Índice de Capítulo

    Depois de ter falado aquilo para Meredith, ela ficou um pouco preocupada e tentou teimar, demostrando uma ligeira implicância com o irmão da Frida, mas no fim, acabou aceitando depois eu ter lhe assegurado que na minha visão do futuro isso tudo acabava bem, caso me deixasse tomar conta das coisas. Ela deu um sorriso de alívio, pressionando seu peito com um ar de conformidade. 

    Se aquelas palavras foram o suficiente para a fazer ficar calma, então não me arrependo de as ter dito. Também, não é como se fosse uma mentira, porque eu iria fazer de tudo para almejar esse futuro, um futuro em que todos tenhamos um final satisfatório.

    Aquele final que o autor não conseguiu realizar em escrita, eu realizaria com minhas ações, meus conhecimentos e atitudes. Agora nadava ao lado do irmão da Frida em direção à estátua do polvo, onde Meredith relevou estar Theresa, travando uma batalha contra uma das sereias. Falando nisso, ainda não acredito que cai no meu próprio conto, aí, aí. Ao que parece, sua beleza em si também tinha o poder de atração.

    No fim, tentar enfrentar uma mulher sedutora é o mesmo que aceitar a morte de bom grado. O melhor é fugir, já dizia a Bíblia sagrada. Mas o bom é que tínhamos duas bravas mulheres ao nosso lado, que enfrentaram tudo e nos libertaram do amor cego, daquelas correntes de escravidão que nos prendiam a uma paixão ilusória como muitos jovens viviam no meu mundo, espera, talvez ainda viviam.  

    Enfim, não queria mais provar daquilo. Tapa do amor, que coisa é essa? Balancei minha cabeça negativamente e continuei batendo os meus pés. Agora nadar já não era um obstáculo para mim, havia pegado o jeito.

    Hehehe, não havia nada tão delicioso agora como sentir as águas deslizando pela superfície do corpo, acariciando suavemente cada extensão da pele. Sem dúvidas um sorriso brotou no meu rosto e quando dei conta já avistava a grande estátua do polvo e Theresa driblando a sereia, como se estivesse jogando esconde-esconde entre seus tentáculos, como se fosse uma jogadora em posse de uma bola.

    Meredith estava tão preocupada, mas olha só ela, estava conseguindo se virar, com um arremesso de pedra ali e aqui e uma espada em mãos, que a protegia quando batiam de frente. 

    — Owooooo! Theresaaaaaa!

    Acenei a mão, atraindo a atenção tanto dela, assim como da sereia. 

    No momento de distração, o irmão da Frida agiu prontamente e criou uma rede de pesca por cima da cabeça da sereia. Quando dirigiu seus olhos ao alto, viu-se atravessada por aquela teia que cobriu toda extensão de sua pele. Não teve escolha se não se debater, enquanto eu e o irmão da Frida nos aproximávamos com espada para a fatiar em pedaços.

    Subitamente, quando chegamos perto demais, um poof soou, uma fumaça negra cobriu a sereia, a fazendo desaparecer em questão de segundos. Cerrei um dos punhos. Ela estava tão perto, mas tão perto. 

    — Bom trabalho, pessoal — Theresa congratulou, mas pelos vistos, cedo de mais. Nossos olhos foram imediatamente direcionados a estátua daquele polvo que começou a rachar, revelando um tom vermelho de pele, prenúncio de um eminente despertar. Nos afastamos urgentemente dali enquanto aquele som, crepitante, tomava conta de nossas cabeças, as rachas criando uma poeira e as carapaças flutuando sobre a água, gerando pequenas bolhas.

    — Era só essa que me faltava… — murmurei. 

    — Como? 

    Era o que Theresa se questionava, bem, eu também. Estava curioso para saber como, como aquela criatura estava sendo despetrificada? Mas, por outro lado, aquilo era som para os nossos ouvidos, porque isso só podia dizer que os nossos amigos também podiam ser despetrificados, isso, a solução estava bem aqui!

    — Se descobrirmos a razão disso, poderemos…

    Antes que eu terminasse minha fala, Theresa já havia corrido para fazer algo que se tinha passado pela minha cabeça, talvez tivesse sido na velocidade da luz. É claro, verificar se o mesmo estava acontecendo com eles. No entanto, para o nosso azar, nada. Ainda continuavam como continuavam, transformado em pedras, sem nenhum sinal de rachaduras.

    — Droga.

    Era droga mesmo, porque um problema maior havia acabado de eclodir bem ao nosso lado. O Sr. Polvo estava despertado e balançava seus tentáculos carmesim de um lado para o outro. Agora mesmo, ele acabou de nos agarrar com seus membros viscosos, que causavam uma sensação muito estranha na nossa pele, que não poderia ser descrita. Enfim, ele nos colocou contra o seu rosto bizarro. Encaramos seus olhos finos, feios e verdes. Os dos Gaia eram bem mais bonitos, sinceramente.

    Enfim, como isso tinha dedo daquela maldita sereia, não demorou muito para sua voz reverberar em nossos ouvidos em um tom assombroso e ameaçador.

    — Escutem, feiosos e seres inferiores…

    Falando assim, com certeza se daria bem com o Nikolas, ou será que não? Enfim…

    — Esse é o resultado por terem me desafiado em meu domínio, rebeldes, tolos e imundos que não sabem se colocar em seus respectivos lugares. Eu, rainha inequívoca dos oceanos, detentora da beleza universal, determino o vosso fim. Mas não se preocupem, meus preciosos, viraram meu almoço e farão parte de mim, não é gratificante, honroso, hã?

    Ela continuou com aquele discurso arrogante e repetitivo por mais alguns minutos e só depois finalizou com aquelas palavras clássicas: “obrigado pela comida”

    — Espera, espera, só não percebi uma coisa…

    Antes que fôssemos arrastados à boca do polvo, estiquei um dos braços.

    — É você ou o polvo quem vai nos comer?

    Era uma boa pergunta, já que não estava vendo ela por aqui…

    — Então, você está aí dentro, não está?

    Theresa roubou as exatas palavras da minha boca. Ela só podia estar dentro daquele polvo, não tinha como. 

    — Ah, não, então isso quer dizer que teremos que ser digeridos novamente?

    — É o que parece — O irmão da Frida concordou.

    — Nos levando ao seu covil, hein?

    Sereia não voltou a dar mais um pio, o que nos deixou na incerteza se deveríamos ou não resistir. Se ela estivesse ali, seria mais fácil acabar com ela de dentro, mas e se ela não estiver? O que nos aguarda?

    Meu cérebro iria queimar se eu continuasse a pensar nisso. Eram muitas hipóteses e nós não tínhamos mais tempo, era tudo ou nada. 

    — Vamos!!!

    Theresa deu o grito enquanto éramos devorados pela boca do polvo.  Uma sensação semelhante àquela de quando fomos engolidos pela terceira boca do dragão; saliva pegajosa para todo canto, enquanto descíamos por aquela cobertura de pele, que alternava em vermelho e cor de rosa. Por fim, pousamos na superfície, observando o sistema de órgãos, que funcionava em vibrações, veias e artérias, que ligavam um ponto ao outro e o principal, onde todos os caminhos iam dar a uma pedra de cristal bem no fundo, onde curiosamente se encontrava uma sereia.

    Esse negócio estava ficando cada vez mais sinistro. Por que um cristal de mana tinha uma sereia presa? Pelo que dava para ver, era igualzinha à belezura do castelo, o que diferia era sua pele pálida como a de um vampiro.

    — Muito provável, aquele é o corpo verdadeiro.

    Theresa já lançou a teoria, que certamente fazia todo sentido.

    — E provavelmente está morto. — Lancei a minha teoria também. Partindo do pressuposto que os gêmeos construíram esse mundo e essas coisas, muito provavelmente eles usaram magias de outros usuários e entre uma das magias, que naquela visão me parecia, era necromancia.

    Uma das magias proibidas neste mundo. É, isso mesmo, neste mundo também existiam magias proibidas. Ainda que você nascesse com uma magia proibida, se ela não conseguisse ser selada, você seria selado ou mesmo morto.

    Para que uma magia fosse considerada proibida, ela tinha que atender a duas condições essenciais descritas nos livros das leis que regem esse reino e muito outros. Era considerada magia proibida aquela que por si só causava a morte de civis, ciente ou não. Ademais, ao uso de cadáveres ou restos mortais, profanação, para fins condenáveis que concorrem para crimes contra a humanidade.

    Bem, era de se esperar que um bandido como o rei dos bandidos fosse capaz de brincar com magias proibidas para fins de espetáculos como estava fazendo, afinal, sua figura era a representação de atos de terrorismo.

    Dei um sorriso. 

    — Isso não deveria me surpreender, afinal ele foi capaz de firmar um pacto com aquele ser das trevas.

    — Do que você está falando?

    O irmão da Frida questionou.

    Decidi abrir o jogo.

    — Esse é um cadáver verdadeiro de uma sereia que serve para reproduzir, em um corpo de alguém que foi ceifado, a personalidade da sereia.

    Um detalhe sobre este mundo é que as sereias, assim como outras raças, haviam sido extintas deste mundo, mas seus restos mortais continuavam por aí, alguns conservados. Talvez para o fim de uma ressurreição futura, ou algum despertar, já que neste mundo magia de ressurreição ainda não existia, ninguém havia despertado com tal magia.

    A arte mais próxima disso era a necromancia e a magia que Alexandra havia apresentado na luta contra o Xavier, quando o clone de sua mulher foi capaz de interagir e demonstrar sentimentos, o que abria um novo capítulo sobre a legalidade da magia da minha amada.

    — Quê? Como assim?

    Não era uma surpresa, assim como os demônios, tais coisas passavam de lendas para boi dormir. Muitos dos acontecimentos passados, hoje em dia, parecem terem sido inexistentes. 

    — Então, se for assim, estamos diante de uma magia proibida?

    Estranharia se Theresa não soubesse disso. 

    — Hein?

    Quem parecia não entender nada era o irmão da Frida. Mas não havia tempo suficiente para explicar porque o ataque finalmente começou. O ácido produzido pelo monstro começou a se espalhar por aquele espaço com um único objetivo de nos trucidar.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota