Capítulo 66: Zona vulcânica
— Aaaaaaah!
Não, não era só eu quem estava gritando… Tirando o calmo do Oceano, o Sond cujas madeixas cobriam seu rosto e os estranhamente animados Fred e Zernen, todo mundo estava gritando enquanto mergulhávamos de cabeça para aquele chão repleto de lavas percorrendo o solo enegrecido.
Aquela dimensão, não sei explicar… Parecia ser o inferno em pessoa… Por onde quer que os meus olhos viajassem, eu só podia contemplar montanhas que cuspiam fumaças enquanto rios de lavas deslizavam por sua superfície, se estendendo ao chão para formar lagos e mais lagos…
E o calor que se fazia sentir nesse lugar jamais havia sentido. Em questão de segundos, minha pele e a dos que caiam comigo havia sido tomada por milhares de gotas de suor.
— Auuuuu!!!
“O que foi aquilo? Um lobo?”
Uma pedra passou voando por mim e nela havia uma silhueta de alguém que pude reconhecer.
— Zernen?
— Jarves!!!
Sua voz reverberou pelos meus ouvidos.
— Me salvaaaaaa!
Quando gritei, vi uma corda diante dos meus olhos. Segurei imediatamente, observando as pessoas acima de mim. Eram o Oceano e o irmão da Frida, que estavam acima da pedra flutuante.
Suspirei de alívio enquanto era puxado pelo irmão da Frida.
“Essa foi por pouco…”
“Mas alguns metros e eu teria virado carne moída…”
Meu coração estava bastante acelerado, que nem conseguia pensar nos outros, mas, ao que parece, estava me preocupando à toa.
Meus olhos alcançaram todos eles e um sorriso brotou nos meus lábios ao saber que estavam bem. Theresa estava por cima de um pedregulho com Frida enquanto Fred estava por cima de um pedregulho ao lado do Sond.
“Quer dizer, então eu fui salvo por último?”
Zernen logo apareceu ao meu lado, assente em um pedregulho flutuante.
— Egoísta, por que não me salvou?
Minhas lágrimas flutuaram pelo ar úmido.
— Foi mal. — Ele sorriu enquanto coçava sua cabeça. — É que é difícil controlar essa coisa!
— Então, do que está a espera para me puxar para sua pedra? — Estiquei minha mão enquanto segurava a corda com outra. — Minhas axilas não estão aguentando mais!
— Aí! aí, Jarves!
Ele agachou e esticou o braço. Segurei fortemente e ele me puxou para cima daquela pedra.
Sentei, lançando suspiros frenéticos enquanto passava a mão na minha testa encharcada de suor.
— Caramba, acho que isso deve ser por aí nível A, não é possível…
Quando Zernen falou isso, a pedra pendeu para o meu lado e eu quase me vi caindo, se ele não tivesse segurado um dos meus braços.
Suspirei novamente enquanto ele me puxava.
— O que raios está acontecendo? — gritei. Eu definitivamente estava cansado disso.
Faltava pouco, só um pouquinho para eu desistir disso… Meu coração batia tão forte que era um milagre ele não pular para fora naquele momento.
As demais pedras flutuantes se aproximaram de nós.
— Pessoal…
Olhei para todos eles com lágrimas nos olhos enquanto sorria. Por algum motivo, as pedras deles pareciam estar estáveis, diferente da nossa, que não parava de oscilar levemente desde que Zernen havia me puxado.
— Só podia ser você a nos dar problema.
Analista parecia irritada comigo.
Ela fazia uma cara emburrada enquanto cruzava os braços.
— Dessa vez, terei que concordar com Frida, hahahaha!
Fred assentiu, balançando a cabeça.
— Eh, ah, eu perdi algo?
— Acontece que essas pedras atuam como uma balança. Você precisa estabelecer um equilíbrio de mana nelas. Como são dois, os dois precisam lançar suas manas para a equilibrar.
Fracamente, se o oceano não tivesse dito, nunca que eu iria saber.
— Genial, não é? No que o mestre pensou!
Um sorriso largo se abriu no falso irmão da Frida.
Exceto o Oceano, todos olhamos para ele com os olhos semicerrados e emitimos em uníssono.
— Pensei que não soubesse de nada!
— Na verdade, foi ele quem deu a dica chave para nos salvarmos. Ele disse que nessa dimensão havia pedras de mana que estavam flutuando por aí e que poderíamos usar nossas manas para as deter e atrair.
— Não fez mais que o necessário — Frida emitiu, lançando seus olhos severos sobre ele. — A regra é, está aqui deve cooperar com o máximo de informações que puder.
— É que, sabe, eu tenho medo do mestre… — Ele fez uma voz tímida enquanto encarava o pedregulho com os olhos tristes. — Se eu ajudar vocês…
— Mas você já ajudou. — Oceano deu um sorriso simpático. — E ele não pode fazer nada, não é? Afinal, você também é um candidato, pois não?
— Mas, é que…
— Vamos arremessar ele! — Fred bateu os punhos e Zernen concordou, balançando a cabeça. — Não faz sentido mantê-lo aqui se você vai se tornar um peso morto!
— Ei, esperem… — Frida esticou um dos braços. — Esse ainda é o corpo do meu irmão. Não sabemos o que vai acontecer, então de jeito nenhum vamos jogar ele!
— Agora você entende o que é perder um irmão, não é, Frida?
Quando eu disse isso, ela me olhou severamente.
— O que quer dizer com isso? Quer ficar nu?
— É brincadeirinha! Não cheguemos tão longe!
Juntei ambas as mãos em oração enquanto lhe olhava com uma expressão de súplica. Com humph, ela desviou seus olhos enquanto cruzava os braços.
Zernen começou a rir enquanto batia no meu ombro como um bash-bash!
— Bem que gostaria de ver! Quantos pelos será que você tem guardado?
— Ha. Ha. Ha. — Dei uma risada sem graça.
— Deixemos de brincadeiras — disse Oceano, atraindo nossos olhos. — Vamos nos focar em sair dessa dimensão.
— Tem uma coisa que esqueci de dizer…
Por um instante, um pequeno mesmo, enquanto ele dizia essas palavras, pude ver um sorriso malicioso se formar em seus lábios enquanto ele falava.
— Tenham cuidado com o céu.
Quando o irmão da Frida apontou o dedo para cima, vi meus ombros sendo agarrados abruptamente por algo que parecia ser uma águia de pedra que lançava seus pios ao alto. Ela cravava suas garras em meus ombros tão forte, que um rio de sangue escorria desde eles até meu peito, manchando minhas vestes.
Não era só eu… Meus olhos viajavam por todos que haviam deixado seus pedregulhos e agora estavam à mercê dessas aves feitas de pedra.
Uma forte névoa tomou conta dos meus olhos. Seus gritos também ficavam mais distantes e impossíveis de detectar enquanto eu era arrastado naquela velocidade.
— Como…
Lágrimas saíram dos meus olhos enquanto me via jogado por aquela águia de pedra.
— Como Meredith conseguiu passar por essa provaaaaaaaaa?!
Estiquei os meus braços ao alto enquanto contemplava aquela águia gargalhando com um sorriso estranho, mas, logo em seguida, veio até mim enquanto abria sua boca, revelando grandes dentes de pedras.
“Então era isso que esse monstro pretendia…”
Pode parecer estranho, mas fiquei pensando num dilema.
“Morrerei devorado ou virarei carne moída antes.”
“Ah… Onde fui me meter?”
Fechei os meus olhos enquanto despejava lágrimas, tentando lembrar dos meus momentos mais felizes antes de morrer. No entanto, por algum motivo, não vinham à minha mente.
— Não desista!
“Essa voz…”
— Jarvessss!
“Meredith, é você?”
“Onde você está?”
Tentei olhar para baixo, mas devido àquela pressão, não conseguia e aquele animal estava mais perto do que nunca…
“Mas, se Meredith está aqui, quer dizer que ainda há esperança. “
“Tudo bem, não vou desistir.”
— Eu não vou desistir! — Cerrei os punhos, formando uma esfera amarelada. Quando arrastei o punho, destruí aquela águia em mil pedaços, vendo um núcleo amarelo cair junto comigo.
Agarrei o núcleo e, quando pensei que seria meu fim, duas mãos delicadas me seguraram.
Me deparei com aqueles olhos azuis cintilantes e um sorriso nostálgico formado em seus lábios rosados.
— Meredith, é você mesma?
Ela me pousou delicadamente.
— Não, sou um monstro que pegou o corpo da Meredith! Boooo!
Ela fez uma cara assustadora, que me assustou um pouco, mas logo comecei a rir enquanto coçava minha cabeça.
— Que bom que seu humor melhorou.
Ela cruzou os braços, fazendo uma cara carrancuda.
— Ainda estou brava. Muito brava. Só estou deixando isso de lado, porque meu pai me fez perceber que quando estou brava não consigo pensar direito.
— Como assim?
Ela sorriu, pressionando suas duas mãos contra o peito.
— Lembrei de uma frase que ele disse. Que paz traz pensamentos positivos.
— Ah, entendi. Por um momento, você me assustou. Pensei que havia encontrado o fantasma dele.
— Cruz credo, Jarves. Apesar de que eu gostaria, mas meu pai se foi sem arrependimento.
— Seu pai é o cara. — Dei um sorriso, levantando o polegar.
— E os outros? Também estão aqui?
— Foram levados por aves de pedra.
— Ah, entendi. Boa.
— Como assim “boa”? Eles podem morrer!
— Essas aves são a chave para sairmos daqui! Dentro delas há um núcleo mágico que conecta um portal.
— Portal?
— Sim, eu achei ele, o portal. Mas, como as aves só flutuam em cima e as pedras também, é difícil alcançar. Mesmo usando sua mana para os atrair, é inútil. Afinal, eles fogem quando detectam superioridade em mana.
— A poção que Theresa te deu?
— Acabou. Quem dera tivesse trazido mais… — Meredith lamentou e suspirou, mas logo cerrou os punhos com um sorriso confiante. — Mas se cada um deles foi levado por uma ave, isso significa que teremos o necessário para ativar o portal!
— É, mas pensando aqui, como os outros foram levados, afinal possivelmente são superiores em mana?
— Vocês não transferiram vossa mana para equilibrar a pedra? Nesse caso, vocês sofreram uma diminuição de mana.
— Ah, entendi. Eu e a minha cabeça tonta.
Dei um tapa ligeiro na minha testa.
— Vamos procurar os outros, então! Com certeza devem ter caído algures aqui embaixo.
Meredith pegou no meu braço.
— Sim!
— Assim que acha…
Antes que eu concluísse minha fala, o chão começou a tremer, balançando as pedras para cima e um monte de lava começou a se reunir em círculo ao nosso redor enquanto crateras iam surgindo à nossa atrás.
— Droga! Estamos presos… — murmurei, vendo aquele pequeno lago se aproximando de nós enquanto deixava uma pequena fumaça escapar.
— Não comigo aqui!
Meredith começou a desenterrar pedras com sua espada, arremessando-as contra a lava. Só que elas afundavam pouco aos poucos.
Meredith franziu os lábios, pegando no meu braço.
— Não tem jeito, vamos ter que sair voando…
— Como? Dessa distância?
“Ela quis dizer saltar?”
O rio formava um anel largo, provavelmente tinha uns 9 metros de espaçamento.
— Eu aprendi uma coisa interessante… Na minha luta contra Gar.
Meredith de repente colocou as mãos na minha camisa interior, me deixando corado, tão vermelho quanto uma pimenta.
— E-Ei, o que você vai fazer?
— Estou tirando sua roupa.
— Eu sei! Mas para quê? Você não pode!
Retirei suas mãos.
— É vergonhoso isso…
Desviei o olhar, corado.
— Jarves, vamos usar sua roupa para voar daqui!
— Ah, era isso… — Semicerrei os olhos, tirando minha camisa branca, ficando somente de macacão que expunha um bocado do meu peitoral. — Por que não disse antes?
— Porque você não perguntou.
— Ah, mas você é que sai tirando minha roupa do nada e eu é quem tenho que perguntar? — emite enquanto lhe entregava a camisa.
— Tinha medo de que você negasse e começasse a dramatizar.
— Quando eu já fiz … Ah, deixa estar.
Lembrei daquele momento em que caia de joelhos em frente à Meredith, no primeiro dia em que a encontrei.
— Só para que conste, aquele não era eu… O quê?!
Ela rasgou minha camisa ao meio, fez um nó e a elevou ao vento enquanto a lava se aproximava mais e mais.
— Desculpa, depois compro uma nova para você!
— Minha camisa… — murmurei.
Ela esticou uma das suas mãos enquanto sorria levemente. Peguei desesperadamente, pois aquela lava já estava se aproximando demais dos meus sapatos, um centímetro a mais e eu estaria pegando fogo.
— Magia do peso, tornar leve!
A camisa começou a flutuar como um balão de ar quente, nos elevando acima enquanto Meredith soprava intensamente contra camisa.
Conseguimos subir, mas não por muito tempo.
Logo caímos, mas bem longe daquele lago de lava. Suspirei freneticamente enquanto Meredith suspirava, colocando a mão contra o peito com o rosto para baixo.
— Sinto como se os meus pulmões fossem se quebrar… Vamos correr, Jarves!
Ela levantou o rosto.
— Certo!
Assim, corremos naquela direção em busca dos outros enquanto observávamos rios de lavas que deslizavam da superfície das montanhas, tomando conta do chão.
Um terremoto que surgiu do nada e nos fez cair, abalou a terra novamente. Contudo, nos levantamos rapidamente e começamos a correr. Já havíamos tomado consciência de que aquele lugar era instável e que, enquanto estivéssemos na superfície, os terremotos não iam parar.
Tanto corremos até que…
Suspirei.
— Só pode ser brincadeira…
Um penhasco gigante que escondia um grande abismo estava na nossa frente, impedindo que pudéssemos atravessar para o outro lado.
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