilidade daquele ser o verdadeiro portal.

    Meredith e Fred trocaram acenos de cabeça, confirmando que ambos estavam alinhados. Então, Meredith atravessou o portal sem ser catapultada, desaparecendo para a alegria de Fred.

    — Parece que neste portal todos podem atravessar! — Depois de dar um sorriso triunfante, Fred foi carregar Zernen encostado na parede. Assim que o amparou em suas costas, seguiu entrando por aquele portal a passos lentos.

    Quando determinou que todos haviam cruzado, o portal fechou do lado do interior da caverna, dando origem a uma sequência de portais que começaram a desaparecer gradualmente, deixando aquele espaço envolvido em um profundo breu.


    Quando deixou o portal, os olhos laranja de tigre do Oceano se deparam com um céu nublado e uma montanha de neve que se estendiam ao horizonte, enquanto em suas laterais continham árvores gordas e magrinhas cujas pompas e os galhos continham neve.

    Aliado a isso, também avistou algo peculiar. Bonecos de neves, algumas pegadas de humanos espalhadas por aquele espaço e também a presença de uma silhueta humana cravada naquela alvura, como se tivesse se deitado para balançar os pés e as pernas.

    Mas quando quis dar um passo para analisar melhor, revirou os olhos ao constatar que mais uma pessoa estava atravessando o portal. Era a ruiva que revelou admiração em seus olhos quando colocou os pés naquela superfície macia.

    — Nossa… Já faz muito tempo que não vejo neve!

    Agachou e pegou um pouco em sua mão enquanto sentia uma tremedeira percorrer seu corpo.

    — Mas que frio…

    Deixou aquele bocado de neve e começou a se abraçar, suas pernas começando a tremelicar enquanto os joelhos colidiam um contra o outro.

    — Parece que tivemos sucesso… — disse Oceano enquanto olhava o portal se fechar após passarem os últimos integrantes. Fred caiu na neve com o Zernen, dando uma rebolada naquela superfície macia enquanto abria os braços, lançando seus olhos ao céu nublado.

    — Mas que frio! — Sua fala era repleta de nuvens de fumaça enquanto sua mandíbula tremelicava.

    — É uma pena que o irmão da Frida perdeu, caso não ele faria aparecer alguns agasalhos em nós. Todavia… — Fez aparecer um cubo que pousou na neve. — Teremos que nos contentar com isso.

    — Já agora, falando nele… Eu devo dizer que já não suspeito que ele esteja tentando nos sabotar, como você disse. Depois de tudo que ele fez, corto desde já qualquer ligação que ele possa ter com o rei dos bandidos.

    — É mesmo?

    Meredith balançou a cabeça com um sorrisinho.

    — Eu também. — Fred anuiu enquanto se levantava. — Apesar dos pesares, não teríamos chegado aqui se não fosse pela ajuda dele também. E se realmente ele tivesse alguma ligação com o rei dos bandidos, com certeza estaria aqui.

    — Fico feliz que estejam pensando assim. Eu também não duvido mais dele.

    Fred deu um sorriso enquanto conjurava algumas unhas para carregar Zernen.

    — Já agora, já ia me esquecendo… Hã? O que, aí, droga, eu esqueci o que ia dizer!

    Fred começou a balançar a cabeça negativamente, buscando se lembrar do que sua mente lhe ocultava.

    — É sobre as pegadas humanas nas neves? — disse Oceano.

    — Verdade. Isso significa que alguém esteve aqui antes.

    — Não, não era isso. Mas assim que eu lembrar, eu digo!

    — Certo — disse Oceano, adentrando ao seu cubo enquanto os demais o acompanhavam naquele espaço que conferia uma boa temperatura corporal, resultado da mana quente que Oceano espalhava por ele.

    — Que quentinho!

    — Só podia ser o Oceano! — disse Fred enquanto sua unha pousava Zernen naquela superfície calorosa.

    — Agora, sabemos que alguém além de nós, pode ter chegado aqui antes porque, segundo o que me contaram, essa anomalia de haver um único portal vermelho que não suga as pessoas não tinha antes, então quer que alguém descobriu isso e ficou brincando antes de percorrer essa dimensão.

    — Verdade. Quem será? — Fred colocou a mão contra as sobrancelhas. Oceano logo pôs o cubo a flutuar enquanto iam percorrendo aquela área com vista a identificar mais sinais deixados pela pessoa que descobriu isso.

    — Estou entre o Jarves e o irmão da Frida.

    — Por que não a Theresa? — disse Fred.

    — Theresa é séria demais para brincar na neve. Sei lá, não imagino ela assim. E também não consigo identificar pisadas de Golems por aqui… — Meredith ia espreitando pela lente azulada do cubo. — Não faria sentido ele percorrer essa distância a pé.

    — Bem pensado.

    — No fim, saber quem foi não importa tanto.

    — Vocês já cogitaram se a pessoa ainda estiver aqui?

    — Ih, é mesmo!

    — Se for esse caso, temos que achá-lo rapidamente.

    Depois dessas palavras, eles foram percorrendo cada área daquela dimensão de neve enquanto seguiam as pegadas deixadas pela pessoa, muitas delas quase que imperceptíveis pela neve que havia se abatido para as ofuscar.

    Adiante, passaram por uma região íngrime, que dava acesso a um espaço totalmente congelado por gelo, mas o que chamava mais atenção na nostálgica Meredith e seus companheiros não era nada disso, eram os cadáveres dos pinguins corrompidos pelo gelo espalhados ao longo do trajeto.

    — Céus, quem fez isso com os pobrezinhos?!

    — Sem dúvidas, é preciso um sangue-frio para fazer isso com essas criaturas tão fofinhas… — disse Fred.

    — Vocês estão esquecendo em que lugar nós estamos?

    Meredith deu um suspiro.

    — Eu sei, mas é meio triste.

    — Isso! Isso! Eu ao menos me daria ao luxo de lhes dar um adeus digno, mas deixar seus corpos expostos…

    Oceano apenas deu uma leve risada, pensando em quem estava dizendo essas palavras, deixando Fred um tanto quanto indignado.

    — O que foi? Eu não sou um monstro!

    Depois daquele cenário, eles avistaram o corpo de um ogro de pelagem branca, o que os deixou totalmente alerta.

    — Vocês estão pensando o mesmo que eu…

    — Em todas as dimensões, não havia um ogro. O que quer dizer que é quase certo que estamos certas.

    — Pessoal… — Fred deu um sorriso. — Já sei quem muito provavelmente passou daqui.

    — Foi o Jarves — disse Meredith.

    — Caramba, era o que eu ia dizer!

    — Bem, o irmão da Frida usa espadas e facas e, da maneira como o ogro foi derrotado, só pode ser por magia básica.

    — Então ele achou a dimensão, é? Neste caso… — Oceano acelerou o cubo para subir aquela montanha na expectativa de que, se o Jarves estivesse ali, eles pudessem salvá-lo do possível encontro com o Boss daquela dimensão.

    Assim que terminarem de subir a montanha, além do cume com passos e silhuetas cravadas, eles contemplaram uma região com árvores ao estilo abeto-de-douglas e uma principal que era frondosa e continha folhas de cristais.

    Aliado a isso, Meredith e os demais arregalaram os olhos quando contemplaram uma escultura de Jarves petrificado lá embaixo. Desceram o mais rápido possível para averiguar o que havia acontecido enquanto duas fadinhas agasalhadas, que batiam suas asas pratas, saiam voando.

    Quanto o cubo se assentou na superfície de neve rente à escultura gélida de seu companheiro, Meredith reuniu seus traços em irritação e cerrou os punhos diante daqueles dois seres.

    — Jarves… O que vocês fizeram com o Jarves?!

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