Índice de Capítulo

    — Parece que temos visitas — Mu emitiu, seguido de seu irmão Zi que formava um sorriso largo em seus lábios.

    — São bem interessantes.

    — Já que pelos vistos conseguiram sobreviver aos demais.

    Eu e o Zernen fizemos uma postura ofensiva enquanto eles se preparavam para tocar seus instrumentos.

    Quando terminarem de tocar, não vimos nenhum fenômeno sobrenatural, apenas vi o punho da Theresa atravessar meu rosto enquanto o Zernen havia ficado só de cueca.

    — Cadê as minhas roupas?

    Droga, como fui imprudente. Esqueci totalmente de avisar Theresa e Frida para que usassem tampões de ouvidos, agora era tarde demais…

    Apalpei minhas bochechas.

    Olhando bem, Theresa e a baixinha não eram oponentes com que devêssemos nos preocupar, já que possuíam a força de um civil…

    “Ah, que drogaaaaaaaa!”

    Acabei de tomar um chute da Theresa no saco, o maior dos pontos fracos de um homem.

    “Ok, retiro o que disse.”

    Me distanciei enquanto afagava a parte afetada, buscando um conforto para aquela dor insuportável. Por sorte, Theresa não havia me atingido severamente, se não, era game over…

    — Desculpa, Jarves, eu realmente não queria fazer isso, mas sinto como se o meu corpo já não me pertencesse mais…

    “É porque não pertence. E agora?” 

    Ainda agonizando de dor, tentei pensar numa maneira de livrar essas duas do comando dos gêmeos, mas parece que dessa vez eles foram espertos e não disseram nada.

    Mas a minha hipótese é que eles tenham dado o comando de nos atacar até a morte, ou seja, se nós dois batermos as botas, a magia será quebrada.

    Mas o único que consegue fazer isso é o Zernen, diferente de mim. Apesar de ter presenciado isso várias vezes, nunca aprendi ao certo como funcionava e nem queria aprender.

    A solução será derrotar aqueles três acima ou fazer com que os cérebros dessas duas registrem outra música, já que quando eles tocavam algum som, esse som ecoava na cabeça da pessoa até que cumprisse as ordens. Mas bem, não tínhamos fones de ouvido por aqui.

    — Vão mesmo jogar sujo assim, fazendo uma batalha desigual entre homem e mulher?

    — É por isso mesmo — emitiu Mu sem vergonha na cara.

    — Fizemos isso pensando nisso — Zi sorriu e Cal moveu sua vareta enquanto nos olhava calmamente.

    — É uma maneira pacífica, não é? Ou preferem que toquemos um som que faça com que elas se matem.

    — Não ousem fazer isso! 

    — Nada acontece se elas ficarem inconscientes, não é?

    Zernen bateu na nuca da Frida, a fazendo desmaiar.

    — Então aqui vou eu!

    Theresa também veio, na pretensão de encher a minha cara de socos, mas fui rápido e ágil. Desviei, calçando um de seus braços e finalizei, batendo na nuca dela, a fazendo desmaiar nos meus braços.

    — Prontinho. 

    Eles ficaram irritados.

    Eu e o Zernen cerramos nossos punhos, nos preparando para o próximo ataque. Quando tocaram sua música, um buraco escuro se abriu naquele espaço.

    “Isso também é magia deles? Que insano.”

    — Parece que não temos como escapar!

    Eles também vieram conosco enquanto caíamos naquele abismo que não parecia ter fim.

    — Parece que o mestre está chamando — disse Mu. 

    — Coitadinhos. — Cal emitiu com um leve sorriso.

    — Afinal, quem entra nunca mais volta a sair dali!

    Aquelas últimas palavras confirmaram todas minhas suspeitas. Parece que estávamos mergulhando em direção a uma dimensão que ficava fora dessa, como se estivéssemos atravessando um portal espacial.

    Quando o breu havia cegado nossos olhos, uma luz enfim se abriu diante de nós, nos revelando um mundo abaixo…

    Avistei uma cidade bem embaixo, com pilares de pedra que se estabeleciam no teto cheio de rochedos. Suas casas eram feitas apenas de pedras, não possuindo sequer uma janela ou algum aspecto decorativo que desse vida e cor.

    Olhos severos nos encaravam lá de baixo, uma população constituída possivelmente de bandidos de toda espécie. Possuíam tatuagens e cicatrizes no corpo e carregavam uma arma branca em cada mão. Alguns sorriam.

    Quanto mais nos aproximamos do chão, pude avistar rostos familiares enquanto temia pelo pior. Sorte a nossa que Oceano, que já estava posicionado, criou uma parede invisível que aplanasse nossa queda.

    — Pessoal!

    Quando olhei para a minha esquerda, pude contemplar a aproximação daqueles dois. Meredith com o rosto abatido, e Fred com uma evidente felicidade, enquanto acenava sem parar.

    — Então, vocês foram trazidos para aqui.

    Quando Oceano disse isso, olhei para cima, avistando tudo fechado, o teto havia voltado ao seu estado de rochedos e não havia sequer um rastro daqueles gêmeos.

    — Frida… O que aconteceu com eles?

    Os olhos de Fred, arregalados, em uma expressão de incredulidade, repousavam sobre aqueles três.

    — Incrível… — Com seus olhos cintilantes, Zernen admirava aquele lugar enquanto sentia o vento transpassar seu corpo seminu.

    — Parece que finalmente chegamos onde queríamos, não é, Fred e Sond?

    Só agora que percebi que o Sond estava ali. Ele passava uma presença tão apagada que era como se estivesse completamente invisível.

    Quando aqueles dois balançaram suas cabeças, uma voz grossa soou pelos nossos ouvidos. Aliado a isso, alguns bandidos com armas e sorrisos peçonhentos apareciam por cima dos telhados enquanto seguravam suas armas brancas em mãos.

    — Sejam bem-vindos ao submundo!

    Todos nós viajamos nossos olhos para tentar descobrir de onde vinha essa voz, mas era como se estivesse vindo de todos os lugares. 

    — Rei dos bandidos, enfim te encontramos.  Entregue-se, por favor, e pague pelos seus crimes, como manda a lei.

    Oceano não tinha muita diferença com o Xavier, via-se mesmo que eram familiares.

    — Meus irmãos, devolve os meus irmãos!

    Meredith lançou um grito enquanto segurava sua espada fortemente.

    — Você ouviu, não ouviu? É melhor dar as caras! 

    Zernen deu um sorriso enquanto batia os punhos.

    Alguns dos bandidos que estavam nos telhados começaram a rir da gente, atiçando a raiva da Meredith que rangeu os dentes para eles.

    — Tudo bem…

    No mesmo instante, uma pessoa apareceu no meio da gente. Nossos olhos arregalados voltaram-se para a pessoa de capuz roxo. Aquela grandiosa aura sombria que ele emanava com certeza só podia se tratar do rei dos bandidos.

    Senti como se tivessem colocado pedras gigantes sobre os meus ombros.

    — Aqui estou eu.

    Oceano e sua equipe não perderam tempo, lançaram suas magias para aquele homem que desapareceu antes mesmo que pudesse ser atingido.

    Quando direcionamos os nossos olhos para ali em cima de um dos telhados, vimos ele rodeado de bandidos enquanto sentava em um trono feito de terra, encostando o punho na bochecha, numa pose que parecia nos deixar claro que aquele era seu reino.

    — É assim que cumprimentam alguém que os convida para sua casa? 

    — Devolve os meus irmãos!

    Meredith saltou com a espada para cima, mas uma parede se colocou entre ela e aquele homem.

    — Turbilhão de cortes!

    A parede se partiu em pedaços, permitindo que ela avançasse em meio aos estilhaços. Houve uma troca de olhares por um leve instante. Ao mesmo tempo, Oceano esticou uma de suas mãos para o rei dos bandidos.

    — Barreira Transparente!

    — Magia do canto! Aaaaaaah…

    — Magia de unhas de ferros! 

    De repente, antes que algum daqueles ataques chegasse a atingi-lo, ele se transformou em areia que voou para baixo, lançando um grande vento que transpassou nossos corpos. 

    Seus homens zombavam de nós enquanto observávamos o trono de pedra se desfazendo.

    — Boa tentativa.

    Nossos olhos voltaram-se para uma entidade muito grande, mais grande que o próprio Golem, provavelmente com doze metros de altura. Ele retirou seu capuz, revelando uma máscara com um desenho de serpente e um losango no meio do olho.

    — Vocês não são capazes de me derrotar nem em mil anos. Então, fiquem quietos e ouçam a proposta que tenho a fazer, se quiserem voltar a ver as crianças e os adultos, é claro.

    — Todo dinheiro do mundo te doou, mas só devolve os meus irmãos… — Meredith caiu de joelhos enquanto lágrimas fluíam dos seus olhos.

    — Primeiro me ataca, agora quer negociar, vai entender. Mas enfim, vocês sabem o que acontece quando se entra no reino do outro clandestinamente?

    — A prisão, obviamente. 

    Ou a deportação, na maioria das hipóteses.

    — Certa, resposta!

    O rei dos bandidos apontou o dedo para mim.

    — As pessoas que estão aqui entraram ilicitamente. Minha amiga Belia as trouxe aqui sem minha permissão, por isso elas estão presas e não posso soltá-las, se não, mediante um certo pagamento, entendem?

    — Pare de brincar com a nossa cara, seu maldito! — Fred interveio, franzindo suas sobrancelhas grossas enquanto cerrava um dos punhos. — Devolve as crianças!

    — Que tipo de pagamento? Eu pago tudo!

    Meredith estava realmente desesperada. Vê-la assim novamente me deixava muito triste, quando penso que minhas decisões é que nos levaram a isso.

    — E vocês vão pagar até o último centavo.

    — Pare de enrolar e diga logo o que você quer. — Oceano olhou friamente para aquele homem.

    — Desistiu de tentar me capturar? Hahahahah, vocês são tão interessantes!

    “Agora que penso nisso, acho que faço ideia do pagamento que ele deseja, mas antes disso…”

    — Qual é a sua relação com Belia? Foi você quem a trouxe? E se a trouxe, por que e como fez isso?

    Olhei severamente para ele.

     — Essas perguntas farão parte de um prêmio que terei reservado ao vencedor.

    — Vencedor?

    “Então, eu estava certo. Realmente, nessa época, ele também amava jogos.”

    — Por sete provas, vocês terão que passar para conseguir libertar as crianças. Se completarem as provas com sucesso, libertarei todo mundo e responderei todas vossas perguntas.

    — Quais são essas provas? Quero fazê-las agora mesmo!

    “Calma, Meredith, sim?” pensei, enquanto olhava para ela toda apressada e desesperada.

    — Como teremos certeza de que cumprirá com o prometido caso a gente complete as provas com êxito!

    ” Boa, oceano!”

    — Até porque ele é bandido e bandidos são grandes mentirosos! 

    Zernen tirou as exatas palavras da minha boca. Em muitas cenas de sequestros, eles faziam falsas promessas e acabavam por não cumprir no final, frustrando as expectativas da vítima e dos familiares.

    — Vocês não têm escolha a não ser acreditar, tem? Deixar eu ver… — Ele começou a passar a mão no queixo enquanto olhava para cima. — Não podem me derrotar, não podem sair daqui e não podem salvar os reféns. — Depois olhou para baixo. — Acham mesmo que estão em opção de pedir algo?

    Ele tinha razão. 

    Ninguém disse nada.

    — Assim que eu gosto. Mas não façam essas caras, eu certamente vou libertar todo mundo se completarem as sete provas, dou a minha palavra.

    Ele colocou a mão contra o peito.

    “Palavra de bandido não presta.”

    Era o que minha mãe dizia.

    — Muito bem, vamos às regras do jogo. 

    Prestamos muita atenção. 

    Zernen batia o punho contra a palma, todo animado, enquanto sorria.

    — Manda vir! 

    — Primeira regra. Todos os que estão aqui presentes devem participar! 

    Essa primeira regra era bem meio óbvia. Apesar de ter causado um desconforto, porque não sabíamos se as provas que estavam vindo por aí seriam compatíveis com nossas forças. Eu, Theresa, Frida e provavelmente Sond. Os elos mais fracos do grupo. 

    — Segunda regra. É aceitável desistir, porém, quem desiste vira refém.

    — O quê?

    Essa regra havia pegado todo mundo de surpresa. 

    — Ou preferem que eu tire a desistência e os deixe para morrer?

    Balancei a cabeça negativamente enquanto o silêncio dos outros já servia como resposta.

    — Terceira e última regra, na verdade, uma condição. A cada prova que passarem, falo de todos (porque se um ficar, essa regra será inválida), uma criança será liberta. Ou seja, algumas das crianças poderão desfrutar da liberdade antes mesmo do cumprimento das outras provas.

    Essa regra acendeu um sorriso no rosto da Meredith e dos demais.

    — Será liberta como? — perguntei.

    — Neste momento, elas se encontram em um cativeiro, mas eu os transportei direto para vossa nova guilda e vocês poderão ver isso.

    “Caramba, que legal!

    Mas duvido que ele facilite as coisas.”

    — Isso é tudo.

    Ele se desfez em areia, voltando à estatura de um corpo humano normal.

    — Por favor, permita-me ver as crianças. Aquela mulher está possuindo o meu irmão neste exato momento.

    Meredith implorou.

    — Ah, não se preocupe com isso. Ah, deixava estar, você mesmo verá.

    Sua voz ressoou com animosidade enquanto ele erguia os braços para cima, um tremor que balançou a terra fez uma mão gigante surgir ao longe.

    Nela estava uma gaiola feita de terra que mantinha cativa as crianças, dois adultos e um adolescente. O último não sabia quem era, mas pela tatuagem parecia ser um dos bandidos.

    “Por quê?”

    — Meus irmãos!

    Meredith suspirou freneticamente e correu, mas o rei dos bandidos esticou uma das mãos.

    — Pare aí mesmo.

    Meredith travou seus pés, observando as crianças. Pelo que dava para ver, estavam todos em um sono profundo, repousando sobre o chão e só aqueles dois estavam em pé.

    — Eles choravam e gritavam tanto que me vi no direito de fazê-los dormir. 

    Quem falava era a professora.

    — Eai, nos encontrávamos de novo.

    Ela balançou a mão, mas pelo tom da voz e pela expressão que seu marido fazia enquanto olhava para ela, deixava claro que se tratava da Belia.

    — Por favor… Salvem as crianças…

    — Leiliane!

    Ur clamou ao ver sua mulher, deixando suas lágrimas saírem enquanto contorcia seus traços.

    Depois disso, ela se deu um tapa na cara, deixando Ur com raiva. Cerrou os punhos, mas não ousou dar um passo. Nem mesmo ele podia alguma coisa, já que era o corpo de sua mulher.

    — Cale-se!

    — Malditaaaaaa!

    Meredith gritou.

    — Devolve o corpo dela agora mesmo!

    Descontrolada, Meredith saiu correndo, atravessando o próprio rei dos bandidos, que a deixou passar propositalmente.

    — Vai fazer o quê?

    Belia colocou a mão contra o pescoço, se sufocando, ou melhor, o corpo da professora.

    — … Quando eu tenho controle de tudo.

    Meredith parou e, quando quis saltar para ali, se viu envolvida por algumas correntes que amarraram seus braços e pernas.

    — Chega.

    — Diga a ela para parar de profanar o corpo da minha amiga! A gente ainda não perdeu a prova! Você disse que iria libertar todo mundo, não disse?

    Meredith disso enquanto tremia os músculos, tentando a todo custo se libertar daquele domínio de correntes.

    — Você ouviu, Belia.

    — Que chatice. 

    Belia retirou a mão do pescoço e sentou-se com uma expressão emburrada.

    As correntes se desfizeram em purpurinas. Meredith pôde suspirar enquanto caia de joelhos ao contemplar seus irmãos ali com um rostinho calminho.

    — Bem, comecemos as provas. Já estou ansioso para ver vocês em ação! Afinal, foi para isso que vos trouxe aqui, para que me entretenham!

    A mão que continha o cativeiro das crianças desceu as profundezas da terra onde nossos olhos não puderam alcançar, o que deixou Meredith ainda mais perturbada.

    Algo que acabei de notar agora…

    A forma como ele manipulava a magia de terra só me lembrava uma e única pessoa.

    — Essa magia, você a copiou do Sr. Alecrim, não é?

    Quando eu disse isso, o semblante dos demais ficou estupefato.

    — Como sabe disso? — O rei dos bandidos questionou com uma voz que releva admiração.

    “Era segredo?

    Ah, não… Acabei revelando o seu poder.

    O poder que cópia magias.”

    — É que é muito parecida com a do Sr. Alecrim, então meio que achei que você tivesse copiado.

    Ele começou a andar até mim.

    — Alecrim te disse algo… 

    Balancei a cabeça positivamente. Ainda bem que ele tirou suas próprias conclusões precipitadas.

    — Ou será outra coisa. O poder de ver no tempo, talvez?

    Engoli em seco. Droga, me ferrei…Eu esqueci completamente de que após copiar a magia de alguém, esse mesmo tinha sua memória apagada a respeito de quem lhe copiou, então seria impossível o senhor Alecrim ter me contado como eu na burrice assenti. 

    — Para trás! 

    Não só Meredith, mas Oceano, Zernen e Fred se colocaram em minha frente enquanto faziam uma pose hostil para o rei dos bandidos.

    — Pessoal…

    — Agora que sabemos que seu poder é copiar magia, não deixaremos que fique com a magia de ver o tempo — Oceano determinou. — Tal poder não pode cair em mãos como as suas.

    — Acham mesmo que podem me impedir?

    Em um instante, para o espanto de todos, ele desapareceu da vista deles e apareceu na minha frente, pegando na minha cabeça. Por detrás da máscara, encarei profundamente aqueles olhos roxos que brilhavam intensamente enquanto sentia parte da minha energia sendo drenada.

    — Maldito!

    Meredith foi a primeira a atacar, lançando um golpe horizontal de espada, mas ele desapareceu novamente e voltou para o lugar de onde estava.

    “Podem ficar tranquilos, pessoal… Afinal, não se pode copiar algo que não existe.”

    Dei um suspiro e acenei enquanto Meredith me perguntava se eu estava bem.

    O rei dos bandidos olhou para suas mãos enquanto ria como um louco, frustrado por sua tentativa fracassada.

    — Mais um poder que não consigo copiar… Por que será que não posso ter em mãos as melhores coisas do mundo?

    Quando ele disse isso, todo mundo suspirou de alívio. 

    — Hahahaha! Bem feito! — Zernen riu enquanto apoiava suas duas mãos na sua cueca carmesim. — Jarves ganhou esse poder na loteria, não é algo que possa ser copiado!

    ” Como assim?”

    — Boa! — Fred sorriu. — Menos uma desgraça a menos…

    — Rapaz, torne-se…

    — Meu servo? Não! — interrompi, afirmando com convicção.

    Meredith sorriu com seus olhos, expressando profunda admiração.

    “Para quem ainda dúvida do meu caráter, aí está a prova…”

    “Ah, espera… As pessoas que deviam ouvir isso nem estão aqui.”

    — Certo, com certeza ainda terei você em minhas mãos.

    Isso me assustou um pouco, mas Meredith e os demais asseguram que não iriam permitir que ele usasse os meus supostos poderes de ver o futuro de modo algum.

    No entanto, o rei dos bandidos encarou aquilo como um desafio e, com uma risada, desapareceu da nossa vista. Segundos depois, uma espiral giratória se abriu a alguns metros de nós, um azul intenso tomava conta dos nossos olhos.

    — Vamos, entrem nesse portal e divirtam-me! 

    Quando ele falou isso, não sei de onde, mais bandidos, inclusive Gar e os gêmeos apareceram e nos olharam com um sorriso malicioso.

    — Já eram! Que todos morram!

    Gar cerrava os punhos enquanto olhava para Meredith com raiva.

    — Uma coisa que vocês precisam saber, só para atiçar um pouco as coisas. Todas as provas que forem fazer, começam do nível B para cima! Então, tomem cuidado!

    Sua voz ressoou por nossos ouvidos novamente.

    “Nível B para cima?

    Esse cara quer nos matar?”

    — Ei, baixinha, acorda!

    Fred lançava palmadas no rosto da Frida, que se revirava de um lado para outro.

    Enquanto isso, Zernen levou um galho e cutucou um dos ouvidos de Theresa. Ela acordou assustada, com olhos arregalados, enquanto pressionava a mão no peito. Zernen levou um cascudo na cabeça por aquilo. Um galo pequeno apareceu na sua testa enquanto Theresa se levantava.

    — Onde estamos?

    — O que aconteceu?

    As duas estavam bem confusas enquanto viajavam seus olhos por aquele espaço estranho de onde haviam vindo parar.

    — Eu explico tudo pelo caminho. Vamos.

    Oceano ordenou, começando a andar.

    Frida acordou o rapaz de cabelos e olhos roxos com tapas agressivos nas suas costas.

    — Vovô?

    — Quem você está chamando de vovó, seu louco?!

    — Frida, por que está tratando assim seu irmão? — questionou Fred. Oceano parou perto daquele portal, olhando para nós que caminhávamos, bem, exceto Fred, Frida e seu irmão.

    — Acontece que ele não é meu irmão.

    — O quê?

    — Hã?

    — O rato roeu o quê?

    Zernen disse enquanto ria. Enfim, todos nós paramos para prestar atenção naqueles supostos dois irmãos. Um com cabeça baixa e outra com expressão carrancuda.

    Frida explicou tudo. Ao que parece, aquele miserável descarado havia roubado o corpo do irmão da Frida.

    “Então é por isso que aquele bandido estava ali enjaulado… “

    — Maldito!— Fred pegou ele pela gola enquanto veias saiam do seu rosto. — Tem noção do que fez?

    — Sinto muito! Mas foram ordens!

    — Hã?

    Fred colidiu sua testa com a dele.

    — Basta, Fred — emitiu Frida com uma voz um tanto triste. — Ele vai me ajudar a trazer o meu irmão de volta e pagará bem caro nas celas depois que isso acabar.

    — Certo. — Fred largou a gola dele, estalando a língua.

    — Jarves, o que está acontecendo aqui?

    Dei um resumo básico do que estava acontecendo aqui para Theresa enquanto caminhávamos para o portal. Frida também se juntou e me fez explicar tudo do zero enquanto seu irmão a seguia por trás com uma expressão reprimida.

    — Caramba, eu tenho um pressentimento de que isso vai ser divertido!

    — Não importa o que quer que seja, vamos acabar com tudo! 

    Zernen e Fred estavam bem animados.

    Quando tentei localizar Meredith, Oceano disse que ela já havia entrado no portal faz tempo.

    “Que apressada…”

    Oceano e Sond atravessaram o portal primeiro em caso de qualquer armadilha. Depois foi a Frida que fazia uma expressão triste ao saber que seu irmão estava preso em uma gaiola. Theresa a seguiu. Por fim, Fred, Zernen e eu cruzamos o portal quase que, ao mesmo tempo, ansiosos e eu, um bocado temeroso pelo que nos aguardava do outro lado.

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