Capitulo 75: O Despertar e a Ofensiva
— Quanta feiura.
Essa era a opinião da Theresa em relação àquela criatura que agitava as águas e tentava intimidar qualquer um com sua aparência bizarra. Meredith manifestou seus pensamentos em sua expressão, revelando quão satisfeita estava com aquilo. A sereia tanto se gabava por sua beleza, havia esmagado seus sentimentos, mas agora ela estava com o rosto todo deformado como lhe merecia.
A besta não tardou em iniciar sua investida. Movendo sua cauda de um lado para outro, esticando suas garras, nadou em alta velocidade para seu primeiro alvo, aquela que lhe havia oferecido o abraço da desgraça. No entanto, em um zás, Meredith foi capaz de impedir o ataque de garras, gerando uma faísca rápida naquele curto momento de resistência. Pela força esmagadora, ela foi jogada junto da Theresa até um dos pilares enquanto bolhas se formavam na sequência.
Amparadas pela própria água, elas conseguiram travar antes que chegassem a uma parede de tijolos que dividia dois pilares.
— La vem mais outro…
Quando Theresa disso, enquanto observava uma nova investida daquela mulher, que dessa vez lançava os espinhos provenientes de seus cabelos, Meredith posicionou sua espada a tempo e com seu turbilhão de cortes conseguiu travar aquele golpe, deixando a sereia com uma certa raiva.
Seus traços contorceram-se. Suas sobrancelhas desceram e seus punhos cerraram. Naquele pequeno momento, ela lembrou-se de que ainda possuía os seus amantes que ficavam imóveis em seu trono, por algum motivo.
Aquela não era uma reação normal. Mas bem, ela acabou ignorando isso e os chamou na pretensão de os devorar a fim de recuperar sua aparência esbelta. Eles aceitaram e vierem com carinhas bobinhas, mas com lábios cerrados.
Meredith novamente entrou em ação, mas dessa vez, sereia tomou suas medidas e criou uma prisão de espinhos que cercaram aquela mulher. Eram tantos que facilmente poderiam gerar tempo suficiente para que ela devorasse um, ao menos isso. Ouviu-se turbilhão de cortes que desmantelava cada pedaço ao mesmo tempo, em que a sereia estava a centímetros de devorar seus amigos com aqueles dentes enormes.
— UHUMMM!!!
Meredith finalizou seu grito, tentando nadar o mais máximo possível ao lado de Theresa que mostrava um ligeiro semblante apreensivo. No entanto, para seu espanto, algo inédito aconteceu, entre o alimento e a besta. Sucedeu que…
— Soco invisível!
— Esfera aquática!
A sereia tomou dois ataques que danificaram ligeiramente sua boca, formando feridas em seu interior ao mesmo tempo, em que sentia uma espetada nas suas entranhas, provocada pelo terceiro elemento daquele grupo.
A pressão exercida a arremessou abruptamente para uma das paredes contrária, onde ficavam os portões.
— Essa coisa de blefe depois do blefe é muito boa! Espera aí, se bem que, espera… — Zernen coçou sua cabeça. — Agora estou perdido, tanto faz! Viva ao blefe! — Ele levantou um dos punhos enquanto sorria, ainda envolvido pela bolha de sabão.
— Não te falei? Tudo que eu ensino é bom.
— Mas como assim, se isso já existia há bastante tempo? — O irmão da Frida murmurou.
— Uhuhmm!
Meredith emitiu este som enquanto fazia uma expressão de animosidade por contemplar aqueles rapazes de volta ao seu estado normal.
— Desculpa. — Jarves se aproximou, nadando enquanto fazia uma expressão apreensiva. — Novamente, não pude fazer nada.
A ruiva balançou a cabeça negativamente e fez uma cara de brava, enquanto cruzava os braços, emitindo vários sons que não faziam sentido.
— Isso não é verdade. Graças ao seu conto, pudemos sobreviver. Então, pare de se culpar desnecessariamente, tá bom?
Quando Theresa disse isso, Meredith acenou a cabeça freneticamente e levantou o polegar. Ao passo que Zernen colocou uma das mãos em seu ombro ao mesmo tempo que o irmão da Frida, com um sorriso, o elogiava enquanto batia suas costas ligeiramente.
Palavras de conforto que andaram de ouvido em ouvido, chegaram às profundezas daquele coração, quebrando as correntes do fardo que carregara.
— Pessoal, vocês… — Lágrimas vertiam de dentro da bolha, pingando sobre ela em um salpico.
— Caramba, tá chorando? Meu avô disse que homem não chora!
— É claro que não estou chorando, idiota! Não está vendo que estamos em plena água?!
— Mas sua cabeça está sendo protegida por uma bolha, idiota! — Zernen deu uma risada, tocando a ponta do dedo naquela bolha.
— Ah, me deixa!
Jarves virou o rosto e cruzou os braços enquanto dava um suspiro, assoando seu nariz.
— Bem… — Theresa tossiu, atraindo a atenção de todo mundo. — Temos mais…
Antes que Theresa finalizasse sua fala, aquela mulher que havia se erguido da cratera da parede, agora conjurava um ataque massivo. Via-se uma grande esfera de sangue formar-se no meio de seus grandes braços, próximo ao seu peito, enquanto ela alargava seu sorriso, proferindo palavras que andaram de ouvido em ouvido.
— Seus feiosos, vocês vão pagar por tudo isso! Tentei lhes oferecer meu amor, mas é assim que me pagam, não é? Pois, provaram-se indignados e serviram de refeição para mim! Ao menos, sintam-se gratos por tal privilégio!
— Oh, ninguém aqui quer ser comido por você! — Jarves lançou seu grito enquanto colocava seus dois braços contra a bolha.
— Pelo contrário, você será a nossa refeição! Já comi seus amiguinhos e, apesar de crus, a textura da carne não deixava a desejar!
— Falam desse jeito como se pudessem me subjugar, quando são seres fracos em meu domínio.
Antes que qualquer deles pudesse emitir uma palavra, Theresa interrompeu abruptamente e fez uma expressão severa.
— Não percamos tempo. Tenho um plano. Escutem com atenção.
Todo mundo assentiu, no entanto, Theresa mal teve tempo de falar alguma coisa, pois sereia, sentindo-se ignorada, lançou aquela esfera de sangue da qual saíram milhares de peixes vermelhos com dentes tão afiados quanto uma ponta de lápis, que não cansavam de ranger, criando um ruído irritante.
— Tornem-se nutriente para mim!
— Uhuhmm! — Que traduzindo significa: não permitirei. Assim, Meredith posicionou sua espada e executou seus cortes com a espada. No entanto, seu ataque, apesar de causar ferimentos e muitas vezes destruir, não era capaz de conter a multidão de peixes, que saíam daquela esfera vermelha.
Zernen seguiu em pronta ajuda, gerando sequência de socos invisíveis que flutuaram como bolhas, acertando alguns, mas pouco efetivos. Já o irmão da Frida que carregava duas espadas, desferia cortes atrás de cortes.
No meio daquilo tudo, como se uma lâmpada se tivesse acendido, algo passou pela mente de Jarves. Ele estalou os dedos na água, provocando bolhas.
— Theresa, ainda tem o espelho?
— Espelho? O que vai… Ah, sim! — Theresa vasculhou no seu jaleco e o achou, dando um sorriso.
— Espelho meu, espelho meu, a alguém mais feia que eu?
Quando Jarves disse isso, Theresa levantou o espelho, mostrando a verdadeira face daquele monstro. Mesmo ela tinha uma crença de que sereia, amante de sua beleza, havia probabilidade de ficar horrorizada com seu verdadeiro aspecto.
E não foi para menos, a sereia perdeu a compostura, a esfera desapareceu e os peixes ficaram suspensos, sendo finalizados de imediato. Ela começou a se debater enquanto gritava, não, não, não, segurando sua cabeça, a balançando freneticamente de um lado para outro, como se uma forte dor interna lhe tivesse atingido.
— Funciona! Jarves, você é um gênio! — Theresa elogiou, mantendo o espelho focado naquela mulher.
— Uhuhmm! — Quis dizer: já sabia.
— Caramba, de onde você tira essas ideias? — Irmão da Frida questionou.
— Esse é o meu garoto! — Zernen cerrou os punhos e avançou. — Agora vou dar um fim nisso de uma vez por todas! — No entanto, subitamente, antes mesmo que chegasse próximo à sereia, sua bolha desapareceu e o afogamento começou.
Pés, mãos e bocas, tudo se movia enquanto era arrastado para o chão da água.
A reação foi rápida. Jarves e o irmão da Frida calçaram o Zernen e o levaram à superfície na rápida velocidade em que os seus pés batiam. Theresa e Meredith acabaram por ficar para controlar a situação, já que haviam descoberto um ponto fraco letal de sua adversária, a qual ela não podia resistir, sua verdadeira aparência que lhe criava profunda aversão.
— Você gosta tanto de chamar os outros de feios, mas no fim nem você mesma quer contemplar seu próprio rosto. — Theresa foi se aproximando, acompanhada de sua amiga que preparava a espada para finalizar aquele ser de uma vez por todas. — Esse é o seu fim!
Meredith desceu sua técnica sobre aquele corpo imóvel, dividindo em pedaços para seu alívio e satisfação. Contudo, seus sorrisos caíram a baixo quando viram mais duas sereias surgindo através dos pedaços que foram divididos, uma mais bizarra que a outra. A terceira acabou fugindo, deixando aquelas duas que projetaram uma barreira humanoide.
— Uhumum.
— É, eu sei. Essas duas são falsas e a terceira é a verdadeira, para assim a protegerem do efeito do espelho.
— Uhumum.
Meredith balançou a cabeça afirmativamente, mas depois fez uma expressão apreensiva enquanto gesticulava as mãos, deixando claro que já havia excedido seu limite, estava prestes a abrir sua boca de uma vez por todas.
— Por agora, vamos nos retirar!
Dito isso, Meredith elaborou sua última investida, lançando múltiplos golpes de espadas que criaram inúmeras bolhas, distraindo aquelas duas sereias monstruosas enquanto elas subiam para a superfície, mas não foi o suficiente, elas as seguiram em questão de segundos, em seu encalço.
Só que, como eram resquícios da verdadeira sereia, não detinham os mesmos atributos que ela, os delas sendo bem limitados. Sua velocidade era o claro exemplo disso. Quando saíram do castelo, Theresa fez sinal para que se separassem, fazendo com que as duas se dividissem. Uma perseguira Theresa e outra Meredith.
Meredith, obviamente, a levou à superfície onde se encontravam seus amigos enquanto a médica levava a outra para o polvo gigante congelado, onde brincou de pega-pega entre os tentáculos daquela criatura enquanto pensava no que faria.
Já Meredith emergiu das águas, abrindo finalmente a boca. Seus amigos estavam a alguns metros sobre pedaços de madeira que formavam uma jangada que sustentava Zernen enquanto não despertava mesmo após massagens no peitoral. Como ele estava debilitado, era esperado que isso acontecesse, então, eles precisavam urgentemente de Theresa para avaliar a situação.
Mas, antes, tinham de ajudar Meredith a resolver aquele grande problema. O irmão da Frida invocou uma rede de pescar, que se enrolou no corpo daquela sereia, a prendendo enquanto se debatia. Meredith pôde enfim respirar enquanto executava seu ataque contra aquele monstro, a aniquilando em pedaços, inclusive a pedra amarela que fazia com que se movimentasse.
Depois disso, rodeado por sangue, ela nadou até a jangada e subiu nela, suspirando, enquanto transbordava de um suor que pouco se diferenciava da água que deslizava pela superfície de sua pele. Um alívio havia tomado conta de seus pulmões, que haviam feito um grandioso trabalho.
— Meredith, cadê a Theresa?
Jarves pousou seus olhos sobre ela.
Após suspirar mais uma vez, Meredith pôde responder.
— A sereia se dividiu em três. A outra parte está lutando contra Theresa, por isso não temos mais tempo a perder. Eu vou voltar ao fundo agora mesmo!
— Espera, Meredith. Não se arrisque mais. Está mais do que claro que você não está mais em condições. Não sou médico, mas sei que todos os órgãos têm o limite e os seus não são exceções.
— Então, o que sugere que façamos?
— Eu e ele vamos resgatar Theresa e acabaremos com tudo! Você fica aqui descansando. — Ele colocou suas mãos em seus ombros enquanto tirava um sorriso genuíno. — Você já fez tudo, agora é minha vez! — Levantou o polegar, atraindo sua expressão de espanto. — Desculpa, mas dessa vez, eu vou ter que roubar o seu protagonismo!
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