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    Gritos certamente não iam nos salvar… O chão estava mais próximo do que nunca, e não tínhamos magia alguma para amparar nossa queda. Esperava contar com a sorte de, não sei, algo aparecer, mas nada estava acontecendo… Estávamos a segundos iminentes de termos os nossos corpos destruídos. Devo dizer, dessa vez, o rei dos bandidos nos pegou.

    — Pessoal, vamos desistir.

    Era a única opção em que conseguia pensar, mas parece que os demais tinham algo em mente… Enquanto sentíamos a pressão do vento bater contra os nossos rostos, Theresa removeu algo do jaleco e lançou contra o chão, gritando:

    — Gaia, se transforme!

    Pude ver a miniatura do Golem com olhos esperançosos, mas nada aconteceu… Espera, sim, algo aconteceu. Gaia desapareceu após embater contra àquela terra seca, o que nos deixou boquiabertos.

    — Não pode ser…

    Theresa ficou abismada. No entanto, aquele fenômeno havia aberto um sorriso de triunfo na Frida, que gritou: — Não precisam ter medo! Ao invés disso, preparem-se!

    Apesar de saber que aquilo não me afetaria, mesmo assim, meu coração foi tomado por fortes batidas. Apenas fechei os olhos quando me vi próximo ao chão. Se aquilo não fosse real, já era …

    Badum! Badum! Badum!

    Bem, se o meu coração ainda estava batendo, isso significa que eu ainda estava vivo e são.

    Não sentia nenhuma dor, o que claramente provava que meu corpo não havia sofrido… Mas espera, e se tudo aquilo não foi em um único instante?

    Abri os olhos para confirmar e um céu me foi apresentado, nuvens vagando de um lado para o outro em seus formatos padrões, em meio a um sol escaldante. Sentia cócegas nos meus braços de uma grama macia, embora meio seca. Era uma sensação maravilhosa, eu não queria ter de levantar… No entanto, um rosto indesejável apareceu, ofuscando aquela paisagem aconchegante.

    — Até quando vai permanecer deitado?

    — Tinha que ser você… — Dei um suspiro e comecei a levantar. — Onde estão os outros… — Quando olhei ao redor, pude avistar alguns animais selvagens, os quais conhecia muito bem. Estava vindo em nossa direção e muito bem acompanhados.

    Uma mulher musculosa, que ostentava cabelos bagunçados, estava na linha de frente. Suas vestimentas eram compostas por uma calcinha de pele de zebra que cobria seus órgãos genitais e um sutiã da mesma pele que cobria seus seios fartos.

    — O que eu perdi?

    — Prepare-se. Se o diálogo não funcionar, teremos de lutar.

    — Teremos? Por que não me deixou dormir? E escuta, onde estão os outros?

    Não importava o quanto eu girasse os meus olhos, eu não conseguia identificar os outros, apenas árvores magrinhas e secas e pedregulhos, que lembravam o ambiente de uma savana.

    — Não sei. Mas suspeito que tenham sido mandados para outros lugares.

    — Hum, e por que eu tinha que ficar justo com você?

    — Pode crer que o sentimento é recíproco. Agora, vamos, prepare-se para lutar!

    — Não.

    Voltei a deitar enquanto dava um sorriso malicioso. Eu sei, eu sei que, dado a situação, eu deveria estar agindo com seriedade e maturidade, mas e daí, eu queria ver a Frida comendo na minha mão, implorando para que eu a salvasse.

    Estou até imaginando: “Por favorzinho, desculpa! Kyaaaaa! Me salva!

    “Hum, hum, isso sim, são músicas para os meus ouvidos.”

    Dei um suspiro enquanto corava e cruzei os braços atrás da cabeça, fazendo uma expressão bem calma.

    — Ei, ei, não é hora para isso.

    — Eu sei, mas o que posso fazer? Também não tenho mana sobrando.

    — Huphm! Seu inútil!

    Ela virou o rosto e avançou em direção, ao encontro daquela mulher das cavernas. Bem, como eram da mesma espécie, então acho que deveriam se entender muito bem.

    — Grrr! Mim desafiar você! Mim achar você uma mulher não mulher!

    Eita, pelo que pude ver, a mulher das cavernas estava apontando o cajado para ela com uma cara de ogra assustadora, me lembrando de um certo alguém. Enfim, nem que eu quisesse ajudar, não podia…

    Segundo os livros, na tradição dos homens das cavernas, alguns duelos eram feitos por mulheres que disputavam um homem quando as duas estavam apaixonadas por ele… Então, espera, isso quer dizer que…

    — Você não ser digna deste homem! Grrr!

    — Não, não. É um mal entendido. Eu não tenho nada com ele. Pelo contrário, pode ficar com ele. — Frida fez x com os braços e abriu espaço com um sorriso tenso. Não era para menos, estava diante de uma mulher com tigres, hienas e alguns leões consigo.

    — Mim não querer saber! Isso ser traição!

    — Não! Mim nem tocar nele! Ei, escuta, Jarves, fala alguma coisa, ouviu? Daí eu prometo que nunca mais mexo contigo e isso é para o nosso bem, entende?

    — Tá, tá. — Me levantei com um ar de galã. — Você vai ficar me devendo uma, sabia?

    — Vamos discutir isso depois, quando estivermos longe do perigo.

    Dei um suspiro e pressionei a mão contra o peito, fazendo uma expressão boba.

    — Escuta, querida, eu só tenho olhos para si, então não se preocupe com essa piranha.

    — P-Piranha?!

    Veias saíram das extremidades da testa da Frida, enquanto ela arregalava os olhos.

    — Mim gostar de ouvir isso! — Ela deu um sorriso vampírico, que me deixou confortável, ou pelo menos eu achava…

    — Mim agora querer duelar com homem para ver se o homem ser digno de mim.

    Eita, agora era eu quem estava ferrado. Segundo a tradição dos homens das cavernas, as mulheres tinham o costume de duelar com os homens para provar sua força. Se este homem fosse mais forte que a mulher, era digno e podiam se casar, caso contrário, esse homem não servia e era rejeitado.

    E com esses animais que pareciam obedecer a ela totalmente, eu não queria saber o que aconteceria comigo caso eu fosse derrotado por esse mulherão.

    — Se ferrou…— Frida deu uma risadinha de escárnio.

    — N-Não!! — Balancei os braços negativamente. — Não ser verdade! Essa mulher estar apaixonada! Essa mulher querer duelar!

    — Hein?! Mas que mentira! — Frida acenou os braços negativamente enquanto meneava a cabeça com frenesi. — Homem estar a mentir! Mim não ser apaixonada! Meu coração já ter dono!

    — Isso ser verdade! Mim ser o dono!

    — Ei, para com isso! — Ela franziu o cenho para mim e apontou o dedo para mim com severidade: — Você é homem aqui, então lute!

    — Lute, você, eu já lutei demais! E sem falar, que já não tenho mais mana. Você é quem tem mana de sobra!

    — Dããã, e você tem magia básica!

    — E você pode aprender!

    — CHEGA!

    Com sua voz imponente e grossa, ela pousou seu cajado na terra e cerrou as sobrancelhas, nos olhando com veemência, tal como os animais que a acompanhavam.

    Senti um pequeno arrepio.

    Frida até se achegou ainda mais perto de mim.

    — Mim enfrentar homem e mulher no duelo! Agora ser luta pela sobrevivência do mais forte!

    Nem acredito que havíamos chegado a esse estágio. Esse era o estágio mais duro da época dos homens das cavernas, em que eles eram radicais para com os que consideravam ser seus inimigos, na época em que haviam diferentes tribos que não se entendiam.

    — Escuta, mim querer conversar!

    — Mim querer aniquilar! Aniquilar! Grrr!

    Ela rosnou, enquanto batia seu cajado no chão, vezes sem conta, que até abriu uma pequena cratera.

    — Viu o que você fez? Se tivesse aceitado duelar com ela, não teríamos chegado a esse ponto — Frida sussurrou, ainda agarrada a mim.

    — Também não quero ouvir isso de você.

    Desci meus olhos por ela.

    — Francamente, cadê o cavalheirismo?

    — Ah, não é hora para pensar nisso. Você, como analista, deveria saber que no final qualquer caminho que escolhêssemos iria dar nisso.

    Ela ficou no silêncio, fazendo uma cara apreensiva.

    — Agora, como analista, nos tire daqui.

    — Aí, tá bom. Estou pensando. — Ela se soltou de mim e colocou a mão no queixo, lançando seus olhos na mulher das cavernas.

    — Preparar, apontar, atacar!

    Em um instante, aquele mulherão estava bem à nossa frente, seus olhos amarelos como os de um tigre, tão grandes e assustadoras… Nem sequer havia tempo para mais um suspiro, seu cajado estava prestes a embater contra nossas cabeças, enquanto sua cara de ogra ficava muito tenebrosa.

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