Capítulo 79: Homem das cavernas
Homem das cavernas, nos livros do meu mundo, era conhecido por ser um simples homem nômade que se refugia em cavernas e tinha a fisionomia de um homo sapiens, um pouco semelhante aos chimpanzés, mas aqui nesse mundo era um pouco diferente. Os homens das cavernas eram os usuários primordiais da magia elementar e grandiosos dominantes de magia básica.
— Estamos diante dos primeiros usuários de magia… — murmurei, compartilhando do mesmo espanto que os outros.
— Hum, isso está ficando cada vez mais interessante — Fred acendeu um sorriso no seu rosto, vindo a mim com Zernen em mãos.
— Então, até homens de séculos atrás ele trouxe para o seu joguinho, mas que homem tão grotesco. — Frida semicerrou as sobrancelhas, indignada.
Fred me entregou o Zernen. Minhas mãos pesaram tanto, que estava quase caindo com ele. Tive que aumentar mais força, veias explodindo dos meus dois braços enquanto eu rangia os dentes.
— Pelo que saiba, não precisamos nos preocupar com eles. Ainda que sejam os primeiros a dominarem a magia, eles são fracos para essa época, porque o que lhes interessava na sua época era apenas comida e uma boa noite de sono.
— Isso, Theresa está certa! — Meredith seguiu balançando a espada. — Não há o porquê temer!
Antes que ela desse mais um passo, Oceano segurou sua gola.
— Vamos com calma. Ele nem atacou, certo?
— Mas… Tudo bem.
Meredith deu um suspiro.
— Ei, você consegue me entender? — Oceano falou, trocando olhares com aquele homem.
— Mim não quer lutar, apenas querer que homem estranho sair do meu território…
Esse cara com certeza se daria muito bem com o Golem. Realmente, fazendo jus ao seu nome de homem da caverna. Sem acesso ao estudo, sua fala era pouco desenvolvida. Sua verdadeira linguagem era a das armas e a das mãos muitas das vezes.
— Certo, mim querer saber sobre como sair do seu território. Homem, poder me ajudar?
— Mim não saber, mim querer que apenas homens estranhos dê o fora daqui! Agora.
— E o que vai acontecer se a gente não der o fora daqui? — Fred questionou ousadamente.
Meredith concordou com a cabeça e acrescentou, subindo a escada: — E se você for quem deve sair daqui?
— Eu acho que não é diferente das outras fases, pode ser que tenhamos que derrotar este homem para vencermos essa prova — Frida teorizou.
E ela não estava errada, afinal, segundo sua teoria que diz “tudo está conectado”, este homem não estaria aqui por acaso. E pela maneira como se dirige a nós, carregando uma lança, é mais do que óbvio que ele foi trazido aqui para uma batalha.
— Só que a pergunta que não quer calar é: será que o derrotar é o suficiente? Na quarta prova, vimos vários tipos de conexões para poder derrotar a sereia.
Theresa tinha um ponto.
— Não só na quarta, na terceira tinha a cabeça que se abria quando abatíamos o dragão e nos levava a uma outra fase. Temos que ter cuidado — disse Frida, colocando a mão no queixo.
— Mim dar cinco dedos. — Ele levantou sua mão direita. Mas que raios de pessoas conseguiriam sair daqui em cinco segundos? Essa cara só podia estar louco.
— Pessoal…
Pude sentir esferas surgindo nas duas palmas da mão do Oceano, enquanto o homem das cavernas começava a fechar os seus dedos.
— Infelizmente, vamos ter de nos separar para rastrear, deixo isso com vocês.
Assim que Oceano falou, nem tivemos tempo para opinar alguma coisa… Naquele instante, algo passou por nossos olhos, um vulto que puxou o Oceano rapidamente, as águas repletas de crocodilos. Um grande salpicar se ouvia à medida que as águas do lago se levantavam.
— O que foi aquilo?
— Que rápido…
Quando o Fred murmurou isso, também se viu diante do mesmo homem das cavernas, mas a sorte dele é que, prontamente, Meredith havia abafado o ataque com sua espada. Uma chuva de faísca tomou conta dos nossos olhos enquanto eles eram forçados a recuar em meio aos golpes, tingindo ainda mais suas pernas do lamaçal.
— Droga!!!
Dei um grito ao ver a espada da Meredith se quebrando, a ponta da lança prestes a atravessar seu rosto. Lancei o Zernen à Theresa que estava rente à árvore na lateral e tentei acudir com uma pequena esfera. Mas, por sorte, o Fred, que estava atrás, puxou Meredith para o chão e deu um chute no calcanhar daquele homem, que mesmo assim se manteve em pé. Quem, na verdade, soltou o grito de dor, foi o Fred.
— Aaaaaaaah!
— Toma!
Quando estava prestes a entrar em contato com ele, senti meus pés sendo puxados para o chão e uma lança raspando o limiar da minha cabeça, capando algumas mechas do meu cabelo. Essa havia sido por pouco… Esse cara era insano. Ele era mesmo homem das cavernas? Essa velocidade…
— Vê se não se precipita.
Dei um sorriso tenso diante do murmúrio da Frida e a agradeci.
— É normal, eles fazem de tudo para sobreviver — Irmão da Frida, que estava ao lado do Sond, falou. — Incluindo caçar suas presas, aprimorando suas habilidades físicas.
— Magia básica, é claro — Frida murmurou.
Eu já deveria saber, como usuário de magia básica, que esses caras podiam superar os limites de um ser humano normal da nossa era, porque o ser humano dessa época é mais acomodado. Diria apenas que aqueles que realmente têm um ranking B para cima podem se equiparar à força que esse homem mostrava ter, isso sem usar algum tipo de magia.
O homem empunhou a lança e a direcionou com velocidade ao seu alvo, que estava jogado no chão sem piedade.
No entanto, apareceu ele que o derrubou rapidamente, após estar todo encharcado.
— Eu abri caminho para vocês! Corram!
Nossos olhos foram direcionados para o lago, onde pequenos focos de sangue se formavam ao redor dos corpos daqueles crocodilos imóveis.
— Você vai ficar bem, Oceano?!
Frida estava preocupada. Mas se a gente ficasse ali, apenas atrapalharia.
— Vamos. — Carreguei o Zernen do colo da Theresa, que estava encostada naquela árvore.
Mordendo os lábios, ela avançou. Enquanto isso, só víamos vultos combatendo lá atrás, enquanto folhas e árvores eram despedaçadas.
— Droga! Droga! Droga! Por que sou tão fraco?!
Fred batia sua cabeça, enquanto a balançava negativamente.
— Ei, pare com isso. — Meredith segurou seu ombro com um sorriso ligeiro. — Eu também me sinto assim, mas não é hora para isso, entendeu?
— Eu sei! Mas dói tanto não poder fazer nada.
Aquele era o sentimento que eu tinha por trás das telas quando via as coisas acontecendo e não podia fazer nada, mas ainda assim, mesmo agora, esse sentimento persistia. Acho que aquela frase de “se estivesse lá pessoalmente, faria melhor”, acabou por cair por terra. Neste momento, eu era refém dos outros para poder sobreviver a este mundo.
— É, eu entendo sua frustração, Fred.
— Parem de se frustrar e vamos correr! — Theresa emitiu. — Vocês acham que são os únicos que estão assim? Mas do que vai adiantar despejar palavras e não fazer nada a respeito? Não estamos unidos, afinal de contas?
Theresa mais uma vez dando aula de sapiência. Deixamos de bobeira e corremos de uma vez por todas, atravessando aquele lago, cujas águas chegavam à metade dos nossos corpos. Frida teve que ser carregada pelo seu irmão.
Fred carregava o Zernen e o restante caminhava por sua conta, mas nossos olhos não deixavam de olhar para trás, preocupados com o Oceano. Ele podia ter magia básica, mas não tinha seu verdadeiro poder, o que reduzia sua força drasticamente.
Mas, por agora, só restava continuar…
— Ainda bem que tem sempre a opção de desistir — O irmão da Frida sussurrou.
— Oceano jamais desistiria, isso é o que me preocupa. Ele prefere se sacrificar do que perder para o inimigo.
Frida disse aquelas palavras com um tom tão triste.
— Tenhamos fé! Pensamentos positivos! — Meredith levantou um dos punhos cerrados com uma expressão de determinação. — Palavras e pensamentos não são meros enfeites linguísticos, elas têm o poder de mover uma atmosfera. Palavras do meu pai.
— Concordo plenamente — Theresa anuiu.
Assim, todos ficamos mais calmos e serenos, com pensamentos positivos de que o poderoso aventureiro rank A jamais se daria ao luxo de perder, seu orgulho como guerreiro não permitiria isso.
Chegando ao fim do lago, havia um muro de barro que impedia a água de transitar para o outro lado, o lugar logo atrás daquele muro. Nem dava para escalar e espreitar qual destino nos esperava mais para frente, então nos restava apenas quebrar.
Preparei minha pequena esfera, como já não tinha muito mana, e fechei o punho, expandindo a energia por sua superfície para aumentar a força bruta. E resultou, assim que tombei meu punho no muro violentamente, rachas surgiram e se espalharam por todo o muro, o fazendo cair aos pedaços. Dei mais socos, o que acelerou mais a destruição. Contudo, o que eu não previa era que aqueles socos se transformariam em azar.
Assim que o muro caiu, a água, antes contida, começou a se movimentar e nós caímos ao mesmo ritmo que a água do lago, dando vida a uma cachoeira seca. Lá em baixo havia uma terra seca, aguardando por água… Droga, nem que a água chegasse primeiro, a quantidade não seria suficiente para impedir que os nossos corpos não fossem deformados.
— Aaaaaaaah!
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